quinta-feira, 31 de maio de 2012

JOÃO PESSOA, AQUI VOU EU

Pessoas queridas de João Pessoa, como eu disse no domingo (e fiquei de passar maiores informações), segunda-feira estarei aí para uma palestra. Será apenas minha segunda vez nessa cidade fantástica. Portanto, aceito paparicações pra me levar pra conhecer um tiquinho do lugar. Se vocês quiserem, podemos almoçar junt@s na segunda. Não terei muito tempo, pra variar.
Minha palestra será dia 4 de junho, no Auditório do edifício-sede dos Correios  na Paraíba (BR 230, KM 24, 1° andar, Cristo Redentor). O tema é A Representação da Mulher na Mídia. Será às 15h30, que não é um horário ideal, eu sei, mas é que a palestra é principalmente pr@s funcionári@s dos Correios, e faz parte de um projeto de Empoderamento Feminino na empresa, uma ação regional ligada à política nacional dos Correios de promoção da equidade de gênero, raça e orientação sexual (demais, hein?). A organização do evento reservou trinta vagas para pessoas de fora, e tem gente se inscrevendo. Portanto, se você quiser assistir (é grátis), apresse-se (parece arrogante dizer isso, alô pessoal que diz que eu afasto interessad@s do feminismo, mas minhas palestras têm lotado) e envie um email para ascom-pb@correios.com.br
Minha agenda é corrida. Chego domingo depois da meia noite, dou palestra às 15:30, volto pra Fortaleza (via Salvador) às 4:40 da matina de segunda pra terça. E claro que preciso trabalhar no computador, escrever um artigo, preparar aula. Mas, como ficarei no que parece ser um ótimo hotel em Cabo Branco, vou dar um pulinho na piscina e quem sabe atravessar a avenida pra falar oi pro mar (nessas horas eu queria muito que o maridão pudesse viajar comigo, chuif). Mas acho que mais ou menos no horário de almoço e jantar de segunda, estarei livre.
Vou levar cinco exemplares do meu livro recém-lançado (os únicos que tenho comigo) pra, se alguém quiser comprar, eu já dedico na hora. Algum dia -– tenho fé -– anuncio a noite de autógrafos em Fortaleza e o jeito de comprar o livro pelo correio. O que eu queria é que a editora mandasse quase todos os livros pra mim, e aí eu me encarregaria de vendê-los. Porque fica difícil vender livros sem um site, né?
Aproveito pra dizer que amei a noite de autógrafos em SP no dia 21, o evento na USP no dia 22, o evento na Unicamp na segunda... Todo mundo me trata com muito carinho. É sempre bom trocar ideias com vocês pessoalmente. Obrigada, me sinto amadona!

