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Nos comentários do guest post da Mari rolou uma discussão interessante sobre a postectomia. É a sua!, você deve estar gritando. Então, postectomia nada mais é que a circuncisão, a retirada do prepúcio. Um leitor, o Wagner, disse que considera a circuncisão algo tão violento quanto a mutilação genital feminina (a retirada do clitoris), e a Iseedeadpeople, que é médica, respondeu que não há relação nenhuma entre as duas mutilações, já que a remoção do prepúcio não afeta o prazer sexual do homem. Acho que não dá pra comparar mesmo. Mas vem crescendo a força de movimentos contra a circuncisão masculina, sabia? Muita gente vê esse método milenar como uma violência, um tipo de castração, e prefere deixar o menino “inteiro”. O problema em não tirar a pele do prepúcio é que pode juntar sujeira, por um único motivo: como somos puritanos, ninguém ensina a um garoto a forma correta de limpar o pênis. Pra mim, a circuncisão masculina é uma dessas coisas tão naturais que eu demorei décadas pra descobrir que há inúmeras controvérsias a respeito. E nessas horas eu fico feliz por não ter filho, porque seria uma das ocasiões em que eu não saberia o que fazer: circuncidar ou não o menino? Por um lado, conheci poucos pênis não-circuncidados. Existe um certo preconceito contra eles; muitas mulheres dizem que eles têm uma aparência esquisita. E há esse problema da limpeza: se a circuncisão é uma cirurgia rápida realizada em bebês machos, por que não fazê-la para impedir algum problema que possa surgir? E apareceu até uma recomendação (polêmica e discutível) da ONU dizendo que a circuncisão pode ajudar a prevenir o vírus HIV. Por outro lado, tirar uma pelinha de um menino, sem perguntar a ele o que quer, só por causa de uma tradição, também não me parece certo. Além disso, até o século retrasado o pessoal sugeria a circuncisão (sem anestesia!) como uma forma de inibir (e punir) a masturbação entre meninos. E pô, é altamente estranho tratar o prepúcio como se fosse um defeito de nascença. E aí, o que você acha? P.S.: Amanhã falo sobre a final do BBB 10, ok? Hoje não dá: tá tarde e tenho aula de manhã.
Bom, como vocês podem ver, continuo tocando o blog a pleno vapor, com atualizações (quase) diárias, mas não sei até quando. Estou ocupadíssima. Noutro post prometo falar do meu trabalho, que está indo muito bem, obrigada. Agora só quero falar da vida em geral. Sexta fez dois meses que cheguei a Fortaleza, e ainda não descobri se essa frase tem crase ou não. Estou gostando muito daqui, embora ainda não tenha ido à praia. O principal é que acho um luxo morar perto de onde se trabalha. Em dez minutos eu tô na universidade, e ainda faço exercício por ir andando (porque, pelo jeito, é o único jeito de eu fazer exercício). A casa continua em reforma, e deve levar mais duas semanas pra terminar. Os dois pedreiros que conseguimos (indicação do excelente corrretor de imóveis que me mostrou as mais de vinte casas que vi – aliás, todas essas pessoas são crentes) são ótimos, muito cuidadosos e responsáveis. Mas, lógico, reforma com a gente morando no lugar é sempre um transtorno. Tem poeira pra todo lado, barulho, coisinhas que dão errado (por exemplo, vazamento inesperado na cozinha nova, de madrugada). Os gatinhos se escondem durante o dia e só aparecem à noite. Sem falar que reforma ocupa um tempão. O maridão fica à disposição dos pedreiros quase o dia todo, e não é nada incomum a gente ter que sair pra comprar material de construção e móveis. Falando nisso, foi uma dificuldade encontrar balcão de pia! Sabe aquele balcão de pia standard, de 1,20 metro, que praticamente toda cozinha tem? Sabe-se lá porquê, não é padrão aqui! Fomos ao centro da cidade e visitamos todas as lojas de departamento e de móveis, e finalmente encontramos um kit (com balcão e armários) muito legal e bonito, vermelhão e branco. Algum dia posto as fotos pra vocês (encontrei uma na internet! É bem esse que a gente comprou, da marca gaúcha Kappesberg. Lindo, não?). Pena que não vai ficar vermelhão muito tempo, porque o sol bate em cima. Paciência. Semana passada fomos a um shopping com montes de lojas de eletro, e compramos um fogão quatro bocas e um liquidificador pra gente, e