quarta-feira, 30 de setembro de 2009

ESCÂNDALOS E FOFOCAS: UM ASSUNTO LEVA A OUTRO

Pai e filha: John e Mackenzie Phillips muitos anos atrás.

Posso contar fofoquinhas nada-a-ver que fiquei sabendo anteontem? Começou assim: minha mãe veio à minha casa discutir o post sobre o Polanski e, lá pelas tantas, disse que o assunto do momento mesmo é o depoimento da filha do cara do Mamas and the Papas. E eu nem sabia do que ela tava falando. Mamas and the Papas, tudo bem, conheço, gosto do grupo dos anos 60, tenho até um cd com os greatest hits deles (Monday Monday, que de fato tem que ser uma das letras mais burinhas já feitas, e California Dreamin'), mas que negócio é esse da filha? Então, se você esboiando como eu, lá vai: John Phillips, o “Papa John”, morreu em 2001, aos 65 anos (do coração, mas anos antes ele havia feito transplante de fígado e continuado a beber). Sua filha Mackenzie, que é ou já foi atriz de TV, apareceu na Oprah e em outros programas na semana passada pra divulgar o lançamento de sua autobiografia. O livro já é o terceiro mais vendido por causa de umas declarações surpreendentes e não muito amistosas sobre seu pai. Mackenzie conta que ele lhe deu heroína quando ela tinha 17 anos. Aos 19, na véspera do seu casamento, os dois, pai e filha, estavam pra lá de drogados, e ela acordou com ele transando com ela (ou seja, estupro). Os dois mantiveram um relacionamento incestuoso pelos dez anos seguintes, até que ela engravidou e fez um aborto, pago por John. Que horror! Muitos a criticam por ela só estar falando disso agora que o pai está morto e não pode se defender. Mas será que, se ela tivesse contado isso oito ou nove anos atrás, ele confirmaria? Duvido.
Enfim, não tenho muito o que dizer sobre esse assunto, apenas que é terrível, e que espero que Mackenzie consiga colocar seus fantasmas pra fora e se recuperar. De preferência através de terapia, não de programas de TV. Mas aí eu fui ler um artiguinho na Vanity Fair online (em inglês) e acabei indo parar em outro muito, muito mais interessante, escrito há dois anos, sobre a Michelle Phillips.
Michelle foi uma das integrantes do Mamas and the Papas e, como seu sobrenome indica, foi casada com John. Ela era e continua sendo linda, a típica “Californian girl”. E, na época do grupo, anos 60, era também uma típica hippie e “flower child”, cria da Revolução Sexual. Ela e John tomavam um monte de drogas juntos. Casaram-se. Ela teve aulas de canto pra aprender a cantar. E eles criaram o grupo.
A integrante mais popular do grupo era Mama Cass Elliot. Sabe que eu nunca nem tinha reparado ao ver as capas dos álbuns? Ela era obesa. Era também dona de um QI altíssimo, espirituosa, o centro das atenções em todo lugar que ia. E, claro, cantava muito. O Mamas durou apenas três anos, e depois ela seguiu carreira solo, fazendo grande sucesso, até morrer, durante uma turnê exaustiva, num quarto de hotel em Londres em 74. Ela tinha só 32 anos. O boato sobre sua morte é que Cass engasgou com um sanduíche de presunto. Isso se espalhou porque encontraram meio sanduíche no seu quarto de hotel. Mas a autópsia revelou que ela não tinha nada em sua traqueia, e que Cass morreu mesmo de um ataque cardíaco enquanto dormia. Eu sei que vai contra todas as leis da física ler os comentários no YouTube, porque eles são o cúmulo da ignorância, mas não resisti. Vi pelo menos duas pérolas referentes à morte de Mama Cass. Uma dizia: “Pô, mas também, o que ela tava fazendo comendo e bebendo na cama?!”. A outra é ainda melhor: “É chato dizer isso, mas pessoas gordas são muito preguiçosas. Elas passam muito tempo na cama”. Pois é, Mama, por ser gorda, tinha mais é que dormir no chão! E nada de comida, né? (Sei não, mas o fato de sobrar meio sanduíche já não mostra que ela não era uma glutona incontrolável?).