O PRECONCEITO NÃO TE DÁ ASAS

Gente, estou viajando direto. Direto mesmo. Agora serão três domingos consecutivos que viajo. E pego o que compram pra mim, sem grandes preferências: Gol, Tam, Azul, Avianca. E, até agora, na minha vida, nunca voei num avião pilotado por uma mulher. Tudo bem, é apenas minha experiência pessoal, mas algo me diz que ainda são pouquíssimas as pilotos mulheres.
Segundo o Sindicato Nacional dos Aeronautas, parece haver cerca de cem comandantes mulheres em voos brasileiros. Eu é que nunca dei sorte de voar com alguma. Mas teve um passageiro que, na semana passada, no aeroporto de Confins (BH), pelas linhas aéreas Trip, calhou de ser pilotado por uma mulher. E o que fez o grande mentecapto? Falou, em alto e mau tom, que se recusaria a voar com uma comandante, que se soubesse que a piloto era mulher, não teria embarcado, e que só iria voar porque precisava ir pra Palmas, onde vegeta.
Houve tumulto. O voo atrasou mais de uma hora. O sujeito foi pra frente fazer discurso. A boa notícia é que ele foi vaiado pelos demais passageiros. A notícia melhor ainda é que, como você já deve ter lido, ele foi expulso da aeronave.
Exagero? Não mesmo. Pense se, antes de sentar, um passageiro vê de soslaio que o piloto do avião é um negro. Aí o cliente começa a manifestar seu desagravo por ter que voar com um negro. Não seria racismo da pior espécie? O cara iria preso, porque, felizmente, racismo é crime no Brasil. Machismo, ainda não. Mas o princípio da discriminação é o mesmo.
Dias depois, a piloto Betânia Porto Pinto, que tem quase vinte anos de carreira, justificou sua decisão: determinou a retirada do passageiro por uma questão de segurança. “Se acontece qualquer coisa, uma rajada, se acontece uma turbulência, que ele sinta desconfortávele e entra em pânico, ele pode colocar um avião com 100 pessoas inteiro em pânico dentro da aeronave”. A polícia teve que ser chamada pra tirar o machista.
Já vi algo parecido acontecer. Em 2004, quando eu e o maridão fomos pra Moscou jogar um torneio de xadrez, no voo de Buenos Aires pra Paris, presenciamos uma situação inusitada. O voo da Air France já estava atrasado, mas os passageiros, a maior parte russos, estavam bem ativos. Alguns deles não queriam que o avião decolasse até que chegasse um amigo. Seguiu-se uma discussão acalorada entre o piloto francês, que saiu de sua cabine, e alguns russos. A gente não conseguiu acompanhar tudo, porque nosso francês não é fluente em barracos, e porque nosso russo é inexistente. Só sabemos que o piloto ordenou que aqueles passageiros se retirassem do avião. E eles se negaram. E ele chamou a polícia. E entraram dezenas de policiais franceses no avião (nem cabe um monte de policial naqueles corredores estreitos). E só depois de mais discussão entre a polícia e os russos é que os russos saíram e o avião decolou.
Passageiros exaltados podem ser perigosos num voo. Não precisa ser gênio pra entender isso. Mas acho que, no caso do machistóide, a questão de segurança é secundária. O cara deveria ser expulso por machismo explícito mesmo.
Um empresário que estava presente no voo de BH para Palmas disse que o passageiro “levou uma vaia e desceu tranquilo, sorridente, como se nada houvesse acontecido. Um preconceito que eu nunca vi igual”. O empresário não conhece os mascus.
Por falar neles, é óbvio ululante que eles deram toda razão ao machista. Disseram que era um absurdo mulher pilotando, que eles também se recusariam voar. Ameaçaram promover um boicote contra a Trip (boicote de meia dúzia de anônimos com avatar de superherói e que provavelmente nunca entraram num avião na vida. É, ia funcionar! De fato abalaria o mercado aéreo). Acham que esta é a prova de que vivemos numa ditadura matriarcal. Afinal, não podem nem mais se manifestar em paz, discriminando uma pessoa que está trabalhando...
Um mascu foi a um fórum de aviadores profissionais botar as asinhas de fora. Chegou carregado com toda a misoginia que lhe é peculiar e foi devidamente defenestrado. Palmas para os aviadores, que sabem que mulher dirige tão bem quanto homem. Por enquanto, elas são apenas 2% do total de pilotos. Mas o número tem crescido a cada ano. Gelson Fochesato, presidente do Sindicato Nacional dos Aeronautas, diz: “Temos mulheres pilotas há mais de 40 anos. Nunca houve nenhum tipo de discriminação ou questionamento a respeito disso. Esse passageiro chegou de Marte ontem e não sabe o que está fazendo. Nem empresa aérea de mundo árabe tem esse tipo de coisa. Nós repudiamos essa postura e incentivamos que mulheres venham a somar na aviação brasileira".
É uma lástima que, em pleno século 21, ainda exista gente tão retrógrada a ponto de duvidar da capacidade profissional de uma mulher. Um dos vários comentários machistas de leitores em fóruns de jornais dizia: “Nem dirigir carro elas sabem direito....avião então, tô fora....devem se prostituir em pleno voo”. Por favor, alguma comandante dá uma carona de avião pra esse mascu e o joga lá de cima sem paráquedas? Grata.

quarta-feira, 30 de maio de 2012

GUEST POST: GORDOFOBIA QUE VEM DE CASA

Antes e depois: Sou gorda. Me deixe em paz.

M. é muito autoconfiante, mas me enviou este email cheio de perguntas difíceis. Quem não acredita em gordofobia deveria ler seu relato duas vezes. Quero lembrar que há diferença entre discriminação e preconceito. Discriminação é algo mais tangível, como não contratar uma pessoa por ela ser gorda (o que de fato acontece, mas é dificílimo de provar). Preconceito é o que a gente vê nas caixas de comentários daqui sempre que toco no tema da gordofobia. Inclusive, negar que gordofobia existe é um tipo de preconceito. Fiquem com o relato da M.