minha mãe comprou uma geladeira pra ela. Espero que em breve tenhamos duas cozinhas, e cada chef caseiro possa cozinhar o que quiser. A suíte da minha mãe, na parte de baixo da casa, também está quase pronta. Transformar o lavabo e a despensa em um banheiro razoável exigiu muito mais tempo que imaginávamos. Fomos absurdamente ingênuos ao pensar que dava pra quebrar um azulejo aqui, outro acolá, colocar alguns caninhos e pronto. Que nada! Os pedreiros tiveram que demolir o lavabo e a despensa por inteiro, e começar do zero. Tudo novo. Mas vai ficar bom. Por último, compraremos como-é-que-chama-esse-troço?, anh, vidros temperados, é isso?, para os boxes dos três banheiros. Só isso vai custar mil reais, pelos meus cálculos. Mas aquelas portas de correr de plástico saem quase o mesmo preço, então vamos logo colocar um material bom, que vai durar mais do que eu, e definitivamente muito mais que o maridão.A gente fica fantasiando o fim da reforma e imaginando como a casa vai ficar. Eu tô muito entusiasmada com a casa. Cada dia a acho mais linda e maior. Mas só o fim da reforma não significa que estaremos livres das mil e uma caixas (70% delas trazidas pela minha mãe, que não jogou absolutamente nada fora na mudança) que seguem ocupando metade da sala e boa parte dos quartos. E eu odeio essas caixas de papelão porque elas são o habitat favorito das baratas (e dos ratinhos pequenos, complementou Daniel, o pedreiro, muito prestativo). Mas pra poder tirar tudo que está dentro delas, principalmente os livros, vamos precisar de estantes e armários. É aí que entra o marceneiro.A casa já teve armários embutidos nos três quartos de cima. Mas o último proprietário/construtor disse que eles estavam todos podres e mandou jogar tudo fora. Portanto, o que há é um vão nas paredes esperando para ser preenchido. Já contactamos quatro marceneiros, que vieram aqui, tiraram medidas, ouviram nossos pedidos e nossas preces. Precisamos de montes de coisas: uma estante na sala, na entrada da casa, do chão até a parede, outra estante imensa, também na sala, um balcão pra pia que minha mãe tem na cozinha, um tipo de mesa, pra ela colocar computador e tal (como a cozinha dela é muito grande, ela não pensa em usá-la apenas como cozinha, mas também como escri e ateliê, pelo que entendi), e um armário pequeno no banheiro dela, com guarda-roupa (não tem muito risco de umidade porque não teremos chuveiro elétrico – vamos ver até quando aguentamos a água gelada! Por enquanto que tá quente não tem problema, mas e se esfriar? Juraram que não esfria). Isso só na parte de baixo. Em cima, uma bancada e muitas prateleiras para o nosso escri, um guarda-roupa e montes de estantes (obviamente esta casa comportará muito mais livros que roupas) no quarto de hóspedes, um roupeiro no corredor, e um armário grandão pra nossa suíte (pra variar, com estantes pra livros). E eu queria tudo em MDF, tudo branco, sem suporte aparente. Até agora, apenas um marceneiro passou um orçamento: onze mil reais! Gulp. Negociando, ele faz por dez, mas ainda assim estamos engolindo em seco. Vamos aguardar os outros orçamentos (ah, colocaremos azulejo nas paredes dos armários, pra não precisar ter forro e diminuir a chance de cupins). Três dos marceneiros prometeram que o serviço ficaria pronto em um mês; um deles pediu 45 dias. Eu acho tudo caro, mas é mais ou menos o que tinha previsto. Uma professora amiga contou que uma loja de móveis sob medida queria cobrar 13 mil reais por um só armário em sua casa. Daí ela foi a uma loja qualquer e comprou um armário pré-fabricado por 850. Não sei o preço de armários embutidos nas cidades de vocês. Na realidade, nunca tive um. Estamos tão atarefados que ainda não acertamos a rotina daqui. Não fomos ao cinema mais que uma vez até agora, o que é grave. Mas já já entramos nos trilhos. Ah, outro dia deu a maior vontade de comer carne. Uma daquelas picanhas mal-passadas mesmo. Não pensem que me orgulho disso: eu queria ser vegana. Mas no momento só posso torcer pra que a Manu marque a festa de seu aniversário num rodízio. (E não vou nem contar do dia em que tentei preparar um prato com carne de sol, e esqueci de tirar o sal da carne. Digamos que foi uma das comidas mais salgadas que comi na vida).
