Fico triste. Esta semana morreram três personalidades do cinema. Uma delas foi o cineasta Arthur Penn, diretor importantíssimo nos anos 60 e 70. Foi ele quem revolucionou, ou pelo menos sacudiu, Hollywood ao lançar Bonnie & Clyde, Uma Rajada de Balas (trailer aqui). Pequeno Grande Homem (com Dustin Hoffman) e Caçada Humana (com Marlon Brando, Robert Redford e Jane Fonda) também são ótimos. Os últimos filmes que vi do Penn foram Alvo da Morte, fraquinho, com Gene Hackman e Matt Dillon, e o bastante bom Morte no Inverno, ambos da década de 80. Chato que ele tenha “sido aposentado” tão cedo. Mas ele será lembrado por Bonnie e Clyde (de 1967, ano em que nasci). Se você não viu, veja. Se viu, reveja. Parece que o verdadeiro casal fora da lei nos anos 30 era assim, não tão lindo e glamuroso como os jovens Warren Beatty e Faye Dunaway.
Mas acho que essa é uma das poucas concessões que o filme faz. Ou existem muitas obras por aí em que o herói é sexualmente impotente? E parece um inside joke que logo pra esse papel tenham escalado o maior garanhão da história de Hollywood. Junto com A Noite dos Desesperados, B&C é o filme pra se entender a Depressão americana. Influenciou toda uma geração de cineastas (leitura muito recomendada: Easy Riders, Raging Bulls) e é referência até hoje. Pensando bem, qualquer um que faça uma obra-prima como B&C pode se aposentar precocemente. Não precisa fazer mais nada na vida.
A outra personalidade que morreu aparecia sempre, era figurinha carimbada, mesmo com 85 anos. Tô falando do grande Tony Curtis. Eu vi o documentário sobre como a homossexualidade foi tratada por Hollywood (o excelente The Celluloid Closet - por que eu ainda não escrevi sobre ele? - veja no YouTube), desde o início do cinema até a década de 90, e lá estava o Tony (que nem era gay) dando seu depoimento bem-humorado. Tony tinha longos cílios naturais, o que lhe dava um charme todo especial. Esse look mais andrógino lhe serviu para seus dois melhores papéis, o do músico que se traveste de mulher para fugir da máfia em Quanto Mais Quente Melhor (uma das melhores comédias de todos os tempos, com Jack Lemmon e Marilyn Monroe - trailer aqui), e do escravo que atrai o olhar de Laurence Olivier em Spartacus. A cena de Spartacus (que foi retirada em 1960, mas hoje está restaurada e integra a obra; não a encontrei no YouTube) em que Laurence pergunta a Tony, dentro de uma banheira, se ele gosta de ostras ou escargots, é antológica, e representa um dos momentos mais explícitos (ok, tudo implícito, mas tá na cara) de homossexualidade no cinema. Outros dois filmes que amo com Tony são ambos com Burt Lancaster: Trapézio e A Embriaguez do Sucesso (trailer aqui; tão obrigatório para estudantes de Jornalismo quanto A Montanha dos Sete Abutres). Ah, e a voz do ator que fica cego em O Bebê de Rosemary é dele! Na vida pessoal, Tony foi casado seis vezes, a primeira com Janet Leigh (dos hiper clássicos Psicose e A Marca da Maldade). Desta união de pessoas muito bonitas nasceu Jamie Lee Curtis, de quem todo mundo gosta. E Tony ainda tinha um rancho para cuidar de cavalos abandonados e doentes. Um dos seus últimos trabalhos foi fazer a voz de Deus num curtametragem. Faz sentido.
Mas, até aí, Arthur tinha 88 anos, e Tony, 85. E os dois tiveram mortes suaves, em casa, dormindo. A morte chocante mesmo da semana foi a de Sally Menke, editora de todos os filmes do Tarantino, desde Cães de Aluguel até Bastardos Inglórios. Será um golpe duro pro diretor, que dizia que Sally era sua única colaboradora realmente genuína. Dá pra imaginar Pulp Fiction e Kill Bill sem aquelas montagens fantásticas? Edição é a alma do cinema, e Taranta sabe disso perfeitamente. E é uma das poucas áreas em que profissionais mulheres têm tido mais espaço, numa arte que ainda é estupidamente machista (única mulher a ganhar Oscar de direção foi a Kathryn Bigelow este ano, após 80 anos de academia). O terrível foi o jeito que Sally morreu. Com apenas 56 anos, ela tinha saído para passear em algum vale de Los Angeles, com seu cachorro e um amigo. O amigo voltou, ela continuou com o cachorro... e foi encontrada morta. Foi o dia mais quente da cidade desde 1877. O cachorro está bem.