Enfim, voltando a Michelle Phillips. Como eu disse, ela se casou com John, um tipinho hiper ciumento... e foi logo traçando todos os melhores amigos dele! Ela teve um caso até com Denny, o outro Papa. Quando John descobriu, ficou furioso e gritou: “Você pode transar com o carteiro! Você pode transar com o encanador! Mas não pode transar com o meu tenor!”. Ele e ela se separaram, e, por incrível que pareça, John fez uma música com Denny sobre o assunto, “I saw her again”. Mas o grupo continuou, cada um com seus casinhos. Michelle passou a namorar um dos membros do The Byrds. Só que, durante um dos shows do Mamas, ela e Mama Cass ficaram o tempo todo cantando apenas na direção dele. Isso foi demais pro ego de John, que expulsou Michelle do grupo. Revoltada, ela gritou: “Ainda vou enterrar cada um de vocês!” (e ela cumpriu sua profecia: Denny morreu em 2007. Agora só sobrou ela). Pouco depois ela voltou pra John, voltou pro grupo, tiveram uma filha, e se separaram em seguida. O grupo acabou.
A vida de Michelle é fascinante justamente porque ela teve casos com montes de astros. Ela aparece direto no excelente livro do Peter Biskind, Easy Riders, Raging Bulls. Depois de sair do grupo, Michelle tentou fazer a transição pro cinema. Envolveu-se logo com Jack Nicholson. Ficaram juntos quase um ano, até que ele recebeu um telefonema que mudou sua vida: descobriu que uma de suas irmãs na realidade era sua mãe. E que quem ele pensava que era sua mãe era na verdade sua avó. Michelle conta que, depois disso, Jack passou a não confiar mais nas mulheres.
Antes disso, Michelle foi fazer um filme no Peru, dirigido pelo Dennis Hopper. Dennis, que hoje em dia anda sumido, é aquela figura maligna de Veludo Azul. Nos anos 60, ele estava no auge por Easy Rider – Sem Destino. E, numa época em que as pessoas andavam muito loucas, ele conseguia ser o mais maluco de todos. O lado salvador de Michelle falou mais alto e ela se apaixonou perdidamente por ele. Casaram-se. Ela se recusa a falar muito sobre o período, apenas que sua vida correu perigo durante aquele tempo. Ahn, “aquele tempo” foi... oito dias! Foi quanto durou o casamento. Em outras entrevistas, ela diz que foram os oito dias mais felizes da sua vida.
Aí Michelle pediu para que o roteirista Robert Towne lhe desse uma pontinha em Shampoo. Ele aceitou. Michelle estava lá no set e, sem segundas intenções, foi ao trailer do ator principal só pra dizer oi. Ninguém mais fala de Shampoo hoje em dia, um filme definitivamente datado, mas o astro do filme era ninguém mais, ninguém menos que Warren Beatty. Que foi provavalmente o maior garanhão da história de Hollywood. Warren ainda estava com Julie Christie, mas logo logo ele e Michelle passaram a viver juntos. O problema é que ela queria ter um segundo filho e ele não queria compromisso de jeito nenhum. Hoje, Warren está casado com Annette Bening (desde 92), tem quatro filhos, e parecem estar muito bem. Michelle diz que tem grande admiração por Annette, e que reza por ela todo dia.
Há várias outras fofoquinhas, mas essas são as que achei mais legais. E, voltando ao que gerou tudo isso (o livro da filha de John Phillips), tanto Michelle quanto a esposa seguinte de Papa John, uma atriz chamada Genevieve Waite, dizem não acreditar na versão de Mackenzie e tentam preservar a memória do cara a todo custo (o que não deve ser fácil, porque John foi tão selvagem com as drogas que até o Rolling Stone Keith Richards teve de expulsá-lo de sua casa uma vez). Mas pra vocês verem como esse mundo é minúsculo: Genevieve, que foi casada com John entre 72 e 85, fez poucos filmes na sua carreira de atriz. Sua obra mais conhecido deve ser Joanna. Quando vi o título, não acreditei e fui conferir. Sabem quem dirigiu Joanna? Michael Sarne, que foi amante da minha mãe e amigão do Polanski. Esse troço dos “seis graus de separação” funciona mesmo!

