sábado, 11 de agosto de 2007

CRÍTICA: SIMPSONS / Simpsons no cinema, eu nos States

Oba! Primeira sessão de cinema nos Estados Unidos! Como não há muitas salas de cinema perto, e como não temos carro e tudo em Detroit parece ser feito em função dos automóveis, não tivemos escolha e fomos ao centro de entretenimento mais próximo. Mas devo confessar que “Os Simpsons” deve ser o melhor filme pra se ver nos States. Mostra todos os americanos como Homers, perfeitos débeis mentais. E ainda assim eles enchem as salas e gostam da sátira! Inclusive, praticamente a primeira piada desta comédia exibe o Homer nos chamando de idiotas por pagar pra ver aquilo que passa na TV de graça. É, faz dezoito anos que a série faz enorme sucesso na televisão. E faz tempo que deixei de gostar dela. No começo eu a confundia com a Família Dinossauro. Depois achei-a divertida, mas com o surgimento de algo mais ousado como “South Park”, passei a considerá-la bem morninha. Às vezes eu e o maridão víamos episódios inteiros sem dar uma só risada.

Bom, com o filme é diferente: ele funciona. Pelo menos o primeiro terço é ótimo, com um ritmo frenético e tiradas hilárias (só o Homer fazendo seu porco de estimação imitar o Homem-Aranha já vale o ingresso). Mais pra frente cansa, e o humor só se recupera no final.

Antes de continuar, preciso falar do maridão. Tadinho, o inglês dele ainda deixa a desejar. Outro dia vimos um cartaz escrito “No dumping”, e perguntei pra ele o que ele achava que isso significava. Ele explicou que dumping é quando as empresas estabelecem um monopólio pra ludibriar o consumidor. Eu: “Acho que isso é cartel, mas por que colocariam uma placa dessas numa feira livre?”. Vendo “Os Simpsons” dá pra entender bem o que é dumping (a placa “No dumping” surge diversas vezes): é despejar coisas. Ao entrar na sessão o maridão ficou com medo de não entender patavina no seu primeiro programa sem legendas, e eu tentei tranquilizá-lo: “Calma, amore. Vai ter várias gags pra você captar. Tem muito humor físico!”.

E de fato tem. Mas também tem um humor mais refinado, verbal, que a gente pode até perder se não prestar atenção. Por exemplo, quando um carinha lento das idéias pergunta pro ministro do meio ambiente como ele (o bobão) consegue fazer um truque banal com os dedos, o ministro responde: “Quatro gerações de cruzamentos entre membros da mesma família”. Não que o ministro seja um modelo de sabedoria. Inteligente mesmo só a Lisa, e ninguém a ouve. É interessante que qualquer mulher na série seja mais esperta que todos os homens juntos (até o Bart, que está caminhando pra se tornar um mini-Homer). O religioso Flanders é bastante sábio como pai, até pôr tudo a perder ao declarar que os cachos de seus filhos se assemelham ao “cabelo do demônio”. A direita cristã definitivamente é burra. E isso que o filme nos poupa da presença do Bush. O presidente em questão é o Schwarzenegger, que à certa altura diz ter sido eleito pra liderar, não pra ler (“lead, not read”).

Mas, enfim, a cidade fictícia de Springfield é todo e qualquer subúrbio da América (que não inclui o Alasca). É bom que eles consigam rir das suas próprias limitações. E “Os Simpsons” traz até uma mensagem útil, em que o Homer afirma, já nos créditos: “Muitas pessoas deram duro pra fazer este filme. Tudo que elas querem é que a gente fique sentada aqui e memorize o nome delas”. E só eu que senti uma crítica velada ao embargo à Cuba, quando a comédia mostra uma Springfield cercada sofrendo? Tá, talvez eu esteja viajando. E tô mesmo. Tô nos States!

P.S.: “South Park: Maior, Melhor e Sem Cortes” (1999) é bem superior à passagem dos Simpsons pro cinema. Mas sou suspeita pra falar porque adoro musicais, e “South Park” é um musical de primeira, com ótimos números e canções. Embora o longa esteja um pouquinho datado agora que Saddam Hussein está morto e o Clinton não é mais presidente, basta lembrar o que os quatro meninos cantam ao ir ao cinema: “Lá vamos aprender tudo o que sabemos”. Não é pra se identificar com essa letra?

PRIMEIROS DIAS

Ainda estou tentando entender Detroit, que não é tão diferente de várias cidades americanas. Ou seja, os subúrbios sao brancos e ricos, e a cidade em si é meio pobre. No que eles chamam de “Metro Detroit” vivem cerca de 900 mil habitantes, 80% deles negros. É óbvio que só essas pessoas andam de ônibus, porque quem mora no subúrbio precisa de carro pra chegar lá. Essa enorme segregação já existia, e piorou após uma revolta da população negra em 1967. Os brancos fugiram pros subúrbios e, com eles, os impostos que pagavam. As escolas suburbanas arrecadam mais, e, consequentemente, são muito melhores que as de Metro Detroit. Mas acho que a área em que estamos, que é a cultural, a da universidade (e também o centro), é vista como uma área boa da cidade. Aqui é lindo, muitas árvores, arquitetura antiga, tudo plano, calçadas limpas e inteiras... Mais pra frente, e até chegar ao grande divisor que é considerado 8 Mile (do filme com o Eminem), a situação já é bem pior. E depois de 8 Mile vem a opulência dos subúrbios. Pra mim e pro maridão é estranho viver num lugar tão segregado, mas todos nos tratam muito bem. Aqui todo mundo fala “Excuse me” (“Com licença”), segura as portas (pesadíssimas, pra barrar o frio do inverno), agradece se você segura porta, aperta o botão do elevador pros outros, diz “Have a nice day”, pára e responde quando pedimos informações, e, na maioria das vezes, se houver contato visual, dispara um “Good morning” ou “Good Afternoon”, essas coisas. Um amigo nativo disse que o pessoal é mais politicamente correto do que propriamente educado ou simpático. Nao sei o motivo de tanta cortesia, mas só posso apreciar esse tipo de comportamento, ué. Muito melhor que em Moscou, por exemplo, onde ninguém segura porta pesadona nem pra mulher com bebê de colo, e todos esbarram nos outros, sem jamais pedir desculpas! E no Brasil? Se é pra generalizar,vou dizer que brasileiro é mais simpático que educado.