Pátio do nosso prédio. A menina de vermelho fazendo gol, ou tentando tirar desesperadamente a bola do gol, sou eu. O carinha ao lado, meio curvado, é o Carlinhos. Atrás dele, o Paulinho. Bem no meio, com a mão na barriga, talvez rindo, a Regina. Mais à esquerda (só na foto), o Bestinho. Todo mundo tá bem vestido porque era uma festa, acho.
Pode parecer ridículo, mas possivelmente o meu livro de cabeceira, um livro de referência mesmo, é um que adquiri quando eu tinha uns 15 ou 16 anos. Pra algumas pessoas é a bíblia, pra outras é um de primeiros socorros, mas pra mim sempre foi Chocolate: The Consuming Passion (A Paixão Envolvente, pode ser?). Esse foi também o primeiro livro que comprei sozinha na vida, pelo menos que eu me lembre. E lembro até onde foi: na Flórida. Tá, sei que é cafona. Também não entendo até hoje o que se passou pela cabeça dos meus pais ao decidir mandar meus irmãos e eu pra Disney, em Orlando. Esse era um programa bem pouco característico pra gente. Acho que houve influência da mãe de uns vizinhos. Melhor contar tudo. O Carlinhos, que tinha a minha idade, era um dos meus melhores amigos na época. A gente morava quase em frente ao ginásio do Ibirapuera. Um ótimo lugar, ainda que o prédio em si fosse simples (foi lá que minha família morou primeiro quando mudamos do Rio pra SP). Ah, tenho boas memórias dessa parte da minha infância... A gente jogava futebol no pátio do prédio, que não estava bem equipado pra isso. Uma das traves (pintada na parede) ficava apenas um pouco mais embaixo que o muro de uma casa vizinha. Era bastante comum a gente ter que ir à casa na outra rua mendigar a bola perdida. A outra trave conseguia estar ainda pior localizada: bem ao lado do salão de festas... com suas janelas de vidro. Não preciso nem dizer que o vidraceiro do bairro fazia muito dinheiro com o nosso prédio. Quase toda semana alguém chutava uma bola numa das janelas. A gente também brincava de polícia e ladrão na garagem, o que era proibido. Pra piorar, dois dos meus outros melhores amigos, Paulinho e Bestinho, eram filhos do síndico, um dentista militar linha dura que ainda hoje se refere ao Golpe de 64 como Revolução. Ele não jogava futebol com a gente. Quem jogava de vez em quando era o seu Tomás, zelador do prédio, muito simpático, corinthiano roxo, e pai da Regina. A Regina vivia visitando o meu apê e eu o dela. Ela tinha uns dois anos a menos que eu e um coração puro, sabe? Desses que acreditavam em qualquer coisa. Um dia bolei um clima de terror pra ela com a trilha sonora de... Embalos de Sábado à Noite. Quequié? Tinha umas músicas meio assustadoras naquele álbum com dois discos! Regina era uma menina legal que sofria um monte de gozações por ser gordinha e pela puberdade demorar a chegar. Crianças são crueis, e sentiam um prazer sádico em perguntar pra ela se ela era menino ou menina (pô, o nome deixa margem pra dúvidas?!). Mas na nossa turma não tinha essas gozações estúpidas, e Regina jogava bem futebol. Numa partida lendária, ela chutou uma bola que torceu dois dedos da mão do meu papi, que estava no gol, e eu fiz o mesmo com o pai dela. Mas foi sem querer! E não sei quem quase quebrou os dedos de quem primeiro. A gente também gostava de pular os muros do quartel que ficava em frente (coisa que o pai do Bestinho e Paulinho não gostava que a gente fizesse) pra jogar futebol lá, que tinha grama. Imagino que a trilha de marcas que tenho até hoje nas pernas sejam de tanto cair no chão de ladrilhos do pátio. Ih, lembro de tanta coisa! Lembro de quando vimos um disco voador. Ok, talvez não fosse, mas a turma toda ficou com certeza absoluta que sim, vimos um OVNI (hipótese corroborada pelo fato de que houve outros registros naquela noite). E claro, ninguém esquece da vez em que vimos uma pessoa semi-morta. Estávamos jogando futebol, pra variar, e ouvimos um barulho horrível, alto e seco, um tipo de paft, seguido de um enorme “Ai”. Era o irmão (bem) mais velho da Lídia, uma outra amiguinha. Ele era viciado em drogas e se jogou do quinto andar. Fomos os primeiros a chegar. Ele ficou lá, espatifado no chão, gemendo, com um bando de crianças aterrorizadas em volta, até a chegada da ambulância. Morreu no hospital. A imagem que tenho é a do Recruta Zero após levar uma surra do sargento Tainha. Dentes e ossos espalhados por todo o canto. Felizmente consegui substituir uma imagem real, chocante, por uma