Nunca pensei que algum dia escreveria sobre um episódio de “Star Wars”. Sempre mantive distância da série. Nem em 1977, quando eu tinha dez aninhos, me senti instigada a ir ao cinema. Ano retrasado, por aí, vi “O Ataque dos Clones” sem querer, numa viagem de ônibus, o que não me fez sentir a menor vontade de correr atrás dos outros quatro capítulos. Mas agora assisti ao "Episódio 3 - A Vingança dos Sith” porque juraram que ia ser o último (duvido, deve pintar mais uma trilogia). Como quase todo crítico da minha idade, só posso falar da série pensando no que ela representa pessoalmente. No meu caso, nada. Não sei se é por ser mulher. Não lembro que filme ruim já dizia que uma das diferenças básicas entre meninos e meninas é que só os meninos fantasiam em lutar com espadas de sabre de luz. É evidentemente uma coisa fálica. Eu só não sabia que os trecos cortavam. Ou seja, somando as comparações tipo “quem tem o maior?” com o medo da castração, a gente acaba com uma visão falocêntrica do negócio. A própria série mostra bem essa divisão entre os sexos. Os guris crescem pra ser ótimos guerreiros, úteis num mundo mergulhado em guerra permanente, bem parecido com a filosofia de um certo país, logo o mais poderoso do planeta. As garotas crescem pra ser princesas delicadas com penteados medonhos, prontas pra ser salvas por seus heróis encantados.
Pode ser que o meu desdém pela série se deva também ao fato de “Star Wars” ter revolucionado o cinema. E não foi pra melhor. O sucesso ajudou a infantilizar os filmes. De repente, não eram mais historinhas juvenis que eram feitas pra crianças (geralmente meninos) de 9 a 12 anos - eram todas as produções. E se os adultos quisessem ver algo mais adequado a sua faixa etária, bom, problema deles. Com o tempo, os adultos ou pararam de ir ao cinema ou se conformaram com a situação. Hoje em dia praticamente tudo em Hollywood é pensado pro espectador mirim. E essa praga começou naquela galáxia distante de 77.
Qualquer “Star Wars” é como um videogame. Parece que os personagens vão mudando de cenário a cada nova etapa. São filmes interativos, feitos pro garoto curtir a aventura, jogar o game, brincar com os bonequinhos à venda, entrar num site pra discutir a trama e, nos casos mais patológicos, desses que demandam internação imediata mesmo, vestir-se como seu personagem favorito e ir às convenções. Tudo isso, claro, rende uma montanha de dinheiro ao George Lucas que é, sei lá, um pouco mais que um puro sonhador visionário. O cara é um megaempresário, e sabe bem o que faz. Ou quase, já que é famoso também por escrever diálogos chinfrins e dirigir mal os atores. Mas ninguém que vai prestigiar “Star Wars” se interessa por atuações ou diálogos, né?
Bom, agora que já dei minhas impressões sobre a série, melhor falar da “Vingança”. Aqui a gente testemunha o jedi Anakin virar Darth Vader. Como eu vi “Clones”, pude constatar que o Hayden Christensen, que faz o Anakin, é ruim que dói. Mas aqui ele até que tá bem. Gostei do misto de pesadelo e premonição que ele tem com a morte da sua mulher. Ele nem desconfia que será ele que vai causar sua morte, de um jeito ou de outro. E quer saber? Compreendi totalmente a motivação do Anakin. Olha só, ele sonha que a amada vai morrer durante o parto. Vai pro sábio Yoda e ele lhe diz, ó não liga não, aprenda a se desprender. Daí vai pro conselheiro malvado e ele lhe diz, ó, se você virar mau, eu te ensino umas coisinhas sombrias pra salvar seu amor. Quem não se tornaria um Darth Vader dada essa escolha?
E entendi o porquê do encanto que a série tem entre as crianças. Coitadinho, o Anakin é mandado já pro seu quarto. Ele pode até participar de um conselho aí, desde que não seja considerado um adulto, quero dizer, um mestre. Dá pra se identificar. Mas as cenas de batalha cansam, e todo o excesso visual e sonoro, idem. Dizem que esse terceiro capítulo da trilogia, ou melhor, da sexologia sem sexo, é o mais violento. O Anakin mata até jedis pequenininhos, o que mais ou menos justifica que a censura não seja livre. Mas o Lucas continua fiel ao seu estilo “nada de sexo no espaço” (é notório como ele, em 77, mandou engessar o peito da Carrie Fisher, princesa Leia, pra que os seios não ficassem pulando quando ela se mexesse). Desta vez o Lucas evita chocar seu público com imagens de gestantes. A Natalie Portman, grávida de gêmeos, engorda meio quilo.
Pois é, definitivamente não é meu tipo de filme. Pra se ter uma idéia, a cena que mais me divertiu foi quando alguma criatura intergalática chuta o R2D2. Mas é impressionante, de tirar o chapéu mesmo, como cada novo capítulo da série alimenta a franquia inteira. Imagina se, com um público tão fiel e vasto à sua disposição, o Lucas vai fechar a fábrica. Claro que não. Ele pode até ser um nerd sonhador, mas não é bobo. A moral deste texto todo é que não sou mais virgem de “Star Wars”. Não doeu. Mas tampouco me transformou numa pessoa mais sábia, num Yoda da vida.