O maridão é lindo e fofinho e hoje é o aniversário dele. Pra comemorar, planejei com minha mãe um super café da manhã/almoço (em outras palavras, brunch. A gente devia ter uma palavra pra isso em português). Só que surpresa, sem que o maridão soubesse. Não é fácil, pois todos nós moramos na mesma casa.
Eu fui preparar um bolo salgado ontem à tarde, quando o maridão sai de casa pra treinar uma equipe (ele é jogador profissional, professor e treinador de xadrez). Mas não deu tempo e, quando o maridão voltou, o bolo ainda estava assando. Então só tive uma alternativa: fazer algo que nunca faço e que não faço nada bem -– mentir. Falei que estava fazendo o bolo pro aniversário dele porque não teríamos mais nada pra comer hoje.
Na realidade, eu já tinha mentido pra ele antes. Não lembro bem quando foi (talvez em 2009). Eu e minha mãe tínhamos planejado montar uma cesta de café da manhã como presente surpresa pra ele (tem poucas coisas no mundo que Silvinho gosta mais do que café da manhã. Ele crê que a única vantagem de viajar e ficar em hotel é que tem café da manhã). Na véspera fui a uma frutaria/verdureira perto de casa (morávamos em Joinville) comprar um montão de frutas. O maridão só iria voltar de viagem mais tarde. Aí eu tô andando, quase em frente à frutaria, carregando uma sacola de pano, e o carro de quem vem na minha direção? O dele, lógico. Pensei por alguns milésimos de segundo em me esconder, mas ia parecer suspeita. E ele já tinha me visto.
Daí inventei a historinha mais mal contada do universo. Digamos assim: frutas e verduras não são exatamente meus melhores amigos. Logo, é quase tão comum esbarrar comigo numa frutaria quanto numa igreja. O que eu estava fazendo ali? Disse pro maridão que minha mãe tinha saído e me pedido pra comprar frutas pra ela. O que é uma mentira patética. Imagina se iria sair de casa pra comprar frutas pra alguém se não fosse o aniversário desse alguém! Nunca. Mas o maridão acreditou numa boa em todas as besteiras que eu inventei na hora, e perguntou se não queria que ele escolhesse as frutas. Eu disse que não, que ele devia estar muito cansado, tadinho, e que devia ir pra casa.
E lá quem ele encontra? Minha mãe. Que eu falei que tinha saído. E o maridão nem desconfia.
No dia seguinte, entregamos uma cesta linda que havíamos montado pra ele. Cheia de frutas, pães, queijos, cremes, sucos em caixinha, alguns chocolates, que ninguém é de ferro, e sei lá mais o quê, tudo embrulhado em papel celofane. Ele ficou super feliz e... surpreso. Naquele dia eu descobri que poderia get away with murder. Como se fala essa expressão em português? Não sei explicar. Eu me safaria até se tivesse matado alguém, algo assim.
Só pensei que não daria pra mentir duas vezes sobre o mesmo assunto porque o maridão, estrategista e grande jogador de xadrez que é, desconfiaria. Nada. Às vezes eu me pergunto se Millôr não tinha razão: xadrez é um jogo que aumenta a capacidade de jogar xadrez. (Não, sacanagem. Tá provado que escolas que têm xadrez na grade saem-se melhor em matemática e raciocínio lógico. Sem falar que xadrez, como tantos outros jogos, ensina a competir, a ganhar e a perder. É bom pra maturidade emocional. Mas pra saber se o cônjuge tá falando a verdade -- bem, aí o jogo/esporte/arte fica devendo um pouquinho.
Hoje foi tranquilo. Acordamos meio tarde, nove e meia, e fui me vestir. Ultimamente tenho andado só de calça aqui em casa (porque senão os pernilongos no escri trituram minhas pernas), e nada em cima (porque senão o calor acaba comigo, mesmo com ventilador ligado o tempo todo). O maridão viu minha camiseta, estranhou, e perguntou: "Onde você vai toda bonitinha?". Eu, sem uma mentira premeditada, só pude responder: "Não sei". E saí correndo. Lógico que um comportamento suspeito desses não provoca nem cócegas no Silvinho.
Pouco depois pedi pra que ele descesse porque minha mãe estava precisando de ajuda pra alguma coisa (meu arsenal de mentiras já havia se esgotado), e lá foi ele, todo crédulo. E encontrou uma mesa divina lá embaixo. Adorou, tirou fotos, abriu champanhe. Comemos muito. E o incauto realmente não havia desconfiado de nada. "É que eu sou discreto," explicou ele. "Tenho uma outra palavra pro que você é, amore", retruquei eu.