Várias leitoras me pediram para comentar a entrevista que a psicóloga evolucionista Susan Pinker deu à Folha, na semana passada. Nem tenho muito o que comentar. O que acho da psicologia evolucionista eu já disse aqui. É um meio de justificar os piores comportamentos e jogar a culpa nos homens das cavernas. Susan faz isso: justifica salários maiores para homens porque, afinal, mulheres não se interessam por profissões “masculinas”. E ainda se vangloria de, após publicar O Paradoxo Sexual, ter recebido inúmeros agradecimentos de mulheres que tinham vergonha de reconhecer que não eram ambiciosas, não queriam dinheiro, queriam era cuidar da prole, e, como não se cansa de repetir minha leitora radical Aiaiai, fazer risoto (pessoalmente, acredito que mulheres – e homens – devem ter o direito de decidir se querem trabalhar ou cuidar da casa ou trabalhar e cuidar da casa. Claro, é pra quem pode. A maioria das mulheres no mundo não têm essa opção). Mas Susan é bem mais diplomática que alguns de seus colegas evolucionistas. Ela, ao menos, defende que “profissões femininas” tenham um aumento de salário (ué, mas pra quê? Mulher não liga pra dinheiro mesmo!). Quando li o nome da psicóloga, ele me pareceu familiar. E aí descobri porquê. Sabe aquele palhaço que escreveu que “os homens preferem as loiras” é algo que pode ser provado cientificamente? Satoshi Kanazawa, aquele um que disse que a Barbie é um modelo pras mulheres? Então, Kanazawa, um psicólogo evolucionista, redigiu em agosto do ano passado um texto chamado “Por que o feminismo moderno é ilógico, desnecessário, e do mal” (sério!). E ele se baseia justamente em quem pra “provar” que homens e mulheres são diferentes, e portanto, devem ser tratados de forma diferente? Na Susan, claro. Ele diz que não se deve comparar a situação da mulher com a do homem porque os dois querem coisas distintas. Logo, se uma mulher quer passar o dia inteiro varrendo a casa, por que impedi-la? O homem casado com essa mulher está é no fundo sendo um anjo por não fazer trabalho doméstico. Ele é tão generoso que está deixando tudinho pra ela. E ela gosta! É o que ela quer da vida! (e convenhamos, Kana tem razão: nada dá mais prazer na vida de uma mulher que passar roupa. Passar camisa do marido, então, nos leva à loucura). O fato de mulheres receberem salários menores, segundo Kana (e Susan), não quer dizer que elas sejam discriminadas. Apenas que nós exercemos funções diferentes. Não porque a divisão do trabalho é responsável por manter o status quo, mas porque não queremos competir! Uma mulher quer ser empregada doméstica, entende? E ganhar menos é um mero detalhe. Afinal, a prova definitiva que nós mulheres estamos melhor que os homens não está no bolso, mas em vivermos mais.E a minha asneira preferida deste ramo pop da psicologia: é uma mentira que homens tenham mais poder que mulheres, já que nós temos o poder de transformar os homens em geleia somente com os nossos atrativos sexuais. Os carinhas ficam tão bobos quando nos veem que fazem qualquer coisa! E isso, entenda, é poder. Ah, você queria outra espécie de poder, tipo poder governar empresas e países? Tolinha! Contente-se com o que deus lhe deu.Kana tem até explicação para que os homens dominem o dinheiro, a política e o prestígio em praticamente todas as sociedades humanas. Ele não nega que isso aconteça, apenas não vê qualquer resquício de desigualdade. A razão que ele dá: o mundo é e sempre será assim porque os homens ganham dinheiro pra impressionar as mulheres. Homens querem dinheiro, mulheres querem ser impressionadas por homens com dinheiro. É assim que as coisas são desde que o mundo é mundo!E por que o feminismo é do mal? (sim, ele diz isso). Porque faz homens e mulheres infelizes. As mulheres eram muito mais felizes quando não trabalhavam (Kana não leu A Mística Feminina). Dinheiro faz homens felizes, segundo o psicólogo evolucionista, mas não faz as mulheres felizes. Pois é. Nada como uma boa faxina pra levantar nosso astral. Substitui qualquer orgasmo. Daí uma doutora americana, Gina Barreca, escreveu um artigo delicioso tirando sarro das besteiras do psicólogo. Do alto de seu bom humor, ela diz que, se as mulheres jovens e bonitas realmente tivessem tanto poder quanto os homens com dinheiro e armas, elas é que teriam o dinheiro e as armas. Seria um mundo diferente: “absorventes femininos, ao invés de Viagra, seriam cobertos por todos os planos de saúde”.E Gina conta a sua história como feminista. Ela foi estudar numa universidade que havia acabado de admitir mulheres. A proporção era de cinco homens pra cada mulher, e ela imaginava que teria muitos namorados. Logo descobriu que os rapazes preferiam beber até vomitar todo final de semana. Era sinal de "bichice" gostar mais de mulher que de beber até cair com os amigos. Nas aulas, o professor, sempre que lhe fazia uma pergunta, começava a questão com a frase: “Como mulher, o que você acha de...?”. Até que ela percebeu que realmente tinha uma visão de mundo diferente da de muitos homens. E, no entanto, quando ela foi chamada de feminista pela primeira vez, ficou horrorizada. Ela associava feministas aos piores adjetivos, como não ter senso de humor e ser mal-amada. Adoro o que ela diz: “Isso era porque eu aceitava a versão masculina das coisas, que era como acreditar na versão do rato sobre o gato, uma visão que não vê nada além de dentes e garras”. Seus namorados, amigos e professores lhe diziam que só mulheres que não conseguiam sexo recorriam ao feminismo. Até que ela se rendeu e notou que “nós somos as mulheres contra as quais os homens nos advertiram”. E, um belo dia, ela descobriu que feministas não querem ser homens. Pelo contrário, elas celebram o fato de serem mulheres. Só não aceitam que mulheres ganhem menos, sejam vítimas de violência, não sejam donas de seus próprios corpos. Mas olha, se tem uma coisinha que a psicologia dos homens das cavernas não consegue explicar é o feminismo. Como tantas mulheres podem querer direitos iguais apesar de serem tão diferentes dos homens? Devíamos mais é varrer chão com um sorriso no rosto.
