quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

GUEST POST: DELÍRIOS E REFLEXÕES SOBRE A VIOLÊNCIA DE TER QUE CUIDAR

Publico hoje, com muita honra, o guest post da jornalista Bia Barros. Ela é autora de um belo livro chamado Madalena, Alice, que foi premiado em Portugal e lançado no ano passado na Flip pela editora Nós.
A Bia fez a gentileza de me enviar três exemplares do livro (um pra mim, outro pra biblioteca da UFC, e outro pra sortear entre vocês). Então deixem seu nome nos comentários do post que eu vou sortear o livro até sexta. Mas apareçam pra saber quem ganhou. A vencedora ou vencedor do sorteio precisa me mandar o endereço por email pra eu poder mandar o livro da Bia pelo correio! 
Fiquem com este lindo texto da Bia apresentando o livro.

Em 2015, trouxe minha mãe com Alzheimer para morar comigo, em São Paulo. Minha mãe tinha basicamente dois tipos de delírio: precisava voltar logo pra casa porque meu pai brigaria com ela por ter saído, e também um homem que estava sempre à espreita para lhe fazer algum mal. A convivência diária com os medos dela me inspiraram a escrever um livro sobre as diferentes formas de violência que as mulheres vivenciam em sua rotina. 
O livro chamado Ausência foi premiado, em Portugal, com menção honrosa no Prêmio UCCLA -– Novos Talentos, Novas obras em Língua Portuguesa -– e publicado no Brasil pela editora Nós, com o título Madalena, Alice, na Flip em 2018. 
No Brasil, a violência de gênero tem endereço certo. Estima-se que cinco mulheres são espancadas a cada dois minutos. Uma mulher é morta a cada duas horas. E, apesar de termos uma ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, que diz irresponsavelmente que lugar da mulher é em casa -- mesmo ciente que o parceiro  (marido, namorado ou ex) é o responsável por mais de 80% dos casos violência --, as mulheres já entenderam que o lar não é um ambiente seguro para elas. 
A violência  de gênero começa em casa. Começa no momento que a mãe privilegia o filho homem em detrimento da filha. Quando a filha é obrigada a fazer os serviços domésticos enquanto o menino brinca. Quando o controle do corpo, da sexualidade e da vida da menina vai além dos muros da casa. Quando suas roupas, as formas que senta, gesticula e fala são marcadores da sua reputação e moral. E termina no momento da morte, quando a filha, a mãe ou a esposa têm que abdicar da própria vida para cuidar dos seus doentes.
Como o cuidado é pensado como essencialmente feminino, essas mulheres são invisíveis ao Estado e têm que carregar seus doentes no lombo, sem direitos, sem benefícios, sozinhas. O que nunca ninguém fala é sobre o horror dessa rotina de cuidadora. O horror de não conseguir conciliar com trabalho porque o doente fica completamente dependente. Os altos custos que uma doença traz. Para vocês terem uma ideia, eu gastava mensalmente com a minha mãe R$ 3 mil somente com remédios e fraldas (fora a comida enteral e as cuidadoras e outras demandas que surgem com a enfermidade).
E, por fim, o horror de   lidar com uma Justiça completamente apartada da realidade das pessoas, que em vez de simplificar a situação do incapacitado e da cuidadora, bloqueia os recursos, criando um sufocamento à distância. Não é à toa que quase 70% das cuidadoras desenvolvem alguma doença psiquiátrica, como depressão, síndrome de burnout ou síndrome de estresse pós traumático.
Em Madalena, Alice essas violências são expostas, tanto pela perspectiva da mãe como da filha. Nos delírios de Madalena e nas reflexões de Alice a história das mulheres se confunde com a própria tecnologia da dominação porque somos estruturalmente produzidas dentro dessa logica patriarcal, misógina, racista e heteronormativa.  
Não é um livro fácil. Ele é sufocante, claustrofóbico e bem pesado. Mas ele é um olhar para si. Um livro que pretende mostrar a loucura por dentro e o que somos nós diante dessas violências. É um livro que fala sobre medo, sobre envelhecimento, mas também sobre  amor e superação. Uma história para nos fazer pensar sobre a espiral de medos e culpas que nos constituem. Uma história onde a jornada do herói não é apoteótica porque nossa guerra começa no nosso lar. Nossa batalha é contra nossos pais, irmãos mães, filhas, tias e sobretudo contra nós mesmas. 
SORTEIO! Realizei o sorteio no sábado, dia 2 de março! Pra ver como fiz o sorteio e quem participou, veja aqui. Quem ganhou foi uma comentarista bastante frequente do blog, a Hele Silveira! Parabéns, Hele! Por favor, me mande seu endereço para que eu possa te enviar o livro depois do Carnaval. E gente, tenho outros livros pra sortear, então fiquem atentas. E se alguém quiser me mandar 3 exemplares do seu livro, eu faço assim: fico com um, dou um pra biblioteca da UFC, e sorteio um entre minhas queridas leitoras e leitores!

