Publico hoje, com muita honra, o guest post da jornalista Bia Barros. Ela é autora de um belo livro chamado Madalena, Alice, que foi premiado em Portugal e lançado no ano passado na Flip pela editora Nós.
A Bia fez a gentileza de me enviar três exemplares do livro (um pra mim, outro pra biblioteca da UFC, e outro pra sortear entre vocês). Então deixem seu nome nos comentários do post que eu vou sortear o livro até sexta. Mas apareçam pra saber quem ganhou. A vencedora ou vencedor do sorteio precisa me mandar o endereço por email pra eu poder mandar o livro da Bia pelo correio!
Fiquem com este lindo texto da Bia apresentando o livro.
Em 2015, trouxe minha mãe com Alzheimer para morar comigo, em São Paulo. Minha mãe tinha basicamente dois tipos de delírio: precisava voltar logo pra casa porque meu pai brigaria com ela por ter saído, e também um homem que estava sempre à espreita para lhe fazer algum mal. A convivência diária com os medos dela me inspiraram a escrever um livro sobre as diferentes formas de violência que as mulheres vivenciam em sua rotina.
O livro chamado Ausência foi premiado, em Portugal, com menção honrosa no Prêmio UCCLA -– Novos Talentos, Novas obras em Língua Portuguesa -– e publicado no Brasil pela editora Nós, com o título Madalena, Alice, na Flip em 2018.
No Brasil, a violência de gênero tem endereço certo. Estima-se que cinco mulheres são espancadas a cada dois minutos. Uma mulher é morta a cada duas horas. E, apesar de termos uma ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, que diz irresponsavelmente que lugar da mulher é em casa -- mesmo ciente que o parceiro (marido, namorado ou ex) é o responsável por mais de 80% dos casos violência --, as mulheres já entenderam que o lar não é um ambiente seguro para elas.
A violência de gênero começa em casa. Começa no momento que a mãe privilegia o filho homem em detrimento da filha. Quando a filha é obrigada a fazer os serviços domésticos enquanto o menino brinca. Quando o controle do corpo, da sexualidade e da vida da menina vai além dos muros da casa. Quando suas roupas, as formas que senta, gesticula e fala são marcadores da sua reputação e moral. E termina no momento da morte, quando a filha, a mãe ou a esposa têm que abdicar da própria vida para cuidar dos seus doentes.
Como o cuidado é pensado como essencialmente feminino, essas mulheres são invisíveis ao Estado e têm que carregar seus doentes no lombo, sem direitos, sem benefícios, sozinhas. O que nunca ninguém fala é sobre o horror dessa rotina de cuidadora. O horror de não conseguir conciliar com trabalho porque o doente fica completamente dependente. Os altos custos que uma doença traz. Para vocês terem uma ideia, eu gastava mensalmente com a minha mãe R$ 3 mil somente com remédios e fraldas (fora a comida enteral e as cuidadoras e outras demandas que surgem com a enfermidade).
E, por fim, o horror de lidar com uma Justiça completamente apartada da realidade das pessoas, que em vez de simplificar a situação do incapacitado e da cuidadora, bloqueia os recursos, criando um sufocamento à distância. Não é à toa que quase 70% das cuidadoras desenvolvem alguma doença psiquiátrica, como depressão, síndrome de burnout ou síndrome de estresse pós traumático.
Em Madalena, Alice essas violências são expostas, tanto pela perspectiva da mãe como da filha. Nos delírios de Madalena e nas reflexões de Alice a história das mulheres se confunde com a própria tecnologia da dominação porque somos estruturalmente produzidas dentro dessa logica patriarcal, misógina, racista e heteronormativa.
Não é um livro fácil. Ele é sufocante, claustrofóbico e bem pesado. Mas ele é um olhar para si. Um livro que pretende mostrar a loucura por dentro e o que somos nós diante dessas violências. É um livro que fala sobre medo, sobre envelhecimento, mas também sobre amor e superação. Uma história para nos fazer pensar sobre a espiral de medos e culpas que nos constituem. Uma história onde a jornada do herói não é apoteótica porque nossa guerra começa no nosso lar. Nossa batalha é contra nossos pais, irmãos mães, filhas, tias e sobretudo contra nós mesmas.
SORTEIO! Realizei o sorteio no sábado, dia 2 de março! Pra ver como fiz o sorteio e quem participou, veja aqui. Quem ganhou foi uma comentarista bastante frequente do blog, a Hele Silveira! Parabéns, Hele! Por favor, me mande seu endereço para que eu possa te enviar o livro depois do Carnaval. E gente, tenho outros livros pra sortear, então fiquem atentas. E se alguém quiser me mandar 3 exemplares do seu livro, eu faço assim: fico com um, dou um pra biblioteca da UFC, e sorteio um entre minhas queridas leitoras e leitores!
SORTEIO! Realizei o sorteio no sábado, dia 2 de março! Pra ver como fiz o sorteio e quem participou, veja aqui. Quem ganhou foi uma comentarista bastante frequente do blog, a Hele Silveira! Parabéns, Hele! Por favor, me mande seu endereço para que eu possa te enviar o livro depois do Carnaval. E gente, tenho outros livros pra sortear, então fiquem atentas. E se alguém quiser me mandar 3 exemplares do seu livro, eu faço assim: fico com um, dou um pra biblioteca da UFC, e sorteio um entre minhas queridas leitoras e leitores!