Eu sou uma garota de 20 anos gorda. Nasci gorda e assim sou desde então. Obviamente, eu sou muito mais que isso. Estudo jornalismo na melhor instituição do país na área (ou pelo menos é o que me fizeram acreditar), falo inglês fluente com todos certificados de Cambridge possíveis e espanhol com todos certificados de Salamanca e mais um monte de outras coisas que as pessoas dizem ser muito importantes. Além disso, eu sou gorda e bem resolvida. Olha que absurdo!
Nos últimos meses, fiz o processo seletivo de duas grandes empresas de comunicação desse país e fiquei entre os finalistas em ambas. Por razões que desconheço, não fui chamada para trabalhar em nenhuma das duas. Sofri, claro. Mas preferi encarar como coisas da vida.
Acontece que, para minha família, uma explicação assim não basta. Afinal, com tanto dinheiro investido em intercâmbio, viagens para Europa, aulas disso e daquilo, ser chamada por essas empresas era o óbvio. Então, foi impossível que não fosse constatado o seguinte problema: é porque eu sou gorda. Não serei ninguém enquanto não emagrecer.
Meu pai fez questão de imprimir inúmeras pesquisas falando que ninguém quer contratar gordos. Minha mãe me implora todo dia para eu emagrecer. Diz que é saúde. Agora, eu nado cerca de 10 km facilmente no mar sempre que vou à praia, não consigo me ver como alguém sem saúde.
Então, mando esse e-mail como um desabafo: será que é uma tristeza tão horrível ter uma filha gorda? (Leia-se 75kg e 1,60m). E será que essa sociedade chegou nesse nível de podridão na qual uma pessoa, por mais capacitada, articulada que seja, não tem a chance de competir de igual para igual com as outras por questões estéticas?
Outro dia perguntei para minha mãe (a mulher que me ensinou a buscar independência, a não aceitar que nos limitem por gênero, cor ou etc) o que ela faria se eu fosse negra ou pessoa com necessidades especiais. Perguntei se ela pediria para eu embranquecer ou nascer de novo, nos moldes ditos perfeitos. Ela disse que não. Então eu lhe perguntei: por que eu tenho que emagrecer para agradá-la? Ela não soube responder ao certo.
Eu namoro um cara ótimo, tenho muitos amigos, sou super vaidosa... enfim, não faço do meu peso muleta para nada. Entretanto, parece que isso incomoda muito algumas pessoas ao meu redor. Na cabeça delas, eu TINHA que estar me esforçando para emagrecer. Não consigo compreender essa lógica. Por que eu deveria estar infeliz comigo mesma?
Espero que esse e-mail não seja muito maluco e sem sentido... é só que já me sinto íntima e queria dividir um pouco dessa história de preconceito que vem de casa.

