Confesso que fui ver “Kill Bill” com as expectativas lá embaixo, embora seja fã número 1 do Taranta. Filme de artes marciais? Ainda por cima com mulheres protagonizando a pancadaria? Tsc, tsc, não é pra mim, que nem gostei de “O Tigre e o Dragão”. Mas eu tava enganada, óbvio. Como disse um crítico americano, “Kill Bill” nos remete aos primórdios do cinema, quando os primeiros espectadores se assustavam com um trem na tela vindo na direção deles. Eu me senti assim: pulando, vibrando, torcendo. Agora, é difícil determinar exatamente o que adorei. A história é simplérrima, uma mera trama de vingança onde uma moça grávida é quase morta no dia de seu casamento. Depois de quatro anos em coma, ela acorda e faz uma listinha das pessoas que deve liquidar. E parte pro ataque, só isso. Os diálogos tampouco são grande coisa. Por exemplo, a Uma Thurman dá umas palmadas num integrante da máfia japonesa, essas bossas. Não, não, o que me pegou de jeito é a paixão do Taranta pelo meio. O cara sabe o que faz, e o filme tem quilos de referências pros cinéfilos. O Ministério da Saúde comprova: trabalhar em locadora assistindo todos os filmes faz bem à mente. Ou pelo menos fez no caso do Taranta. Quem mais se atreve a homenagear o Charles Bronson in memoriam?
O Taranta decidiu que tudo bem se ele tiver que fazer filme com a Uma pro resto da vida. Tudo bem com a gente também, imagino, apesar d’ela ter as mãos e os pés mais feios da história da sétima arte. “Kill Bill” começa com a Uma arrebentada, em close. Um homem atira em seu rosto, e suas últimas palavras são “O bebê é seu”. Entra uma música apropriadíssima cantada pela – pasme! – Nancy Sinatra, dizendo que bang bang é um ruído horrível. É brilhante não só porque vem logo depois de uma bala, mas também porque não se verão muitas armas de fogo ao longo do filme. O que se vê são facas. Nem deu tempo de pensar no Indiana Jones e em como um revólver acabaria com a festa de todos aqueles samurais. Eu tava envolvida demais. Minha seqüência favorita é uma em que a Daryl Hannah, disfarçada de enfermeira com tapa-olho, vai ao hospital matar a Uma. A Daryl assobia, o assobio vira música, dá o maior clima, a tela se divide pra homenagear o De Palma, que por sinal já homenageava Hitchcock – uma bela cena. Claro que o início depois dos créditos deixa a desejar. A gente não sabe nada do que está acontecendo, e a Uma começa a quebrar o pau com a Vivica Fox? Parecia filme pornô, sabe, quando os sujeitos partem logo pros finalmentes. Parecia também pretexto pra chamar mulher de vadia. Mas tudo isso é logo interrompido por uma menininha, que chega em casa pra encontrar sua mãezinha suburbana espancando alguém. Enfim, há uma outra parte bárbara em que o Taranta conta todo o passado de uma personagem usando desenho animado. Pensei que ele fez assim porque só teria coragem de mostrar membros cortados esguichando sangue num anime, mas não. O que não falta em “Kill Bill” é sangue esguichando. A mensagem que eu captei foi: tão vendo como a violência é ridícula?
Sinceramente, dane-se a violência, dane-se até o gênero de kung-fu. O principal em “Kill Bill” é o ritmo alucinante, que não deixa a peteca cair em momento algum. Chega logo, Volume II!
Quer mais Kill Bill? Leia aqui, aqui e aqui.
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