sexta-feira, 29 de abril de 2022

NÃO TEM PICANHA NO McPICANHA

No topo à direita algo muito parecido com picanha. Mas só na foto

A piada da semana de como o Brasil virou uma terra de ninguém em que vale tudo foi o McPicanha. O McDonald's realmente achou que tava tudo bem colocar como o nome de um hambúrguer um ingrediente que não tem no hambúrguer!

Quem descobriu que o McPicanha não continha picanha foi a página Coma com os Olhos, que faz resenhas sobre lanches no Instagram. Ela descobriu que, inicialmente, o hambúrguer era feito com a carne pic, chamada assim internamente pela rede, mas que, a partir do início do mês, foi substituída pela carne 3.1, da linha "Tasty".  

A explicação do McDonald's foi ridícula: que esse nome visava "proporcionar uma nova experiência ao consumidor" e, para isso, o hambúrguer vinha com "a novidade do exclusivo molho sabor picanha (com aroma natural de picanha)". Ou seja, não tem nada de picanha no negócio. Nem o molho é de picanha, só de aroma artificial. 

Depois da repercussão, e depois do Ministério da Justiça pedir explicações, e do Procon-SP notificar, e do Conar repreender, o McDonald's decidiu tirar hoje os McPicanha do cardápio. Pode ser que haja "apreensão, suspensão e proibição do produto, multa ou até mesmo a cassação da licença do estabelecimento", segundo as notícias. Como o produto não existe mais, resta a multa ou a cassação -- que obviamente não vai acontecer.

Pior que a propaganda enganosa foi a nota da rede: "Pedimos desculpas se o nome escolhido gerou dúvidas". Ué, não gerou dúvida nenhuma! Se tinha picanha no nome, o consumidor pensava que o hambúrguer era feito de picanha. Ou, sei lá, pelo menos um tiquinho de picanha na composição da carne? E, no início, a linha tinha picanha. O McDonald's trocou o produto sem trocar o nome. Mentiu para o consumidor!

O McPicanha custava cerca de R$ 42, caro pacas. Eu não sou consumidora habitual do McDonald's ou de outras redes de fast food. A última vez que eu comprei um hambúrguer no McDonald's foi antes da pandemia, quando existia a promoção de dois x-búrguers por R$ 15, e aquilo era a coisa mais barata do aeroporto, disparado.

Uma rede de fast food iria colocar uma carne tão nobre no seu menu? Então não podia chamar o produto de McPicanha! Ano passado o preço da picanha aumentou 25%. E também no ano passado o brasileiro consumiu menos carne vermelha em 25 anos. Como informa a coluna de Victor Ximenes no Diário do Nordeste, a média foi de 26,5 quilos por habitante. Isso representou 40% a menos que em 2006, que registrou o consumo mais alto da história: 43 quilos por habitante. 

Ou seja: durante a era Lula o brasileiro nunca comeu tanta carne. Na era Bolso, não tem picanha nem no McPicanha.

quinta-feira, 28 de abril de 2022

DOIS MESES DE GOVERNO BORIC: A PRIMEIRA BATALHA DE IZKIA SICHES

Publico hoje um artigo da minha correspondente oficial do Chile, Isabela. A jornalista Isabela Vargas é mãe da Gabriela, feminista e integra a coordenação do coletivo Mujeres por la Democracia Santiago de Chile, que organizou os protestos do #EleNao no Chile.

No próximo dia 11 de maio, o gabinete de Gabriel Boric, presidente do Chile, completa dois meses de atuação. Durante esse período já ficou claro quem é o alvo principal na hora de atacar o governo. Trata-se da Ministra do Interior, Izkia Siches, que ocupa um cargo equivalente à vice-presidência.