terça-feira, 29 de maio de 2012

DUAS OU TRÊS OPINIÕES CONTROVERSAS SOBRE ESTUPRO

Esta vem do blog I Blame the Patriarchy, de um post de 2006 (eu li faz um tempão, achei interessante, traduzi, e o esqueci numa dessas gavetas também conhecidas como arquivo de computador):
“Estupro não é um apenas um conjunto de incidentes cometidos por um contingente de psicopatas. É, como disse Susan Brownmiller, 'um processo consciente pelo qual todos os homens mantêm todas as mulheres num estado de medo'.
Se você é um homem, e não estupra mulheres, bom pra você, mas se você me mandar um comentário elaborando como o seu autocontrole nobre e pessoal invalida a afirmação de Brownmiller, você estará apenas se envergonhando. Independente do tipo de homem que você é, você se beneficia de mil formas diferentes da subordinação feminina perante a violência sexual. Os estupradores de verdade criam o choque e o espanto, mas eles são apenas a infantaria; cabe a você acabar o trabalho.
Você faz isso demonizando feministas, alugando mulheres para lap dances, deixando que os estupradores sejam absolvidos em corte, comprando lingerie sexy pra sua mulher, parabenizando sua namorada na plástica pros seios que fez, ignorando estupros em massa em lugares onde há guerra, passando o endereço virtual do último vídeo-sensação pornô, encarando sem parar a menina no ponto de ônibus, deixando que sua mãe lave sua roupa, “dando” sua filha em casamento, votando em gente que quer controlar os úteros, pressionando sua namorada a fazer anal porque todos seus amigos fazem, tendo uma opinião sobre o tamanho dos lábios vaginais, argumentando que striptease dá poder às mulheres [...], por sua inabilidade em conceber sexo sem dominação, e pela recusa, mesmo após trinta anos de mulheres inteligentes e estudadas te falando o contrário, em conceder que você não vê verdadeiramente as mulheres como você vê a si mesmo.
Mas a situação pras mulheres, você pode querer discutir, já que ouviu falar que homens começaram a compartilhar o trabalho doméstico, melhorou muito. Você acha? Então por que uma mulher americana é estuprada a cada dois minutos, e como 78% dos estupradores são maridos, namorados, ou paqueras? Menos de 16% desses estupros são notificados. O tempo médio que os poucos condenados cumprem de pena: onze meses.”

Se você achou o pedaço do post acima provocativo, espere até ler este, que é de um post de 2008 de outro blog feminista radical americano, Rage Against the Man-chine. Uma feminista sugere, apenas como exercício de pensamento (não pra levar a cabo), que, em casos de estupro, a lei seja mudada. Ao invés da vítima ter que provar que foi estuprada (o que em muitos casos não dá pra provar), o acusado é que deveria ter que provar que não estuprou:
“Há um perigo inerente nesse sistema que alguns homens inocentes seriam punidos, e isso é lastimável. Não é mais lastimável, porém, que o fato dos homens estuprarem com impunidade em proporções epidêmicas simplesmente porque suas vítimas não conseguem provar a uma sala cheia de misóginos que elas não consentiram a um ato sexual. As vítimas determinarão se um crime ocorreu, não os réus. Isso pode assustar os homens, e alguns deles dirão que as mulheres usarão a lei para puni-los, só por vingança. Isso pode acontecer raramente, mas a intenção é proteger o máximo de pessoas possíveis, e acusações falsas de estupro representam um centésimo dos estupros que não são punidos.”
Ela apresenta a ideia revolucionária de que, assim, os homens só poderiam fazer sexo com as mulheres que querem fazer sexo com eles: “estupro é uma punição por ser mulher”.
Como você pode imaginar, muitos comentaristas sentiram-se ultrajados por sua sugestão. E isso realmente é uma constante em qualquer discussão sobre estupro: os homens sentem-se acusados, acuados, dizem que não têm nada a ver com o tema, que não são estupradores e acabou. Não seria mais interessante canalizar essa revolta não contra quem te lembra que estupro existe, mas contra o crime do estupro em si? Nos EUA, por exemplo, há grupos de Men Can Stop Rape (Homens Podem Parar com o Estupro). Espero que sejam muito mais numerosos que grupos de Acusações Falsas de Estupro, quase sempre formados por mascus (pra eles, todas as acusações de estupro são falsas. Estupros só acontecem nas cadeias, entre prisioneiros. E quem liga pra eles? Não os mascus).
Este comentário entre os 202 deixados no post da Rage deve ter sido escrito por um mascu: “Se as mulheres não querem ser estupradas elas deveriam parar de beber. Sinto muito que homens são mais fortes e podem estuprar mulheres mas isso é genético e foi Deus quem quis assim”. Aham. Pelo menos ele sente muito.
Isto também é um pouco antigo, mas talvez sirva de inspiração pro grupo (já com mais de 270 membros) iniciado poucas semanas atrás pra combater in loco a propaganda sexista. Sei que vocês não fazem apologia à pichação, meninas. Foi assim: uma empresa acostumada a fazer comerciais e anúncios machistas, a American Apparel, teve que trocar um de seus outdoors nos EUA. Ele mostrava uma mulher sem rosto em pose insinuante.
Um carinha passou lá, viu o anúncio, ficou indignado com o tratamento que a propaganda dá às mulheres, foi pra casa, pegou tinta grafitti, voltou pro local, esperou até as 4 da manhã, e deixou lá o seu protesto: “Gee, I wonder why women get raped?” (“Puxa, eu me pergunto por que as mulheres são estupradas”). A empresa teve que trocar o outdoor. Detalhe: o presidente da empresa já foi acusado cinco vezes de assédio sexual.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