Como estou absolutamente sem tempo, e tem quem sinta falta de atualizações diárias, apesar das visitas do bloguinho despencarem nos finais de semana, decidi publicar aos domingos algumas crônicas antigas sobre gatos, os bichos mais fofinhos do universo. Cat lovers, é pra vocês! (Mas confesso que ando morrendo de vontade de voltar a ter um cachorrinho. Quando a reforma em casa terminar, vou correr atrás de um - viralata, claro, que quem ama animais os adota, não os compra). EU E MEU GATO Eu tava deitada na cama com meu divino gatinho Calvin deitado em cima do meu peito, usando minha bochecha como travesseiro. Enquanto eu cantava umas musiquinhas pra ele (uma delas foi uma adaptação de “Menino do Rio” que começava com “Gatinho Querido”), o Calvin, crítico musical de bom gosto que é, fazia rum-rum. O maridão passou nessa hora e, tomado pelo ciúme, disse: “É por causa desses traumas que o Calvin se esfrega na perna da primeira pessoa que nos visita, implorando pra ser levado pra longe”. Inveja da oposição, lógico. Mas, provando que sou amplamente capaz de fazer mais de uma coisa ao mesmo tempo, eu cantava, alisava o gatinho, e aproveitava pra fazer um check-up nele. Comecei contando os bigodes dele. O Cal é um gato amarelo listrado, com focinho e patas rosas e bigodes brancos (e pensar que antes dele eu não considerava lindo gato com focinho rosa). Não dá pra contar com precisão os bigodes de um gato, então o que ofereço aqui é uma estimativa. Acho que eram mais ou menos 25, uns 13 de cada lado. Ah, não estou falando dos outros bigodes que os gatos possuem no rosto, como os fiozinhos acima dos olhos. Sabe, os bigodes próximos ao focinho mesmo. O que mais chamou minha atenção é que, em um dos lados, havia dois solitários bigodes pretos. Fiquei pensando se o Calvin gostaria de tingi-los, já que eles destoam do resto. Será que os fios pretos têm alguma função secreta? Perguntei pro gatinho, mas ele pediu pra que eu pensasse menos e cantasse mais, ou pelo menos essa foi minha interpretação. Se você não tem um gato, não sabe o que está perdendo. Eu entendo totalmente por que os egípcios idolatravam seus felinos. Gatos parecem que nasceram pra virar objetos de adoração. Tudo bem, claro que eles não são objetos, eles são bichinhos espertos e simpáticos com personalidade própria, mas sigo firme na minha convicção de que, se existe um animal perfeito no mundo, este é o gato. Compare um gatinho com um maridão. Aliás, não compare. Não tem comparação.
Reconheceram? Sim? Não? Esta é a Uma Thurman posando de modelo aos 17 anos. Tô pra escrever faz um tempão um post sobre Ligações Perigosas, que foi o filme que a revelou, pra mim (alguns se lembram dela em Barão de Munchausen, eu não). Mas devo admitir que ela só virou uma atriz de respeito na minha opinião depois de trabalhar com Tarantino em Pulp Fiction e Kill Bill. E dizem que Kill Bill 3 tá anunciado pra 2014... Que Copa do Mundo, que eleições presidenciais, que nada! Em 2014 eu estarei ansiosa é com a volta da Noiva. A menininha filha da Vivica Fox (aquela que tenta matar a Uma com uma caixa de cereal) vai querer se vingar dela, é isso?
Opa! E eu tava vendo a biografia da Uma e descobri que ela foi casada com o Gary Oldman (Drácula etc)! Do casamento dela com o Ethan Hawke (Gattaca) eu sabia, mas diga que isso do Gary é surpresa pra você também.
Publico o guest post da Marilia, mais conhecida como Mari Moscou, uma comentadora bastante assídua por aqui. Pedi pra ela redigir uma minibiografia sobre ela própria, e eis o que ela tem a dizer: "Marília, 23, escorpiana, solteira, cinéfila, backpacker, adora sorvete. Paulistana da gema, acha que não há melhor lugar para se viver do que uma cidade onde sorveteria 24hs, academia noturna, balada com o melhor da música nacional estão na mesma quadra. Nascida e crescida feminista, criou mais caraminholas para sua cabeça quando resolveu estudar sociologia - busca desvendá-las no mestrado. Escreve tudo que é tipo de texto e está atualmente na França". Falta dizer que Mari recentemente agrupou as dezenas de blogs que tinha (exagero meu!) em um só. Fique com a Mari!