Maio também é o mês das mães e, no Chile, a figura materna é quase uma entidade imaculada. Apesar disso, uma das primeiras críticas que a ministra recebeu ocupando o cargo público foi, justamente, ter exibido sua maternidade em redes sociais. Logo nos primeiros dias, Izkia subiu fotos em que levava sua filha (um bebê de 10 meses) ao gabinete do Palácio La Moneda e enquanto extraía leite materno.

Bastaram as publicações circularem para surgirem as primeiras críticas, vindas de mulheres, em sua maioria. O argumento era de que a ministra estaria se vangloriando de um privilégio, já que muitas mulheres trabalhadoras sempre tiveram que conciliar maternidade com seus trabalhos, sem contar com os mesmos recursos de Izkia. O fato é que ter uma mulher num cargo importante e que dê visibilidade à maternidade e à problemática da conciliação dos papeis que nós, mulheres, vivenciamos todos os dias, é um grande avanço, ainda que ela conte com seus privilégios pelo cargo que ocupa.

Disparos em visita ao sul
 
Também na primeira quinzena do governo, a ministra viajou à região da Araucania onde acontecem os conflitos na luta pela terra entre latifundiários e comunidades Mapuche, povos originários do Chile. Durante sua passagem pela localidade de Ercilia, foram registrados disparos e a ministra teve que ser deslocada rapidamente. Choveram críticas, inclusive, dos representantes dos mapuche alegando que, em sua tradição, o visitante devia ser previamente convidado e o assunto da visita anteriormente comunicado
.

Conforme os dias de governo avançam, as críticas a Izkia se intensificam. Outro episódio que gerou diversos comentários negativos não apenas à ministra, mas também a sua equipe de assessores, foi uma declaração falsa durante uma visita à comissão de Segurança e Cidadania da Câmara dos Deputados. Na ocasião, a ministra Izkia Siches denunciou a volta de um voo com imigrantes expulsos durante o governo Piñera, versão que foi corrigida pelo ex-ministro Rodrigo Delgado. Siches, posteriormente, se retratou.
 
Atualmente, uma investigação está em curso para apurar a responsabilidade de quem entregou o falso relatório à ministra. Porém, depois desse episódio, representantes de vários setores (de direita e esquerda) começaram uma mobilização pedindo, inclusive, a renúncia da ministra. Posteriormente, ela foi respaldada pelo presidente Gabriel Boric.

Esquerda dividida

Um detalhe importante é que muitos dos eleitores de Boric votaram por Daniel Jadue (do Partido Comunista) nas primárias, portanto, dentro da própria esquerda ainda existe uma forte divisão no Chile, mesmo depois das eleições, apesar da votação expressiva de Boric. O fato é que muitas pessoas votaram contra a extrema-direita e não necessariamente pelo projeto político do atual governo.
 
As críticas não se limitam apenas aos episódios mencionados, eles são a ponta do iceberg para que a ministra seja detalhadamente analisada em absolutamente tudo o que faz, como se veste, etc. A cada episódio com Siches as críticas tomam conta das redes sociais, da mídia comercial, dos círculos de poder, e reforçam a narrativa de que ela não tem capacidade para o cargo que ocupa.

A experiência do Brasil

Isso me faz lembrar muito o que aconteceu com a presidenta Dilma Rousseff no Brasil. Criticada pela direita, por alguns setores da esquerda e massacrada pela mídia comercial, Dilma era milimetricamente analisada em absolutamente tudo o que dizia, fazia, vestia, comia, etc. Tudo isso para reforçar a narrativa de que ela não tinha competência nem habilidade política para negociar
 
Essa construção era constantemente reforçada em reportagens com capas de revistas mostrando Dilma como uma mulher autoritária, histérica e muito brava. Argumentos que, geralmente, homens usam quando querem desqualificar uma mulher em sua área de atuação.

