quarta-feira, 31 de agosto de 2011

MEU SALÁRIO E A GREVE DAS FEDERAIS

Até agora no blog, não falei nada sobre a greve das federais, e falo agora com um pé atrás, porque é um assunto um tanto polêmico. Eu sou o que se pode chamar de uma recém-doutora. Terminei o doutorado em junho de 2009, passei no primeiro e único concurso da minha vida em agosto daquele ano, e tomei posse na UFC em março do ano passado (parece que foi ontem!). Estou em estágio probatório até março de 2013. Em março do ano que vem vou completar dois anos e, assim, estou apta a pedir progressão funcional, que se dá a cada dois anos. Parece que preciso reunir toda a papelada de tudo que fiz durante esse período (publicações, palestras, organização de eventos, comissões, coordenações, número de horas lecionadas, e inclusive a nota média que os alunos me dão nas avaliações semestrais) e submetê-la a um conselho, que emitirá um relatório. Este relatório é lido e posto em votação no meu departamento. Se tudo der certo, em abril estarei no nível Adjunto 2. A diferença é salarial: ganharei R$ 188 (brutos; líquidos, não sei) a mais por mês. É uma mixaria, mas, como disse um professor amigo, num ano dá R$ 2340, o que não é desprezível. E por aí vai — a cada dois anos, dá pra subir um nível e ganhar um tiquinho a mais. O grande salto mesmo é quando, depois de Adjunto 4, o professor vai pra Associado. Aí o salário já pula de R$ 7.913 (o salário bruto de um professor adjunto 4) para R$ 10.703. Uma diferença realmente considerável. É possível pra um doutor chegar lá, com progressões funcionais, em oito anos de carreira.
Hoje meu salário, assim como o de qualquer adjunto 1 numa universidade federal, é de R$ 7.333. Isso bruto. Líquido fica nuns R$ 5.640 por mês. Mas a folha de pagamento é toda esquisita. O vencimento básico mesmo é de apenas R$ 2.318. Aí tem a GEMAS (Gratificação por Exercício do Magistério Superior), que é de R$ 1.098, e o RT, que não é retweet, mas Retribuição por Titulação (R$ 3.916). E um auxílio-alimentação de R$ 304. Desse dinheiro todo desconta-se minha mensalidade pra Adufc (sindicato dos docentes), que é de 1% do salário total bruto (ou seja, R$ 73), contribuição social e imposto de renda, e sobra R$ 5.640 (isso é pra doutor; um mestre com 40 horas de dedicação exclusiva ganha cerca de R$ 4.140 líquidos). Que é o maior salário que já recebi na vida. É complicado pedir pra alguém que nunca ganhou um salário tão bom entrar em greve. Claro que, se meu sindicato tivesse optado pela greve, eu entraria.
E claro que, apesar de ser o maior salário que recebi na vida e de ser um salário altíssimo pra esmagadora maioria da população brasileira, ele é baixo se comparado a praticamente todas as outras carreiras do serviço público. Está muito defasado, depois de oito anos congelado pelo governo FHC. Lula fez reajustes, mas não houve aumentos reais. Esses dias circulou um estudo dizendo que os ganhos dos professores federais hoje está igual ao da era FHC, mas eu considero o troço tendencioso. Afinal, Lula, em 2006, criou a classe Associado (aquela que descrevo acima). Antes o professor chegava a Adjunto 4 e ficava lá pra sempre — porque é dificílimo chegar a titular (salário bruto de R$ 11.755, mas os concursos só acontecem a cada dez anos, por aí). Sei bem que, como professora, jamais ganharia o que ganho se não fosse numa universidade federal (as particulares nem contratam doutores!). Mas também sei que a proposta do governo foi péssima, e vai desvalorizar ainda mais salários já defasados.
Qual foi a proposta? Foi meio indecente: 4% de reajuste a partir de março do ano que vem. Nem um centavo de reajuste em 2011. Mais de duzentos Institutos Federais (IFs) estão em greve. Num momento em que quase todas as pessoas sensatas exigem que 10% do PIB seja dedicado à educação, um reajustezinho desses soa como provocação. Pra piorar, uma reunião na semana passada entre sindicatos e governo foi um vexame: o representante do Ministério do Planejamento inventou que o medíocre reajuste de 4% seria em cima apenas do Vencimento Básico (sabe os R$ 2.318?), não do salário total com suas gratificações. Pegou mal pacas. Mais tarde o governo confirmou que o reajuste seria em cima do salário total (como havia sido proposto), e os dois maiores sindicatos, Proifes e Andes, assinaram.
A Andes costuma ser muito mais dura. Ano passado, a UFC e outras universidades fizeram um plebiscito para ver se continuariam com a Andes. Decidimos migrar pra Proifes (e por isso esta semana no Twitter fui chamada de pelega por tabela!). A Proifes fez várias assembleias e plebiscitos pra consultar se os professores queriam ou não aceitar a proposta do governo (não aceitar equivaleria a entrar em greve). Os docentes daqui do Ceará foram os que menos deram apoio à proposta: 54% disseram sim, 46%, não. Em outros estados a adesão à proposta foi de 80%. Segundo o Proifes, dos 4246 professores ouvidos em todo o Brasil, 3309 aceitaram o que foi proposto pelo governo. Os docentes consultados pela Andes também toparam (ou o sindicato não teria assinado o acordo). O principal é que desde já comece um diálogo para equiparar nossos rendimentos com as carreiras de Ciência e Tecnologia. Aí a diferença é de 30%. Ganhamos 30% a menos, com a mesma titulação! Esperamos que, a partir de 2013, essa injustiça seja corrigida, e que haja toda uma reestruturação da carreira docente (e também incorporação das gratificações ao salário base).
De minha parte, acho que sempre vou ficar dividida. Por um lado, estou ciente dos meus privilégios e sei que ganho muito bem. Por outro, é óbvio que gente que faz mestrado e doutorado (de maneira geral, um mínimo de seis anos a mais de estudo) mereça ganhar muito mais. Por um lado, greve é um direito de todo trabalhador e uma ferramenta bem eficaz pra se conseguir avanços. Por outro, atrapalha o funcionamento do curso e a vida de alunos e professores. O ideal seria que um governo que ajudamos a eleger escolhesse melhor suas prioriedades e abrisse um diálogo de verdade com os sindicatos.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

