terça-feira, 31 de julho de 2012

CINQUENTA TONS DE ALGUMA COISA

No final de semana retrasado, uma jornalista da Folha de S. Paulo me enviou um email pedindo minha opinião sobre a série de livros iniciados com Cinquenta Tons de Cinza (várias de vcs já tinham me pedido isso também). Eu, sempre atrasada, mal sabia que a trilogia da britânica E. L. James já vendeu 31 milhões de exemplares só em inglês e foi traduzida para 37 línguas. 50 Tons será lançado no Brasil amanhã, numa primeira edição de 200 mil cópias. A Marie Claire tá promovendo concurso cultural, o livro já ganhou capas e reportagens de revistas -– enfim, o hype é grande.
Só pra resumir pra quem não conhece, Fifty Shades of Grey foi escrito por uma ex-executiva de TV e atual dona de casa de meia idade (estranho que essas descrições nunca são importantes quando o escritor é homem), e trata de Anastasia, uma universitária americana, virgem e bobinha, e seu relacionamento com um jovem e difícil bilionário, Christian Grey (o “50 tons de cinza” faz um trocadilho com seu sobrenome, Grey), que a convida para que ela seja sua escrava sexual durante alguns meses. Por conta das descrições explícitas das cenas de sexo, o livro vem sendo considerado “pornô para mulheres”, principalmente para mães e donas de casa na faixa etária da autora.
Eu tentei ler o livro rapidinho e enviei essas linhas pra Folha:
Apesar do sucesso da trilogia, eu não conhecia 50 Tons de Cinza. Li apenas o primeiro volume, em algumas horas, correndo. Está, de fato, muito mal escrito. Se o livro tivesse apenas longos contratos, diálogos e emails entre Anastasia e Christian Grey, e descrições sexuais em terceira pessoa, seria mais fácil de engolir. É altamente irritante o que Ana “pensa”, que consiste basicamente em apelar para sua “deusa interior”, repetir como Christian é lindo, e usar e abusar de três expressões, presentes em todas as páginas do livro (“Holy crap”, e às vezes apenas “Crap”, “Holy cow”, e “Holy hell”). Depois do trigésimo “Holy alguma coisa”, a gente fica torcendo para que Christian utilize sua experiência sado-masô e amordace a narradora Ana.
Não vejo grandes semelhanças entre 50 Tons e Crepúsculo. Precisamos parar de comparar todos os livros ou filmes feitos para o público feminino com Crepúsculo! [Atenção: leitoras informaram que 50 Tons começou sendo escrito como fanfiction de Crepúsculo]. Christian é um stalker cheio de problemas, assim como Edward, mas acaba aí. Não existe triângulo amoroso em 50 Tons, assim como não existe sexo explícito em Crepúsculo.
O livro mistura amor romântico com sexo explícito, e claramente existe um grande mercado feminino pra esse tipo de literatura que, imagino, daqui pra frente será melhor explorado. Não creio que o principal atrativo do livro para as leitoras seja o universo sadomasoquista. Ele funciona apenas como uma justificativa para que seja apresentado um tipo de sexo minimamente mais transgressor. Mas os ingredientes básicos de qualquer história para o público feminino (e sim, é terrível que ainda acreditemos em príncipes encantados) estão ali: a heroína virgem e o milionário (que, por conta da inflação, vira bilionário). Christian Grey quer que Ana seja sexualmente submissa a ele, mas é ela que vai domar seu coração.
Agora, não concordo em desmerecer a trilogia porque ela foi escrita por uma mulher (E. L. James) para mulheres. É o que a mídia faz sempre, como se, sei lá, Transformers, feito para meninos, fosse algo superior. Se 50 Tons fizer com que suas leitoras alimentem novas fantasias eróticas ou reacendam a vida sexual no casamento, dou todo o meu apoio. Pelo menos o orgasmo feminino aparece frequentemente na trilogia, embora muito menos que os “Holy crap” da narradora.
Hoje saiu um curto artigo na Folha, “Água, Açúcar e Algemas”, em que eu sou citada neste trecho: 
As feministas não têm respondido nada bem. É que além de amordaçar Anastasia na cama, Christian Grey controla seus passos e sua dieta, exige que ela o chame de senhor, esteja sempre depilada e pronta para o sexo.