dos quadrinhos. Outra memória foi quando minha família foi passar as férias num bom hotel no Rio, e eu, insuportável, implorei pra voltar sozinha pra SP. Eles deixaram, e eu fiquei na casa do Carlinhos. Dessas férias, lembro de cubos mágicos e de irmos de ônibus até o centro de SP (a gente era de classe média alta e ônibus não fazia parte da nossa realidade. Meu pai não tinha carro, e a gente andava muito de táxi. E ônibus escolar). Uma noite eu, Carlinhos e Regina passeávamos de bicicleta pela Rua Salto, pertinho do prédio, quando eu notei que uma das casas da rua estava agitada. Fiquei lá na frente, olhando, até descobrir o que estava acontecendo. Havia assaltantes lá dentro e reféns, e o dono da casa era cardíaco. Chamamos a polícia e continuamos lá. Acho que acabou tudo bem, não lembro. O que lembro é que meus dois amiguinhos apanharam muito dos respectivos pais por se envolverem numa situação de perigo. Até hoje não entendo bem o que fizemos de errado. Só sei que nunca vi o seu Thomaz tão bravo comigo. Mas voltando ao livro que gerou isso tudo, pelamordedeus. Então, acho que a Dona Marita, mãe do Carlinhos, convenceu meus pais que Disney era um destino obrigatório pra jovens da nossa classe social, e embarcamos eu, meus irmãos, o Carlinhos, e a irmã dele (que acho que era a única maior de idade na viagem, com seus 20 anos) pra uma semana em Miami e outra em Orlando. Foi bem legal. Dessas férias eu lembro do Epcot Center (muito mais interessante que a Disney), de enormes sundaes de chocolate, e de fliperamas. E de como todo mundo só falava espanhol em Miami. E das pessoas saradas. Das velhinhas ricas que olhavam feio pra gente. Do hotel que tava tendo uma convenção de fisicultura, e da gente, um toquinho de gente, dividindo o elevador com aqueles armários. De Key West (visitamos a casa do Hemingway). Do sol que só se punha depois das nove da noite. De Gremlins (putz, então era 1984, e eu já tinha 17 anos!). E do livro que comprei numa livraria e que tenho até hoje, Chocolate: The Consuming Passion. Do qual falarei na semana que vem.
Vamos ver se, colocando aqui crônicas antigas, de uns sete anos atrás, o maridão se inspira e volta a ter o bom humor que tinha antes. E nem faz tanto tempo assim. Fui procurar se já tinha publicado isto antes, e encontrei uma crônica bonitinha, que eu nem me lembrava, e que é só do ano passado. Esta que eu coloco aqui tem bem mais tempo.
As tiradas do maridão fizeram tanto sucesso – recebi dois emails! – que acho que terei de repetir a dose. Só me lembro delas porque as anoto imediatamente. Por falar em memória, uma coisa que o maridão definitivamente não tem, um dia ele bolou uma tática infalível pra recordar o nome de alguém. Eu sei, pois ouvi o raciocínio dele: "Nunca mais esqueço o nome do cara. Ele bebe muito e se chama Rafael. É só lembrar de San Rafael e pronto". Tudo bem, associações geralmente funcionam. Mas juro por tudo que é sagrado que, ao se encontrarem de novo, o maridão tascou um "E aí, Martini? Como vai?". O rapaz ficou sem entender nada, enquanto eu me escondia atrás de um poste e fingia que havia chegado sozinha no churrasco. Às vezes ele entra em crise existencial e inicia diálogos bizarros. Ele: "Eu queria ser de uma cor só, nem que fosse branco albino. Este dégradé de vermelho/rosa/branco não contribui em nada para a beleza do mundo. Acho que se a natureza pudesse, ela me jogaria dentro de um lago". Eu, romântica e sensível como sempre: "Ah, amor, se a natureza fizesse isso contigo, eu te tiraria do fundo do lago e via se dava pra aproveitar alguma parte". Ele: "A natureza tem planos pra você também". Existem ocasiões em que o verme rastejante (uma expressão carinhosa) não se recorda do que fez no próprio dia. Por exemplo, domingo passado ele fez esta avaliação: Ele: "Deixa eu ver... Hoje deixei você ganhar no dominó, fiz hambúrguer pra você, deixei você usar o computador, e fiz carinhos e beijinhos sem ter fim". Eu: "Opa! Essa parte eu perdi! Foi em mim?" Ele: "É... Talvez não..." Eu: "No gatinho? No cão?" Ele: "Não... Acho que eu tava polindo madeira e pensei que fosse você". Nessas horas, recomendo a técnica do Kabong. Eu explico. Pegue uma garrafa de plástico de um litro e meio e bata-a na cabecinha dura do seu homem. Se ela (a garrafa, não a cabeça) estiver vazia, fará um som como Kabong. Use também garrafas de meio litro para produzir um mini-Kabong.