Hoje li alguma coisa em algum lugar da internet (me desculpem mesmo não citar a fonte; eu não salvei e perdi) sobre medicamentos para tratar impotência. Parece que testaram recentemente medicamentos que agem com muito mais rapidez — em cerca de 15 minutinhos, voilà, o membro está pronto (nossa, que expressão horrível! Vamos ser mais diretos: o pau está duro. Pronto).O pequeno artigo citava pelo menos quatro nomes de medicamentos para tratar a impotência e celebrava a nova descoberta. Comecei a me questionar o que significa esta nossa preocupação com a impotência.Em filmes pornográficos e até nos não pornográficos, há uma premissa imaginária e falaciosa de que tudo que é preciso para que o sexo seja bom tanto para o homem quanto para a mulher é um bom e duro pênis. A preocupação de tratar a impotência me parece ir no mesmo sentido: o homem será feliz por ter uma ereção, e a mulher (ou o outro homem — mas falarei predominantemente de relações heterossexuais aqui, já que estou buscando correlacionar feminino e masculino) será feliz porque o homem teve uma ereção.Nenhuma destas coisas é mentira. A mentira é quando a história para por aí. Como se a simples ereção fosse a chave do prazer sexual feminino também.Nós mulheres sabemos o quanto é difícil ter prazer numa transa sem estarmos com a vagina devidamente lubrificada. A lubrificação da vagina depende de um monte de coisas que variam muito de mulher para mulher. Isto é fato. Porém, há várias disfunções hormonais e efeitos colaterais de medicamentos ou sintomas de doenças que causam secura vaginal.Pergunto: alguém já leu em algum jornal, anunciado como uma grande descoberta, qualquer tipo de pesquisa que tenha trazido avanços para tratar a secura vaginal ou para lubrificar mais a vagina? Por exemplo, melhores lubrificantes ou remédios de via oral? Eu nunca vi. Se isso existe, certamente não tem um décimo da divulgação que os remédios para o prazer masculino têm.O que coloco em questão aqui não é o tipo de tratamento ou a descoberta em si. É a importância que damos a cada uma destas coisas. A mensagem implícita neste tipo de comportamento é a de que (repito como disse num post sobre bonecas infláveis para cachorro) o homem precisa de prazer sexual e a mulher não precisa.Há um site muito bacana que infelizmente só está em inglês que se chama "Make Love, Not Porn” ("Faça Amor, Não Pornô"). Aparentemente é um título um tanto moralista — afinal, penso, o que há de errado com pornografia enquanto fantasia? Pois é, o problema — e a crítica que traz o movimento/site — é que a maioria dos homens não consegue fazer esta separação de que o mundo pornô e a mulher como é colocada no mundo pornô não necessariamente corresponde às mulheres reais, do mundo real. Através de ícones muito bem pensados, o site apresenta uma sequência de comparações entre o mundo real e o mundo pornô. Entre elas a minha favorita é a seguinte:"MUNDO PORNÔ = As mulheres não têm pelos lá embaixo.MUNDO REAL = Algumas mulheres se depilam, outras não. Alguns homens preferem que as mulheres de fato não se depilem. Depilação requer muita manutenção, o que às vezes pode ser um saco. Isto vai depender de uma escolha totalmente pessoal."[Digo isto pois fiz uma depilação "completa" (lógico, "a pedidos" de um ex) uma vez na vida para NUNCA mais. Nenhum homem é merecedor da dor pela qual se passa nesse tipo de procedimento. Eles que cresçam e convivam com uma parte dos meus pelos. Respeito a mim mesma é mais importante de fato. E fim.]O prazer feminino há muito é uma espécie de tabu. É negado. É quase criminalizado (em algumas partes do mundo é de fato criminalizado). Essa mensagem implícita, de que homens devem ter prazer enquanto as mulheres, não, é tão forte que, por exemplo, conheço várias meninas que nunca gozaram e simplesmente não se incomodam com isso. Agora, se o namorado/parceiro não gozar, sentem-se absolutamente mal.No fim das contas, a síndrome do não-gozar, assim como a da impotência, são questões que vão muito além da biologia. Porque sexo não é um acontecimento biológico e fisiológico. Sexo é o que você pensa que é pra ser.
Enquanto isso, no hospital feminino... Este comentário foi deixado no post de ontem por uma leitora que só comenta pra falar mal (e, pelo jeito, pra querer pautar meu blog). A minha reação só não foi “Ahn? Que hospital feminino?!” porque lembro que, em algum post mais no início do mês, alguns leitores reclamaram do meu silêncio diante do es-cân-da-lo da Dilma ter inaugurado um hospital com atendimento pras mulheres no Rio. Isso porque, segundo aqueles comentaristas, o hospital tem manicure e cabeleireiro. Oi? Não tô acompanhando o raciocínio. Só porque eu, pessoalmente, não sou chegada a cabeleireiro e muito menos a manicure (minhas unhas são virgens, nunca viram esmalte na vida), não quer dizer que eu condene quem gosta. Eu também não tenho filhos, e nem por isso sou contra o atendimento neonatal que, aparentemente, é o maior foco do novo hospital. Não vamos confundir as coisas. Se o hospital