ESTADO LAICO, QUERO UM PRA VIVER

Marcha do Rio na semana passada

Domingo passado teve Marcha pelo Estado Laico em São Paulo e Recife, e durante a semana, no Rio. Haverá outras, em Florianópolis (hoje mesmo!), Curitiba (17/9) e Brasília (30/11) — você pode ver aqui o calendário com os locais de encontro. Mas é impressionante. Basta divulgar esses protestos no Twitter pra receber mensagens como “falta do que fazer”. Eu acho que todo mundo deveria participar dessas marchas, inclusive as pessoas religiosas. Porque é um Estado Laico que garante a sua liberdade religiosa. E você gosta disso, não é? De ter liberdade pra crer no que quiser, pra se reunir num lugar com outras pessoas e celebrar o seu deus. Pois é. Eu, ateia, fico feliz que você tenha liberdade pra isso. Mas também exijo liberdade para não ir ao seu templo ou acreditar no seu deus, ou em deus nenhum.
Lembro de, no ano em que vivi nos EUA (entre 2007 e 08), ter lido e visto coisas incríveis. Coisas que felizmente não são tão fortes por aqui, mas estão chegando rápido. Os fundamentalistas cristãos nos EUA representam 25% da população. Se dependesse deles, a maior potência mundial seria uma teocracia. Sério mesmo. Eles não apenas querem manter o direito de discriminar gays e retroceder quase meio século no que se refere às conquistas das mulheres e dos negros, como gostariam de banir ateus e não-cristãos do serviço público. Dessa forma, um professor de escola primária que fosse islâmico, por exemplo, seria posto no olho da rua. Médico ateu trabalhando em hospital público? Nem pensar. Muitos fundamentalistas cristãos gostariam de retornar aos tempos bíblicos. Eles defendem abertamente que um homem que não trabalhe não possa comer. Na realidade, eles são contra o governo — qualquer um. Gostariam de instituir os dez mandamentos e ver o país se transformar num único grande templo.
Eu tenho um pouco de medo dessa gente. Já foi perigoso o suficiente quando o presidente da nação mais poderosa do planeta disse invadir um outro país porque Deus quis assim. Eu vi os índices de gravidez na adolescência nos EUA subirem, porque Bush acabou com os programas de educação sexual, substituindo-os por aulas de abstinência. Eu acho que todo mundo deveria poder se expressar, mesmo que seja pra expressar preconceitos. Claro que eu preferia que não houvesse preconceitos. Mas, assim como não quero me meter (e nem quero que o governo se meta) nos assuntos religiosos, quero que os religiosos não se metam em assuntos de Estado. É bem simples: se uma religiosa é contra o aborto e ela tiver uma gravidez indesejada, ela deve ter toda a liberdade para não abortar. Se um religioso for gay e tiver certeza que sua orientação sexual o levará ao inferno, ele que tente não ser gay (não fazendo sexo, ou fazendo o esforço supremo de se casar com alguém do sexo oposto). Se um casal religioso quer que seus filhos pratiquem a religião, eles que a ensinem em casa, ou que coloquem a prole numa escola particular que siga aquela religião. Se um religioso tiver uma doença terrível e irrecuperável e for contra a eutanásia, ele que siga vivendo até onde der. Mas é prepotência demais querer que seus valores religiosos sejam os de todas as pessoas de um país.
Estado e igreja estiveram juntos, inseparavéis, nos piores momentos da humanidade. Não é bom pra ninguém que crenças religiosas se misturem com direitos e deveres da população. E, apesar de acharmos que vivemos num país laico, muitos de nossos direitos são tolhidos por, no fundo, vivermos num país cristão, em que dogmas da igreja católica (e mais recentemente, das evangélicas) se intrometem no nosso dia a dia. Não há outro motivo para que o aborto não seja legalizado senão a interferência religiosa na vida de todas as mulheres, incluindo as ateias, as de outras religiões, e até as católicas que não têm tanto apreço por uma igreja com os mesmos valores de dois mil anos atrás se metendo em suas vidas. Não há outro motivo para que dezenas de direitos dos homossexuais (e somos tod@s iguais de acordo com nossa Constituição) sejam negados. Fundamentalismo religioso — e é isso que acontece quando mistura-se religião e governo — é ruim sempre, independente da religião no poder.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