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

DISCURSO DE DAMARES CRIMINALIZA ABORTO EM TODAS AS SITUAÇÕES

Publico aqui esta nota pública do grupo Curumim, de Recife, sobre o pronunciamento da ministra Damares na ONU, na segunda. 

Em seu primeiro pronunciamento internacional, na 40ª Sessão do Conselho de Direitos Humanos da ONU, em Genebra, nesta segunda-feira (25/02), a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves destacou políticas do governo de Jair Bolsonaro para os Direitos Humanos, com reforço às ações em defesa das mulheres. A ministra ressaltou que não haverá tolerância ao “feminicídio e ao assédio sexual” e defendeu o cumprimento da Constituição Federal. 
Para defender o direito à vida desde a concepção, a ministra fez referência à Constituição e ao Pacto de São José da Costa Rica, indo de encontro ao que a própria Corte Interamericana de Direitos Humanos estabelece sobre o tema. Além disso, em 2008, o STF ao julgar a Ação Direta de Inconstitucionalidade sobre o art. 5º da Lei de Biossegurança (Lei Nº 11.105/2005), decidiu que a Constituição brasileira protege a pessoa nascida com vida, mas não estende esta proteção à vida humana embrionária. 
Com este discurso a ministra defende a criminalização do aborto em todas as situações, incluindo os casos de estupro, risco de morte da mulher e os casos de anencefalia, colocando-se na contramão da luta de décadas dos movimentos de mulheres: a defesa do direito de decidir por um aborto legal e seguro com acesso a serviços integrais de saúde, em verdadeiro respeito aos Direitos Humanos das mulheres.
Por outro lado, a ministra deixou de citar que o Estado brasileiro é signatário de outros acordos globais que recomendam a prevenção de abortos inseguros, a revisão das leis punitivas e o pleno respeito pelo direito das mulheres à autonomia sexual e reprodutiva. Este é o caso da Agenda 2030 (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável), dos programas de ação da Conferência Internacional de População e Desenvolvimento (Cairo, 1994), da IV Conferência Mundial de Mulheres (Pequim, 1995) e do Consenso de Montevidéu (Cepal, 2013). 
Assim como não citou outros tratados e convenções internacionais ratificados pelo Brasil, como a Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência Contra a Mulher – “Convenção de Belém do Pará” (1994), a Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura (1985), em 20 de julho de 1989, a Convenção Contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes (1984), em 28 de setembro de 1989, a Convenção sobre a Eliminação de todas as formas de Discriminação Contra a Mulher (1979), em 1º de fevereiro de 1984, e o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos (1966), em 24 de janeiro de 1992. 
Os dados sobre países em que o aborto não é criminalizado são contundentes. Na África do Sul, país que teve  o aborto legalizado em 1996, as taxas de morte materna reduziram em 91% em cinco anos. Outro exemplo é Portugal, onde o aborto foi despenalizado em 2007, e em que entre 2008 e 2012 apenas uma mulher morreu e, a partir de 2012, nenhuma mulher veio a óbito por causas relacionadas ao aborto.
Em seu pronunciamento a ministra Damares explicita “o compromisso inabalável do governo brasileiro com os mais altos padrões de Direitos Humanos, com a defesa da democracia e com o pleno funcionamento do estado de direito”. O que se passa na realidade é que o atual governo está desmontando as políticas sociais brasileiras e imprimindo retrocesso nas políticas de igualdade das mulheres e de igualdade racial e desconstruindo os princípios do respeito e reconhecimento às diversidades (gênero, raça e identidade) no ensino público. No caso específico das mulheres, a restauração conservadora promovida pelo atual governo, tem sido acompanhada por notícias cotidianas e dados alarmantes sobre o aumento da violência contra as mulheres, contra a população negra e contra a população LGBTTIQ+. 
Apesar de ressaltar a defesa dos Direitos Humanos -- e de seus defensores -- por parte do governo que Damares representa, ela não considerou importante fazer menção ao caso mais emblemático do momento, o da vereadora negra, lésbica e favelada Marielle Franco. O caso está prestes a completar um ano sem que as investigações se concluam. Damares não dá importância às evidências de que Marielle Franco foi exterminada brutalmente com vários tiros na cabeça, e flagrante envolvimento de milícias que publicamente têm elos com o grupo atualmente no poder. 
Vivemos no Brasil o acirramento do clima de perseguição de caráter fascista que tem levado à morte, ou ao exílio, pessoas que lutam por direitos, como nos casos da pesquisadora e militante feminista Débora Diniz e do deputado federal Jean Wyllys, que, por sofrerem ameaças, estão vivendo fora do país.
A criminalização do aborto vai contra uma política de saúde reprodutiva fundamentada nos Direitos Humanos. Afeta, em especial, a vida das mulheres negras, pobres e jovens que vivem nas periferias urbanas e nas zonas rurais. O aborto inseguro precisa ser visto como um grave problema de saúde pública e só assim deixará de ser marcado pela desigualdade social, discriminação e violência institucional contra as mulheres.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

