Ontem eu vi o décimo episódio da sexta temporada de The Americans, que é também o finale de toda a série. Não vou entrar em detalhes nem dar spoilers, mas que finale, hein? Aqueles dez minutos de diálogo no estacionamento, seguidos por dez minutos em movimento quase sem diálogos dentro de um trem!
Esta excelente série de TV -- talvez uma das melhores de todos os tempos -- acabou em 2018, mas só vi ontem. Não lembro por que comecei a ver a série, alguns anos atrás (foi por que alguma leitora ou leitor indicou, pelas críticas sempre positivas, pelas muitas indicações ao Emmy? Realmente não lembro). Eu e o maridão vimos as duas primeiras temporadas. Gostamos bastante, mas, por algum motivo, não continuamos. Paramos um tempão, a ponto da gente não se lembrar onde tínhamos parado. Retomamos com a terceira temporada e aí vimos tudo, até o final.
Que bom que continuamos! A terceira e a quarta temporadas devem ser as melhores da série. Pra quem não sabe, é sobre um casal de espiões soviéticos se passando por americanos em Washington, DC, durante os anos 80, aqueles em que um presidente lunático, Reagan (que os reaças consideram um mito, mas eu lembro bem o desastre que foi seu governo), chamava a URSS de "império do mal".
Os Jennings (o disfarce que os espiões soviéticos utilizam durante anos) são ótimos espiões.
Aceitam bem as regras impostas pela KGB (pelo menos Elizabeth, pelo menos no começo), são treinados com esmero, lutam como ninguém, usam todo tipo de peruca, são inteligentes, intuitivos. Não entram em pânico nem ao descobrir que seu novo vizinho é um agente do FBI (que também acaba sendo um personagem incrível).
Não é que Elizabeth e Philip (seus nomes americanos) se conhecem na escola de espionagem soviética, se apaixonam e resolvem ficar juntos. Eles são selecionados pela KGB pra viverem juntos, pra terem filhos juntos, pra manter toda uma fachada de que são um casal perfeito -- ainda que, em muitos momentos, eles se sintam estranhos um pro outro.
A série é muito sobre solidão, sobre como é não ter amigos (ou ter um único amigo, logo um agente do FBI!), sobre como é se sentir sozinho mesmo estando casado e com filhos (mas sem gatos ou cachorros! Isso faz falta). É também sobre intimidade, sobre identidade, sobre mentiras e disfarces. Tem seu ritmo próprio, que alguns podem considerar mais lento. Mas tem um monte de sexo e violência em boa parte dos episódios.
(Um tenebroso, inesquecível, é quando o casal quebra os ossos de uma agente morta, nua, para poder fazer seu cadáver cadáver dentro de uma mala).
Os atores são sensacionais. Keri Russell e Matthew Rhys interpretam brilhantemente o par de protagonistas, e fiquei feliz em saber que eles se casaram na vida real também.
Noah Emmerich -- aquele melhor amigo enganador de Truman Show aqui vivendo um papel reverso: ele é o melhor amigo enganado; Margo Martindale e Frank Langella como os principais contatos dos agentes; Costa Ronin como um burocrata russo mais acessível; e Alison Wright roubando todas as cenas como Martha, uma secretária do FBI com quem Philip chega a casar pra poder ter mais acesso à inteligência americana.
E fica a questão no final: René, a segunda esposa de Stan (o agente do FBI) é uma espiã infiltrada ou não? Ela é de verdade ou é mais uma enganação? Taí uma coisa que a série não responde. E uma das provas que The Americans é tão acima da média é justamente isso, de que a gente mude de opinião várias vezes sobre esse tema, que está longe de ser um tema prioritário.
E, claro, grandes séries são feitas de detalhes. Pra mim, um deles é quando Elizabeth traz pra casa um potinho com um pouco de comida russa típica, pra compartilhar com Philip. Ele não está com fome porque tinha acabado de se empaturrar com comida chinesa. E então ela joga fora o que está no potinho, porque guardar na geladeira de sua própria casa uma amostra da culinária do seu país está fora de cogitação pra espiões.
Bom, gente, fica a recomendação de uma série fantástica. E antes que me perguntem em que plataforma está, ahn, a gente baixou do Torrent.