Compare: médicos cubanos atuam nas periferias de 60 países, ajudam vítimas em terremotos e furacões, desenvolvem vacinas contra covid que serão distribuídas a nações pobres de graça, são admirados no mundo todo.
Enquanto isso, (alguns) médicos brasileiros são conhecidos pelo elitismo, pelo nojo de miseráveis, e pela anti-ciência, ainda mais quando pensamos nos médicos bolsonaristas, que infelizmente não são poucos (dizem que a Dra. Mayra Pinheiro, a Capitã Cloroquina, está no Ministério da Saúde desde o início do governo para cumprir cota do apoio que tantos médicos deram ao Coisa Ruim). Ontem o médico brasileiro e influenciador digital fã de Bolso e defensor de cloroquina Victor Sorrentino foi preso no Egito.
Num vídeo asqueroso que circulou cá e lá, uma simpática mulher muçulmana tenta lhe vender papiro (aquele papel usado pelos antigos egípcios). Ele ri e fala em português: "Vocês gostam mesmo é do bem duro, né? Comprido também fica legal, né?" O próprio médico colocou o vídeo no seu Instagram com quase um milhão de seguidores. Não foi a primeira vez. Circularam outros vídeos, um do sujeito assediando uma moça na Austrália, em 2014, e outro d'ele rindo de mulheres negras numa praia brasileira.
Victor, que já escreveu que o que ele gosta mesmo ao viajar não é conhecer lugares paradisíacos, e sim novas culturas e costumes (pra quê? Pra poder zoar deles?), trancou seu perfil e postou um novo vídeo, justificando seu ato: "Eu sou assim. Sou um cara muito brincalhão".
As feministas egípcias não gostaram nada da "brincadeira" e começaram uma campanha num perfil do Twtitter chamado Speak Up (Fale, não se cale) dizendo que não querem assediadores no país delas. Não posso falar por todas as feministas brasileiras, mas a gente também não quer. O babaca brincalhão (porque misoginia é piada pra essa gente) foi localizado e preso ontem em Cairo. A pena para assédio sexual por lá é de no mínimo seis meses de prisão e multa.
A esposa do assediador defendeu o marido e reclamou que "as pessoas veem maldade em absolutamente tudo [...]. Amo demais a autenticidade, o bom humor e o quanto ele é incansável naquilo que acredita. Ele tem esse jeito intenso de viver a vida que só me deixa ainda mais encantada, e super me dedico para acompanhar". Misoginia é um "jeito intenso de viver a vida", e a culpa é das pessoas que não compartilham do bom humor do brincalhão.
Este caso me lembrou do episódio misógino na Copa da Rússia em 2018. Lembra? Um grupo de brasileiros (entre eles um engenheiro, um advogado, e um policial militar) pediu a uma russa que não sabia português repetir frases como "B*ceta rosa" e "Essa é bem rosinha". Quando a escrotidão deles viralizou na internet e sua identidade foi revelada (por exemplo, um deles devia R$ 37 mil de pensão alimentícia à ex-mulher), eles se queixaram. Eles eram apenas "pais de família" brincando.
Ah, esses homens risonhos! Que mundo mais sem graça! Eles não podem nem mais assediar mulheres em paz, rir delas, e piorar ainda mais a já horrível imagem que os brasileiros têm hoje no exterior?