PRA QUEM NÃO GOSTA, TODO FEMINISMO É RADICAL

Minhas leitoras e leitores são demais! Aprendo muito com el@s. Eu escreveria um post gigantesco pra expressar claramente o que a Liana foi capaz de dizer em um parágrafo:
Misandria = ódio ou desprezo pelo sexo masculino. Feminismo = movimento que defende direitos iguais e uma vivência humana liberta de padrões opressores baseados em normas de gênero. Bem diferente. Qualquer mulher que diga que homens deveriam não existir, que estaríamos melhor sem eles, estão propagando ideias misândricas, e não feministas. Aí está o termo extremista, já existe, não precisam inventar nenhum xingamento ou expressão chula. E tampouco relacionar uma com a outra. Se alguma mulher dessas se envolver em querelas feministas, relacionem a atitude dela com aquilo que ela é... uma misândrica”.
Perfeito. De fato, uma coisa não tem nada a ver com a outra. Achar que feministas odeiam homens é ideia (fixa) de quem odeia o feminismo, mas está longe de ser verdade. Na realidade, eu não conheço uma só feminista que se encaixe nesse perfil, e olha que eu conheço um monte (mais virtualmente que na vida real, mas ainda assim). Conheço algumas mulheres que, não sei se realmente odeiam homens (quem é louc@ pra odiar metade da humanidade? Opa, os mascus!), mas vivem dizendo “Homem não presta”, “homem é tudo igual”, e emitindo opiniões muito desfavoráveis aos homens de forma geral. Ironicamente, nenhuma dessas mulheres é feminista. Pelo contrário, elas detestam o feminismo.
Também não entendo por que algumas pessoas têm a necessidade de um rótulo para chamar @s “extremistas” de um movimento. Quem é extremista? Quem é radical? De acordo com que padrão? Se extremistas existem em todo e qualquer movimento, eles são minoria. São tão minoria que a maior parte dos ativistas nem sabe que existem. Mas sabe quem sabe, ou acha que sabe, que extremistas existem? Quem vive de criticar todo e qualquer movimento social. Pra essas pessoas, o próprio fato de existir um movimento social que luta por direitos já é um ato extremista. Essa gente ou quer manter seus privilégios intocados ou acha que ninguém tem que se mexer, que revolta é coisa de comunista, ou, como disse um leitor esses dias, de “estudante de Humanas”. Porque o mundo é uma maravilha só do jeito que tá, e em time que está ganhando não se mexe, se melhorar estraga, né?
Os mascus, por exemplo, que têm como missão declarada destruir o feminismo, que tanto empobreceu as mulheres (eles gostariam de voltar à década de 1950), só conhecem uma feminista: Valerie Solanas. Eles têm muito mais familiaridade com a Solanas do que eu. Apesar de eu me considerar feminista desde criancinha, só ouvi falar na Solanas quando vi um filme independente, Um Tiro para Andy Warhol. E no filme o mais importante é o que tá no título (ela atirou num artista super conhecido; felizmente não conseguiu matá-lo), não que ela é feminista. Ela escreveu um manifesto chamado SCUM, cujas iniciais talvez (isso não está em nenhum lugar do livro) signifiquem Society For Cutting Up Men (Sociedade para Mutilar os Homens). O manifesto é absurdo, e muita gente acha que Solanas estava sendo sarcástica. Obviamente quem pensa que todas as feministas são como Solanas creem que ela estava falando seríssimo. De um jeito ou de outro, achar que Solanas representa o feminismo, que ela é sequer um nome importante, é tão ridículo quanto dizer que Jack o Estripador representa os homens.
Enfim. Nunca vi o termo “feminista radical” (ou seu insulto pesado, feminazi, criado por Rush Limbaugh, um dos maiores reaças americanos) ser usado com um mínimo de bom senso. Ele é empregado toda vez em que uma feminista não fica lá, quietinha no seu canto, calada e fofinha, deixando que os homens falem por ela, ou quando critica alguém. Qualquer um. Qualquer coisa. Como disse a Liana num outro comentário, em quase 100% das vezes que ela ousou dizer que algo era machista, falaram pra ela relevar, não dar importância. Tem algum post aqui sem algum comentário do tipo “Tem tanta coisa mais importante acontecendo no mundo e vocês ficam falando disso”? Se essa mesma feminista que ouve um “Releve, deixa estar”, não relevar e criticar, o que acontece? Aí ela deixa de ser feminista, esse conceito abstrato, e torna-se uma feminista radical.
Não que haja algo errado em ser radical. Radical quer dizer que você realmente defende uma causa? Que pessoas que já não gostam da sua causa vão se irritar? Que você vê machismo até em inofensivas piadas? Que você não acha que um filme é só um filme? Se for isso, sou radical.
Tem quem defenda o uso de femista pra diferenciar feministas de mulheres que odeiam homens. Nunca usei femista e não sei de onde veio, mas desconfio que foi da mente torpe de alguém sem apreço pelo feminismo, que cria um termo com uma só sílaba a menos para confundir. Não tem por que usar femista, até porque o termo associa ódio ao homem exclusivamente a mulheres e feministas. Quando a gente se refere a alguém que odeia mulher usa só o prefixo mis, que quer dizer ódio, com o radical gino, mulher. Por que com ódio aos homens deveria ser diferente? Misândrico segue o mesmo princípio correto: o prefixo mis com andro (homem).
Nessa confusão sobre o que é feminismo radical se misturam outras besteiras. Por exemplo, isso de achar que toda mulher é feminista. A gente sabe que não é, e que inclusive tá cheio de mulher com os mesmos valores machistas dos homens. Mas, na hora de atacar femininista, vale tudo ― até inventar que mulheres num programa de TV americano que riram de um pênis decepado seriam feministas. Essas mulheres nunca se declararam feministas. É um programa de auditório bem baixo nível. Mas, pronto, elas viraram feministas de uma hora pra outra pra quem tava louco pra atacar o feminismo.
Rir de pênis decepados, sacanear homens, objetificar homens, odiar homens, piadinha sobre homem incapaz, comercial de produtos de limpeza tratando homens como incompetentes (e assim perpetuando a lenda de que só mulher pode cuidar da casa) ― nada disso é feminismo. Nem feminismo limpinho e cheiroso nem radical, seja lá o que for isso.

