sexta-feira, 31 de julho de 2009

CLÁSSICOS: TARDE DEMAIS PARA ESQUECER /Trágicas coincidências e uma frase infeliz

Comédia num filme pra fazer chorar. Baldes.

No outro post eu falei, falei, mas acabei não dizendo quase nada sobre Tarde Demais para Esquecer, esse clássico de 1957 que continua bastante celebrado ainda hoje. Esta mesma história foi refilmada com o Warren Beatty e a Annette Bening na década de 90, com o título Segredos do Coração, e naufragou na bilheteria. O que poucos sabem é que o filme de 57 era em si um remake. Ele já havia sido feito em 1939 pelo mesmo diretor, Leo McCarey. Pra quem acha que todas as refilmagens atuais representam uma total falta de imaginação de Hollywood, saiba que desde antigamente eles refaziam filmes pra caramba.
Além de ter o Cary Grant, Tarde Demais conta com a Deborah Kerr, que entrou pra história por causa daquele beijo nas ondas com o Burt Lancaster em A Um Passo da Eternidade. Deborah foi uma grande estrela que participou de obras importantes (veja aqui o Oscar honorário que ela recebeu quando Tom Cruise e Nicole Kidman ainda estavam juntos). Eu sempre achei que o nome dela se pronunciava “Quer”, por causa da musiquinha da Rita Lee, “Flagra” (“Se a Deborah Kerr que o Gregory Peck / não vou bancar o santinho”), mas não, é Car mesmo. Aliás, eu nunca sei como se pronuncia nenhum nome de ator. Mas então, a Deborah tá perfeita em Tarde Demais.
Vou precisar contar um pouco do filme, com spoilers e tudo. Imagino que a trama seja conhecida depois de cinquenta anos. E saber o que acontece não tira o prazer de ver Tarde Demais. Deborah faz uma ex-cantora, e Cary é um pintor amador e playboy famoso, prestes a se casar com uma herdeira milionária. Eles se conhecem num transatlântico, se apaixonam aos poucos, e, por causa da publicidade, devem fingir que não estão juntos. Essa parte do filme, que é quase a metade dele, é bem cômica (veja um trechinho dublado em português). Eu adoro a cena na escada do navio. Deborah e Cary dão alguns passinhos e sobem os degraus de uma escada, mas a câmera não acompanha. Reconhecemos que eles estão se beijando, mas só vemos as pernas. Uns fofos, e eles trabalham bem juntos, têm química. Outra sequência que tinha tudo pra ser melosa mas acaba dando certo é quando Cary apresenta Deborah a sua avó. Eu chorei quando a Deborah abraça a avozinha. Sou sensível.
De volta ao cruzeiro, Deborah e Cary fazem um trato: num prazo de seis meses, vão dispensar os respectivos, dar um jeito em suas vidas, e voltarão a se encontrar, no topo do Empire State Building (veja a cena do acordo aqui, em inglês). No dia do encontro, Deborah é atropelada por um carro, em frente ao prédio, e levada a um hospital. Cary não sabe de nada disso. Ele espera com o coração na mão no prédio, até fechar, e pensa que ela não quis vê-lo. Ela, que fica paralítica, decide não procurá-lo, e toca a vida sozinha, virando professora de canto. Chuif. Um ano depois, eles se cruzam num balé. Ele vai atrás dela, com o orgulho ferido, e conta como esteve apaixonado, e como se sentiu rejeitado. Durante esse discurso todo Deborah está sentada, com uma manta cobrindo-lhe as pernas; logo, Cary segue sem entender o que aconteceu. E a gente fica torcendo: “Conta logo, filha!”. Quando ele diz que vendeu um quadro pra uma mulher numa cadeira de rodas, ele finalmente une os pontinhos: era ela! Os dois choram abraçados, e o público cria um dilúvio (na realidade, eu chorei muito mais no meio). The end. Um happy end - os dois ficarão juntos. Mas também um sad happy end, né?
Tarde Demais não é um grande filme porque contem algumas cenas constrangedoras, como uns dois números de crianças cantando enquanto a Deborah ouve, comovida, com uma iluminação que faz dela uma santa. Esses números realmente são dolorosos e quase me fizeram chorar (no mau sentido). E claro que o filme é romântico, mas as coincidências são meio excessivas. Porém, uma fala que me marcou, que ninguém menciona, e que eu nunca vou esquecer, é a que a Deborah diz pro Cary no final: “Oh, darling! If you can paint, I can walk. Anything can happen!” (“Oh, querido. Se você pode pintar, eu posso andar. Tudo pode acontecer!”). Hello? Por que só eu não acho essa declaração lá muito amorosa? O cara tá se esforçando pra sobreviver pintando (o primeiro trabalho que tem na vida, e ele já tá na meia idade) - isso não pode ser tão difícil quanto uma pessoa numa cadeira de rodas há um ano andar. Eu entendo a motivação, mas se o maridão dissesse pra mim algo como “Oh, querida. Se você pode passar num concurso e virar professora universitária, eu posso voltar a ter cabelo! Tudo pode acontecer!”, eu pegava minhas coisas e ia embora. Na hora.