Mas eu te amo desse seu jeitinho aí, lindão. Feliz 55 anos, Silvinho!
Eu fui preparar um bolo salgado ontem à tarde, quando o maridão sai de casa pra treinar uma equipe (ele é jogador profissional, professor e treinador de xadrez). Mas não deu tempo e, quando o maridão voltou, o bolo ainda estava assando. Então só tive uma alternativa: fazer algo que nunca faço e que não faço nada bem -– mentir. Falei que estava fazendo o bolo pro aniversário dele porque não teríamos mais nada pra comer hoje.
Na realidade, eu já tinha mentido pra ele antes. Não lembro bem quando foi (talvez em 2009). Eu e minha mãe tínhamos planejado montar uma cesta de café da manhã como presente surpresa pra ele (tem poucas coisas no mundo que Silvinho gosta mais do que café da manhã. Ele crê que a única vantagem de viajar e ficar em hotel é que tem café da manhã). Na véspera fui a uma frutaria/verdureira perto de casa (morávamos em Joinville) comprar um montão de frutas. O maridão só iria voltar de viagem mais tarde. Aí eu tô andando, quase em frente à frutaria, carregando uma sacola de pano, e o carro de quem vem na minha direção? O dele, lógico. Pensei por alguns milésimos de segundo em me esconder, mas ia parecer suspeita. E ele já tinha me visto.
Daí inventei a historinha mais mal contada do universo. Digamos assim: frutas e verduras não são exatamente meus melhores amigos. Logo, é quase tão comum esbarrar comigo numa frutaria quanto numa igreja. O que eu estava fazendo ali? Disse pro maridão que minha mãe tinha saído e me pedido pra comprar frutas pra ela. O que é uma mentira patética. Imagina se iria sair de casa pra comprar frutas pra alguém se não fosse o aniversário desse alguém! Nunca. Mas o maridão acreditou numa boa em todas as besteiras que eu inventei na hora, e perguntou se não queria que ele escolhesse as frutas. Eu disse que não, que ele devia estar muito cansado, tadinho, e que devia ir pra casa.
E lá quem ele encontra? Minha mãe. Que eu falei que tinha saído. E o maridão nem desconfia.
No dia seguinte, entregamos uma cesta linda que havíamos montado pra ele. Cheia de frutas, pães, queijos, cremes, sucos em caixinha, alguns chocolates, que ninguém é de ferro, e sei lá mais o quê, tudo embrulhado em papel celofane. Ele ficou super feliz e... surpreso. Naquele dia eu descobri que poderia get away with murder. Como se fala essa expressão em português? Não sei explicar. Eu me safaria até se tivesse matado alguém, algo assim.
Só pensei que não daria pra mentir duas vezes sobre o mesmo assunto porque o maridão, estrategista e grande jogador de xadrez que é, desconfiaria. Nada. Às vezes eu me pergunto se Millôr não tinha razão: xadrez é um jogo que aumenta a capacidade de jogar xadrez. (Não, sacanagem. Tá provado que escolas que têm xadrez na grade saem-se melhor em matemática e raciocínio lógico. Sem falar que xadrez, como tantos outros jogos, ensina a competir, a ganhar e a perder. É bom pra maturidade emocional. Mas pra saber se o cônjuge tá falando a verdade -- bem, aí o jogo/esporte/arte fica devendo um pouquinho.
Hoje foi tranquilo. Acordamos meio tarde, nove e meia, e fui me vestir. Ultimamente tenho andado só de calça aqui em casa (porque senão os pernilongos no escri trituram minhas pernas), e nada em cima (porque senão o calor acaba comigo, mesmo com ventilador ligado o tempo todo). O maridão viu minha camiseta, estranhou, e perguntou: "Onde você vai toda bonitinha?". Eu, sem uma mentira premeditada, só pude responder: "Não sei". E saí correndo. Lógico que um comportamento suspeito desses não provoca nem cócegas no Silvinho.
Pouco depois pedi pra que ele descesse porque minha mãe estava precisando de ajuda pra alguma coisa (meu arsenal de mentiras já havia se esgotado), e lá foi ele, todo crédulo. E encontrou uma mesa divina lá embaixo. Adorou, tirou fotos, abriu champanhe. Comemos muito. E o incauto realmente não havia desconfiado de nada. "É que eu sou discreto," explicou ele. "Tenho uma outra palavra pro que você é, amore", retruquei eu.
Mas eu te amo desse seu jeitinho aí, lindão. Feliz 55 anos, Silvinho!