domingo, 28 de agosto de 2011

BRIGA FÚTIL E O MARIDÃO QUE SEMPRE ME DÁ RAZÃO

O mais bacana de ter encontrado sua cara metade é que você sempre pode contar com ela pro que der e vier.
Eu: “A X brigou mesmo comigo. Ela tá fria, me tratando muito formalmente. Pô, acho injusto”.
Maridão: “Injusto por que?”
Eu: “Ah, porque é briga por motivo fútil. Olha só: ela me empresta um dvd de um grupo de comédia que ela ama de paixão. Aí eu fico com o dvd por umas semanas, meses, sem ter tempo de ver o troço inteiro. Aí eu menciono o tal grupo no blog — um blog que eu nem sabia que ela lia. E eu não falo mal dela, lógico. Falo mal do grupo! E nem é que eu fale mal, mal mesmo. Eu só digo que aquela piada idiota do Rafinha sobre estupro nem era original, e que eu tinha escutado pouco tempo antes, contada pelo grupo tal. Só isso! Aí ela lê e muda completamente comigo?! Acho estranho”.
Maridão: “Bom, isso se ela realmente mudou de atitude com você, e se foi por esse motivo”.
Eu: “Ela tá mudada, e não tem outro motivo. Você consegue pensar em outra razão?”
Maridão: “Não”.
Eu: “Então. E você não acha esse um motivo fútil?”
Maridão: “Depende”.
Eu: “Depende do quê?”
Maridão: “Depende das circunstâncias”.
Eu: “Mas eu acabei de te contar as circunstâncias! É ou não é um motivo fútil?”
Maridão: “É pra você, mas pra ela pode não ser”.
Eu: “Eu sei. Mas você tá dando razão pra ela, seu ridículo?”
Maridão: “Não tô dando razão pra ninguém. Só dizendo que depende”.
Eu, quase jogando Calvin o gato em cima dele: “Quer fazer o favor de tomar uma posição?! O que você faria numa situação dessas?”
Maridão: “Que situação?”
Eu: “Ai meu deus. Imagina que tem um grupo, um cantor, uma banda, qualquer coisa, que você adora. Você gosta tanto que até viaja pra ver show do grupo em outro estado, em outro país. Aí você empresta o dvd do grupo prum amigo, e ele não gosta. Você corta relações com a pessoa por causa disso?”
Maridão: “Não sei. Depende”.
Eu: “Ahhhhh! Eu não brigaria com alguém só porque a pessoa é uma tapada e não gosta do Chico!”
Maridão: “Mas você falou que não gosta no blog”.
Eu: “Mas eu não falei da pessoa! Eu só disse que uma pessoa muito querida me emprestou um dvd do grupo tal, e que eu não acabei de assistir por falta de tempo, e que parei quando o grupo contou uma piada que eu não gostei. Quer dizer que só porque uma pessoa querida me apresentou a um grupo eu não posso falar dele?”
Maridão: “É, não sei. No blog acho que não”.
Eu: “Mas eu não falei da pessoa! Eu só disse que uma pessoa muito querida me emprestou um dvd do grupo tal, e que eu não acabei de assistir por falta de tempo, e que parei quando o grupo contou uma piada que eu não gostei. Quer dizer que só porque uma pessoa querida me apresentou a um grupo eu não posso falar dele? Você acha que eu deveria tentar conversar com ela sobre isso?”
Maridão: “Talvez. Não sei”.
Eu: “Você não tá ajudando. E não tá entendendo a situação. Ok, vamos imaginar que você empresta pra alguém alguma coisa que você gosta muito, muito”.
Maridão: “Uma melancia?”
Eu: “Isso, uma melancia. Não, uma semente de melancia. E o que mais?”
Maridão: “Uma jaca?”
Eu: “Tá, uma semente de melancia e uma de jaca. E aí a pessoa planta as sementes e...”
Maridão: “Não pode ser uma semente. Sabe quanto tempo demora pra crescer uma árvore de jaca? Anos!”
Eu: “Vamos supor que é uma semente especial, que dê jaca em pouco tempo”.
Maridão: “Não, demora muito. E jaca cai, suja tudo. É perigoso ter árvore de jaca”.
Eu: “Certo, esquece a árvore. Você simplesmente empresta uma melancia e uma jaca pra um amigo”.
Maridão: “Por que eu emprestaria uma melancia e uma jaca pra alguém?! Eu daria uma fatia de melancia e de jaca, e muito a contragosto”.
Eu, exasperada: “Tá, amore! Você dá um pedaço de melacia e de jaca pra um amigo. Aí esse amigo, ao falar da atitude errônea de um morango, menciona a melancia e a jaca. E aí você...”
Maridão, interrompendo: “Nunca mais falo com a pessoa!