terça-feira, 29 de setembro de 2009

AS BUSCAS DO GOOGLE VOLTARAM! QUER DIZER, MAIS OU MENOS

Como eu disse anteriormente, nos últimos tempos o Google tem acertado e mandado buscas que tenham alguma ligação com o bloguinho. Mas sempre aparece uma ou outra mais cabeluda. Não dá mais pra fazer uma coluna semanal disso, mas quem sabe haja material pra uma mensal (e se tudo der errado, a gente pode continuar fazendo rimas). Funciona assim: eu avalio o grau de satisfação do leitor ao se deparar com este blog. Se ele encontra o que procura, é nota 5. Se não, nota 1. Digamos que exista uma certa abundância de notas baixas. Vamulá, e lembre-se: é tudo sic (eu não corrijo as buscas que chegam aqui).

Os filmes de terror menos assustadores do mundo – Pergunta difícil a sua. Pros mais assustadores a gente vive fazendo listinha, mas quais serão os menos assustadores, os que falham na sua intenção? Juro que não sei. Qualquer filminho de terror meia boca pode entrar nessa categoria. Ajuda, pessoal! Nota 3.

Mamacita foi hipotecada – Ahn, não. Ainda não. Mas se eu ficar desempregada por muito mais tempo, nunca se sabe. Bom, eu acho que nunca a hipotecaria. Talvez eu fizesse como fiz com os meus bichinhos em tempos de dificuldades: vendia ações deles. Sabe ações, que a gente nunca vê o negócio ao vivo, só uns papéis dizendo que você tem uma parte do tal e tal? Então. Eu já vendi várias ações do Hamlet pra pagar dívidas de pôquer. Mamacita, prepare-se! Nota 1.

Fotos do filme as patricinhas de berveli heston – O Google, sempre atento, corrigiu para “As patricinhas de beverly houston”. E mesmo assim continuou chegando no meu bloguinho. Nota 2.

Engravida na segunda transa? - Sim, e na primeira e na terceira também. É só a mulher estar no período fértil e houver penetração que pode se engravidar. Uma forma bem simples de evitar gravidez em todas as transas é camisinha. E olha o bônus: ainda protege de doenças venéreas e aids. Eu perco a piada mas não perco o caráter pedagógico do blog. Nota 4.

Como ser igual ao pierce brosnan – Igualzinho mesmo, identicamente falando, tipo irmão gêmeo, é bastante complicado. Mas você pode começar casando com uma mulher gordinha. Se você estiver querendo se igualar à conta bancária do Pierce, desista. Nota 1.

O que é estrupo? - Uma palavra muito difícil de escrever, a julgar por um certo jornal. Nota 1.

Vivo com um homem há 4 anos quero me separare ele não quer me dar nada porque foi a mãe dele que comprou os bens – Favor ver o item acima, “Mamacita foi hipotecada”. Não, falando sério, gostaria de te ajudar. Se vocês estão casados em comunhão parcial de bens (pelo que me disseram quando eu e o maridão fomos nos casar legalmente e não sabíamos qual modelo adotar, esse é o mais comum; uns 80% dos casamentos são em comunhão parcial), tudo que vocês adquiriram durante o casamento pertence aos dois. No seu caso, se o que vocês têm foi dado pela mãe dele antes do casamento de vocês, acho que é tudo dele. Ah, agora que eu vi que talvez vocês nem sejam casados legalmente. Procure um(a) advogado(a) e boa sorte. Nota 3.

Cenas que deram errado em videos pornográficos – Sério? Tem disso? As videocassetadas dos filmes pornôs? O “falha nossa”? Não consigo nem imaginar como é isso. O cara erra a mira e, ao invés de ejacular no rosto da mulher, ejacula no diretor? E aí todo mundo ri? Puxa, deve ser bem legal. Nota 1.

Procuro homem de 25 anos bilionário que queira casar - Algumas pessoas pediriam um milionário de 90 anos que quer apenas um casinho, mas por que se contentar com pouco, não é mesmo? Nota 1.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

POLANSKI PRESO

Polanski 31 anos atrás, quando fugiu dos EUA.