quinta-feira, 30 de julho de 2009

SER FEMINISTA É PADECER NO PARAÍSO

Esperando alguém vir te salvar, querida?

É tão fácil coletar dropes machistas. É só acompanhar uma discussão bem polêmica, onde apareçam vários comentaristas homens querendo defender a espécie. De vez em quando aparecem mulheres machistas também, lógico, mas vamos admitir que a maior parte das leitoras de blogs feministas são feministas. Acho o máximo que homens que se creem evoluídos venham nos pautar, decretar o que é ou não legítimo pro feminismo discutir, porque eles sim sabem o que é bom pra gente. Eu não tive que quebrar a cabeça ou ler centenas de posts de blogs feministas pra encontrar essas pérolas machistas. Peguei várias deste post meu, outras de alguns comentários no blog da Cynthia e deste da Marjorie, e fui me lembrando de mais algumas que não passariam vergonha em nenhum bingo anti-feminista. Portanto, mãos à obra. Faça sua cartela e vá riscando o que um trololó disparar na próxima discussão. Às vezes um mesmo cidadão se supera e já tasca logo cinco dessas. Então você deve gritar “bingo!”. Ganha um jogo de facas.

- A sociedade até é machista, mas eu não sou. Estou do seu lado!
- Você tá com inveja por não ser bonita como ela.
- Quem acha isso machista é que é machista.
- Tudo é opressão pra vocês.
- O que o seu marido/namorado acha disso?
- Não sou feminista, sou feminina.
- Você não entendeu nada, sua histérica / frígida / mocreia / baranguda / feminazi!
- [Inclua aqui seu autor consagrado favorito, Nabokov, por exemplo: Fulano] também disse isso, e nem por isso foi censurado. Vocês querem acabar com as artes!
- Vinicius de Moraes já dizia: “As feias que me perdoem, mas beleza é fundamental”.
- Nelson Rodrigues já dizia: “Não são todas as mulheres que gostam de apanhar. Só as normais”.
- Camille Paglia já disse: blá blá blá. [Inclua aqui o nome de algum(a) machista que já disse algo machista pra justificar o seu machismo].
- Mas homens e mulheres são diferentes.
- Como homens e mulheres são diferentes e têm necessidades diferentes, não precisam de direitos iguais.
- O maior inimigo do feminismo é a própria mulher.
- Vamos deixar de lado isso de homem agressor e mulher agredida e pensar no ser humano.
- Se há um agressor, há também um ser que se deixa agredir.
- Homens podem trazer uma visão menos limitada e mais correta do que é feminismo.
- Existem problemas legítimos, mas isso que você está falando não tem a menor relevância.
- Homens gostam muito mais de sexo que as mulheres. É a natureza!
- Um homem mexer com uma mulher na rua não é machismo.
- O feminismo nada mais é que o oposto do machismo.
- Como homem, sinto-me agredido quando você diz que homens estupram mulheres.
- Isso não tem nada a ver com machismo. É cultural. Só um padrão estético.
- Vocês não podem ter tudo.
- Vivemos num mundo que valoriza as mulheres. A propraganda é direcionada ao público feminino.
- Mulheres não têm que se arrumar. Fazem porque querem!
- Menos Simones de Beauvoir, mais Marie Curies, por favor!
- Eu não posso ser machista porque amo as mulheres. Sou casado com uma! Tenho mãe!
- A pseudo-revolução feminista foi a melhor coisa que aconteceu para os homens. Agora podemos transar à vontade sem ter que pagar!
- Se mulheres fossem fortes como os homens, certamente também estuprariam e espancariam. Só não o fazem porque perderiam.
- Mulher não mata o marido, mas vai acabando com ele devagarzinho.
- Mãeso responsáveis por criarem homens-trastes.
- O feminismo só piorou a vida das mulheres. Era melhor ser Amélia.
- Sou mulher, mas odeio trabalhar com mulheres.
- As sociedades matriarcais são tão ou mais violentas que as patriarcais.
- Golfinhos, chimpanzés, e o Genghis Khan são estupradores. Estupro é geneticamente eficiente pra espalhar a sementinha.
- Chega de feminismo! Eu quero mais é um homem pra chamar de meu.