sábado, 27 de agosto de 2011

A VERDADE DÓI

Vi boa parte de duas temporadas da série Lie to Me: A Verdade Dói, que passa na TV a cabo (aqui tem um bom resumo em vídeo). Os primeiros episódios eu até gostei, mas vai ficando cada vez mais CSI, mais investigação policial, e aí vira todos aqueles clichês que nos cansamos de conhecer (ou eu falo por mim?). A premissa é interessante: um psicólogo brilhante (Tim Roth, que se torna cada vez mais caricato à medida que a série progride) auxilia na resolução de crimes e conflitos valendo-se da análise de linguagem corporal e microexpressões faciais. Só de olhar pra alguém um tiquinho e fazer perguntas ele é capaz de ver se a pessoa está ou não mentindo ou escondendo algo. No caso dele, ele aprendeu essa habilidade através de muito estudo. Mas ele tem uma assistente que desenvolveu isso “naturalmente”, e a série infelizmente apenas passa por cima da ideia de que crianças abusadas sexualmente ampliam o “dom” de ler entre as linhas nas caras das pessoas. Aí vem a dúvida: é realmente um dom descobrir que todos nós vivemos mentindo, ainda que sejam mentirinhas inocentes? Ou ignorance is bliss (a ignorância é uma benção), e seria melhor não saber?
Pra que eu fosse bem sucedida em desmascarar desonestidades, eu teria que mudar minha atitude polianística de que todo mundo é bonzinho e só fala a verdade. Mesmo assim, adoraria se a série fosse mais didática, mais como o trailer acima.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

LEITORA LÉSBICA DÁ TAPA DE PELICA EM TROLLS

O guest post sobre vaginismo foi fundamental porque esclareceu o assunto para muita gente. Eu abri os comentários para que leitoras que não quissessem se identificar pudessem comentar, mas, com isso, alguns trolls apareceram. E sabe como é: quanto mais anônimo, mais troll. Primeiro uma leitora muito querida, a Two of Us, escreveu um comentário lamentando a falta de sensibilidade do namorado da autora do post, e também de outros homens. Isso deixou os trolls em alvoroço. Eles não responderam com tanta violência a mais ninguém (o que demonstra que aquela tese de que lésbicas não enfrentam tanto preconceito como homens gays definitivamente não é verdadeira). Acompanhem a dinâmica e a delicadeza da Two.