Os comentários constantemente negativos sobre a ministra chilena também me lembraram a campanha #meuamigosecreto de 2015.  Naquele ano, mulheres expuseram atitudes veladas de machismo disfarçadas de normalidade. O movimento mostrou que a grande maioria das denúncias vindas de mulheres de esquerda tratavam da sua convivência com homens do seu campo político
 
Esse acontecimento mostra que existe machismo na esquerda, ainda que seja velado, ou muitas vezes tratado com normalidade. O próprio presidente do Chile, Gabriel Boric, durante a campanha teve um caso de assédio a uma companheira de militância que veio à tona. Na época ele reconheceu o comportamento errado e se desculpou. Além disso, a vítima também veio à público dizer que a questão tinha sido resolvida internamente.

O que está em jogo?

O que tenho observado aqui no Chile, nas redes sociais em particular, é que muitas das críticas dirigidas à ministra vêm de homens do seu próprio campo político. Meu questionamento é: por que essas críticas não são dirigidas ao presidente Gabriel Boric? Está claro que a ministra Izkia virou o alvo principal e o objetivo é que ela sofra um grande desgaste até que, finalmente, seja removida do cargo.

Se isso acontecesse, seria uma grande derrota, não apenas para o governo e todas as mulheres que estão nele, mas também para as que apoiam esta gestão. É a primeira vez, na história do Chile, que uma mulher ocupa este cargo. O governo tem apenas dois meses de gestão, assumiu uma situação de crise social, econômica e política. Além disso, não conta com maioria no Congresso. Também existe uma forte pressão da oposição quanto à assembleia constituinte que está redigindo a nova constituição. Essa assembleia conta com o apoio do atual governo chileno.

Não espero que as pessoas mudem a sua forma de pensar por causa deste post, mas gostaria que provocasse uma reflexão. Por que sempre temos que ser tão rigorosas com as mulheres na política? Por que os homens ficam isentos de certas cobranças? As críticas devem e podem existir, mas elas precisam levar em conta vários aspectos, como o pouco tempo de governo. Ainda há um longo caminho a ser percorrido por essa gestão. Espero, sinceramente que Izkia continue em seu cargo até o final e saia fortalecida apesar de todas as críticas, justas e injustas, que têm recebido.

quarta-feira, 27 de abril de 2022

EFEITO MUSK OU ROBÔS ADOIDADOS?

De segunda pra cá, desde que a compra do Twitter pelo bilionário Elon Musk foi anunciada, a plataforma tem observado umas movimentações bem bizarras.

Primeiro que muita gente de esquerda percebeu a queda de seguidores. O meu perfil caiu de 184.9 mil p/184.7 mil em um dia (duzentos seguidores a menos). Logo pensei: ou já tem muita gente deixando o Twitter ou eu fiz alguma coisa muito errada e nem tô sabendo. Mas foi geral mesmo. Só o perfil do Lula perdeu 11 mil seguidores em um dia.

Enquanto isso, perfis de direita ganharam milhares de seguidores. Tivemos que ver crápulas como Feliciano, Monark e o Véio da Havan comemorarem o "milagre" e agradecerem a Musk. 

O analista Pedro Barciela alertou que, entre os dias 24 e 25 de abril, Jair Bolso ganhou 31 mil seguidores, 155% a mais do que nos dois dias anteriores. Zambelli, Bia Kicis e outros bolsonaristas ganharam acima de 300% de seguidores no mesmo período. Barciela pergunta: "Reflexos da aquisição do Twitter? Duvido muito. Mas algo se moveu e definitivamente não foi orgânico."

O criador do BotSentinel, Christopher Bouzy, atualizou os números e concluiu que Bolso ganhou 65 mil seguidores em um dia. 58% desses novos seguidores foram criados anteontem. Segundo ele, “Me perguntam se essas novas contas que passaram a seguir Bolsonaro são orgânicas e a resposta curta é não. Eu não acredito que dezenas de milhares de brasileiros decidiram criar novas contas ao mesmo tempo para segui-lo porque Elon Musk comprou o Twitter”. Ou seja, são robôs. Pode ser que o Gabinete do Ódio aproveitou o timing pra lançar um novo pacotão de robôs comprados previamente.