- Minha visão não é machista, é realista.
- A publicidade é inofensiva, só um apelo à vaidade feminina.
- As mulheres já conquistaram tudo que queriam. O feminismo perdeu sua razão de ser.
- Ué, homens também param de trabalhar pra cuidar dos filhos.
- Margaret Thatcher, Golda Meir, Indira Gandhi e tantas outras políticas não fizeram um governo melhor que o dos homens.
- Mulher adora receber cantada na rua. Faz bem pro ego.
- Vocês estão fora do compasso da realidade!
- O que vocês têm contra as mulheres que ficam em casa cuidando dos filhos?
- [Falar qualquer besteira e colocar um sorrisinho no final. Aí, se alguém reclamar, o autor diz que só estava fazendo uma provocaçãozinha e nós, feministas mal-amadas, é que não entendemos seu espetacular senso de humor].
- O fato é que mulheres tendem a falar mais que os homens, e quando não podem falar sentem-se frustradas.
- O feminismo e outras defesas politicamente corretas são uma ameaça à democracia.
- Depois vocês não entendem por que tanta gente acha o feminismo uma estupidez.

Esta eu tive que copiar dos comentários de um post da Cynthia. É de um carinha insultando uma comentarista que ousou dizer que as ideias dele são um atraso de vida: “te imagino nada mais que uma dessas horrorosas mulheres de camiseta larga, cabelo desbaratado, com um gato embaixo do braço num típico estereótipo da solteirona carrancuda que se queixa dos homens porque não arranjam um”. Detalhe: esse cara se diz totalmente solidário às mulheres. Pô, ele até participa de blogs feministas! É um ser iluminado, sem sombra de dúvida.
E esta eu também gosto muito. Tirei de outro post da Cynthia que, coitada, vem recebendo sua cota de comentários infelizes (mas garante pontinhos extras no céu por isso): “Homem ser chamado de machista é insulto, mulher ser chamada de feminista é elogio”. Pois é. Não dá pra negar que estamos sendo muito elogiadas ultimamente.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

CONCURSO, TORNEIO E TOMATES ASSASSINOS

Este deveria ser um post curtíssimo só pra implorar pra que vocês votem no concurso de blogueiras. O link pra cada post tá aqui, e a enquete tá aí do lado. Vamulá, pessoal! E muito obrigada a todas vocês que estão divulgando o concurso e reclamando que a escolha é dificílima. Páreo duro, eu sei.
Mas também queria aproveitar pra manifestar minha total e irreparável decepção com os... tomates. É, gente. Agora falei. O maridão viajou, está em SP jogando um super torneio de xadrez, e, até agora, indo divinamente bem (veja no blog dele; só não repare porque xadrez deve afetar o conhecimento cognitivo de colocar vírgulas no lugar certo. Ah, e meu leitor mineiro e cachaceiro Mario me abandonou de vez, agora não sai do blog de xadrez). E o maridão, ao invés de deixar a casa abastecida com chocolates (que, de fato, não durariam muito), deixou tomates. Tantos tomates que ele até sugeriu que eu fizesse suco. Óbvio que os tomates estavam em promoção, por isso que ele comprou tantos. E minha relação com os tomates sempre foi muito boa, nenhum grande trauma. Eu estava pronta pra enfrentá-los. Na realidade, os tomates na geladeira estão todos lindos, vermelhões, maduros, sem nenhuma manchinha. Até que eu os corte. Praticamente todos estão “premiados”! Já tive que jogar quatro tomates fora, porque todos tinham um bichinho (vivo!) dentro. Ai, é muito nojento. E pra piorar, ontem à noite fui fazer um sanduíche pra mim. O primeiro tomate foi pro lixo, depois que eu encontrei mais uma minhoquinha. O segundo eu analisei muito bem, não achei furinho interno nenhum, fatiei o tomate em rodelas, tudo com muito cuidado. E o que encontro depois do sanduíche sair do forno? Um bichinho no meu sanduíche! Há outros detalhes grotescos, só que não quero estragar o apetite de vocês. E eu já falei, mas vou repetir: eu amo agrotóxicos.
Mas também amo vocês. Votem, vai. Eu tinha que desabafar.