tivesse apenasportante pras mulheres. Vivemos numa sociedade em que mulheres são ensinadas, desde criancinhas, a estar com uma aparência boa até quando estão doentes. Não sei se cabe a um hospital mudar isso. Se um atendimento médico quiser se aproveitar dessa construção que é a “vaidade feminina” para que suas pacientes sintam-se melhor, por mim tudo bem. Mas desconfio que nem estaríamos falando do tal hospital feminino que vai atender às muheres pobres da Baixada Fluminense se ele não tivesse sido inaugurado pela Dilma, certo? O hospital, que custou 40 milhões de reais, foi inaugurado dia 7. Segundo uma notícia da Globo que segue o padrão de qualidade “Instituto Millenium: temos que bater forte na Dilma e no PT, senão eles ganham a eleição”, ele não recebeu “um centavo” de verba do governo federal. Logo, não haveria por que Dilma (ou outros quatro ministros) estar lá. Eu não engulo meia linha do que a grande mídia diz sem antes ler mais análises. Infelizmente, sobre essa notícia do hospital, encontrei pouquíssimo material. Ou é uma notinha bem curta e sem análise, ou espalham a linha editorial da Globo. Aliás, devemos aprender a ler nas entrelinhas. Tipo: notem como a notícia global termina falando nada sutilmente de “desinfectação completa das instalações”, sugerindo que, depois da passagem de Dilma e dessa corja de políticos, é preciso fazer uma limpeza geral (velho clichê, que ressoa ainda mais entre quem viveu a vitória do Jânio pra prefeito de SP, quando ele dedetizou a cadeira onde FHC havia sentado antes da hora). Antes de mais nada, pra quem condena a Dilma por inaugurar obras e participar de eventos, cabe lembrar que o Serra, governador de São Paulo, vez por outra vem pro nordeste fazer justamente isso (e, que eu saiba, governador de SP não governa Pernambuco). Por isso é engraçado ouvir que Serra não está em campanha (é só ver os números da verba publicitária do governo de SP). Dilma também está. Todos os políticos que vão concorrer à eleição estão em campanha, e faz tempo. E político em campanha comete todos aqueles chavões de beijar criancinhas e fazer discursos genéricos. Qualquer um. Por que Dilma inaugurou um hospital feminino? Porque foi na véspera do Dia Internacional da Mulher. Foi uma jogada de marketing para falar da Dilma nessa data. É, só a Dilma faz marketing, sabe?Mas talvez alguns leitores tenham ficado indignados por causa do que ela falou na inauguração: “Estamos avançando muito. Esse hospital é um avanço. É um lugar humano. Tem até manicure e maquiadora. Quando a gente dá a luz, ficamos gordinhas. Não custa nada sair do hospital mais bonitinha”. Reparem no até do “tem até manicure e maquiadora” (ué, só uma manicure e maquiadora? Pensei que houvesse toda uma ala hospitalar só pra isso!). Foi um exemplo que Dilma deu pra dizer que o hospital é mais humano. E tem outro detalhe: há diferenças entre uma mulher falar em se arrumar, e um homem falar em mulheres que devem se arrumar. Assim como há uma grande diferença entre um gay chamar outro gay de bicha ou viado, e um homofóbico chamar alguém de gay ou viado. As palavras não têm o mesmo peso, mas este é assunto pra outro post. No mesmo discurso, porém, Dilma falou outras coisinhas: “A gente tem a responsabilidade de criar os filhos, de colocar comida na mesa… Nós somos impressionantemente corajosas. [...] Nós não fomos feitas somente para cuidar da casa, lavar a roupa, fazer comida… Nós nascemos também querendo oportunidades, querendo ter acesso a trabalho, ter acesso a uma vida com as mesmas oportunidades que os nossos companheiros homens”. E comentou sobre o empenho do governo Lula em dar maior atenção às mulheres (com direito a uma Secretaria Especial): “Tanto é assim, que o Bolsa Família é, prioritariamente, recebido pela mulher. O programa Minha Casa, Minha Vida dá preferência para a mulher. Todo o processo de assentamento agrário no país é feito em nome dos dois, do homem e da mulher”. Ah, eu lembro de quando foi discutido se o Bolsa Família deveria ser recebido pela mulher da família! Grandes polêmicas, gente reclamando de sexismo (contra os homens)... Hoje nem se fala mais nisso. Parece que foi uma decisão acertada, não?Este site, Mulheres com Dilma, foi dos poucos a explicar o porquê do nome do hospital, uma homenagem a uma escritora feminista, Heloneida Studard. Mas o bonito foi ler este parágrafo da notícia (totalmente diferente da abordagem do Globo): “Emocionada, a menina de nove anos, Bianca Carvalho Pontes, violinista que, juntamente com a orquestra local, homenageou a ministra Dilma, fez um pedido: 'Manda um beijo para o Lula. Eu sei tudo de política, sei que ele acabou com a dívida do Brasil', afirmou. O sonho dela é 'ser presidente do país'.”Isso foi música para meus ouvidos e me deixou com um sorriso no rosto. Quando uma menina de 9 anos sonha em ser presidente (e não top model), é sinal que as coisas estão começando a mudar. Pronto. Falei do hospital feminino. Quer dizer, espero ao menos ter acertado o hospital! Era esse?
