Faz pouco tempo publiquei um post sobre uma possível lei para punir stalking. Hoje reprouzo o pedido de ajuda de Beatriz Alencar, que vive esse pesadelo há uma década. Força, Beatriz! Não deixe que ele te destrua!
Há anos eu não uso Facebook. Não uso redes sociais. Me privei de muita coisa e hoje cansei. Não quero saber o que as pessoas pensam sobre o que vou falar, mas preciso explanar isso pro mundo pra que eu possa viver sem tanta gente vindo me perguntar o porquê de eu estar entrando em contato com eles, de por que eu estar mandando fotos intimas minhas a pessoas que nunca nem conversei. Quem me conhece e convive comigo ou conviveu nos últimos anos já sabe a resposta.
Dez anos atrás, quando eu tinha 16 anos, me envolvi com um rapaz chamado Felipe. Obviamente eu não fazia ideia no que estava me envolvendo até alguns meses depois, quando o relacionamento acabou e eu comecei a receber as ameaças de que ele espalharia minhas fotos pra todos que me conheciam. No começo fiquei com muito medo. Tive fobia social, faço tratamento psiquiátrico e psicológico até hoje e sofro de depressão, síndrome do pânico e transtorno de ansiedade.
Eu morria de medo de ele vazar essas fotos, de como as pessoas reagiriam. Por anos esse medo me acompanhou como ameaças por todas as redes sociais que eu tinha na época. Até que em 2018 eu viajei pra fora do país e recebi a notícia de um antigo amigo meu de colégio de que Felipe tinha mandado as fotos pra ele e se passado por mim. O medo que eu tinha dentro de mim sumiu. Era realidade. Não era mais ameaça. De tanto preparar meu psicológico que um dia isso aconteceria, que quando aconteceu eu não sofri o tanto que eu achava que sofreria. Achei que agora que ele tinha realizado o que tanto ameaçou, ele iria parar. Mas eu não podia estar mais errada. Desde essa época até hoje as atitudes doentias desse cara vem surpreendendo a todos.
Ele já se matriculou na mesma faculdade que eu fazia (viajou até a cidade aonde eu estudava, depois me mandou um email dizendo o quanto era fácil estar perto de mim se ele quisesse). Meus amigos da época sabiam de tudo e sabiam do meu medo. Ele criou fakes de pessoas da minha sala, de professores da universidade, de estabelecimentos que eu frequentava, de pessoas da minha família, tudo pra conseguir me vigiar, se passar por mim e ter informações minhas. De onde eu estava, com quem eu estava, o que eu estava fazendo.
Quando fui pra Austrália ele conseguiu descobrir meu novo número através de um perfil fake com quem eu estava conversando, procurando trabalho. Quando eu estagiei na Unicamp ele descobriu meu email profissional e mandou ofensas pra lá. Quando namorei o Danilo, ameaçou a família dele de morte caso não se separasse de mim. Enquanto eu estava namorando, pedia pra pessoas me ligarem inventando histórias. Já inventou que meu padrasto e meu tio abusavam de mim e que era consentido. Já fez tanta coisa, que eu não conseguiria listar 1% do que já aconteceu nesses 10 anos.
Eu hoje venho aqui me abrir pra todos pois quero que vocês saibam que caso tenham recebido qualquer conteúdo íntimo meu, NÃO FUI EU QUEM MANDEI. E quero que vocês saibam que, caso alguns de vocês (que eu já sei de alguns que vieram falar comigo diretamente) tenham se animado por algum momento e gostado do que receberam, parabéns! Vocês se animaram conversando com um marmanjo sociopata de mais de 30 anos que por algum acaso mesmo depois de 10 ANOS continua se passando por mim, por algum motivo que eu jamais serei capaz de entender.
O que me fez vir publicar isso foram duas coisas: minha psicóloga comentou comigo sobre essa possibilidade, e isso ficou na minha cabeça, mas eu sempre tive medo de que ele poderia fazer algo pior. Assim como eu sempre tive medo de fazer boletim de ocorrência, de denunciar, de várias coisas que tive medo durante anos. Só depois de algumas coisas sinistras que ele fez eu e minha família decidimos buscar pela justiça.
Há alguns anos contratei um advogado, algum tempo depois denunciamos, fizemos a queixa, registramos tudo e contratamos outro advogado, que está presente ate hoje. A outra coisa que me fez publicar isso foi o que aconteceu hoje. Meu tio e minha prima estão passando um período aqui em casa e esse meu tio veio me perguntar o porquê de eu ter mandado mensagem pra ele pelo Facebook. Nessa hora eu já entendi tudo. Felipe criou mais um perfil fake meu e dessa vez mandou fotos íntimas minhas e se passou por mim pra um outro tio meu. SIM, OUTRO. Ele já mandou pra inúmeras pessoas da minha família, pra amigos meus, pra primos meus, pra pessoas que eu nem conheço e que vieram falar comigo sem entender o que estava acontecendo.
Toda vez eu tenho que explicar a mesma história. Viver os mesmos traumas, fazer ressurgir meus medos, minhas pernas ficam trêmulas, eu choro, grito, peço pra Deus me levar. Peço pra não viver nesse pesadelo pro resto da minha vida. Peço a Deus pela proteção à minha família. Há 10 anos isso se repete. Diariamente. Seja em forma de sonhos, ataques de pânico, não conseguir socializar, ansiedade, medo, frustrações.
Quando isso tudo começou, eu pedi ajuda à mãe dele, que não deu suporte e debochou da situação. Já tentei de TUDO que vocês possam imaginar. Mas não adianta. Nada adianta. Essa é a primeira vez em MUITOS ANOS que ele terá notícias diretas minhas. Tentei conversar, pedir, implorar, já xinguei muito quando ele simplesmente mandava ofensas e ameaças, já perdi o controle, já recuperei, já recaí, já fiz de tudo. Até que um dia resolvi ignorar. Até hoje. Hoje eu perco meu medo de me abrir, de me expor e de me colocar em uma posição frágil.
Eu perdi tanto, tanto, tanto com isso. Me privei de viver tantas coisas por medo de achar que ele vai estar lá me esperando. Que ele vai descobrir aonde eu estou. Que vai me achar. Hoje eu me coloco na posição de estar exposta divulgando isso. Mas eu não me importo mais. Já passei muito tempo me importando. Agora quero que o mundo saiba que se algo um dia acontecer comigo ou com minha família, o mal tem nome e sobrenome.
PS: Há pouco entrei em contato com a mãe dele para pedir por ajuda, e ela me bloqueou. Eles não se importam. Sempre foi assim.