Mas Lola Aronovich, professora de literatura e autora do blog feminista 'Escreva, Lola, Escreva', não acha que o livro seja machista: 'Se ele faz com que as leitoras alimentem novas fantasias eróticas ou reacendam a vida sexual no casamento, apoio. Pelo menos o orgasmo feminino é frequente na trilogia'. 
A pedra no sapato não é tanto o feminismo, mas as acusações de que a série é só um plágio picante de 'Crepúsculo'.
Quer dizer, eu não disse se o livro é ou não machista, até porque ninguém perguntou. Um cenário de BDSM (Bondage e Disciplina, Dominação e Submissão, Sadismo e Masoquismo) em que uma mulher é submissa (sub) de um dom é machista? (Leitoras praticantes de sadomasô ainda estão me devendo um guest post relacionando como é ser feminista e sub). Não necessariamente, né? Aquilo é uma fantasia sexual, um jogo com muitas coisas acertadas previamente, safe words (senhas pra parar no momento em que a sub quiser parar)... 
Embora Ana seja irritantemente estúpida, é ela quem controla a narração da história. E, pelo menos no primeiro livro (tenho muito pouca vontade de ler os dois outros), é Christian que está “dominado”, correndo atrás dela, implorando para que ela aceite o acordo. Mas só isso não faz do livro machista ou feminista, ou nenhuma das alternativas anteriores.
O que mais me interessa é a recepção ao livro. O que o sociológo disse na matéria da Folha, se é que alguém realmente diz aquilo que lhe é atribuído numa matéria (“As mulheres sofrem hoje uma crise de excesso de controle. Precisam ter controle sobre a carreira, a casa, os filhos. Natural que a vontade de se submeter ao controle de outro surja como fantasia sexual, sem significar um retorno ao machismo"), eu já ouvi de mascus: que 50 Tons mostra o que a mulher realmente quer, que é ser dominada e controlada por um macho alfa.
Gente, quanta besteira. Sem levar em consideração os mascus, que têm imensas dificuldades de diferenciarem vida real de ficção (eles têm certeza que Cisne Negro é um documentário sobre o lado obscuro da mulher!), é preciso ficar com um pé atrás sempre que a mídia pega um fato isolado (o sucesso editorial de um livro, no caso) para determinar que estamos diante de uma tendência. 
Estamos? Mesmo? Mulheres estão querendo ceder controle sexual aos seus parceiros para compensar a atitude de “estar no comando” que levamos no nosso dia a dia? Pra começar, a própria ideia de que alcançamos a igualdade e de que estamos no comando contradiz a dura realidade de que apenas 5% das cem maiores empresas brasileiras são comandadas por diretoras, ou de que só 1% de toda a propriedade no mundo pertence a mulheres.
Depois que tenho minhas dúvidas que legiões de mulheres estejam correndo a sex shops para comprar algemas, chicotinhos, cordas, vendas para tapar os olhos, e sei lá mais o quê. O livro parece proporcionar uma oportunidade para que o público feminino leia cenas de sexo, não tanto cenas de BDSM. Lógico, há muitos livros eróticos (recomendo fortemente o clássico O Amante de Lady Chatterley, de D. H. Lawrence), e imagino que mais bem escritos. Mas 50 Tons conseguiu a façanha de virar onda. Eu posso não gostar do livro, mas tem muita mulher apimentando sua vida sexual por causa dele. E isso não é ruim.

segunda-feira, 30 de julho de 2012

GUEST POST: PROPAGANDA ACIMA DO BEM E DO MAL

A Vivian, que é publicitária em Porto Alegre e inclusive já trabalhou em duas das maiores agências do estado, enviou esta contribuição sobre o caso Prudence, que lançou um anúncio fazendo apologia ao estupro. Vivian diz que, apesar do ambiente publicitário ser muito machista (a maior parte do pessoal que trabalha em agência é homem), quando a asneira é muito escancarada, alguém nota e avisa. Neste caso, até o desconfiômetro falhou. UPDATE: Agora de manhã, a Prudence tirou o anúncio do FB.