O cineasta franco-polonês Roman Polanski é um dos maiores diretores de todos os tempos, autor de grandes filmes como Repulsa ao Sexo, O Bebê de Rosemary, Chinatown, e O Pianista. Sábado à noite, aos 76 anos, ele foi preso na Suíça, de onde provavelmente será deportado para os EUA e julgado.
Uma das cinco produções de Macbeth que analisei na minha tese de doutorado foi o excepcional filme de Polanski com o mesmo título. Portanto, li bastante sobre o diretor. Na realidade, sempre me interessei por ele, já que sou cinéfila e ele é um dos mestres, e também porque, reza a lenda, eu já estive na mesma sala que ele. Alguns meses atrás, vi o excelente documentário de Marina Zenovich, Roman Polanski: Procurado e Desejado (veja o trailer aqui), do ano passado, e decidi revê-lo agora pra poder escrever este post pra vocês.
Pra quem não sabe, Polanski teve uma vida dura. Na infância, conseguiu escapar de um campo de concentração, onde seus pais morreram, e sobreviver órfão nas ruas. Mas o maior drama de sua vida foi sem dúvida o assassinato de sua mulher, a atriz Sharon Tate, em Hollywood. Em agosto de 1969 Sharon, então grávida de oito meses, e outros cinco amigos, foram barbaramente mortos por seguidores do louco-varrido Charles Manson (que não conhecia ninguém da casa). Polanski estava na Europa começando a fazer um filme. Como a polícia demorou pra encontrar Manson, Polanski foi, durante meses, tratado pela imprensa americana como principal suspeito da morte de sua própria mulher. Essa história toda é tão absurda que merece um post só pra ela (prometo escrevê-lo, se tiverem interesse).
Em 1977, Polanski estava em Los Angeles fotografando ninfetas para a Vogue Hommes. Como ele havia praticamente lançado a carreira de Natassja Kinski, que ele fotografou e namorou quando ela tinha 15 anos (e em 1979 a dirigiu em Tess), muitas meninas queriam ser clicadas por ele. Uma delas foi Samantha, uma americana de apenas 13 anos. Polanski já a havia fotografado antes, mas, na segunda vez, os dois passaram um dia juntos. À noite, ele a levou para a mansão vazia de seu amigo Jack Nicholson. Beberam juntos, tiraram a roupa e entraram numa jacuzzi, compartilharam uma droga (quaalude), e transaram, segundo a versão do diretor, ou Polanski a estuprou, segundo a versão de Samantha.
Polanski é um crápula, e o documentário de Marina deixa isso claro. Começa com ele dando uma entrevista antiga pra um jornalista, onde o diretor afirma que, como a maioria dos homens, ele também gosta de “mulheres jovens”. O jornalista então quer saber quão jovens. Polanski não sabia que fazer sexo com uma menina de 13 anos era errado. Na Europa, aparentemente, ele vinha fazendo isso direto. Robert Towne, roteirista de Chinatown, já havia dito que a piscina da casa onde os dois redigiram o roteiro, em 74, ficava cheia de adolescentes. E o ego de Polanski, como o de tantas celebridades, é gigantesco, apesar de sua baixa estatura (em Chinatown ele faz uma ponta. Nicholson o vê e pergunta: “Quem é o anão?”). Um ego tamanho GGG é incapaz de reconhecer erros, e é isso que faz o diretor um crápula, na minha opinião.
No início, Polanski declarou-se inocente. Mas eventualmente seu advogado e a promotoria fizeram um acordo—ele seria acusado apenas de “sexo ilegal com uma menor de idade”. Nada de estupro (houve consentimento), nada de dar álcool e drogas pra uma menina. “Sexo ilegal com uma menor” é visto como um crime pequeno. Na Califórnia, a pena varia entre seis meses a cinquenta anos (!) de prisão, mas é raríssimo alguém ir preso por isso. O acordo foi fechado.
Polanski teve o azar de pegar Laurence Rittenband, um juiz ávido por publicidade, que não perdia uma só oportunidade de sair nos jornais. O juiz mandou Polanski para uma avaliação psiquiátrica para determinar se o diretor era um molestador de crianças. Se a resposta fosse afirmativa, Polanski seria encarceirado num asilo psiquiátrico. Para o alívio do cineasta, os médicos disseram que não.
