Leia a crítica de Hulk aqui, e a de Homem de Ferro aqui.
Esta sexta inaugura-se a temporada de verão americano. E você sabe o que isso significa: de maio até o comecinho de agosto praticamente tudo que entra nas salas daqui será filme de ação que custa mais que o PIB de vários países juntos, feito pra atrair meninos de 12 anos que estarão de férias. Então dá-lhe super-herói. Pelas minhas contas, vêm aí Homem de Ferro, Hulk, Hancock, Batman, e Hellboy 2. Sem contar heróis mais humanos como Indiana Jones, Speed Racer, Agente 86, e os de Procurado e Arquivo X. Não vai ser fácil. É como disse a Libby no meio de um verão, tentando convencer seus filhinhos a não levá-los pra ver outro arrasa-quarteirão: “Mais um efeito especial e meu ciclo menstrual ficará alterado”.
Como falta-me assunto pra tratar de O Incrível Hulk e Homem de Ferro separadamente, vou falar dos dois juntos. Odeio quando dizem “Nossa única esperança”. É algo tão americano. Porque sério, não tem país que precisa mais de heróis que os EUA. O super-herói é a essência do individualismo. Mostra que o sistema judicial não funciona e que não existe a menor chance de recuperação pra um crimininoso, ao mesmo tempo que sugere que precisamos ser salvos. Mas o mal nunca é o sistema. O mal vem encarnado na pele de um super vilão, alguém com superpoderes que não tem a mesma índole bonzinha do herói, e que geralmente quer dominar o mundo. Quer dizer, o mundo mesmo não importa. Importa os EUA, principalmente Nova York. E convenhamos, pensar que “Se eu puder controlar este super-poder, poderei usá-lo” é como justificar as bombas nucleares em Nagasaki e Hiroshima e planejar uma nova utilidade pra elas no Irã.
O Hulk do Ang Lee era fraquinho, e não tenho nenhum bom pressentimento quanto a este. Pô, o mais incrível de Incrível Hulk é que um cientista que estraga a calça e vira bicho verde de bermuda toda vez que fica nervoso possa perder em popularidade apenas pro Homem-Aranha. A decisão de fazer um novo filme cinco anos após o relativo fracasso do primeiro Hulk é puramente comercial, óbvio. É que a Marvel está começando a financiar suas próprias produções, sem depender dos estúdios. Hulk e Homem de Ferro são seus investimentos iniciais.
Por coincidência, os dois super-heróis são extremamente militaristas. Hulk “pertence ao exército americano”, e as paixões do Homem de Ferro se resumem a armas e mulheres, nessa ordem. Aparentemente Hulk começa no Brasil (não mostrado no trailer), com o Bruce Banner querendo se curar dos seus acessos de raiva radioativos . E Homem de Ferro costumava brincar no Vietnã, mas foi atualizado pro Afeganistão (já que Guerra de Iraque virou veneno de bilheteria). Ele se orgulha de ser chamado de Mercador da Morte e, sarcasticamente, brinda à paz. Pelo jeito, um ótimo acompanhante pra esta joça seria O Senhor das Armas que, pra mim, é um dos melhores filmes de 2005.
Hulk tá com problemas: o Edward Norton brigou com a Marvel e não está participando da divulgação (o filme será lançado em todo o mundo 13 de junho). Homem de Ferro, que estréia oficialmente esta sexta, vai tentar ver se o Robert Downey Jr. consegue “abrir uma superprodução”. Pra mim esse é um argumento estranho, porque quantos vão ao cinema pra ver o Robert, ou o Edward, ou o Christian Bale, ou o Tobey Maguire? Eles todos ficam dentro de uma máscara ou pintados de verde, irreconhecíveis. Tá, ajuda que seja um astro do primeiro escalão e não o Eric Bana, mas só pra provar que o estúdio gastou mesmo uma grana preta pra fazer o filme. É mais ou menos como a gente saber dos interesses românticos dos heróis: o do Hulk é a Liv Tyler; o do Ferrudo, a Gwyneth Paltrow. São estrelas que devem ter sido bem-pagas, mas pelo trailer a gente já pode constatar a importância delas na história. Tipo, você notou que a Gwyneth tava lá? E alguém prova pra mim que é o Tim Roth dentro daquela maçaroca bege que virá a ser o inimigo número 1 do Edward Norton verdinho.
Você já notou que, pelo meu entusiasmo, as notas não serão altas. Nota 1 pro trailer de Homem de Ferro, e 2 pra Hulk. Espero que os filmes sejam melhores. Mas duvido.