On a happier note, hoje é aniversário do maridão. 53 anos. Ainda bem que ele não precisa levar gatinhos pra passear no calor de Fortaleza. Parabéns, amor!
Mas acho que essa é uma das poucas concessões que o filme faz. Ou existem muitas obras por aí em que o herói é sexualmente impotente? E parece um inside joke que logo pra esse papel tenham escalado o maior garanhão da história de Hollywood. Junto com A Noite dos Desesperados, B&C é o filme pra se entender a Depressão americana. Influenciou toda uma geração de cineastas (leitura muito recomendada: Easy Riders, Raging Bulls) e é referência até hoje. Pensando bem, qualquer um que faça uma obra-prima como B&C pode se aposentar precocemente. Não precisa fazer mais nada na vida.
A outra personalidade que morreu aparecia sempre, era figurinha carimbada, mesmo com 85 anos. Tô falando do grande Tony Curtis. Eu vi o documentário sobre como a homossexualidade foi tratada por Hollywood (o excelente The Celluloid Closet - por que eu ainda não escrevi sobre ele? - veja no YouTube), desde o início do cinema até a década de 90, e lá estava o Tony (que nem era gay) dando seu depoimento bem-humorado. Tony tinha longos cílios naturais, o que lhe dava um charme todo especial. Esse look mais andrógino lhe serviu para seus dois melhores papéis, o do músico que se traveste de mulher para fugir da máfia em Quanto Mais Quente Melhor (uma das melhores comédias de todos os tempos, com Jack Lemmon e Marilyn Monroe - trailer aqui), e do escravo que atrai o olhar de Laurence Olivier em Spartacus. A cena de Spartacus (que foi retirada em 1960, mas hoje está restaurada e integra a obra; não a encontrei no YouTube) em que Laurence pergunta a Tony, dentro de uma banheira, se ele gosta de ostras ou escargots, é antológica, e representa um dos momentos mais explícitos (ok, tudo implícito, mas tá na cara) de homossexualidade no cinema. Outros dois filmes que amo com Tony são ambos com Burt Lancaster: Trapézio e A Embriaguez do Sucesso (trailer aqui; tão obrigatório para estudantes de Jornalismo quanto A Montanha dos Sete Abutres). Ah, e a voz do ator que fica cego em O Bebê de Rosemary é dele! Na vida pessoal, Tony foi casado seis vezes, a primeira com Janet Leigh (dos hiper clássicos Psicose e A Marca da Maldade). Desta união de pessoas muito bonitas nasceu Jamie Lee Curtis, de quem todo mundo gosta. E Tony ainda tinha um rancho para cuidar de cavalos abandonados e doentes. Um dos seus últimos trabalhos foi fazer a voz de Deus num curtametragem. Faz sentido.
Mas, até aí, Arthur tinha 88 anos, e Tony, 85. E os dois tiveram mortes suaves, em casa, dormindo. A morte chocante mesmo da semana foi a de Sally Menke, editora de todos os filmes do Tarantino, desde Cães de Aluguel até Bastardos Inglórios. Será um golpe duro pro diretor, que dizia que Sally era sua única colaboradora realmente genuína. Dá pra imaginar Pulp Fiction e Kill Bill sem aquelas montagens fantásticas? Edição é a alma do cinema, e Taranta sabe disso perfeitamente. E é uma das poucas áreas em que profissionais mulheres têm tido mais espaço, numa arte que ainda é estupidamente machista (única mulher a ganhar Oscar de direção foi a Kathryn Bigelow este ano, após 80 anos de academia). O terrível foi o jeito que Sally morreu. Com apenas 56 anos, ela tinha saído para passear em algum vale de Los Angeles, com seu cachorro e um amigo. O amigo voltou, ela continuou com o cachorro... e foi encontrada morta. Foi o dia mais quente da cidade desde 1877. O cachorro está bem.
On a happier note, hoje é aniversário do maridão. 53 anos. Ainda bem que ele não precisa levar gatinhos pra passear no calor de Fortaleza. Parabéns, amor!