O pontapé inicial desse post é um anunciozinho -- que acabou fazendo um barulhão -- postado pela marca de preservativos Prudence na sua página do Facebook (é, naquela tal de internet onde as pessoas dizem que a vida não acontece, protestos não acontecem, etc). A imagem, que desde o dia 16 de julho está no ar, se refere a uma "Dieta do Sexo", mostrando quantas calorias se pode perder praticando alguns atos sexuais. Mas a lista contém intrigantes itens como "Tirando a roupa dela sem o consentimento dela: 190 cal" e "Abrindo o sutiã com uma mão, apanhando dela: 208 cal". Ora ora, o apanhando dela até poderia fazer referência ao universo sadomasoquista, mas como explicar o sem o consentimento dela? Prudence, o que raios vocês querem dizer com o SEM o consentimento dela?
Uma mulher que faz charminho? Uma mulher que diz não mas na verdade quer dizer sim? Uma brincadeirinha entre um casal? A realização de uma fantasia de sexo não consentido? Ou nas palavras da lei, "Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso"?
Todas as interpretações, permitidas pela ambiguidade linguística do anúncio, são possíveis. Na melhor das hipóteses coloca a mulher na posição de um ser que age em desacordo do que pensa (tornando-a um tanto imbecilóide e inferior), e, na pior, faz apologia ao estupro. É, isso mesmo: conjunção carnal ou ato libidinoso (no caso, tirar a roupa para uma Dieta do Sexo) sem o consentimento é estupro! Olhem só publicitários da Prudence, a interpretação da peça de vocês! Nenhuma delas me soa engraçada.
Essas palavrinhas, tão ingenuamente compondo o anúncio, passaram pela mão de, no mínimo, quatro pessoas, isso supondo um mínimo do mínimo: na agência de publicidade pelo diretor de arte (responsável pela parte visual), pelo redator (quem cria os textos), pelo atendimento (que faz a comunicação entre agência e cliente) e, na empresa Prudence, por alguém do marketing (que aprovou a peça). Não é possível conceber que a nenhuma dessas pessoas tenha ocorrido que textos podem ter mais de uma interpretação. Isso até é permitido em outros contextos, mas não neste em que os profissionais são formados para produzir discursos que serão distribuídos por aí, para uma massa de pessoas, e, no caso da página da Prudence, para mais de 121 mil fãs.
O anúncio ruma a três mil compartilhamentos, a grande maioria censurando a proposta, sem citar outros grupos que criaram suas versões criticando a propaganda, o que resultou numa enorme repercussão negativa (que está reforçando minha fé na humanidade!). Porém, a marca se limitou a alegar no próprio post, lá, perdida no meio de todos os comentários indignados que "O objetivo da imagem é fazer apologia a conquista. E não ao estupro." Caro relações públicas da Prudence, se a propaganda precisa ser explicada, é por que não funcionou, esso é um preceito básico que publicitários de fraldas conhecem. Nem me deterei aqui no conteúdo do texto do post, que é lamentável. Que apego é esse a um anúncio que repercutiu maciçamente de forma tão negativa?
Nos posts favoráveis (pouquíssimos, graças a zeus), um dos argumentos que mais vi por aí: mas e que estuprador usa camisinha? Provavelmente o estranho que aborda mulheres na rua, não. Mas a maior parte dos estupros acontece dentro de casa, por um conhecido ou membro da família, e também pelos próprios parceiros da vítima, aqueles seres bizarros que, por carregarem um pênis, acham que as mulheres lhes devem seus corpos para satisfazê-los. Esses, minha gente, tem todo o tempo do mundo para colocar vinte camisinhas, se quiserem. A vítima não vai a lugar algum mesmo. Ah, mas esse tipo de estupro quase ninguém conhece. E esse é justamente o problema, as vítimas se sentem imobilizadas por serem agredidas por alguém tão próximo, e o silêncio continua.
Não se naturaliza a violência sob nenhum aspecto, muito menos sob forma de propaganda. No mínimo é irresponsável por parte dessa equipe, e, principalmente da marca, reproduzir essa espécie de pensamento machista e violento num país mundo em que o número de estupros é crescente, fora e dentro de casa. Onde a violência doméstica acontece predominantemente por um homem -- marido, namorado ou noivo - contra sua companheira. Onde tantas instruções contraditórias a respeito de como tratar mulheres fervem na cabeça dos homens. E onde na cabeça de mulheres a grande dúvida é o limite que caracteriza abuso nas atitudes destes homens. Essa mistura acaba resultando em situações bem sérias. E isso não é piada, e nem brincadeirinha não.
Pois não custa deixar bem claro aqui, caso você não tenha certeza: Sem consentimento, não é sexo! Nem beijo, nem abraço, nem tirar a roupa: sem consentimento, não é nada, é só forçação de barra. Uma marca de preservativos pisa na bola ligando sua imagem ao desrespeito às mulheres.  Poxa, Prudence, vocês estão falando de sexo, mulher também faz e compra camisinha, ô publicitários. E aproveitem para repensar o posicionamento de marca de vocês, que aquele feice está parecendo parede de borracharia.
Prudence e companhia! E também marcas de cerveja, lingerie, carros, perfumes, etc etc etc, (que a lista machista permeia todos os setores), publicitários e marketeiros! Estamos de saco cheio. O machismo ainda faz a cabeça da maioria, mas as pessoas que não curtem isso já são um número expressivo. Vocês não podem mais nos ignorar. Ou melhor, podem, criem o que quiserem, mas vocês não podem impedir a repercussão negativa. Cada perfil no feice é uma pessoa do mundo real. Nós somos muitos e muitas, e a cada dia temos novos adeptos. Nós somos a sociedade, e estamos mudando nosso modo de pensar. Vocês terão que nos acompanhar, cedo ou tarde, ou ficarão para trás.
Você quer reclamar e não sabe como?
Conselho que regulamenta publicidade no Brasil
Denúncias de crimes na internet Safernet
Site da marca nacional, Site da marca internacional.