Antes de qualquer julgamento, o juiz decidiu mandá-lo para um outro “estudo diagnóstico”, desta vez algo muito mais demorado. Seriam 90 dias numa prisão barra-pesada, Chino. O advogado de defesa argumentou que Polanski estava começando a filmar um projeto, e que três meses representaria um prejuízo enorme (além do mais, a essa altura, tanto a vítima quanto a mãe dela já haviam dito que não queriam o diretor preso). O juiz disse que daria uma licença de um ano para que o diretor terminasse o filme, na Europa, antes de se apresentar à justiça, no que o promotor topou. Mas o juiz pediu para que advogado e promotor fizessem um teatrinho para a imprensa, fingindo que essa decisão tinha sido tomada na hora, diante dos jornalistas, não a portas fechadas. Fora isso, ele não daria a licença por um ano direto, mas várias licenças. Polanski teria que se apresentar a ele a cada três meses, pra renovar sua licença.
Mais tarde, o diretor escreveu em sua autobiografia, Roman: “Eu estava do lado da justiça. Tinha uma grande admiração pelas instituições americanas, e eu via os EUA como a única nação verdadeiramente democrática do mundo. Por causa de um momento irresponsável de desejo, eu pus em perigo a minha liberdade e o meu futuro no país que mais importava pra mim” (p. 403, minha tradução). O documentário mostra Polanski indo pra Europa, cercado de repórteres. Uma jornalista lhe pergunta: “Você vai voltar?”. E ele, chocado, responde: “É claro que sim. Não se preocupe”.
Ele estava indo fazer uma refilmagem de Furacão, uma produção chinfrim do Dino de Laurentiis. Para Laurentiis, era um ótimo negócio contratar um diretor consagrado. Para Polanski, era um emprego que lhe deixaria longe da cadeia até a poeira baixar. Mas aí ele deu azar novamente. Assim que chegou a Europa, acompanhou um amigo a Octoberfest, em Munique. E lá foi fotografado bebendo, cercado por mulheres. A foto correu o mundo, e o juiz Rittenband considerou aquilo uma afronta. Chamou Polanski de volta aos EUA. E ele voltou.
O juiz decidiu que não lhe daria mais a licença, e que ele deveria se submeter à avaliação psiquiátrica imediatamente. Isso é algo que pouca gente sabe: Polanski foi preso. Ele ficou 42 dias preso em Chino. A avaliação era de 90 dias, mas geralmente é feita em bem menos tempo. O diretor limpou celas durante sua estada, e, na sua autobiografia, descreve a sua prisão como um período sereno, em que pôde ler e pensar muito.
Porém, o juiz não gostou que Polanski fora liberado em menos de 90 dias. Pegava mal perante a opinião pública americana. E propôs ao advogado e ao promotor um outro teatrinho: se os dois fizessem arguições frente à câmera, ele daria a Polanski uma “sentença indeterminada”, e, logo depois, o mandaria cumprir os 48 dias restantes numa prisão estadual, ou o deportaria. O problema era: dava pra confiar no juiz?
Polanski escreve em sua autobiografia: “Como o juiz parecia determinado a me impedir de viver e trabalhar nos EUA, e como estava claro que eu havia cumprido meus 42 dias em Chino em vão, uma pergunta óbvia surgiu: o que eu tinha a ganhar por ficar nos EUA? A resposta parecia ser: nada” (p. 423). Polanski fugiu do país. Pegou um avião de Los Angeles pra Londres, e depois pra Paris.
Seu advogado foi até lá para tentar convencê-lo a voltar. Polanski se recusou. Pouco depois, o advogado e o promotor conseguiram demover o juiz do caso, por várias violações (entre elas, discutir o caso abertamente com a imprensa). No documentário, o promotor afirma que, diante das circunstâncias, não tem como culpar Polanski pela fuga. Um outro oficial da justiça diz que, por mais que ele ache que o que o diretor fez (sexo com uma menor de idade) fora horrível, ainda assim ele merecia um julgamento justo.
A fuga de Polanski já tem 31 anos. O diretor está casado há 20 com a atriz Emanuelle Seigner (dirigida por ele em Lua de Fel), com quem tem dois filhos. Samantha, a vítima, também está casada há 20 anos, mora no Havaí, e tem três filhos. Em 1997, ela declarou: "Ele fez algo realmente horrível comigo, mas foi a mídia que arruinou a minha vida". E o perdoou publicamente. Na época, o advogado e o promotor do caso entraram com um pedido de encerramento, e ensaiaram um acordo: se Polanski se entregasse à justiça americana, não pegaria mais cadeia. Só que o juiz determinou que o julgamento fosse televisado, e isso o diretor negou.
Em 2003, Polanski ganhou o Oscar por O Pianista, e foi aplaudido de pé por vários dos astros presentes no auditório. O título do documentário é uma referência a como Polanski é celebrado, tido com um dos grandes artistas, “desejado” na França, e “procurado” pelos EUA. Agora, parece que a procura terminou. A mídia vai fazer um novo carnaval. Mas, quando acabar, pode até ser bom pro Polanski. Se ele sobreviver.
Mais sobre o caso Polanski aqui, aqui e aqui.