MAIS UMA PROVA DE QUE ESTE GOVERNO É UM HINO À INCOMPETÊNCIA

Ontem o MEC enviou um email às escolas pedindo que as crianças sejam enfileiradas em frente da bandeira do Brasil ("se houver", diz o email) para cantar o hino nacional. 
Pede também que uma carta escrita e assinada pelo sinistro da Educação, Ricardo Vélez Rodriguez, com o slogan do governo ("Brasil acima de tudo, Deus acima de todos"), seja lida para todos os alunos, professores e funcionários da escola, para "saudar o Brasil dos novos tempos". 
Além disso, pede que isso tudo seja filmado e enviado ao MEC. A mensagem leva também o endereço da Secom (Secretaria de Comunicação da Presidência), indicando uma política articulada. Os trending topics do Twitter desde ontem à noite indicam a forte presença de robôs de Bolsonaro (e eles não são acionados a menos que seja algo importante para o governo).
O email é tão surreal que vários diretores da escola ficaram chocados, e pensaram tratar-se de uma mensagem falsa. Não era. O problema não está em cantar o hino, que já é tocado e cantado, mas em usar um slogan político para propaganda. Um slogan, aliás, que desafia o Estado laico. Outro problema é pedir que crianças sejam filmadas, o que vai contra o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), que proíbe a filmagem desautorizada de crianças. 
Foi mais um festival de trapalhadas anti-democráticas, marcas registradas deste (des)governo. As escolas jogadas às traças, a educação pública sem recursos, e o sinistro vem fazer propagandinha absurda. 
Reproduzo aqui a thread que a professora da rede estadual do Ceará (hoje trabalha num Centro de Educação de Jovens e Adultos) e doutora em Letras Marlúcia escreveu no Twitter:

Caro Ministro da Educação:
1. Muitos alunos vão à escola pela merenda;
2. Muitos alunos veem os pais tão ocupados e sacrificados com a sobrevivência (comer, morar, vestir), que não conseguem perceber a relação entre estudo e crescimento social;
3. Nessas famílias, há pouca circulação e variedade de gêneros textuais escritos, daí muitos não reconhecem a funcionalidade da leitura (geralmente são os que mais demoram a aprender a ler);
4. Existem alunos do 9° ano que não conseguem interpretar um texto simples; 
5. Existem alunos que precisam largar a escola pra ajudar a mãe a sustentar os irmãos. Muitos desses são facilmente cooptados pelo tráfico e muitas vezes têm destinos terríveis;
6. Há também alunos extremamente massacrados pelas condições sociais. Eles ficam tão retraídos e bloqueados, com tão baixa autoestima, que o professor não consegue dialogar facilmente com eles. Isso atrasa a aprendizagem, quando não os faz abandonar a escola de vez;
7. Muitas adolescentes, sem perspectiva de vida melhor, arranjam um parceiro muito cedo, engravidam, abandonam a escola. Quando não são abandonadas pelo parceiro e pela família, continuam estudando, mas as condições são muito adversas, e elas não conseguem uma aprendizagem satisfatória e "competitiva" para o mercado;
8. Já tive aluno de 14 anos que abandonou o ano letivo por ter perdido os dedos em acidente por operar máquina pesada;
9. Nem estou colocando na lista os problemas pessoais, psicológicos que toda gente tem, em maior ou menor medida, e que para crianças e adolescentes pobres são mais difíceis ainda de encarar.
Campanha reaça de hoje
lançada pelo Secom
10. O principal problema da educação no Brasil não é falta de hino e bandeira, é a desigualdade social. Cursei meu ensino fundamental (que na época se chamava 1° grau) numa escola onde cantávamos o hino, perfilados, sob o olhar vigilante da coordenadora. Na sala de aula, quando a diretora entrava, tínhamos de nos levantar imediatamente e só nos sentávamos na presença dela se ela permitisse. Isso não impedia que faltasse professor e as aulas fossem mecânicas e sem sentido e que os professores chegassem ao final do ano sem saber o nome de alguns alunos e sem saber que muitos deles caminhavam quilômetros, com fome, pra ir à aula.
O que me fez aprender, anos depois, foram professores críticos, com uma boa formação pedagógica e humana, que humanizavam os conteúdos e a relação docente-discente, que não reproduziam uma "educação bancária", mas incentivavam a ação do próprio estudante.
Quais as suas propostas para mudar esses itens que elenquei?
O hino que os eleitores de Bolso já cantam nas escolas, por Laerte