Só que nos EUA também está acontecendo a mesma coisa: gente do Partido Democrata (menos à direita) perderam seguidores, e gente do Partido Republicano (de reaças maiores como Trump), ganharam. Só Obama perdeu 300 mil seguidores!

Mas ontem algo mais aconteceu que me chamou muito a atenção: o Twitter destacou (estava nos TTs até hoje à tarde) uma coluna de opinião do Yahoo que tinha o assustador título de "Bolsonaro está mais perto da reeleição". Embora contenha críticas a Bolso, fala da "desorganização de Lula" (que sequer começou a campanha). Por que dar destaque a uma notícia tão tenebrosa, que pode gerar pânico em 60% da população do país?

E por falar em mentiras, ontem um mascu criou um perfil falso no meu nome no Mastodon, considerado uma alternativa pro Twitter. Felizmente, a plataforma o baniu no mesmo dia. Ponto pro Mastodon. Quando essa gentalha criou um monte de perfis falsos no meu nome no Gab (o Twitter da extrema-direita), eu pedi pro Gab removê-los. Nunca obtive resposta.

Vários seguidores me lembraram que já tem meses que o Twitter mudou o algoritmo, e as pessoas que a gente segue pararam de aparecer automaticamente na nossa timeline. Agora a gente precisa procurá-las. Já conteúdo da direita que parece patrocinado surge sem aviso.

Bom, não sabemos o que está acontecendo, se os milhares de seguidores recentes da direita são robôs, se é um novo pacote de bolsobots faltando cinco meses pra eleição, se são reaças banidos que já estão voltando, se o Twitter está suspendendo perfis de esquerda... O fato é que a extrema-direita está radiante com a aquisição de Musk, que já perdeu mais de 40 bilhões de dólares desde que decidiu comprar o Twitter. E a União Europeia já avisou que, se o Twitter não seguir as regras digitais do bloco, pode ser multada ou banida.

Pra mim, o pior que poderia ocorrer com o Twitter -- algo que realmente me faria abandonar a plataforma -- seria se Musk desabilitasse a opção de bloquear. Imagina os misóginos e neoanazis que me atacam poderem fazer isso sem limites? Seria um sonho pra eles. E um pesadelo pra mim. Pra nós.


terça-feira, 26 de abril de 2022

DA PARAÍBA PARA O MUNDO, UM PROJETO FEMINISTA

A jornalista Taty Valéria, jornalista de João Pessoa, é alguém que eu admiro muito. Admiro também seu projeto, o Paraíba Feminina, que infelizmente vai hibenar por um tempo, por causa da falta de patrocínio. Reproduzo aqui o seu texto:

O projeto Paraíba Feminina entrou no ar em maio de 2019, primeiro o blog, depois o instagram, e agora o Podcast.

O blog virou portal, o Instagram está perto da marca do 20 mil seguidores e as fronteiras paraibanas foram abertas.

Participei de seminários, mesas de discussão, eventos diversos e meu grande mimo: formação sobre mídia e violência de gênero para inúmeras turmas do ensino médio da rede pública e do EJA – Educação para Jovens e Adultos. Esses espaços foram especialmente preciosos pois consegui chegar num público que não tem familiaridade com os termos acadêmicos, assim como eu própria não tenho, e essa “conversa” dentro de uma linguagem acessível e entendível, de ambos os lados, conseguiu atingir exatamente o meu objetivo, levar informação para quem busca por ela.

Nesse tempo, produzi matérias que ajudaram a levar abusadores e assediadores para a justiça. Denunciei, investiguei, conversei com mulheres que ainda passavam pela dor do trauma. Ouvi muito choro e chorei também. Ouvir e destrinchar conteúdos tão densos consumiu minha saúde mental e cheguei muito perto de um colapso, e não foi só uma vez.

