Não sou judia, mas nasci em junho de 67, bem no dia em que começou a Guerra dos Seis Dias, quando Israel expandiu seu território tirando terras do Egito, Jordânia e Síria. Ahn, terras que não foram devolvidas até hoje. E sabe, nessas terras havia pessoas, mais especificamente um milhão de árabes. Vou partir pruma alusão meio tolinha, mas é como se a Argentina promovesse uma guerra e confiscasse os três Estados brasileiros daqui do Sul. A gente não viraria homem-bomba tentando provar que não é argentina? Olha, conhecendo a história de Israel, e sua sanha imperialista, apoiada pelos EUA, é muito difícil não ser pró-palestina. E mais difícil ainda, pra mim, que não sou religiosa, é compreender que o pessoal fique se matando por diferenças religiosas que nem soam tão diferentes assim. As três maiores religiões monoteístas calharam de escolher o mesmo pedacinho de terra, batizá-lo de sagrado, e cismar que só a religião deles é a escolhida por Deus. Francamente, se é isso que as religiões fazem – matar em nome de Deus pela propriedade – não dá pra fingir que elas pregam a paz.
Por mim, eu fecho com o novo radical iraniano, que disse que o Ocidente, consumido pela culpa do holocausto, deveria ceder um território na Europa pra que Israel se instale por lá. Imagina que luxo viver na Europa! Mas não, o pessoal prefere permanecer naquele lugarzinho árido no meio do deserto. Há uma cena em “Munique” em que a mãe judia fala pro filho que até que enfim Israel tem um lar, e que eles tiveram de pegar o lugar à força porque ninguém iria dá-lo pra eles. Mas não é tão simples assim. Quer dizer que se a gente oferecesse outro lar pros israelenses (ou pros palestinos), longe de Jerusalém, Mecas e afins, eles iriam aceitar? É só ver como os colonos judeus se recusaram a deixar os territórios ocupados, e isso que cada família recebeu uma indenização de meio milhão de dólares. Sei lá, eu penso que Israel tem todo o direito de ter seu país, a Palestina idem, mas no fundo eu preferiria viver num mundo sem fronteiras, onde um povo não se achasse melhor que o outro.
Enfim, “Munique” mostra uma história de vingança, em que um banho de sangue gera outro, e mais outro. Pra gente não pensar que só os homens fazem a guerra e matam, aparece no filme a Golda Meir, então primeira-ministra de Israel, assumindo total responsabilidade, e uma assassina profissional. Essa parte envolve uma nova utilidade pra bombas de bicicleta (não tente fazer em casa). E o único loiro do thriller é o Daniel Craig, o novo James Bond. Mas um dos pontos mais importantes é a cena final, cheia de suspense. A gente vê os personagens caminharem em Nova York, com a famosa linha de prédios ao fundo, e fica procurando as Torres Gêmeas. Quando elas finalmente dão o ar de sua graça não é lá muito sutil, mas é poderoso.
Um tanto estranho a gente aprender que matar meia dúzia de homens custou dois milhões de dólares, e comparar com o preço do filme, setenta milhões. Mas lógico que “Munique” pode influenciar mais gente que a Operação Ira de Deus. Só os flashbacks do protagonista parecem exóticos, porque são memórias de um carinha que não estava lá. A recapitulação na cena de sexo no fim, então, é polêmica e hors concours em bizarrice. Eu só fiquei imaginando, no que o maridão pensa quando a gente transa, normalmente no Natal? Mesmo arriscando uma infidelidade conjugal imaginária, é mais saudável pra nossa vida sexual que ele se concentre nas coelhinhas da Playboy do que em massacres terroristas. Ou será que o Spielberg quis ressuscitar o slogan dos anos 60, faça amor, não faça guerra?