domingo, 29 de julho de 2012

MEU ÚLTIMO PEDACINHO DE FÉRIAS

Se vc clicar na foto, talvez veja um pontinho. Sou eu

Só pra registrar, porque senao eu esqueço, e também pra divulgar um pouquinho o lugar. Acho que quem é do Ceará conhece bem Taíba, nem que seja só de ouvir falar. Mas eu e o maridão, que só estamos morando aqui em Fortaleza desde o início de 2010, não conhecíamos.
Taíba é um vilarejo situado no município de São Gonçalo do Amarante, a uns 70 km de Fortaleza. No litoral leste do Ceará temos a famosa Canoa Quebrada e a bastante desconhecida e barata Fortim, onde estivemos quinze dias atrás. No litoral oeste, além de Cumbuco (com ondas de afogar Lolinhas; lá eu só entro nas águas da Barra do Cauípe e Lagoa do Banana), tem também Paracuru. É no Pecém, perto de Taíba, que será construído um porto. Logo, toda a região está se expandindo e valorizando rapidamente.
Taíba tem uma boa infra-estrutura, com muitos hotéis e pousadas. Poderia ter mais restaurantes. Numa das praias, Taibinha, há várias grutas. Mas no dia que fomos lá, a pé, não levamos a câmera, então não temos fotos (todas neste post são da autoria do maridão, vulgo Silvinho). Não tive coragem de entrar mais fundo nas grutas porque elas são baixas e nas pedras havia um monte de bichos que me lembraram a cena em que Kate Capshaw tem que enfiar a mão num ninho de insetos no segundo Indiana Jones.
Em vários horários, tanto na praia de Taíba quanto na Taibinha, formam-se piscininhas naturais, ótimas pra deitar e relaxar e ficar lá um tempão.
O por do sol é lindo. Isso é clichê. Qual lugar não tem um belo por de sol?
Caminhando na longa praia à direita, chega-se às grutas e, mais pra frente, ao centro da cidade. Indo à esquerda, bem longe (a gente não foi andando, deve dar uns 3 ou 4 km), chega-se à Barra da Taíba, onde acontece o encontro do mar com uma deslumbrante e enorme lagoa de água doce.
Mais perto da beira da lagoa, a água é transparente, e é possível ver centenas de peixinhos e peixes nem tão pequenos assim. Eu fiquei horas lá e não virei comida de peixe, mas vários encostaram em mim e em pelo menos dois momentos eu senti algo grande passar por baixo dos meus pés.
A lagoa parece ser território dos kite surfistas, mas o lugar é tão grande que há espaço pra todos. Conversei com um kite surfer que dá aulas particulares (70 reais a hora) e descobri que aquele é um brinquedinho caro: a parte principal, de cima, com as cordas todas, custa R$ 2800, a prancha, R$ 1200, e só o troço pra colocar em volta da barriga sai por 400. 
Pensou que fosse um tronco? Não, são sulcos na areia, com a água do mar.
Casal romântico na semana passada. Eu gosto dessa minha cor.
A lagoa em primeiro plano, uma faixa de areia, e o mar ao fundo. Vá lá visitar.