Anônimo 1: Vcs só reclamam, reclamam. li o que a sapatona escreveu, quem é ela para entender de homem? nunca nem teve um. e não teve porque deve ser feia pra cacete. só outra mulher pra querer outra feiosa mesmo. vai falar bosta pra lá sapatona machuda. agora tenho que abraçar homem pra meter bem numa mulher?
Anônimo 2: Mulher que gosta de homem é quem pode falar sobre isso e não uma que transa com mulher. Concordo com o cara que escreveu, que teve coragem e falou que a sapata acusa os homens porque as mulheres são frígidas. Eu sou homem e sou diferente de mulher. essa de conversar na hora do sexo, de ficar ouvindo o que tenho que fazer, o que não tenho, é acabar o tesão. Vou ter que ficar horas pra mulher sentir tesão? Isso não tem lógica nenhuma. A gente é diferente.
Reação anônima: Olhem o contra-senso: o camarada diz que a menina lésbica não pode falar de vaginismo porque nunca fez sexo com um homem; e ELE, que nem vagina tem, se sente no direito de opinar?
Two of Us: Bom, os dois caras que argumentaram poderiam dizer seus nomes para eu me comunicar com eles. Mas vamos lá:
a) Eu penso que vocês necessitam urgentemente aprender a interpretar um texto;
b) não foi falado aqui sobre frigidez do sujeito do feminino;
c) não mencionei ser culpa do homem o fato da mulher passar por alguns problemas na relação sexual;
d) posso escrever, dialogar sobre vaginismo porque sou, antes de tudo, alguém que se importa com o problema do outro;
d) sou mulher e faço amor, com muito tesão, com uma mulher que amo e muito! E, exatamente por isso, entendo de DUAS vaginas! (para sua informação, há uma grande variedade de vaginas...Você sabe o que é um clitóris? Não? Sugiro acariciar, olhar, beijar, chupar mais a vagina de sua companheira);
d) sou mulher e lésbica!
E) Beleza é um critério muito pessoal. Mas eu me olho no espelho e me acho tão bonita, sabe! Verdade! Acho que recebi elogios demais e me convenci que sou mesmo uma mulher bonita. E não me via assim há alguns anos. Também recebo elogios de algumas pessoas sobre minha sensualidade e charme, além de gostarem da minha simpatia, apesar de ser um pouco tímida. Mas enfrento este meu lado porque eu realmente gosto das pessoas. Muitas vezes tenho que ser muito educada para dizer não a um cara que deseja me namorar, pois eles não sabem da minha orientação sexual. Meu jeito de me vestir, de arrumar meus cabelos e de me maquiar, não se encaixam nos estereótipos que a sociedade lê a mulher lésbica. E a minha companheira, idem. Ela é muito linda e muito charmosa!
f) Se vocês pudessem amar uma mulher verdadeiramente, iriam gostar de ouvi-la por muito tempo e ainda dizer palavras saborosas no ouvido dela. Mas é preciso ter muita sensibilidade e criatividade, algo, pelo visto, desconhecido para certos homens.
g) Corrigindo suas palavras: não se mete em nenhuma vagina, em nenhum ânus, caro! Se penetra com delicadeza. Seu pênis não é uma faca, uma arma, um pau. Sim, já pensaram nesta palavra, "pau"? Terrível, não?
h) Seria maravilhoso que vocês pudessem ter tido abraços, beijos, carinhos, colinhos, afagos nos cabelos, afetos de seus pais ou de quem cuidou de vocês. Com certeza vocês seriam homens tão interessantes! Mas sempre é hora de mudar. Já se abraçou hoje? Já abraçaram um amigo, uma amiga hoje? Tentem, é super gostoso! Faz um bem enorme pr'alma!
i) Talvez você não tenha deixado espaço para uma mulher reclamar do seu desempenho na cama, uma vez que não há diálogo, não é?
j) Lembre-se: muitas mulheres mentem sobre sentir orgasmos e fingem, pois foram ensinadas a satisfazer um homem.
k) Não preciso fazer amor com um homem para entendê-lo. E, com licença, não sinto atração sexual pelo sexo oposto. Por exemplo, no desenho animado He-man, nos idos dos anos 80, eu não estava nem aí para ele, meu lance era a She-Ra! Tanto é que em um dos meus aniversários, a ambientação foi sobre ela e me vesti de She-Ra, graças ao meu vozinho que descobriu uma costureira para fazer a fantasia! Os adultos acharam que era coisa de menina feminista, já que eu andava lendo alguns livros sobre o assunto, pois uma amiga de um irmão mais velho era feminista e eu fiquei curiosa sobre o assunto; ela me emprestava os livros e eu li, mesmo sem entender muita coisa. O que eu e eles não sabiam, é que eu já sentia algo pelas mulheres. E como sempre fui fiel aos meus sentimentos, jamais namorei um homem! Mas eu tenho irmãos e dialogo muito com eles. Assim, penso que sei um pouco sobre homens.
Teria mais para escrever, mas irei me vestir, pois irei jantar fora com meu grande amor, com minha companheira!
Sou mulher, sou lésbica, sou feminista! Sou feliz!

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

GUEST POST: SAÍ MAIS FORTE DO CÂNCER

Giovana Damaceno é linda, e vocês já já vão ver porquê. Ela é jornalista em Volta Redonda, RJ, tem um blog, e também um livro de crônicas publicado, Mania de Escrever, que pode ser comprado aqui. E ela é tão generosa que me enviou várias fotos para publicar aqui. Este é o tipo de guest post que informa e emociona ao mesmo tempo. Coragem, pessoas! Vão fundo.