TARDE DEMAIS PRA ESQUECER CARY GRANT

Durante os doze meses que morei em Detroit (e já faz quase um ano que voltamos pro Brasil, incrível!), vi um bocado de filmes. Graças à Netflix, um sistema excelente que cedo ou tarde vai substituir as locadoras de vídeo. Se houver justiça divina, um dia algo parecido se espalha por aqui também. Eu aproveitei pra ver vários clássicos que, aparentemente, todo mundo na face da Terra já havia visto menos eu. Um deles foi Tarde Demais para Esquecer (no original, An Affair to Remember). Esse filme é de 1957, ou seja, tão, mas tão jurássico que é da mesma data em que o maridão nasceu, quando os dinossauros habitavam a Terra e tal. Muita gente mais nova só ficou sabendo de Tarde Demais por causa de Sintonia de Amor (Sleepless in Seattle), que consegue a proeza de parecer ainda mais datado que um filme com mais de meio século (é, eu não gosto de Sintonia). Quando esse águinha com açúcar falou de Tarde Demais, em 1993, o clássico vendeu dois milhões de cópias em dvd, e foi ressuscitado. Hoje ele aparece em todas as listas das maiores histórias de amor de todos os tempos. Na relação do American Film Institute, as dez maiores são... Ah, adivinhe. Casablanca (1942) em primeiro, depois E o Vento Levou (1939), Amor Sublime Amor (1961), A Princesa e o Plebeu (1953), Tarde Demais em quinto, Nosso Amor de Ontem (1973), A Felicidade Não se Compra (1946), Love Story (1970), e Luzes da Cidade (1931) (lista completa aqui).
O galã que mais aparece na lista dos cem é, disparado, Cary Grant, seguido por Humphrey Bogart. Ah, Cary... O cara morreu em 86 e eu sigo apaixonada por ele, de um jeito meio necrófilo. Mesmo que ele interpretasse quase sempre o mesmo papel, o de um carinha bonitão, sofisticado, galante e bem-humorado, ele fazia isso como ninguém (e simplesmente não houve um ator tão bom de screwball comedy, comédias cheias de farsas e com grande subtexto sexual, como em Levada da Breca). Foi o ator preferido de Hitchcock. Casou-se cinco vezes. Teve sua primeira e única filha com 62 anos. Detestava o estilo naturalista do Actor's Studio que lançou Marlon Brando, Montgomery Clift e James Dean. Praticamente todas as biografias apontam que ele era bissexual, até porque morou, no início da carreira, com um outro ator, Randolph Scott. Os estúdios ameaçavam que, se eles não vivessem em casas separadas, não teriam papéis. Eles não ligaram e ficaram juntos doze anos (embora sempre desmentissem os rumores). Mas parece que a grande paixão de sua vida foi mesmo Sophia Loren. Cary já estava no terceiro casamento (sem contar aquele com Randolph) quando se apaixonou perdidamente por Sophia, que ele conheceu em 57, durante as filmagens de Orgulho e Paixão. Tiveram um casinho, ela não quis mais, porque já namorava o produtor Carlo Ponti (com quem se casou e ficou casada até a morte de Carlo, em 2007). Cary fez montes de filmes, foi um dos primeiros atores a ter controle de sua carreira, sem depender dos estúdios (razão, talvez, pela qual ele nunca recebeu um Oscar, só um honorário - veja o vídeo aqui). Decidiu se aposentar em 1966 e nunca mais atuou, ainda que tenha vivido mais vinte anos. Ian Fleming se inspirou nele pra criar James Bond. E reza a lenda que, em 1981, Charlton Heston foi a um jantar com sua esposa em homenagem a Reagan. Charlton contou, todo prosa, que sentou-se ao lado da primeira-ministra Margaret Thatcher. Sua esposa respondeu: “Isso não é nada! Eu me sentei ao lado de Cary Grant!”.
E isso tudo vindo de um sujeito que nasceu se chamando Archibald Leach, coitado! Chamar-se Arquibaldo já derruba qualquer um, mas ainda por cima ter um sobrenome como Leach, que lembra leech, sanguessuga? (esse nome foi homenageado pela comédia hilária Um Peixe Chamado Wanda, em que o personagem do John Cleese chama-se Archie Leach. Mas o próprio Cary já havia feito uma brincadeirinha com o nome em Jejum de Amor). O estúdio trocou seu nome de batismo rapidinho pra Cary Grant. Felizmente eu não era nascida nessa época, ou eu pensaria que isso foi apenas pra que eu confundisse por toda a eternidade o nome do Cary com o do Gary Cooper. Mas não, foi proposital: Gary era o maior astro na ocasião, e o estúdio quis aproveitar e ver se um nome parecido traria sucesso a Cary. Hoje alguém se lembra de Gary Cooper? (tá, sacanagem, ele esteve em Matar ou Morrer, e, na lista dos 25 maiores atores de todos os tempos, aparece em 11o; Cary em segundo, depois de Humphrey Bogart).
Opa, me empolguei, pra variar, e fiquei só falando do Cary. Na sexta eu me aprofundo um pouquinho e discurso sobre Tarde Demais para Esquecer. Dá pra você ver ou rever o filme até lá?