TEM GENTE QUE COMPRA MEU LIVRO E ATÉ GOSTA – A PROVA

                                            Lolinha e seu duplo twist carpado

Lamento muito não ter mandado os exemplares pra quem comprou o livro de 20/7 pra cá, mas é que até quinta eu estava em Taíba, e tenho foto pra provar (acima). Depois publico mais fotos deste lindo lugar no Ceará. E mando todos os livros dedicados amanhã cedo, prometo.
Continuem comprando meu livrinho, por favor. E, quem comprou, se puder, mande uma foto com ele e algumas linhas. Hoje publico os depoimentos de cinco leitoras entusiasmadas (desculpem o layout todo atrapalhado, mas o blogspot não está permitindo que eu coloque as fotos onde quero):

Gabi, de Jundiaí: “ainda não acabei de lê-lo, mas já posso dizer que o livro tem ótimas crônicas, e que apesar de não concordar com você em seus comentários sobre alguns filmes, estou adorando ler, pela sua linguagem direta, dinâmica e característica! De tanto ler seu textos já sinto que te conheço há anos. Não me arrependo nenhum centavo de ter comprado um exemplar!”
 Jaque, de Joinville: “Parabéns Lola, minha leitura foi agradabilíssiba e, parecia que era você que estava me contando as histórias. Ao lermos seus textos no blog, parece que você é uma amiga próxima e, acredito que isso é que fez o livro ser ainda mais interessante.”
Maíra, de Belo Horizonte: “Ainda estou no início da leitura, pois tenho o péssimo hábito de ler vários livros ao mesmo tempo, logo, acabo demorando séculos para terminá-los! Preciso dizer que adorei a parte em que você fala um pouco mais sobre o maridão e ri muito imaginando vocês no cinema assistindo Garfield 2! Nunca vi esse filme e confesso que não pretendo ver!”

Laís, de Taboão da Serra: “Dois dias atras eu recebi um presente de um amigo, Marcelo, que entrou em contato com você, e foi um presente que me alegrou muito mesmo. E qual o motivo da alegria? Bom, primeiro porque é muito bom quando um grande amigo tenta te surpreender e mostra interesse em te deixar feliz, segundo porque é o seu livro. Eu visito muito seu blog, compartilho muitas coisas no facebook e divulgo sempre que possível. O Marcelo mesmo conheceu seu blog de tanto eu mostrar. Eu me inspiro em você e quando eu 'crescer' quero ter influencia na vida das pessoas, da melhor forma possível.”
 
Mirella, de São Paulo: “Sou, desde os 11 anos, fã de Senhor dos Anéis, li a sua crítica e mesmo assim continuei com amor profundo ao que escreve. Comprem Lolies comprem! Dêem de presente para quem gosta de cinema e opinião divertida (em vez de críticas enfadonhas e pomposas). Duvido que não emendem uma crônica na outra. E o 'melhor dos melhor', com uma dedicatória linda que vai lhes fazer chorar (ok, talvez tenha sido só eu).” 
Lolinha e seu nado sincronizado com golfinho na piscina da pousada

sábado, 28 de julho de 2012

GUEST POST: ATEÍSMO IDEOLÓGICO E DIREITOS ANIMAIS


Neste guest post, o Robson, do blog Consciência, faz a conexão entre ateísmo ideológico (que ele explicou o que é na semana passada) e direitos dos animais.