Ao receber o pedido da Lola para escrever um guest post sobre minha experiência com o câncer de mama, pensei que seria algo rápido e prático a fazer, mas já escrevi tanto a respeito que chegou a me dar um branco. Por onde começar? O que exatamente interessaria aos leitores da Lola? Então decidi falar um pouco de cada momento, resumindo ao máximo o que levaria mais de um dia para relatar.
Sou jornalista, cronista, escrevo uma coluna para o jornal da minha cidade e também no meu blog. Logo que fui diagnosticada com um câncer de 8cm na mama esquerda, em março de 2009, aos 40 anos, tratei de contar a meus leitores, falar da minha surpresa, confessar minha dor e meu medo, mas já dando a volta por cima, adiantando que daquele limão eu faria uma caipirinha. E esta caipirinha eu estou bebendo até hoje.
Detectei um caroção na mama esquerda por mero acaso. Fazia autoexame regularmente e a última mamografia, de um ano atrás, estava ok. Um dia, no trabalho, dei um tempo do computador e espreguicei. Na descida dos braços, passei ambas as mãos pelas laterais das mamas e levei um susto. Ali estava um ser indesejado, que só seria identificado como câncer meses depois (o primeiro diagnóstico foi de nódulo, com 4cm). É importante frisar que a forma como passei a mão na mama em nada tem a ver com os movimentos normalmente ensinados para fazer o autoexame.
Os primeiros dias após a notícia foram de desespero total. A primeira coisa que se pensa é: vou morrer. E enquanto aguardava os trâmites normais para iniciar a quimioterapia, fui me acalmando, olhando o problema de forma prática (como sempre fiz) e colocando literalmente o tratamento na agenda. Claro que o choque sacode corpo e alma e, pra quem consegue ter o mínimo de equilíbrio (eu consegui, ah!) é um ótimo momento para reflexão: para quê estou passando por isso? Com esta pergunta em mente virei pra Deus e disse: “Estou levando uma sacudida de ombros, eu sei. Pois então eu estou pronta pro sacrifício. Seja o que for que tiver de aprender com isso, conto som Sua força e amparo. Vamos juntos que eu venço esta parada. Câncer gosta de tristeza, portanto ele se abrigou no lugar errado e não vai ficar aqui por muito tempo!”
Foram seis sessões de quimioterapia, a cada 20 dias, que me levaram quase ao fundo do poço. Chamava os dias pós quimio de escuridão. Não encontrei nada melhor pra definir dias de enjoo quase insuportável. Ficava sozinha, em silêncio, na minha cama, sem conversar com ninguém, sem pensar, só enjoando e dormindo, sem comer, só bebendo água bem gelada, com gelo e gotas de limão, um dedinho de cada vez. Fraqueza, vertigens, pernas moles. Quem me conhece não acreditaria que aquela era eu. Só não vomitava porque meu médico, o oncologista Fernando Almeida, prescreveu um coquetel de remédios que seguravam no estômago o pouco que eu conseguia comer. O enjoo parece o mesmo da gravidez, multiplicado centenas de vezes; quem já teve filho pode imaginar, de leve. Sempre aconteciam num período de sete a dez dias após a sessão e depois melhorava um pouco e eu já conseguia comer melhor.
Exatamente no 17º dia depois do início do tratamento meus cabelos se foram. Tratei de passar máquina logo que observei queda mais volumosa, porque não quis ver minhas longas madeixas se soltando da cabeça. Não quis usar peruca. Optei por muitos chapéus, lenços e turbantes. Sempre saía de casa com a cabeça colorida. Pior que ficar careca foi mudar de cor, assim, meio cinza, e com aquela cara redonda, que parecia inchada, sem cílios e sem sobrancelhas. Aliás, não é só cabelo da cabeça que cai; é do corpo todo! Tentei fazer piada disso tudo e fui levando. Fiquei mal mesmo por causa da quimio a partir da terceira sessão. Os efeitos causados pelas drogas são cumulativos e o corpo vai ficando cada vez pior. Tonteira, memória fraca, muita dor pelo corpo todo, como se a carne estivesse apodrecendo. Não podia ficar muito tempo na mesma posição, deitada ou sentada, que tinha a sensação de estar me desintegrando. Tudo com dor. E com muito enjoo. E na boca um gosto amargo/pútrido permanente, que me fez consumir latas de pastilha Valda, tubos e tubos de spray de menta, balas Halls (preta e azul) sem fim. Meu médico também incluiu nas prescrições de remédios uma pílula que me ajudasse a dormir, porque uma das substâncias contidas entre as drogas provocava insônia. Após a sexta e última sessão tive que me conformar em apenas esperar passar. Não conseguia ler, mal via TV, todos os sintomas ficaram ainda mais intensos, até começarem a diminuir depois de vinte dias.
