Outro dia uma escritora americana, Joanna Schroeder, escreveu uma thread no Twitter que viralizou (passou dos 180 mil likes). Como o que ela disse é muito relevante, e como eu vivo dizendo algo parecido (pais, vocês precisam saber o que seus filhos fazem na internet, porque imagina que tragédia se eles se tornam terroristas), pedi ao querido Vinícius Simões para traduzi-la.
A thread de uma mãe sobre garotos brancos e propaganda da extrema direita é leitura obrigatória para pais |
Você tem filhos adolescentes brancos? Preste atenção.
Tenho observado o comportamento online dos meus filhos e percebi que as redes sociais e os vloggers estão ativamente lançando as bases em adolescentes brancos para transformá-los em supremacistas e membros da alt-right [“direita alternativa”, uma nova leva de conservadores de extrema direita identificados com a supremacia branca que ganhou fôlego na segunda década deste século].
Eis como:
É um sistema que acredito ser propositalmente criado para desiludir garotos brancos para longe de pontos de vista progressistas/liberais [liberal aqui deve ser entendido como costuma ser empregado na política norte-americana, isto é, algo próximo do “esquerdista” usado no Brasil].
Primeiro, os garotos são inundados por memes com piadas sutilmente racistas, sexistas, homofóbicas e antissemitas. Sendo garotos, eles não veem as nuances e os repetem/compartilham.
Depois eles são chamados à atenção por essas piadas/ frases/ memes por pais, professores e crianças (principalmente meninas) na escola e online. Os garotos então sentem vergonha e constrangimento –- e a vergonha é a força que, acredito, leva as pessoas às suas piores decisões.
Exemplo de meme antissemita |
O segundo passo são os garotos consumindo mídia com temáticas do tipo "as pessoas estão muito sensíveis" e “você não pode dizer mais nada!”. Para esses meninos, isso soará legítimo -- eles estão tendo problemas por “nada”. Essa narrativa permite que os garotos abandonem a vergonha -– substituindo-a por raiva.
E de quem eles sentem raiva? Mulheres, feministas, liberais, minorias étnicas, gays, etc etc. Os chamados "floquinhos de neve especiais". E não há ninguém lá para desmontar a falácia do “floquinhos”.
Esses garotos estão sendo configurados -– eles são colocados como bolas de beisebol em um pino e atirados direto para fora do parque. E NINGUÉM parece notar isso acontecendo -– exceto, ao que parece, mães de garotas adolescentes que veem o assédio bizarro que suas filhas sofrem.
Me chame de floquinho de neve especial mais uma vez |
E, claro, mães como eu, que vigiam as redes sociais dos filhos.
Esses meninos são frequentemente de famílias progressistas ou moderadas -– mas seu comportamento online e hábitos de visualização são muitas vezes ignorados.
Aqui está um alerta vermelho prévio: se o seu filho reclamar de como as pessoas andam sensíveis para se ofenderem com uma piada, ele já está sendo exposto e a caminho. Intervenha! Olhe seu Instagram Explore junto com ele. Explique o que está sob esses memes. Explique por que “se sensibilizar” não é uma piada, o que um gatilho de estresse pós-traumático realmente é.
Evoque empatia sem envergonhá-lo. Lembre a ele que você sabe que ele é uma boa pessoa, mas explique como a propaganda funciona. A propaganda faz com que pontos de vista extremos soem normais devido a pequenas quantidades de exposição ao longo do tempo -– tudo com o propósito de converter pessoas a pontos de vista mais extremistas. Diga ao seu filho que ele não precisa ser enganado por ninguém.
Steve Bannon, responsável pelo crescimento da direita online |
Adolescentes possuem um impulso inato em direção à independência, e, uma vez que este sistema é exposto, é provável que eles passem a questionar as intenções dos memes e vloggers. Diga que você está sempre presente, não julgando, mas olhando para o conteúdo e tentando identificar a mentira -– sem julgamento.
Você pode também assistir a shows políticos cômicos com ele, como Trevor Noah, John Oliver e Hasan Minhaj. Fale sobre o que torna suas piadas engraçadas -– quem é o alvo das piadas? Eles fazem piada com o opressor ou com o oprimido? Nossos garotos querem se identificar com caras engraçados.
Um jovem ativista da extrema direita faz o sinal de "ok", símbolo de supremacia branca (eu, Lola, só descobri agora) |
Dê-lhes John Mulaney, Hannibal Burress, Hasan Minhaj, Neal Brennan, Dave Chappelle... e depois converse com seus filhos sobre essa parada engraçada. Explique. (Também apresente a eles comediantes mulheres, obviamente, mas isso não vem ao caso aqui). Mostre a eles que comédia progressista não é sobre ser “politicamente correta” ou segura. Frequentemente é sobre expor sistemas opressivos -– que é a coisa mais distante de “segura” ou delicada possível.
Desmonte essa besteira de "floquinho de neve especial" e “vitimismo” de uma vez por todas. Pergunte ao seu filho: quem é mais “vitimista”: a pessoa que se ofende com racismo/ sexismo e quer ativamente ajudar a acabar com o preconceito? Ou a pessoa que se sente ofendida por quem diz “Boas Festas” em vez de “Feliz Natal”?
Acima de tudo, precisamos nos manter engajados e desafiar nossos filhos sem constrangê-los. Tenho sorte, meus filhos são inteligentes e têm um pai inteligente, crítico e progressista, que não tem medo de apontar a besteira quando vê. Mas vi TANTOS garotos brancos sendo vítimas desse sistema. Então cuidado.
Obrigado ao comentarista que compartilhou essa thread sobre jornalistas que fizeram o trabalho real sobre este assunto. @Max_Fisher, você é um herói por isso.
IFunny se tornou um pólo do nacionalismo branco |
E alguém sugeriu essa entrevista relevante com um ex-supremacista branco sobre como ele se radicalizou (e conseguiu sair).
Outra grande fonte que li em algum momento e tinha me esquecido. Essa é uma história de pais verdadeira. Eu não sei quem eles são, no entanto. Um trecho: “Aos 13 anos, de repente sem amigos, ele não poderia entender como estava sendo manipulado ou como a tecnologia tornava mais fácil para a alt-right online encontrá-lo”.
Mais uma fonte!