A Mariana escreveu um longo (e meio agressivo) comentário num post meu recente. Eu quero (e vou) respondê-lo, mas agora ando realmente sem tempo. Ela acha que vou votar na Dilma por ela (a candidata do PT) ter uma vagina. Ledo engano. Só isso não é suficiente. Sei que ninguém precisa se lembrar de um post que escrevi há quase dois anos, na ocasião em que Hillary Clinton saiu da disputa para ser candidata a presidente pelo Partido Democrata e deixou o caminho livre para Obama. Mas acho que ele segue bastante atual, e gostaria de deixar um trechinho daquele post pra vocês discutirem (sorry, é o que posso fazer hoje!). Seria mais representativo os EUA terem uma mulher na presidência que um negro (que só representam 13% da população). É meio difícil pra homens (e muitas mulheres) entenderem isso. A Fox, porta-voz da direita nos EUA, desde o começo pregou que essa seria uma corrida em que cor e gênero não contam. Mas como não contam, se todos os 43 presidentes americanos na história foram homens e brancos? Eleitores homens take for granted este pequeno detalhe. Assumem que é natural os eleitores escolherem o melhor candidato, ué, e calha dele ser homem e branco. Sempre. Compare essa reação - “é natural, sempre foi e será assim” - com a da esposa de 68 anos do meu co-orientador (ele apóia Obama, ela apoiava Hillary). Ela me disse que essa era provavelmente a última chance na sua vida de ver uma presidente mulher no comando do seu país. É melancólico sim, e milhões de americanas brancas com mais de 50 anos estão se sentindo assim nesse momento. Órfãs. Abandonadas. O sonho acabou. Procure entender o sentimento. É triste constatar que houve tanta misoginia durante a campanha. Porque a gente imaginava que, apesar do retrocesso dos anos 80, a sociedade tivesse evoluído um pouquinho, e que chamar uma mulher poderosa de “vadia” apenas por ela ser mulher não seria mais aceitável. Engano nosso. E o mais tocante é ouvir o pessoal dizer “Não leve pelo lado pessoal. Não xingamos você, xingamos a Hillary”. Claro. Sendo que a única coisa que me une à Hillary é por ela ser mulher.Preciso deixar claro que eu nunca votaria numa candidata apenas por ela ser mulher. Nunca gostei da Margaret Thatcher (e adoro como usam o nome dela como exemplo de como é comum eleger mulheres, embora ela tenha sido a única primeira-ministra na história da Inglaterra). Quero distância da Roseane Sarney. Jamais votaria na Ângela Amin, ou na Yeda Crusius, e em outras que estão à direita do meu espectro político. Mas adoraria que a Dilma Rousseff fosse candidata em 2010. E se ela for, os insultos que ouvirá – que nós mulheres ouviremos, mas não devemos levar pelo lado pessoal – serão parecidíssimos àqueles dirigidos a Hillary. Voltando rapidinho: o que ficou de fora dessa análise é que Dilma, assim como Hillary, enfrenta bastante resistência de eleitoras mulheres. Nas pesquisas de intenção de voto por enquanto, Dilma tem mais votos de homens que de mulheres. Por quê? O que acontece? Por qual motivo tantas mulheres hesitam em eleger uma mulher (não apenas pra presidente, mas pra vários outros cargos, como prefeita, governadora, deputada etc)? Por mim, se eu gosto d@ candidat@, se eu confio no partido (já que evito ao máximo votar em pessoas, pois ninguém governa só), se sua plataforma é algo que eu defendo, eu voto nel@, independente de sexo e cor (mas religião é diferente: religião compromete demais a ideologia política). O fato de Dilma ser mulher é um bônus. Mas um bônus importante, histórico, que eu não quero deixar passar.
É isso aí... Capitalismo selvagem é isso aí! Imagine a seguinte situação: uma universidade federal no Brasil demite seus professores com doutorado e passa a contratar apenas mestres, para economizar. Nas novas admissões, ao invés de realizar concursos, contrata um especialista, para poder pagar menos ainda. Tem mais uma situação cômica, se não fosse trágica: imagine um professor dessa universidade que, com grande esforço, estuda pra virar doutor. E assim que a universidade fica sabendo, o despede. Não seria um escândalo? Um claro sinal de que aquela instituição não leva o ensino a sério? De que a educação pública é um fracasso? Seria sim, eu acho. Felizmente, isso não acontece nas universidades públicas. Mas acontece nas particulares, direto. E o pessoal de direita fica quietinho, o que é contraditório. Afinal, esse pessoal prega que tudo que é público é ruim e e cheio de burocracia e não funciona, e que tudo que é particular é ótimo, porque pra se manter num mercado competitivo é preciso ser bom. Esse pessoal quer um Estado mínimo, que não interfira em nada com o mercado. Porque as empresas sabem se autofiscalizar, não é necessário uma regulamentação. Sei. E como explicam esse comportamento das faculdades privadas? E como ter universidades públicas de qualidade num Estado mínimo, que não invista no social?
Vamos tentar concordar em alguns pontos, é possível? Primeiro: é bom que o Brasil forme mais doutores? Se a gente achar que não, tudo bem. Melhor parar por aí. Canadá e Itália, países muito menores que o nosso, formam mais doutores que a gente. O Brasil vem formando dez mil por ano, e o governo investe uma grana federal nessa formação. A iniciativa privada não contribui em nada, enquanto o governo gasta milhões com bolsas. Na direita, existe um sentimento anti-acadêmico muito grande. Ela pensa que todo professor universitário é um comuna querendo doutrinar seus pobres alunos indefesos. Além do mais, a direita vê vários cursos de Humanas como áreas inúteis, que não agregam valor à sociedade. Importante é médico, engenheiro, administrador de empresas e advogado. O resto poderia sumir do mapa.
Uma vez formados, 70% desses doutores trabalham no meio acadêmico. Como a maioria das particulares não contrata doutores, podemos imaginar que eles vão parar nas universidades públicas. 11% acabam na administração pública, 8%, em pesquisa, e apenas um porcentual incerto na iniciativa privada. Mas repito a pergunta: é bom formar doutores? Ou tanto faz? Qual a diferença entre um doutor e um mestre?