Nunca foi nem nunca será prerrequisito ser vegetariano para ser um ateu ideológico. Mas é difícil negar que há conexões entre os diversos aspectos do ateísmo ideológico e os Direitos Animais (DA) -– e que, no final das contas, torna-se questão de coerência um ateu dessa categoria se tornar veg(etari)ano e simpatizante ou defensor da causa abolicionista animal.
Cada aspecto citado do ateísmo ideológico tem algo que combine com a ética animal:
a) Descrença em deuses (e em códigos morais absolutistas)
A inexistência de deuses e a irreligião implicam que não existe uma ética/moral absoluta e de origem divina regendo a conduta dos seres humanos. Nisso os ateus se deixam reger por uma ética exclusivamente secular, que muda ao longo dos tempos -– e são suscetíveis a analisar, aprovar e assim aceitar as mudanças progressistas nessa ética.
Essa ética secular, que Richard Dawkins chama de zeitgeist moral, vive em permanente mudança, há milênios, e continuará se transformando até a extinção da humanidade. Antigamente legalizava a opressão oficializada de minorias (mulheres, estrangeiros, pessoas de outras religiões etc), inclusive permitindo a escravidão de seres humanos. Pouco a pouco foi (e vem) derrubando uma a uma as regras morais permissivas à opressão, com implantação da democracia, abolição de leis racistas, conquista de direitos pelas mulheres, mundialização dos Direitos Humanos, aceitação jurídica integral da homoafetividade, regulação legal das relações entre o ser humano e a Natureza a que ele pertence...
E o próximo passo desse progresso ético tende a ser o reconhecimento cada vez mais abrangente e consistente dos animais não humanos como sujeitos de direito, na sua condição de pacientes morais suscetíveis às consequências das ações dos humanos agentes morais. Negar esse avanço e crer que os animais não humanos não podem, ou não devem, ser eticamente respeitados é subestimar a mutabilidade do zeitgeist moral secular, ou mesmo duvidar dela.
Portanto, a descrença em deuses e, por tabela, em códigos morais absolutos facilita bastante o entendimento de que a incorporação dos Direitos Animais ao paradigma ético vigente é parte da incontível evolução do nosso sistema ético-moral (é perceptível que alguns carnistas questionam os Direitos Animais como se sua eventual sanção fosse a imposição de uma moral absolutista. Porém, nenhum teórico de Direitos Animais considera os DA como o limite ou auge da evolução ética das sociedades modernas. Encaram-nos sim como apenas mais um passo importante na eterna mutação do zeitgeist moral, que será sucedido por outros avanços futuros -- como, prevejo eu, a legalização da poligamia e do nudismo casual).
b) Humanismo secular
Este, pelo visto, ainda é limitado à espécie humana, e poderá ser sucedido aos poucos por um supra-humanismo que inclua tanto os animais humanos como os não humanos como sujeitos morais. Mas mesmo hoje ele já possui semelhanças muito fortes e numerosas com o ideal do abolicionismo animal: a oposição a opressões seja quais forem; o estabelecimento de uma cultura de paz e respeito aos vulneráveis; a rejeição do “direito” dos mais fortes de dominarem os mais fracos e lhes imporem suas vontades; a oposição a atos desnecessários de violência; a reivindicação de direitos integrais a categorias oprimidas; a preocupação com a sobrevivência futura e harmonia da humanidade -– considerando-se que a pecuária está ajudando a comprometer o futuro da espécie humana, através do seu enorme impacto ambiental -–, entre outros aspectos.
Analisando-se bem a proposta dos DA, é possível concluir que, considerando-se a exploração animal algo que atenta, ainda que indiretamente, contra os pilares do próprio humanismo, o veganismo e a adesão à luta pela abolição desse sistema de escravidão acabam sendo praticamente um imperativo ético aos humanistas seculares, sob pena de estarem sendo incoerentes e contradizendo seu próprio ideário.
Afinal, se os animais não humanos são tão ou mais oprimidos do que os seres humanos pelos quais o humanismo tanto zela, por que não se preocupar com eles também? Por que continuar consentidamente participando, por via do consumo, de um sistema que oprime seres que deveriam ter direitos, quando se é humanista e desejador do fim de todo e qualquer paradigma que negue direitos a quem os merece?
c) Filia à Razão e à Ciência
Os Direitos Animais possuem bases racionais e científicas cada vez mais fortes. Seja no que tange os estudos sobre senciência, consciência e comportamento animal, seja nas sólidas bases fincadas na Filosofia da Ética, seja na factualidade das denúncias contra as atividades de exploração animal, seja nos estudos dos impactos ambientais da pecuária e da pesca, os DA possuem uma forte, e cada vez mais difícil de negar, estrutura racional e científica.