Minha leitora Liliane pediu pra que eu falasse sobre o Festival de Cannes. Nem sei bem o que falar, já que não acompanhei. Só sei que o último Almodóvar, Los Abraços Rotos (veja o trailer aqui), decepcionou, assim como o último Tarantino, Bastardos Inglórios (algum dia eu cri-critico esses trailers). Li que o Taranta vai voltar com o filme pra sala de edição, pra dar alguns retoques antes que BI estreie nos EUA, em agosto. E sei que A Fita Branca (Das Weisse Band) levou a Palma de Ouro. Todo mundo anda dizendo que é a obra-prima do austríaco Michael Haneke. Não encontrei o trailer, só um pedacinho, com legendas em inglês. É um drama de guerra em preto e branco. Em geral, como sou fã do Haneke (gosto muitode Funny Games, tanto o original quanto o remake americano, e de Caché, e menos de A Professora de Piano e de Código Desconhecido, mas é sempre bom seguir o que ele apronta), vou esperar ansiosamente pra ver A Fita Branca. Mas é melhor esperar sentada. Quem não mora no eixo Rio-SP e não frequenta as mostras das duas cidades não vai ver esses filmes tão cedo. Pelo que li, foi o Lars von Trier que roubou a cena na 62a edição de Cannes. Tá aqui o trailer do seu filme mais recente, Antichrist (pode ver sem susto, que não tem cenas terríveis).
Por “cenas terríveis” eu me refiro a uma em que a Charlotte Gainsbourg (que levou a Palma de Melhor Atriz) corta seu clítoris com uma tesoura enferrujada, bem à vista da câmera. Taí uma boa razão pra eu não querer chegar nem perto do filme. Qual o propósito de incluir uma cena explícita de mutilação feminina? Não pode ser só pra traumatizar a Lolinha e 99% da população feminina. Parece que Cannes tem um júri ecumênio que dá tapinhas nas costas dos filmes que promovem valores espirituais. Este ano o tal júri decidiu dar um antiprêmio a Anticristo, “o filme mais misógino do autoproclamado maior diretor do mundo”. Um cineasta romeno atacou dizendo que, segundo Von Trier, “as mulheres deveriam ser queimadas na fogueira para que os homens possam finalmente se liberar”. Bom, normalmente, não tenho (quase) nada contra o Von Trier. Adoro Dogville e Manderlay, e gosto bastante de Dançando no Escuro e Ondas do Destino. São três ou quatro filmes com mulheres como protagonistas, e ainda que elas sofram o diabo a quatro, não os considero misóginos. Tá cheio de gente que detesta o Von Trier por ele ser assumidamente anti-americano. E ele conseguiu colocar todos os movimentos de defesa dos animais contra ele ao incluir a morte real de um jumento em Manderlay. Esse é o tipo de coisa que o cara faz pra chamar a atenção, como se fosse uma criancinha mimada. Tipo: não é possível que ele não soubesse que matar um animal num filme iria causar indignação. Aí vem com discursinho de que o burro tava velho, ia ser sacrificado mesmo, e a gente come animais, mas não importa. Eu até hoje não perdoo a besta do John Waters pelo que ele fez com galinhas em Pink Flamingos. Minha brilhante leitora Dai mandou um email recomendando uma lista dos filmes mais controversos de todos os tempos. A lista merece um post sozinho, só pra ela. Mas o que a Dai percebeu no ato foi o seguinte: “Lendo aquela lista me dei conta de que a maioria dos filmes 'controversos' (aqueles feitos com a intenção de causar desconforto ou mesmo escândalo, 'causar', como se diz hoje) utilizam o estupro e a mutilação (geralmente de mulheres) como clímax em seu roteiro abusivo. Eu não tenho nenhum elemento para julgar, não li estudos sobre, mas acredito que seja uma tendência (assim como é uma tendência explorar a nudez feminina, o abuso de mulheres, etc) e que haja uma permissividade