EU, MAQUIAGEM, E MINHA CARA DE PAU LAVADA

Ally Sheedy antes de se transformar em princesinha

Eu sou uma que não uso maquiagem, e tenho certeza que é uma imposição social pras mulheres usar maquiagem. Se duvida, pense em todas as reportagens que você vê de “Estrelas flagradas sem maquiagem!” (tem site só pra isso, né?). Elas parecem querer dizer “Olha só, essas beldades são gente como a gente, precisam de muita produção pra ficar com essa cara”, mas no fundo estão dizendo “Você também não se deve deixar flagrar sem maquiagem".
Não me acho mais ou menos feminista por não usar maquiagem. E nem menos feminina. Mas acho que cabe às feministas criticar todas as formas de imposição social. Que, lógico, vem de vários lados. Tem por exemplo esse estudo financiado pela indústria da beleza que o New York Times reproduz alegremente. O que diz o estudo? Ah, que mulheres que usam mais maquiagem são vistas como mais competentes. Uma dessas pesquisas feitas sob encomenda.
Lembra de Clube dos Cinco, clássico dos anos 80? Lá tem uma personagem rebelde, sensível, maravilhosa, interpretada pela Ally Sheedy, que acaba conquistando o coração do atleta. Aí no final do filme aparece uma cena que não tem nada a ver com nada, que é da princesinha embelezando a patinho feio e fazendo com que ela vire cisne. E o atleta olha pra ela e suspira: “Uau”. E ela sorri, toda tímida e maquiada. E aquilo depõe contra todo o filme, porque a mensagem até aquela momento era –- pra todos os personagens -– que as pessoas devem ser aceitas como são. Ela é a única que precisa mudar pra ser aceita. A mensagem pra todas as espectadoras passa a ser a mesma que nossas mães e tias falam pras filhas inconformadas: “Viu como dá pra ficar bonita com um tiquinho de esforço?”
No entanto, como desgraça pouca é bobagem, as mulheres não só têm de usar maquiagem, como têm de usar a dosagem certa. Nada de aplicar camadas de maquiagem à la Lady Gaga! Até eu, que não entendo absolutamente nada de pintura facial, sei que o truque é usar maquiagem sem parecer que você está usando maquiagem. Eu acho que, ficando de cara lavada, eu já salvo um tempão.
Por outro lado, já ouvi falar, não sei se é verdade, provavelmente não é, que Walter Salles, Waltinho para os íntimos, o diretor de Central do Brasil e herdeiro do Unibanco, antes de casar, faz a futura mulher assinar um contrato jurando que nunca usará maquiagem. Ou seja, ele odeia maquiagem tanto assim. Quer dizer, vai saber quantas vezes o rapaz já casou, e se seus casamentos acabaram porque a esposa em questão foi flagrada colocando blush.
Espero que você não esteja esperando alguma coisa linear, inteligente e/ou conclusiva dessas notas randômicas. Pra não se decepcionar.