As recorrências a apelos sentimentais orais ou gráficos são apenas uma faceta periférica da militância animalista. Há em contrapartida essa robusta fundamentação filosófica e científica, e o pelotão de filósofos e cientistas abolicionistas só vem aumentando ao redor do mundo e fortalecendo essa base intelectual do vegano-abolicionismo.
Por outro lado, o especismo e o carnismo vêm sendo dissecados por esse movimento e denunciados como carentes de bases racionais fiáveis. E é possível perceber na internet que a maioria dos formadores de opinião que ainda estão do lado antropocêntrico não vem conseguindo sustentar seus argumentos ou mesmo simplesmente argumentar sem que recorram a ideias contraditórias, ofensividade de linguagem, manifestação de paixões deletérias -– como o prazer viciado do paladar em torno das carnes -– e/ou evidências científicas questionáveis e precárias, contrariando tanto a Razão como a Ciência.
Em suma, a racionalidade e cientificidade, que marcam o ateísmo ideológico, estão cada vez mais a serviço dos Direitos Animais, tanto respaldando-o como desmontando os argumentos do lado oposto -– carnismo e especismo.
d) Ceticismo científico
Ainda é pouco comum na internet brasileira que ateus declaradamente céticos se invistam em desconstruir os argumentos e preconceitos do carnismo e do especismo, tal como se faz muito com técnicas pseudocientíficas como a homeopatia e a clarividência, com crenças religiosas e com lendas de internet. Mas há um enorme potencial para que o ceticismo científico se alie permanentemente com os Direitos Animais, no que se refere a questionar e desmontar as crenças antropocêntricas.
Tal como pseudociências, o carnismo e o especismo são, como é possível verificar em análise crítica rigorosa das suas justificativas, sustentados por teorias científicas ultrapassadas, falácias lógicas e preconceitos contra vegetarianos e veganos. São um prato cheio para trabalhos de ceticismo, em especial no que tange a aposentar argumentos como “O ser humano precisa de carne” ou “A ‘lei da sobrevivência’ nos obriga a criar e matar animais para proveitos nossos” e apontar falácias.
Está ficando cada vez mais difícil ser ao mesmo tempo verdadeiramente cético e carnista militante sem ser fortemente questionado, visto que tal posição é muito contraditória e, conforme se flagra hoje em dia, compromete seriamente essa qualidade de cético.
Ainda é possível ser ateu e especista ao mesmo tempo, mas o ateísmo ideológico, pautado em valores como o humanismo secular, a racionalidade militante e o ceticismo científico, tem conexões e semelhanças muito fortes com os Direitos Animais. Tanto que se torna complicado não ver contradições no pensamento de alguém que é ateu, humanista-secular, cético, racionalista e pró-científico mas segue pensamentos baseados em preconceitos, teorias científicas vencidas, paixões (como o prazer do paladar) e até falácias lógicas.
Dado esse grande potencial de aliança entre os DA e o ateísmo ideológico, já selada por muitos ateus veg(etari)anos, é possível afirmar que há tantas ou mais razões para ateus dessa categoria se tornarem simpatizantes ou defensores dos DA quanto/que para hindus e jainistas serem vegetarianos. Não há obrigação coercitiva nem mandamento divino que determine que ateus ideológicos devam se tornar vegetarianos e considerar os animais não humanos sujeitos morais plenos, mas há sim o respeito coerente ao complexo ideológico que esse tipo de ateísmo traz consigo.
Afinal, não convém a um humanista secular apoiar ou consentir com um sistema que oprime seres vulneráveis e nega direitos a quem os merece. Idem a um cético usar falácias e teorias científicas ultrapassadas. A um racionalista e amigo da Ciência defender algo deletério na base da paixão, da reação adversa visceral e de dados cientificamente duvidosos. A alguém que não acredita em deuses e em suas morais absolutas defender que a Ética não mude a ponto de incluir os animais não humanos como sujeitos morais.
Ser “vegano porque ateu ideológico” não é exatamente como ser vegetariano porque hindu. Não é uma ordem divina. Ou uma regra cuja violação acarreta punição. Mas é uma recomendação da Razão e também da consciência ética. É uma correção das qualidades de humanista secular, cético, racionalista, amigo da Ciência, reconhecedor da mutabilidade da ética humana, negador de morais petrificadas. Enfim, de ateu ideológico.