social, um assentimento do insconsciente coletivo de que se utilizem corpos de mulheres (atrizes) nesses experimentos pela arte”. Ela cita três filmes da lista para exemplificar o seu desconforto: “É interessante descobrir que alguns 'filmes controversos' foram responsáveis por nossa 'iniciação' cinematográfica - como Laranja Mecânica, Veludo Azul e O último Tango em Paris (nunca gostei deste último, aliás, detesto). Ou seja, com eles aprendemos a gostar de cinema pelo cinema, numa fase em que não fazíamos uma reflexão mais aprofundada, e agora cai a ficha de que eles foram criticados por organizações feministas, na época. Foram filmes que eu assisti um pouco antes de me aprofundar em minha formação feminista. Admito que me causava desconforto observar a perversidade com a qual as mulheres eram tratadas. Embora eu siga gostando de Veludo Azul e Laranja, a vontade sempre foi apertar o fast foward naquelas cenas abusivas. Mas o que eu não sabia na época é que aquilo era misoginia, que era concedido aos diretores usar o corpo das mulheres em suas metáforas de dor e miséria humanas”. Cada uma dessas opiniões (fortes) merece um post próprio, e vamos ver se algum dia eu consigo dedicar-lhes a dedicação que merecem. Mas não há dúvida que um tema recorrente entre tantos desses filmes “polêmicos” é o mau trato a que as mulheres são submetidas. Pensa só: se tantos filmes usassem uma outra minoria (por exemplo, negros, gays, judeus) para ser estuprada, mutilada, torturada, espancada, encarceirada e abusada, a gente não diria “Putz... Acho que esses filmes são racistas / homofóbicos / anti-semitas”? Mas como o abuso é contra mulheres, e vivemos numa sociedade em que isso é tolerado e, em alguns casos, até incentivado, passa como “controvérsia”, e viva a arte. Pra não fugir do tema, reproduzo aqui o email que minha leitora silenciosa Lid me mandou: “Acabo de saber que vai ser lançado em breve o filme belga SM Rechter. Não sei se você já ouviu falar: é sobre o caso verídico de uma mulher que convence o marido, um conhecido juiz, a abusar dela sexualmente. O marido a princípio 'não quer', mas ela insiste em ser chicoteada, mutilada, estuprada, etc etc. O casal estava agora na TV holandesa dando entrevista e falando que o cara foi exonerado do cargo de juiz e que é isso mesmo: que ela queria ser abusada e o convenceu a abusá-la. Se o mundo masculino pensa que as mulheres gostam de ser estupradas, agora pode ver uma história verídica no cinema que afima que sim, nós adoramos estupro. E, provavelmente, as que dizem que não amam é porque não querem admitir. Que ódio! Nem sei se esse filme vai ser lançado no Brasil (tomara que não seja mesmo). Mas enfim. Tinha que comentar essa contigo. Fique de olho: SM Rechter, Bélgica, 2009”. (Veja o trailer aqui). Imagina. É tudo mera coincidência.
Não me lembro de como cheguei a um blog cujo endereço não vou passar aqui. Desculpa, gente. Mas não vou dar ibope pro sujeito. Aliás, só vou falar dele pra lembrar que existem pessoas dessa estirpe. Faz meses que visito o blog do cara (uma vez a cada duas semanas, por aí). Não sei como começou. Deve ter chegado alguém no meu bloguinho através de alguma busca, e o Google, que é democrático, indicou tanto o meu blog quanto o meu oposto lá do outro lado do espectro político. Eu entro lá de vez em quando pra saber como pensa (modo de dizer) a extrema direita. O dono do blog é um senhor de Floripa que defende o separatismo. A única dúvida, pra ele, é se o Sul Maravilha, ao virar um país, deve ou não incluir São Paulo. É, deve, ele decidiu. Afinal, não se pode desprezar um estado tão rico.