terça-feira, 28 de julho de 2009

BINGO ANTI-FEMINISTA

Se você já cansou de ouvir besteira, não grite. Grite bingo.

Achei isso ótimo e decidi traduzi-lo pra poupar nosso tempo. Qualquer pessoa que tem ou já teve um blog feminista já ouviu várias dessas pérolas. Ou todas. O modo de usar este bingo é colocar os lugares-comuns a seguir numa cartela com 25 quadradinhos. Quando um bando de trololós machistas invadir o seu espaço numa discussão, vá riscando (ou colocando feijãozinho em) cada categoria que o troll disparar. Grite "Bingo!" ao completar uma coluna na vertical, horizontal ou diagonal. Vamulá:
- Mas eu gosto que minhas mulheres sejam femininas.
- As feministas estão totalmente erradas. Eu sou a favor da igualdade.
- As mulheres são naturalmente melhores nesse tipo de coisa.
- É o seu dever me ensinar sobre feminismo. Pode começar.
- O sistema patriarcal também prejudica os homens.
- Você simplesmente não gosta de sexo e quer estragar o prazer de todo mundo.
- Abuso sexual é raro. Você é paranoica.
- Ela deu várias vezes antes.
- Nós te demos o direito a voto, agora cale a boca.
- Se você quiser ser tratada como uma dama, é melhor começar a se comportar como uma.
- Mulheres não conseguem ser objetivas em questões de gênero.
- Com essa atitude, você nunca vai conseguir ir pra cama com alguém.
- Você mancha a imagem das feministas.
- Sou apenas um cavalheiro das antigas.
- Você fica tão sexy quando está zangada.
- Você está com TPM.
- Você tem uma mentalidade de vítima.
- Tudo que vocês feministas precisam é de uma boa trepada.
- Você está sendo tola e emocional.
- As mulheres têm todo o poder sobre os homens - vocês podem nos reduzir a gelatinas de tanto desejo!
- Vocês feministas odeiam os homens.
- Eu sou um cara legal, por que não consigo uma mulher?
- Vou te dizer o que há de errado com o feminismo...
- Mas eu quero falar sobre isso. Me escute!
E, no centro de tudo, bem em destaque, a clássica: “Você não tem senso de humor!”.
A autora do bingo feminista decidiu fazer outra compilação (minha tradução falha também), mas algumas citações são meio específicas demais. Selecionei apenas as mais comuns:
- É genético: um homem deve espalhar sua sementinha.
- Vá se ocupar de causas mais importantes [como as criancinhas passando fome].
- Tenho uma amiga que é feminista e ela discorda de você.
- Você é gorda e seu marido é um idiota covarde.
Depois de amanhã eu publico uma lista das pérolas machistas que mais tenho lido por aí nos comentários da blogosfera feminista do Brasil-sil-sil. Ah, e nem precisei recorrer a posts do Lingerie Day pra isso.