Sofri ameaças de morte e por um tempo, fiquei com medo de sair de casa. Precisei fazer Boletim de Ocorrência. Meu nome consta como testemunha em dois processos que correm na justiça.

Você me pergunta pela minha paixão, digo que estou encantada por tudo o que faço. Me identifiquei, em maior ou menor grau, com todas as histórias que acompanhei e contei. Chorei por mulheres que eu nunca vi. Me indignei por injustiças que nunca irão me atingir. Mas é disso que é feita minha essência.

É possível que você já tenha ouvindo de mim a expressão “O Paraíba Feminina é como um filho caçula: dá muito trabalho, dá muito gasto, mas me enche de orgulho”. Esse sentimento permanece, e por isso me dói tanto a expectativa de fechar a página.

Estamos em ano de eleições. O conteúdo do portal não é “interessante” dentro do contexto de um estado que respira e vive de política a cada dois anos. É a política local que movimenta a mídia e todas as esferas de poder. Sim, tudo é política, inclusive os feminicídios, os abusos, as violações, os autoritarismos e as injustiças. Mas a discussão política que esses fatos geram, não rende votos. Eu tenho total consciência, sem falsa modéstia, que sou muito boa no que faço. Tenho total consciência que esse portal tem um potencial imenso. Mas, como disse, isso não rende votos.

A culpa é de quem? Do governo? Da prefeitura? Dos deputados? Vereadores? Senadores? Se não apontar um culpado, qualquer denúncia vira poeira. Uma palavra mal colocada numa manchete pode gerar suspeitas de apadrinhamento. Uma postagem no twitter leva a especulações. Uma curtida no instagram em determinado perfil é um atestado de apoio. Um encontro aleatório num samba qualquer do Centro Histórico vira debates eternos nos gabinetes da vida. Sim, você precisa se posicionar! E eu me posiciono sempre, minhas preferências políticas jamais foram segredo, mas isso não é suficiente.

Desde o meu primeiro emprego como estagiária, e lá se vão 20 anos, jamais saí fechando portas. Mantive e mantenho a amizade e contato com todas as pessoas que trabalhei desde então. Algumas se tornaram íntimas, firmes como rocha. Os grandes se aliam, brigam, se aliam novamente, isso não me interessa. Como costumo dizer, sempre fui da baixa patente, e minha relação com ela continuou intacta com quem sem propôs a isso.

Voltando para o objetivo desse texto: caso algo muito sensacional não aconteça nos próximos dias, o portal Paraíba Feminina vai entrar em período de hibernação a partir do dia 1º de maio. Não há meios financeiros de mantê-lo. Além de mim, outros profissionais também dispõem de tempo à ele. Existem impostos. Existem atualizações. É preciso dedicação para apurar, escrever. A qualquer nova pauta que chega, preciso avaliar se aquilo vai atingir alguém de alguma forma e preciso decidir se ela é publicável, ou não. Essa análise me fez engavetar dezenas de fatos que seriam, e ainda são, de interesse público, e isso vale para todos os lados. TODOS OS LADOS. Não estou culpando A ou B. Estou culpando o alfabeto inteiro, e isso me inclui também.

Sonhos não pagam boletos, sonhos não me protegem de ameaças explícitas e veladas. Sonhos só me protegem da realidade, que está posta: não existem meios de realizar um jornalismo independente no estado da Paraíba.

O Instagram e o Podcast irão continuar e a campanha no Apoia.se continua firme, as doações pelo pix (pbfeminina@gmail.com), idem. Gratidão para quem colaborou e vai seguir colaborando. Sigam o Paraíba Feminina, comentem, compartilhem, ouçam.

Quando o gelo do inverno derreter e as flores da primavera voltarem a nascer, eu volto com uma linda margarida presa no cabelo.

Gratidão a todos, e desculpem qualquer coisa.

segunda-feira, 25 de abril de 2022

RIP TWITTER?