O seu ódio com o resto do país vem do fato do Brasil ter eleito e reeleito o Lula. O blogueiro odeia os nordestinos em particular, que ele chama de raça inferior. Sério. Parece que racismo na internet pode. Por exemplo, este é um dos seus posts mais recentes: “Cada vez fico mais enojado. Nesta madrugada já pensei em dar um clique deletando o blog. Se pelo menos tivéssemos oposição, tudo bem. Mas apenas alguns blogs cumprem o verdadeiro papel de oposição a essa sacanagem denominada de governo. A única saída que vejo é um movimento separatista do Sul. Ainda dá tempo, já que é por aqui que ainda há uma certa resistência ao deletério petralhismo. De São Paulo para cima já está tudo apetralhado. Vejo com tristeza que a burrice, quando não o oportunismo vulgar e rasteiro, domina o jornalismo brasileiro. Por isso estou completamente convencido que para o Brasil nunca haverá solução. Jamais este país sairá da condição de lixo ocidental e isto decorre seguramente de um componente genético. Este é um país de maioria botocuda. Trata-se de um povo estúpido, uma sub-raça com cérebro de chimpanzé. É lixo, lixo puro.” Ficou chocada(o)? Bom, o lema dele é “Mil vezes fogo nos botocudos! Fogo! Fogo nessa gentalha!”. Ele fecha quase todos os seus posts com essa frase argumentantiva. Isso é incitação à violência? Alguns de seus ataques são previsíveis, outros não. Por exemplo, apesar d'ele ser um nazista não-assumido, ele é pró-Israel. Não perde oportunidades para insultar os muçulmanos. E ele é ateu. A maior parte da extrema direita usa a religião (cristã) pra justificar suas crenças na seleção natural e na meritocracia. Ele não. O resto é igual. Pra falar da morte do criador do Viagra (que deve ser a invenção do século para o fascistoide), ele escreve: “A contribuição dos norte-americanos para o desenvolvimento da ciência é extraordinária em todas as áreas. Apesar deste fato, os esquerdistas continuam babando o seu antiamericanismo. Muitos têm a coragem de exultar a medicina cubana e chinesa, cuja contribuição para a qualidade de vida dos seres humanos é zero! Ave, americanos! E o meu mais profundo desprezo em relação a esse bando de comunistas idiotas, ladravazes e assassinos”. Puxa, falando assim, até parece que os comunistas mataram o pai do Viagra! É divertido também que ele afirme barbaridades como "Mundo já sente saudades de Bush", e aposte que Obama não terminará seu mandato. Durante as eleições americanas o blogueiro fascistoide, do alto do seu racismo, já dizia que votar no Obama era "dar um tiro no escuro". Seus leitores entenderam o trocadilho e morreram de rir. O mais comum, como não podia deixar de ser, é o machismo e a misoginia no blog. Agora ele deu pra chamar a Dilma de “Dama da Peruca”. Não é incrível? No mesmo dia em que foi divulgado o câncer da ministra, os (poucos) comentaristas do blog, que pensam igual ao direitista, já escreviam coisas como: “Acho horrível, odeio doenças, essa é cruel, niguém merece... Acho porém que Deus é brasileiro” e “Depois da plástica, como preparação para ser prezidenta [sic], vai se submeter a uma Quimioterapia e ficar depilada”. Compaixão zero! Putz, por mais que eu desgoste de alguns políticos, eu nunca zombaria da doença de alguém. Eu posso até comemorar a morte deles (devo ter aprendido com a minha mãe, que fez bolo de chocolate quando o ditador espanhol Franco morreu), mas enquanto eles estão sofrendo, eu fico de boca fechada. Inclusive porque o que os fascistas do blog de extrema direita dizem é desrespeitoso com outros pacientes de quimioterapia. Num post mitológico (que, infelizmente, ele deletou), ele adota o biologismo pra mostrar como os machos precisam espalhar sua sementinha por todo o canto, enquanto as fêmeas cuidam das crias. Ou seja, porque é “natural” que machos tenham várias parceiras, e que sejam jovens, ainda por cima. Ele afirma que o maior desafio da ciência é encontrar um jeito de brecar o envelhecimento que “detona as mulheres” (opa, parece que a maior invenção do século, o Viagra, pode ter concorrente). Porque assim não dá, assim não pode, né? Segundo o jovial velhaco, mulheres depois de trinta anos começam o seu inevitável declínio físico e, como nossa única serventia é ser decorativa e reproduzir, a ciência deve se encarregar pra que nos mantenhamos pelo menos apetitosas ao paladar masculino. Logicamente eu só me espanto com esse pensamento retrógrado por estar em acentuado declínio físico e não ter mais montes de homens me dizendo grosserias enquanto passeio na rua, que era minha razão de ser. Não é por nada não, mas se eu fosse de direita, eu me envergonharia de estar em tão formosa companhia. Deve ser por isso que poucas pessoas de direita admitem ser de direita. Nem o Reinaldo Azevedo é de direita! O energúmeno do blog que cito aqui ainda reclama da injustiça: “Defender a lei e a ordem é ser fascista, reacionário e conservador”. Pois é, isso que a gente não consegue entender: quem chama negros e nordestinos de sub-raça e crê que mulheres têm um único destino a trilhar está apenas defendendo a lei e a ordem. Uma ordem milenar, que eu e tantas pessoas lutamos para derrubar.