O doutor, em geral, é uma pessoa que ficou quatro anos a mais numa faculdade que um mestre. Dá pra ir direto da graduação pro doutorado, mas é raro. Além do mais, o doutor tem que desenvolver uma pesquisa inédita, que contribua na sua área de atuação (requisito que não é exigido para o mestre). Ele redigiu uma tese a mais que um mestre. Se isso o qualifica para dar aulas melhores que um mestre? Depende. Há gente que sabe muito e é péssima professora. Mas, de modo geral, sim. Senão, por que fazer doutorado? Vamos parar de oferecer cursos de doutorado e pronto. A pessoa vira mestre e esse é o ápice da sua vida acadêmica. Aliás, por que fazer o mestrado? Vamos parar na especialização. Entende o ridículo da coisa?
Não estou reclamando por mim, que sou doutora. Tive a sorte de fazer mestrado e doutorado numa excelente universidade federal e de passar num concurso. Comecei a dar aulas numa federal, sonho de todo professor, ainda mais professor universitário. E foi tudo muito rápido pra mim: defendi o doutorado no final de junho, e no final de agosto fui aprovada no concurso. Não tive que experimentar a frustração de deixar meu currículo em inúmeras universidades particulares e ser ignorada, ou preterida por um professor só com graduação (bom, isso aconteceu numa ocasião). Mas tenho amigos que trabalhavam em particulares e foram demitidos.
A estatística diz que apenas 15% dos professores de particulares são doutores. Para melhorar esse índice (e fazer com que as privadas parem de demitir seus doutores), o governo deveria intervir nas universidades particulares? Um projeto de lei que tramita no Senado diz que sim. O projeto obrigaria as particulares a compor seu corpo docente com 25% de doutores, 50% de mestres (ou doutores), e 40% de professores com dedicação exclusiva. O projeto, pasmem, leva a assinatura de Arthur Vigilio (PSDB), mas isso não impediu a fúria das particulares. Obviamente, o lobby das privadas diz que não, jamais, nunca, deus nos livre. O Di Gênio, dono do Objetivo (que lucra muito com cursinhos, que as federais querem abolir) e da Unip, não sai de Brasília. Conhece todo mundo. A ele não interessa que o governo institua uma lei que diga que as particulares devem manter 30% de doutores (não de mestres ou doutores) nos seus quadros. Um doutor recebe, em média, 10 reais a mais por hora que um mestre. As particulares não querem pagar isso. Então, o que elas fazem? Muitas contratam doutores até que a instituição receba aprovação do MEC. Assim que o curso é credenciado, os doutores são despedidos e substituídos por mestres (ou até especialistas, por que não?). Isso não parece muito honesto.Um jornalista perguntou para a última presidente da UNE, Lúcia Stumpf: “Qual a relação mais difícil, com as reitorias das universidades públicas ou das privadas?”. Ela respondeu: “É na universidade privada onde estão os grandes inimigos da Educação. Os reitores das universidades privadas representam os tubarões do ensino. Oferecem um ensino sem qualidade para os estudantes e, na maioria das vezes, promovem desrespeito com o aumento abusivo das mensalidades e constrangimento a estudantes, impedidos de fazer provas ou de assistirem aula porque atrasaram um mês o pagamento. Além disso, muitos reitores proíbem o movimento estudantil dentro das universidades, muitas vezes trazendo a polícia para dento dos campi para tirar lideranças da UNE e de entidades estaduais que estão organizando o movimento”. Ah, mas é a UNE que diz isso! Um bando de comunas e estudantes profissionais!
O ministro da Educação no governo FHC, Paulo Renato Souza, disse à Veja do final de outubro que os sindicatos são um entrave para o bom ensino. Ele defende “mais objetividade e menos ideologia”. Que é idêntico ao que Veja e a direita dizem sobre os professores em geral. Mas olha só que coisa: são os sindicatos os culpados pela má educação! Se deixassem os donos das privadas agirem sozinhos, sem interferência, tudo estaria melhor. Opa, acho que o ex-ministro não está falando que o ensino é ruim nas faculdades particulares. Ele deve estar se referindo ao ensino público!
Eu a-do-ro como a classe média que reclama das cotas, argumentando que elas vão fazer despencar o nível das universidades públicas (quando os estudos provam que alunos admitidos através de cotas têm um rendimento igual ou superior ao dos outros, além de haver menos desistências), raramente fala contra a qualidade das faculdades particulares (isso só vem à tona em momentos de escândalo, tipo minissaia na Uniban). Há inúmeras particulares do tipo “pagou, passou”. Há aquelas, inclusive, que oferecem mestrados. Elas formam mestres meia-boca que serão utilizados por outras faculdades meia-boca, formando alunos meia-boca. Mas isso tudo bem, porque o deus mercado pode tudo. Ué? Mas, pela ótica neoliberal, o Estado não deveria ser mínimo, e o mercado, máximo? Não é que o governo não serve pra nada e a gente pode deixar as empresas particulares andarem sozinhas, que elas só pensam no que é melhor pra gente? A educação brasileira é o melhor exemplo da ganância e da incompetência privadas. E de como precisamos do Estado.