A temida cirurgia veio após o tratamento quimioterápico. Mesmo com o sucesso da primeira etapa do tratamento, que zerou o tumor, seria preciso me submeter à mastectomia para evitar que as células anormais (que formam o tumor) voltassem a se reorganizar. E a opção encontrada pelo meu mastologista, Eduardo Millen, foi o esvaziamento da mama e reconstituição imediata com material retirado do meu abdômen -– o TRAM. No mesmo procedimento cirúrgico -– que durou seis horas -– foi feita a adenomastectomia e a reconstrução por cirurgia plástica. O Eduardo abriu minha mama pela frente, com uma incisão por cima da aréola, esvaziou todo o conteúdo e preservou mamilo e aréola. O cirurgião plástico, Leopoldo Menezes, então entrou em cena. Abriu um corte na barriga, de um lado a outro, como numa cirurgia plástica. No baixo ventre ele cortou os dois músculos e junto com a gordura abdominal trouxe tudo para a mama, por dentro, por meio de um túnel. Meus músculos abdominais hoje sustentam a minha mama, recheada com minha própria gordura abdominal e é também através destes músculos que o novo recheio é irrigado com sangue. No abdômen foi colocada uma tela de polipropileno, para manter tudo mais ou menos de pé (mais ou menos mesmo; barriguinha de tanquinho, nunca mais!). Sem os músculos ganhei a limitação de não poder mais me levantar ou deitar reta; só de lado. Motivo pelo qual não faço exercícios abdominais, por exemplo.
Após a cirurgia e devida recuperação, encarei 25 sessões diárias de radioterapia. Mais tranquilas de fazer, mas nunca sem sequelas. Foi somente por causa da radio que minha nova mama não ficou exatamente perfeita. Estão aqui, inteiros, meu mamilo e aréola, mas a mama ficou mais endurecida embaixo, pois a ‘queimadura’ provocada pela radio causou uma anomalia nas pontas dos músculos que a sustentam, chamada esteatonecrose. Ainda pretendo fazer uma cirurgia de correção de simetria, que vai tornar minha mama direita menor e mais firme, e assim e evitar ao máximo meus péssimos humores na hora de escolher e vestir roupas que disfarcem ou não destaquem a diferença entre as duas (mesmo com enchimentos no sutiã, a diferença não é totalmente disfarçada).
Ao lado, durante todo este tempo, em cada minuto, em cada choro, em cada projeto futuro discutido, estava o maridão (também falo assim, Lola). Chegava a brigar sério comigo quando me via falar com a voz mais mole. “Para com isso que você não é assim! Faço qualquer coisa que você precisar, desde que se dirija a mim com a mesma altivez de sempre!” E eu respirava fundo, levantava a cabeça e pedia: “Pode me trazer um copo d’água, por favor?”, com a voz mais firme que a fraqueza provocada pela quimio me permitia. Um homem que posso dizer que é perfeito. Falo pouco sobre isso porque ninguém acredita e achariam que sou louca. Mas ele é. Se me perguntassem que defeito tem o maridão, não saberia o que responder. Mesmo. Entende a alma feminina como só uma mulher entenderia, é um companheiro exemplar, compreensivo, paciente, e me ama incondicionalmente. Sim, este ser existe e é o meu maridão.
Junto com ele contei com outras pessoas que, reunidas, dei o nome de equipe de apoio. Mãe, filho, duas amigas sensacionais, irmãs, irmãos, cunhadas. Cada um no seu quadrado, dando tudo o que podiam. E meus médicos, a quem vou morrer (daqui a muuuitos anos) agradecendo.
Costumo dizer que me salvei do câncer porque tive fé, não só no Deus que acredito, mas nos meus médicos e principalmente em mim. Como disse, coloquei o tratamento na agenda e fui seguindo aquele roteiro, programando dia após dia. Não deixei de sonhar, refiz meus planos para o futuro, fiz um grande planejamento do que faria depois do fim do tratamento. Isso é importante, muito importante, embora seja difícil não sucumbir ao medo. Mas logo no início do tratamento ouvi de uma mulher que passou pelo mesmo problema que o medo é a maior armadilha. Também descobri rápido para quê estava passando por tudo aquilo: para me mudar, para crescer, para ser uma pessoa melhor, depurada, e isso foi fundamental. Estranho dizer tudo isso assim, num texto, para pessoas que não me conhecem pessoalmente, mas foi assim mesmo. Surgiu uma pessoa corajosa dentro de mim que nunca imaginei que pudesse existir.
Parece tudo muito perfeito, né? Não, não é. Só eu sei o quanto de dor senti, quantas vezes chorei sozinha, a intensidade do pânico que me tomava frequentemente, como era desanimador acordar de manhã e lembrar “estou com câncer...”, as dores da cirurgia, a exaustão de tanta gente me tocando, me virando, mexendo, sacudindo. Ninguém -– ninguém mesmo –- que não tenha passado por isso pode fazer ideia do que seja, física e emocionalmente, viver uma experiência com o câncer. Mas eu decidi que comigo seria diferente e eu fiz a diferença. Até agora estou plenamente saudável, voltei a trabalhar no início de 2010, minha vida profissional é super ativa. Eu e o maridão temos atividade sexual plena, apesar de eu ficar ainda meio constrangida por meu corpo não ser mais perfeitinho. Sem contar a menopausa precoce que as sessões de quimio me deram de presente. Aí rola um probleminha com o calor, que ninguém merece!
Creio que o texto ficou grande demais para este espaço, mas há muitos outros detalhes sobre esta experiência que contei no meu blog. Quem se interessar, é só acessar o marcador “O ano do meu crescimento” que tem tudo lá.
Obrigada, Lola, pela oportunidade. Espero ter esclarecido algo para a mulherada e para os homens também. Qualquer dúvida, estou à disposição.