Prefiro ficar olhando pro busto do Teddy Roosevelt por duas horas.
Essas últimas semanas estão sendo terríveis de tão cheias, e nada indica que as próximas serão mais calmas. Paciência comigo! Continuo atualizando o bloguinho todo santo dia, mas responder comentários tá impossível. E não tenho tempo de escrever várias coisas que gostaria. Ai, ai. A gente não tá nem em junho e eu já tô pedindo férias! Sexta fui ver Uma Noite no Museu 2. Mas acabei não anotando nenhuma linha sobre o filme, e como hoje é quarta, e a produção é totalmente descartável, esqueci tudinho. Sinceramente, eu já saí do cinema pensando “O que vou falar desta joça?!”. Certeza mesmo, só a de que odiei o troço. Eu já não tinha apreciado o primeiro, mas pelo menos havia um tiquinho de novidade em ver um museu tomando vida. A piadinha que mais gostei no original agora é a única que gostei na sequência: o esqueleto de dinossauro abanando a cauda, como se fosse um cachorrinho (ah, e é legal que uns três ou quatro atores do The Office façam pontinhas). Mas não tenho nenhum carinho pelo Ben Stiller (e acho que ele se leva mais a sério do que merece. Digo mais: tenho a impressão que na vida real ele seja igualzinho a seu personagem no horroroso Trovão Tropical, aquela comédia totalmente sem graça onde só o Tom Cruise e talvez o Robert Downey Jr. se salvam). E, pra ser franca, nem pelo Owen Wilson (admito que fiquei mais compadecida depois que ele tentou o suicídio e fez Marley e Eu). Também detestei o revisionismo histórico da trama, igualmente presente no primeiro filmeco. Desta vez o presidente Teddy Roosevelt é jogado pra escanteio, e decidem elevar o General Custer pra enésima potência. Que um notório assassino de mulheres e crianças índias seja considerado um heroi é algo demais pra minha cabecinha. Sabe, seria como levantar estátua pro Borba Gato em São Paulo em homenagem à bravura dos bandeirantes. Quer dizer... Ahn, deixa pra lá. Melhor ficar no revisionismo histórico deles, não no nosso: Museu 2 é mais uma prova viva de como a história é sempre contada pelos vencedores. Há uma índia no filme e alguns poucos negros, mas eles não têm voz. Todas as decisões estratégicas são tomadas pelos homens brancos. Quer prova maior do privilégio masculino? Até um guarda de museu tem mais importância que os raríssimos personagens “históricos” negros e mulheres. A única exceção é a Amelia Earhart (feita com vigor pela Amy Adams), pioneira da aviação americana. Mas até ela parece estar lá só pra fazer par romântico com o protagonista. E é só impressão minha ou o avião que ela pilota é idêntico ao 14 Bis? (Eu adoro os museus da Smithsonian em Washington DC. Já falei sobre eles aqui, inclusive de como escondem o Santos Dumont numa ala perdida, como se fosse um pé de página na história da aviação, e dão galerias inteiras aos irmãos Wright). Anote quantas vezes durante o filme alguém fala “Nós americanos...” ou “A América é” ou algo do gênero. Museu 2 certamente não é pra gente do resto do mundo. É um produto nacional deles, made in America. E, por favor, me lembre de anotar no meu caderninho pra nunca mais ver um filme com a assinatura do Shawn Levy. Opa, não, confundi o diretor com os realizadores de Professor Aloprado 2. O Shawn é novo e até agora só fez uns quatro filmes péssimos: Recém-Casados, o remake de Pantera Cor de Rosa com o Steve Martin, que já me fez fugir no trailer, Doze é Demais, que não preciso ver pra saber que é detestável, e agora este Museu 2. É um currículo respeitável, mas nada comparado aos merecedores do meu Troféu Cocô de Hamster Gigante. Por falar em diretores odiados, aqui menciono a esnobada que o Von Trier recebeu do Festival de Cannes.