Como já falei noutro post, eu sempre tive olheiras. Elas fazem parte de mim. Já gritei pra elas “Saiam deste corpo que não lhe pertence”, mas elas me ignoram solenemente. Já passei por todo o ritual de fazer compressinhas de chá de camomila, que eu acho um pé no saco, porque se você tá com troço nos olhos você tem que ficar de olhos fechados, o que significa que não dá pra ler, ver um filme, acho que nem pra fazer sexo dá, porque você tem que ficar lá, deitada, perfeitamente imóvel. E eu sempre tenho mais coisa pra fazer, mas, enfim, já cumpri todo o ritual. Saquinhos de chá, pedaços de algodão molhados, rodelas de pepino. 
E não adiantou nada. Já comprei e usei montes de creminhos que prometem o fim das olheiras em 48 horas, e nada (aliás, creminhos, bah! Mostre-me um creme que cumpre o que promete e eu te mostro uma indústria sem nenhuma regulamentação. O crime compensa).  Eu estou completamente habituada ao meu panda-look, mas as pessoas insistem em associar olheiras com doenças e falta de dormir (e é verdade que nos últimos dois anos tenho dormido quatro irrisórias horas por noite, em média, mas eu juro que já tinha olheiras quando eu não trabalhava tanto e conseguia dormir seis ou sete). 
E eu sempre tive problemas em colocar qualquer coisa perto dos olhos (a menos que eu vá dormir). Rímel, nem pensar. Algumas amigas tentaram fazer isso em mim, e eu achei que iam furar meus olhos, daí concluí que, por incrível que pareça, dou preferência a minha visão que à estética. Sobrancelhas postiças? Faz-me rir. Como que se chama aquele troço que se põe nas pálpebras? Falta-me vocabulário, você já deve ter notado. O rímel é o troço preto aplicado com pincel que fura os olhos, certo? Eu gosto das minhas pálpebras da cor que são. Sem falar que, como meus olhos estão quase sempre abertos, minhas pálpebras não aparecem tanto. 
E alguém me explica como se pode usar maquiagem num lugar de calor tropical permanente como Fortaleza. Teve um dia aqui que eu usei maquiagem, porque fui gravar um vídeo pra uma disciplina virtual que elaborei, e o professor conteudista precisa dar umas palavrinhas pros seus discípulos online. E fui com uma outra professora. 
E chegando lá no estúdio pra gravar o único funcionário e cameraman disse que minha pele estava oleosa e brilhante (e brilhante me parece ser sempre uma palavra positiva, enquanto oleosa é sempre pejorativa). Como não havia um único papel higiênico por lá, a professora perguntou se eu queria me maquiar, e me passou seu estojo de maquiagem. Eu fiquei olhando pra ela, olhando pro estojo, e pensando se ela imaginava se 1) eu sei me maquiar, e 2) se sei me maquiar sem olhar prum espelho. Então ela me maquiou, e eu nem vi como ficou. Fui a vários outros lugares depois com aquela cara pintada, e Fortaleza é quente, e eu transpiro, e eu acho que a maquiagem vai escorrendo. Ainda assim bastante gente achou que eu estava linda e maravilhosa e me fez cara de “Viu como dá pra você ficar bonita com um tiquinho de esforço?”
E por dentro eu gritava: Waltinho, cadê você?
Como este texto interminável ainda está na metade, vou publicar o resto outro dia. Em breve. E com uma grande revelação: agora estou usando uma espécie de corretivo pra disfarçar as olheiras. Às vezes. Quando me lembro de colocar.

