Um post de dois anos atrás continua atual, infelizmente. Parece que essa briguinha ridícula nunca vai acabar. Uma leitora que assinou como Schsch comentou recentemente:
"Os comentários dessa postagem são surreais. De um lado há algumas feministas radicais discordando da Lola por acharem que ela é conivente com opressão misógina disfarçada de transfeminismo. De outro há algumas transfeministas acusando a Lola de ser transfóbica.
Que coisa deprimente o feminismo de internet vem se tornando. Que guerrinha estúpida. Essa dificuldade de reconhecer que uma opressão existe mesmo que você não seja diretamente afetada por ela é típica dos detratores do feminismo. E é uma prática cada vez mais comum dos dois lados desse fla-flu ideológico.
Em tempo: eu pessoalmente me identifico bem mais com diversos aspectos do feminismo radical do que qualquer outra vertente do feminismo, mas acho uma desonestidade intelectual gigantesca ignorar a opressão e o sofrimento, tanto físico (agressões etc) como psicológico, de mulheres trans. E dizer que 'não acredita em identidade de gênero', quando existe tanta literatura médica sobre o tema, sob diversos vieses, soa como -- perdoem a analogia fraca -- os negadores do aquecimento global causado por humanos: um grupo que nega a realidade por discordância política do tema.
Agora acho também uma desonestidade intelectual imensa dizer que é contraditório o feminismo radical ser abolicionista de gênero enquanto aborda questões biológicas. Qualquer leitura bem rápida sobre o tema explica que o feminismo radical acredita que gênero é uma construção social, não é sexo. E que ser designada mulher ao nascer -- ou seja, ser portadora de aparelho reprodutor feminino -- traz uma série de opressões (e também construções sociais, como gostar de rosa e usar saia) que não afetam os que são designados homens. Isso não é de difícil compreensão, a menos que a pessoa lendo esteja sendo propositadamente obtusa por discordar da teoria.
E também não dá pra achar que um grupo que queira discutir aspectos biológicos como gravidez, violência obstétrica, menstruação e outras situações que só afetam a quem nasceu com aparelho reprodutor feminino é praticar a transfobia. Se existe um grupo que quer discutir apenas isso e não aceita a participação de pessoas que não sejam afetadas por essas situações, por que isso tem que gerar incômodo? Quem considerar que outros assuntos são mais importantes do que esses pode participar de outros grupos. Stalkear, perseguir e demonizar grupos radicais por buscarem promover espaços exclusivos é além da desonestidade intelectual, mau caratismo."
Já a @vbfri escreveu um comentário na discussão sobre um tipo de feminismo que não acolhe muito bem quem pensa diferente. Primeiro ela copia um trecho de uma comentarista anônima, e depois ela fala:
[vbfri] Fale por você. O meu grande aprendizado no feminismo, o que foi, para mim, o divisor de águas, o momento em que eu saí do meu umbigo e comecei a ver que nem todo mundo tinha os mesmos privilégios que eu, foi quando eu comecei a trabalhar com autorização de cirurgias de transgenitalização.
Honestamente, acho uma merda até a separação de banheiros em masculino/ feminino. A galera não pode usar o mesmo banheiro por quê? Sério. Qual é a lógica disso?
Feminicídio? Tranquilo, é só um trans |
"O que a gente é contra é lutar para que mulheres trans definam o que é ser mulher e possam acessar espaços femininos sem qualquer restrição. É só aí que não somos 'interseccionais'."
A expectativa de vida de uma pessoa transexual é de 35 anos |
Na minha cabeça, eu considero mulheres trans como mulheres, apenas. E elas têm, sim, o direito de dar pitaco no que é ser mulher e usar os locais para mulheres.
Então, se 'ser feminista' é ser CONTRA a luta das pessoas trans (que inclui, aliás, serem RESPEITADAS como seres humanos), me informa onde eu devolvo a minha carteirinha de feminista.
Pichação transfóbica em banheiro da Unicamp |
E, além de banheiros, quais seriam os espaços reservados a mulheres? Vagões de metrô?
E, vem cá... Por que há a necessidade de separar vagões de metrô? Não é pela encheção de saco de ter caras bolinando as mulheres? Não eram eles que tinham que aprender (e não a gente se segregar)?
E aí as mulheres trans não podem usar o vagão de metrô e os banheiros destinados a mulheres? É isso? E por que diabos não?"