domingo, 27 de setembro de 2009

A "FINANCEIRAMENTE RESPONSÁVEL" ESTÁ TRISTE

Estou chateada.
O Habib's encerrou sua promoção de vários meses, e as esfihas de carne voltaram a ser vendidas por R$ 0,79, ao invés dos 0,49 de antes.
Não sei diferenciar uma esfiha do Habib's de outra qualquer. Aliás, nem sou tão fissurada assim por esfihas. Mas onde mais o maridão e eu poderíamos comer fora por cinco reais (dez esfihinhas)?
Este é um triste dia para a lolanidade.

sábado, 26 de setembro de 2009

SOBRE O MEU PRIMEIRO GATO E O RICARDINHO

Coincidência! Encontrei essa crônica antiga (abaixo) logo agora que fui almoçar com um amigo, o Ricardinho. Posso falar mal do Ric à vontade por aqui porque aquele estapafúrdio não lê mais o meu blog. Então, a gente se reuniu no Shopping Trindade, em Floripa, pra almoçar. Cada um foi pro seu lado na praça de alimentação: eu fui pegar comida chinesa, e ele, sushi. Eu fico na dúvida se sushi é merenda obrigatória de publicitário. Ou será que é o prato preferido dos gays? Posso falar abertamente que o Ricardinho é gay porque ele nem me lê mais. Então, gente, atenção, ouçam as trombetas anunciando: o Ric é gay. Todo mundo sabe disso menos eu. Conheci o Ric quando ele tinha seus quinze anos, e nem pensei no assunto. A gente gastava nosso tempo conversando sobre tópicos mais importantes, como cinema, pôquer e batata assada, que o Ric vinha aqui em casa filar. E aí, uns dez anos depois, quando o Ric já tinha se mudado pra Blumenau, eu e o maridão (que adora o menino) topamos com ele no cinema, e o Ric quis nos apresentar seu namorado. E a nossa reação foi nos entreolhar e perguntar, em voz alta: “Ahn? Ele falou namorado? Ricardinho, você é gay? Por que você nunca falou pra gente?”. E ele: “Porque vocês nunca perguntaram”.
Eu e o maridão somos as pessoas com o gaydar mais baixo que conhecemos. Pra não dizer que somos estúpidos, porque pega mal, vamos dizer que somos altamente ingênuos. Tipo, numa das minhas classes de doutorado havia duas alunas, brilhantes, que viviam juntas. E eu crente que elas só dividiam um apartamento. Colegas de quarto, sabe? Não que eram um casal. Quando contei isso pra elas, elas morreram de rir. Porque já eram um casal havia mais de uma década.
Isso me lembra um episódio do The Office americano. Acho que se chama “Gay Witch Hunt”. Um em que o Michael (Steve Carell) tira o funcionário Oscar do armário. Ele convoca uma reunião pra dizer que Oscar é gay e que ninguém deve ser preconceituoso. Oscar não gosta de ser exposto dessa forma e pede demissão, mas acaba voltando atrás. No final, Michael vê Oscar e seu companheiro, Kenny (Oscar e Kenny são um casal, moram juntos), se abraçando no estacionamento, e pergunta para si mesmo: “Será que Kenny sabe que Oscar é gay?”. Essa sou eu. É triste me identificar com um dos personagens mais sem-noção da TV, mas não vou mentir: sou eu.
Mas o que isso tudo tem a ver com o Fru, meu primeiro gato (1985-1999)? A conexão é que lá estava eu no Shopping Benfica almoçando com o Ricardinho, eu comendo comida chinesa, ele sushi, e de repente ele diz que sim, se lembra vagamente do meu amado cachorrinho Hamlet (1992-2007), mas é que ele tinha uma conexão espiritual de verdade com o Fru. E emenda que o Fru, com quem ele era tão íntimo, praticamente almas gêmeas, era um lindo gato amarelo. Gente, o Fru era azul! Nessa hora eu quase engasguei com meu frango xadrez.
Ó, muuuuuito pior que não saber a orientação sexual do amigo é não saber a cor do gato com quem você tem uma intensa conexão espiritual. Nem sei por que ainda falo com aquele comedor de sushi.
Mas na crônica abaixo eu falo da ligação de um outro amigo, o Marquinho, com o Fru. Não era uma conexão muito espiritual, digamos.