Ilustração de blog anti-aborto. A argumentação é nesse nível também.
Eu já desconfiava que estava em dívida com vocês sobre os resultados das enquetes, mas não imaginava quanto. Fazer uma enquete sem depois registrar os resultados não é legal, sorry. É que as coisas estão tão corridas que falta tempo pra tudo. Mas vou começar a recuperar os resultados (que eu sempre anoto) e publicá-los aqui toda terça. Porque o bacana é que, à medida que o bloguinho vai crescendo, muitas vezes os resultados mudam. Por exemplo, em maio do ano passado realizei uma pesquisa sobre a legalização do aborto. 57 pessoas responderam, e a grande maioria, 73%, foi a favor. 19% foram contra, e 7% não tinham opinião formada. Alguns meses depois, acho que em fevereiro último, repeti a enquete. Ops, péssimo exemplo, porque os resultados foram praticamente iguais: 74% foram a favor da legalização do aborto, 20% contra, e 4% não tinham opinião formada. A diferença foi o número de votantes: 275 no total. Mas, claro, mesmo quando o resultado não muda, a enquete mostra algo válido: que minhas queridas leitoras(es) seguem sendo da mesma linha política que eu (imagino que a maior parte seja de esquerda, mas, quando estamos falando de costumes, é mais comum traçar uma linha entre liberais e conservadores). Ainda bem! Eu odiaria que meu bloguinho fosse invadido por uma horda de fãs do Reinaldo Azevedo ou Diogo Mainardi. Seriam todos trolls por aqui. Aliás, já já vou publicar um post sobre um blog que encontrei que deixa os medalhões da Veja no chinelo, em termos de intolerância rábida. Aguardem, que o negócio é feio mesmo (mas não vou dar o link, porque não quero promover essas atrocidades). Outra pesquisa que fiz e não publiquei o resultado era uma em que eu perguntava, também em fevereiro, “Faz quanto tempo que você me lê?”. Recebeu 243 votos no total. 24% responderam “faz meio ano”, 19% “faz uns três meses”, e 13%, “desde os tempos da coluna no Lost Art (2000-07)”. Tá, como eu incluí uma provocaçãozinho, muita gente (outros 13%) não resistiu e clicou no “Quem disse que te leio? Só estou aqui de passagem”. Mas acho que é só brincadeirinha (bom, pelo menos por experiência própria, posso dizer que é muito raro responder pesquisas quando a gente cai de paraquedas num blog desconhecido). 9% disseram “faz algumas semanas”, 6%, “desde 98, quando começou a escrever n'A Notícia”, e mais 6%, “faz pouquíssimos dias”. Tomara que esses novatos estejam aqui até hoje. E, por último, com 5%, houve a resposta “desde que começou este blog, em janeiro do ano passado”. Ano que vem eu repito a enquete. E, por favor, não preciso nem pedir, né? Se você tiver alguma sugestão pra futuras enquetes, pode falar. Eu já divulguei que meu cérebro está atrofiando por causa da faculdade (“my mind is going, Dave. I can feel it” etc). Ah, e sei que estou super devendo um concurso, em forma de enquete, pra escolher os melhores posts de blogs escritos por mulheres. Mas eu quero um selinho! Vamos lá, minhas competentes e generosas designers de mão cheia. Mandem pra cá (lolaescreva@gmail.com) um selo que mostre mulheres tendo voz.
Sou professora da UFC, doutora em Literatura em Língua Inglesa pela UFSC e, na definição de um troll, ingrata com o patriarcado. Neste bloguinho não acadêmico falo de feminismo, cinema, literatura, política, mídia, bichinhos de estimação, maridão, combate a preconceitos, chocolate, e o que mais me der na telha. Apareça sempre e sinta-se em casa. Meu email: lolaescreva@gmail.com. Meu Twitter também é movimentado. Agora tenho um canal no YT, o Fala Lola Fala. Te vejo lá também!