TOLERÂNCIA ZERO

Responda sinceramente. Você está dirigindo o seu carro lá pelas sete e meia da noite. Tudo bem, pode até ser que você esteja morrendo de pressa porque tem uma aula particular pra dar (o meu caso), mas estatisticamente falando, as pessoas estão voltando pra casa nesse horário, então há mais chances de você não estar assim tão afobado. Anyway, não importa. É uma noite chuvosa, está bem escuro, e o sinal acaba de abrir pra você. Logo adiante há um outro sinal. Você pode vê-lo de onde você está. E, se você passa lá com frequência, sabe que é um sinal ingrato pra pedestres. O sinal quase nunca fica verde pra eles. Aí você vê uma moça e uma menina de uns dez anos, bem pequena, atravessarem correndo naquela faixa. E você vê também que a menininha escorrega e cai no chão molhado. O que você faz? A) você para o carro, esperando que a menina se levante. B) você para o carro perto, pra ver se a menina está bem, e se não estiver, oferece-se pra levá-la até o pronto-socorro mais próximo. C) você desacelera e diz pela janela “Tadinha, você tá bem?”. D) você buzina duas vezes, alto, pra avisar pra menina sair da frente. Pois é, tive a oportunidade de ver ao vivo uma pessoa escolhendo a alternativa D. O cretino num desses utilitários com pneu externo nem desacelerou. Ele só buzinou, assustando ainda mais a pobre menina. Nessas horas meu coraçãozinho se enche de ódio. Acho que pessoas assim, sem empatia nenhuma, nem deveriam poder tirar carteira de motorista. Putz, pra saber dirigir tem que saber viver em sociedade. E pra viver em sociedade, é necessário um mínimo de empatia. Se o nojentão não tem empatia por uma menininha que escorrega atravessando a rua embaixo de chuva à noite, vai ter por quem? Só tenho uma palavra pra você, ô do carrão: morra.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