Sem tempo e nem computador (caiu um raio aqui na sexta e queimou o meu desktop velhinho) pra escrever, mas como é triste ficar quase uma semana sem post, vamulá. 

Parece que o bilionário Elon Musk, aquele que patrocina golpes de Estado na Bolívia, comprou o Twitter por 44 bilhões de dólares. Ele já era o maior acionista. 

Mascus, neonazistas e bolsominions (quase sempre os mesmos caras) estão eufóricos. Hoje recebi diversos comentários não aprovados aqui no blog dizendo prometendo que eu serei brevemente excluída do Twitter e como o Musk salvará a plataforma de todas as pessoas de esquerda.  

Eu estou no Twitter desde agosto de 2010 (costumo brincar que fui a última pessoa a entrar) e no momento tenho quase 185 mil seguidores. Acho que tenho conta verificada desde 2018, o que facilitou bastante a minha vida. Antes disso, havia pelo menos um perfil por semana que aparecia pra se passar por mim e, obviamente, me difamar. Mas é minha rede social preferida, até porque não tenho Facebook ou Instagram (creio que abri um perfil só pra pode ver os outros perfis de vez em quando). Nem whatsapp! Eu só me comunico na internet através de email, aqui no blog, e no Twitter.

Então será bem chato ter que sair ou ser deletada do Twitter. Mas provavelmente isso não irá acontecer. É claro que já é temeroso que uma só pessoa seja dona de uma plataforma com poder suficiente para impactar eleições (a gente deve defender a descentralização, não o autoritarismo pessoal). Pior ainda quando essa pessoa é um bilionário golpista se apropriando de uma plataforma gigante, ainda mais quando o cowboy do espaço já chega jurando "liberdade" (não é fantástico como os misóginos que idolatram o Musk comemoram essa promessa de liberdade ameaçando excluir gente?). Mas talvez as mudanças não sejam tão grandes.

Pode ser que Musk passe a cobrar pelo uso do Twitter, o que causaria uma queda titânica nos números. Pode ser que ele permita que neonazis tenham contas e façam sua propaganda à vontade (pensei que o Twitter já permitisse isso. Eu pelo menos estou denunciando há uma semana um perfil explicitamente nazista, racista, misógino, antisemitista, e até agora nada, continua no ar). Pode ser que ele permita que o pessoal do ódio ataque ativistas de direitos humanos.

Mas o pior que pode acontecer com uma plataforma é que ela fique entregue aos ratos. Que marca hoje em dia ganha ao ser associada com o ódio? Se houvesse um abandono em massa de gente no Twitter, a plataforma perderia seu valor em poucos dias. 

Muita gente de esquerda está perguntando o que fazer, recomendando o Mastodon (nunca tinha ouvido falar até hoje) ou grupos no Telegram (sério?!). Criar alternativas e migrar pra elas não é nada fácil. Se duvida, pergunte pra extrema-direita, que inventou o Gab, depois tentou o Parler, e não deu certo. São ambientes tóxicos onde só se vê o pior da internet (e da humanidade em geral). A morte certa pro Twitter seria se a plataforma virasse um Gab, um espaço de ódio reservado pros reaças (eu mesma devo ter uns cinco perfis no Gab -- todos falsos, feitos unicamente pra me atacar e divulgar meu endereço residencial). 

Se Musk conseguir estragar o Twitter, a própria plataforma vai se extinguir ou virar um reduto nazista. E imagino que nem ele queira isso. Portanto, ele terá que controlar seus impulsos golpistas e seguir o jogo, admitindo que há milhas de distância entre liberdade de expressão e discurso de ódio. Já é bastante ruim pra ele ser saudado por extremistas de direita. 

Lógico que pode ser que o impacto dessa compra do Twitter só seja conhecido daqui a algum tempo. Talvez quando já for tarde demais.