GATO SELVAGEM

Antes dos meus magníficos gatos Calvin e Blanche, eu tive meu gato azul. Era o Freud (Fru pros íntimos), que Deus o tenha: se existe um paraíso pros animais de estimação, ele está lá. Fru viveu quase quatorze anos de intensa felicidade. No começo, quando a gente morava em São Paulo, ele não era tão alegre. Faltava-lhe alguma coisa. Talvez o contato com a natureza, talvez a esperança de algum dia pegar um passarinho. Aí ele chegou em Joinville e se transformou. Estava constantemente de bom humor e cheio de amor pra dar. Felizmente, ele não era exatamente um exímio caçador de passarinhos – vamos respeitar sua memória. Digamos que ele tenha conseguido caçar dois em sua vida. Mas era o terror das lagartixas. Não o apoiávamos em nenhum dos seus hobbies.
Fru era gordo e fofo, cinza quase azul com olhos amarelos ou laranjas, dependendo da luz. Era zen, não se metia em encrencas. Só no final da tarde, depois de comer, é que ele ficava louco. Algo ocorria dentro dele e ele saía correndo pela casa, pulando nas paredes e atropelando o cachorrinho. Durava cinco minutos, depois voltava ao normal. Numa noite de verão, ele entrou na sala encharcado e bravo. A gente pensou, ué, tá chovendo? No dia seguinte, notamos que a piscininha de plástico de mil litros tinha rasgos inéditos.
Mas o estranho mesmo acontecia quando um amigo nosso vinha nos visitar. Marquinho tinha medo de gato. Não era trauma nem nada, só um medinho. Ele olhava pro Fru, que estava a dezenas de metros de distância e nem sequer lhe dava atenção, e gritava em pânico: "Ahhhh! Tira ele daqui! Tira! Ele está chegando perto! Ahhh!". Às vezes, Marquinho subia na mesa pra fugir do gatinho completamente inofensivo, que nem sabia que ele existia. Ele fitava o Fru e via um tigre faminto e descontrolado. E isso que ele nunca viu o Fru locão ou tentando – em vão – caçar passarinho. O Fru não falava nada, mas acho que ele gostava das reações do Marquinho. Com mais ninguém podia se sentir tão selvagemente felino.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

CRÍTICA: O SEQUESTRO DO METRÔ / Vontade de atirar em reféns

- Cadê o Denzel? Eu só falo com o Denzel!