ALUNOS, ESSES SERES INEXPERIENTES

Agora estou cursando uma matéria do curso de Letras a distância com uma turma que nem sei direito de que é. Acho que é Logística, algo assim. E a disciplina é uma que fiquei devendo ao pular três semestres, a de Metodologia do Trabalho Acadêmico. Que é um porre inominável, e totalmente inútil, porque cada instituição que você for vai ter sua própria metodologia, e você terá que fazer o curso de novo. Lembrando sem pensar muito, eu fiz essa matéria na faculdade de propaganda, na especialização em inglês, na graduação em pedagogia, no mestrado na UFSC, e agora aqui. Pelo menos a disciplina do mestrado foi hiper útil, porque valeu por seis anos, e também porque foi dada por um excelente professor, o meu orientador. No final a minha turminha acabou gostando tanto das aulas que até lhe deu um cartão agradecendo pelo “Academic Writing in Performance”, que era um chiste entre o nome da matéria (porque era em inglês, e segue a metodologia MLA, Modern Language Association), e a área de expertise dele, que é Shakespeare in Performance (ou seja, não o Shakespeare do texto escrito, mas o dos palcos).
Nessa turma de Logística, pra piorar, acho que peguei uma turma nova, recém-iniciada, o que explica o enorme número de alunos (uns 50, pelo que contei por cima), e o comprometimento do professor em cumprir o horário (digamos que foi a primeira vez naquela faculdade que uma aula presencial realmente dura mais de três horas). E o silêncio sepulcral da classe. Só o professor fala, mas pelo menos ele fala. Melhor que outras aulas que já acompanhei, em que alguém só lê as respostas aos exercícios da apostila. Um defeito desse professor, que é muito comum - e que, as God is my witness, eu espero não repetir quando (se?) der aula no ensino superior -, é tratar o aluno como tábula rasa. Quer dizer, o aluno não teve nada parecido com uma vida pregressa antes de pisar na sala de aula. Deve ter hibernado esse tempo todo, esperando a chegada de um ser iluminado, o professor, para despertá-lo. Se a gente não deve adotar essa postura com crianças de seis anos, menos ainda com universitários, já que isso nunca é verdadeiro. Até porque posso apostar que naquela turma, onde há várias pessoas com mais de 40 anos, muitas já devem até ter uma faculdade (uma moça com quem conversei estava concluindo Oceanografia, e começando Logística). Mas o professor tratou todos como se ninguém tivesse lido um só livro na vida. Sério. Numa hora ele contou que estava lendo, e adorando, o Leite Derramado, do Chico (eu não gosto muito do Chico como escritor. Tentei ler Estorvo e achei chato. Faz tempo, talvez eu deva tentar de novo). Mas disse pra gente não começar nossa leitura por aí, porque era complicado. Eu realmente prefiro acreditar que todo mundo naquela sala já havia lido alguma coisa.
E nisso de incentivar os alunos a lerem, às vezes o professor exagera e amedronta. Tipo: ele contou que já escreveu vários artigos pra jornais locais, e pra internet, mas parou, porque isso toma tempo demais. Porque, pra escrever uma ou duas páginas, ele precisa ler cinco livros! Hello? Como que você vai citar cinco livros num textinho de uma página? Escrito pra jornal, ainda por cima, que nem é o espaço adequado pra linguagem acadêmica? Ele também pediu que os alunos lessem de 20 a 35 livros por ano. Podia descontar as apostilas do curso dessa conta (8 apostilas por ano). Sobravam doze livros pra ler no ano. Putz, eu não gosto dessas contas! Pouquíssimas vezes parei pra contar quantos livros li durante um período!
Teve uma hora que ele explicou o que era TCC (vou repetir, porque o maridão, longe das cadeiras escolares há seculos, não sabia o que era: Trabalho de Conclusão de Curso), monografia, dissertação e tese. Eu tenho problemas aqui, porque em inglês, em geral, pelo menos na UFSC, dissertation é pra doutorado, e thesis é pra mestrado. Segundo o professor, uma monografia deve ter cem páginas, uma dissertação de mestrado, entre 200 e 300, e uma tese de doutorado, o tamanho de um livro (ahn, tamanho de livro varia, né?). Na UFSC, ao menos na minha área de Inglês, a dissertação tem entre 50 e 100 páginas (a minha teve 115, mas uma amiga teve que cortar a dela ao ultrapassar a centésima página), e a tese, essa sim, entre 200 e 300. Mas o pior é que o professor disse que um doutorado leva entre um e quatro anos pra completar, e às vezes, seis e oito. Eu não quis falar nada no meio da aula, porque, pô, só vou estar lá durante quatro encontros, e ele vai continuar com aquela turma pelos próximos semestres. Mas, no intervalo, falei pra ele: “Professor, nunca ouvi falar de doutorado de um ano”. Ele respondeu: “É que não dá tempo, porque tem tanta coisa pra estudar. Na verdade, eu nunca nem ouvi falar de alguém que terminou um doutorado em quatro anos”. Aí eu não me contive e disse: “Eu terminei”. Ele, muito perplexo e confuso, quis saber: “Ahn? Como assim?”. Eu expliquei que, em geral, o doutorado deveria ser completado em 48 meses (4 anos), mas que na UFSC, ao menos na minha área, inventaram que o prazo seria de 44 meses! Eu levei 46. Ele fez algumas perguntas sobre a tese e tal. Simpático até, apesar do espanto.
Não sei se falei demais, provavelmente sim, mas, na minha concepção, são só umas pouquinhas aulas. E talvez, quem sabe, ele leve essa experiência em consideração na hora de concluir que seus alunos nunca leram um livro na vida.