domingo, 27 de maio de 2012

O GRANDE SUCESSO DA MARCHA DAS VADIAS

Pelas fotos e vídeos que pude ver, as várias Marchas das Vadias realmente tomaram o país ontem em pelo menos 14 cidades. Hoje tem mais, em Belém e Porto Alegre, e ainda haverá outras nos próximos dias. 
Pelo entusiasmo das participantes e também dos participantes (já que, em todas as marchas, tem muito homem bacana que protesta junto), pela consciência política que esse ativismo incita nas manifestantes, até pela vasta divulgação na mídia tradicional, não se pode negar que as marchas sejam um sucesso. Só não sei até que ponto a mensagem é entendida por pessoas leigas, sem nenhum envolvimento com feminismo, luta política, movimento estudantil, nada. Não estou falando dos machistas -- a gente sabe como qualquer protesto por direitos é "entendido" por eles --, mas de pessoas comuns mesmo. 
Mas esta foi apenas a segunda edição e temos muito chão pela frente. E claro que a resistência contra qualquer um de nossos avanços é e será forte. Quanto mais conquistas, mais resistência. É sempre assim. Se olharmos por esse lado, a indignação dos machistas é um claro sinal de que estamos conseguindo mudar o mundo.
Selecionei algumas fotos que mais me agradaram. Uma escolha totalmente pessoal. Há cidades que tiveram a marcha e não encontrei fotos, só vídeos (como este animadíssimo da marcha em Natal, ou este que deve ter sido o começo da marcha em Vitória).
Adorei esta frase, "Eu não vim da sua costela, é você que veio do meu útero". Apareceu em diversos lugares. Esta é da marcha de SP.
Esta frase captada na marcha de Florianópolis (ou será a de Brasília?) também é ótima: "Quero borrar meu batom e não meu rímel". O pessoal que não entende os propósitos da Marcha das Vadias também vai quebrar a cabecinha pra entender esse cartaz.
Na marcha de Belo Horizonte, manifestante segura cartaz que já virou um belo grito de guerra.
Super cheia a marcha de BH, hein? Adorei o cartaz de "Respeito é bom e a gente goza", que pode ser visto neste ótimo vídeo da marcha de BH.
E a Tetê, esta menina fofa na marcha de BH, adaptando o clássico "Meu corpo, minhas regras", desde já vira a mascote das marchas.
A única foto que encontrei até agora da Marcha das Vadias de Florianópolis.
Antes da marcha de SP começar, manifestantes se reuniram para bolar cartazes. Obviamente que os cretinos usarão talvez o único cartaz escrito errado (mexer com ch, não na foto) pra inviabilizar o feminismo em todo o mundo. Vão se catar, reaças!
A gloriosa marcha de SP em plena Rua Augusta. Quanta gente! Parabéns, pessoal, por tornar a marcha de SP um evento com organização coletiva e claramente feminista.
Na marcha do Rio, manifestante usa seu corpo para promover uma revolução.
Dizem que houve um princípio de tumulto na marcha do RJ, quando @s manifestantes passaram em frente à uma igreja. Mas, a julgar por esta notícia na Folha, é uma não-notícia (quer dizer, percebam à ênfase dada à "confusão" com o restante das linhas dedicadas ao fato). Aliás, baseando-se nesse episódio, a grande mídia tratou a Marcha das Vadias da mesma forma que trata qualquer manifestação social: como baderna. A manchete do Jornal do Brasil é "Marcha tumultua Copacabana". Pros conservadores, protestar é sinônimo de tumultuar.
A gente pode -- e deve -- gritar contra o reacionarismo da igreja, só que não precisa entrar em uma pra isso. Enfim, não sei o que aconteceu, e desculpe, não parece importante. E não sei se este vídeo é referente ao "tumulto", mas gostei de como as manifestantes enfrentaram os policiais: "a rua é nossa!".
A faixa principal da Marcha das Vadias, Recife, 2012.
Várias manifestantes da marcha de Recife protestaram contra o professor da UFPE, que foi condenado pela Justiça por abusar de uma orientanda, mas continua dando aula (pois cabe recurso). Tenho recebido emails de alunas da UFPE perguntando o que podem fazer -- elas não querem ter aula com uma pessoa dessas, mas também não querem atrasar sua graduação. Como é que fica, UFPE?
Esta é de Brasília. O manifestante usou uma frase daqui do blog, que honra! Mas acho que resume bem: nosso barulho é permanente. E o seu machismo?
Acostumem-se: viemos pra ficar. 
Desculpem usar este espaço, mas daqui a pouquinho viajo pra Campinas. Amanhã, às 17:30, estarei na Unicamp (Anfiteatro do IEL, no corredor da pós-graduação) para uma mesa sobre o machismo na universidade. Também estarão na mesa representantes da ANEL (Assembleia Nacional de Estudantes - Livre) e do coletivo feminista Rosa Lilás. Tem uma página no Facebook sobre o evento, que vai contar com várias outras atividades fascinantes, em outras datas. Pessoas de Campinas, apareçam! 
Ainda não sei todos os detalhes, mas dia 4 de junho (ou seja, não amanhã, mas na outra segunda) estarei em João Pessoa para uma palestra nos Correios. A organização reservou trinta vagas para o público em geral. É grátis, é só se inscrever pelo email ascom-pb@correios.com.br (passo mais detalhes num post mais pra frente).
E só vou poder falar do lançamento do meu livro (segunda passada, em SP) na semana que vem. Foi muito bom, veio um monte de gente, recebi vários chocolates, presentes e abraços, e ainda consegui vender 45 exemplares! Lá pela metade de junho quero fazer uma noite de autógrafos aqui em Fortaleza também. Eu aviso.
Por enquanto, o livro pode ser encontrado nas livrarias Edusp (se não tiver, pode encomendar) ou pelo televendas (11) 3091-4150 ou 3091-4008. É ridículo, eu sei, mas ainda não tenho um link pra vendas pela internet.
Agora preciso sair correndo! Pego o voo em breve. E lógico que ainda não preparei nada pra amanhã.