Eu nem desconfiava que O Sequestro do Metrô é um remake de um policial de 1974. Mas isso não salva o filme. O que acontece é o seguinte: John Travolta é o malvadão (com um vasto currículo em interpretar vilões exagerados, vide A Senha e Face/Off) que quer dez milhões de dólares em troca do vagão de metrô que sequestrou; Denzel Washington é um funcionário da casa que vai negociar com ele. E como a direção é do Tony Scott, irmão menos esperto do Ridley, é garantido que vai haver várias explosões e perseguições de carro (mas não é num metrô?, você pergunta. Pra você ver, respondo eu). Ridley já assinou alguns clássicos, como Blade Runner e Thelma & Louise. Mas Tony certamente deve ter mais dinheiro, porque são dele Ases Indomáveis, Um Tira da Pesada 2, e Deja Vu. Ele é o alpha male director por definição, aquele que jorra testoterona. Há pouquíssimos personagens femininos relevantes em toda sua obra (a exceção é Fome de Viver). No entanto, há muita ação, barulho, e piadinhas másculas. Em Sequestro do Metrô, quando alguém pergunta sobre o personagem do Travolta, “Quem viajaria pra Islândia num fim de semana com uma modelo de bunda?”, e o outro responde, na lata, “Um corretor de Wall Street!”, juro que meu primeiro chute seria “um diretor de cinema do tipo Tony”.
Não é coincidência que o único personagem feminino de Sequestro seja uma pentelha, que só tá lá pra atestar que o protagonista é espada (apesar de passar a vida falando e correndo atrás de homens). No trailer é pior: fazem a mulher do Denzel (que tem menos de duas cenas de dois minutos cada) parecer uma super megera egoísta. Tipo, o Denzel tá lá, negociando a vida de reféns, fazendo o seu trabalho, colocando sua vida em risco, e a muié diz que não quer nem saber: ele que traga um galão de leite pra casa quando voltar à noite. No filme essa fala é estendida um pouco, então dá pra entender que isso é código pra “ó, não se esqueça de voltar vivo pra casa mais tarde”. Quer dizer, eu entendi. Já o maridão... Perguntei pra ele: “Por que ela pede que ele volte com um galão de leite?”. E ele: “Porque eles têm dois filhos e devem beber muito leite”. Expliquei pro meu geninho que o leite não é literal, e que a minha pergunta é a mesma que o Denzel faz pra ela: “Por que um galão? Por que não meio galão?”. Mas o maridão não se deu por vencido: “Deve ser porque eles não bebem muito leite. Aí o leite estraga e tem que ser jogado fora, e eles não gostam de desperdício”. Desisti.
O filme é fraquinho que só ele. Não começa mal, mas vai indo a lugar nenhum. Os personagens são rasos, sem motivação, o que impede os astros de brilharem (o Denzel, que pra mim sempre foi um dos astros mais lindos do mundo, ainda por cima tá feio, com barbicha e pouco cabelo. Igual ao Travolta). E, pensando bem, não acontece grande coisa. É uma trama bem falada, e bastante parada também. Portanto, o que precisamos para que uma história nesse estilo seja boa? Personagens interessantes, ótimos diálogos, e interpretações marcantes. Em Sequestro não temos nada disso.
Um sinal claro do desperdício do elenco é como ótimos character actors como o John Turturro (Transformers 2) e o Luis Guzman (Sim Senhor) não tem nada pra fazer. O Turturro não decola em momento algum (embora ele ande de helicóptero; tá, essa foi fraca, eu sei). E o Guzman, devem ter cortado um monte de cenas dele. Porque ele é o quarto nome na lista e mais parece um figurante.
Outro sinal é que, pô, há 17 reféns presos no metrô. Não dá pra falar um pouquinho deles? Nadinha mesmo? A gente fica sabendo algo que pode ser resumido em meia frase sobre dois carinhas, mais ninguém. Lógico que temos certeza que o único garotinho no vagão não vai sofrer nem um arranhão. Se permitissem um cãozinho no metrô, esse estaria são e salvo também. Mas por que não aproveitar o momento? O sequestro está sendo transmitido ao vivo pela internet, porque o laptop de alguém tá gravando o negócio. Deve haver milhões de pessoas assistindo, montes de comentários. Não dava pra desenvolver essa subtrama?
Não, porque o filme só tem olhos pros dois astros. Agora imagina o seguinte: você sequestra um vagão de metrô de Nova York (cidade que, entre o Bin Laden e Hollywood, tem enorme experiência com terroristas querendo destrui-la). Há grandes chances de você acabar morto. Você decide fazer toda a negociação através de um funcionário do metrô. E aí você descobre, pelo Google, uma ou outra coisinha sobre esse funcionário. Responda francamente: você pararia tudo que está fazendo pra interrogá-lo sobre sua vida pregressa? Tipo, quem dá a mínima? Lembre-se: ele é só um funcionário do metrô que atendeu o telefone. Você está sequestrando um metrô. Concentre-se. Mantenha o foco.
E, já que estou reclamando, por que precisa de um monte de legenda dizendo que horas são, quantos minutos faltam e tal, se a gente vê closes de personagens checando seus relógios? Até o prefeito, que é uma anta feita pelo James Gandolfini (Sopranos), pergunta por que diabos o dinheiro está sendo levado de um lado de outro pelo trânsito infernal de Nova York, e não por um helicóptero. Ahn, é porque a gente precisa ver cinco perseguições de carro e uns trinta acidentes. Aliás, tô pra ver polícia mais incompetente do que essa. E lógico que o clichê do herói individual prevalece―toda a força policial da cidade pode estar à procura do meliante, mas quem vai encontrá-lo e resolver a situação é o protagonista. Aí é muito engraçado o Turturro dizer, do alto de um helicóptero, que a vista aérea é maravilhosa, porque assim “a gente entende melhor pelo que está lutando”. Por uma população de imbecis, um prefeito anta, e uma polícia inepta? Quando tudo que a gente precisa é do Denzel?
No final, umas trezentas pessoas falam pro herói quão heroico ele é. Sério, praticamente se forma uma fila pra congratular o protagonista. Mais uma pessoa que falasse “Ô cara, tu é bom”, e eu já ia sequestrar o cinema. E não ia nem querer negociar com o gerente. Já ia começar atirando nos reféns direto.