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

O OSCAR 2019 E A VITÓRIA DA DIVERSIDADE

A equipe responsável por Green Book comemora

Boa tarde pra você que não tem que ler um ser acéfalo vindo comentar no seu bloguinho que o Oscar, aquele show de esquerdismo, "desprezou o talento para premiar cotistas".
Pois é, e você que pensava que o Oscar era uma cerimônia de divulgação de uma mega indústria cinematográfica! Bem-vindo à realidade!
Saudades do tempo em que reaças adoravam assistir ao Oscar e, quando ficavam entendiados, criavam memes de feministas (tipo eu) revoltadas com os vestidos e penteados das estrelas. Era mentira, óbvio, já que nunca gastei meio segundo do meu tempo falando da aparência das atrizes. Mas pelo menos os reaças tavam lá discutindo cinema. Agora tudo pra eles é financiado pelo Soros e demais "judeus globalistas". O planeta passando por uma onda nefasta do crescimento da extrema direita, e a gente aqui, "lacrando" no Oscar! 
Como festa, não foi uma cerimônia marcante. Não houve discursos que serão lembrados, na minha opinião. O melhor, o mais politizado, foi sem dúvida o do grande diretor Spike Lee que, na sua longa e brilhante carreira de 42 anos, nunca havia recebido um Oscar (competitivo, só honorário). Ele ganhou o de roteiro adaptado pelo que deve ser o melhor filme de 2018, Infiltrado na Klan. E a cereja do bolo foi receber o prêmio das mãos de um dos atores que ele alavancou, Samuel L. Jackson. 
Em seu discurso, Lee disse: "Diante do mundo inteiro, eu louvo nossos antepassados que ajudaram a construir este país, e também os que sofreram genocídios. [...] A eleição presidencial de 2020 está logo ali. Vamos todos nos mobilizar. Vamos todos estar do lado certo da história. Faça a escolha moral entre amor versus ódio. Faça a coisa certa!" 
Mais tarde, Lee ainda brincou com a imprensa: "Toda vez que alguém tá levando alguém de carro pra algum lugar, eu perco", referindo-se a Green Book (que veio a ganhar melhor filme) e Conduzindo Miss Daisy, um filme bem aguinha com açúcar de 1989. 
Spike Lee comemora muito.
Merecidamente!
Algumas semanas atrás, Lee afirmou que sua primeira indicação ao Oscar de diretor devia bastante ao movimento Oscar So White (Oscar tão branco) que, em 2015 e 2016, protestou pela ausência de indicados não brancos. Entre os 40 lugares para atores e atrizes (principais e coadjuvantes), nenhum foi para um negro, um hispânico, um indígena. Ao contrário do comentarista reaça problemático, levantar a questão da falta de representatividade não tem nada a ver com cotas. É preciso reconhecer o talento de todos, ué. Se há 40 nomes indicados em quatro categorias e todos são de pessoas brancas, parece que as cotas existem, sim -- para os brancos. 
Portanto, em 2017, graças à pressão do #OscarTãoBranco, houve mais indicados e vencedores que não fossem brancos. E agora em 2019 o recorde foi batido. Foram sete vencedores negros em seis categorias. Por exemplo, Ruth Carter foi a primeira negra a vencer na categoria melhor figurino (por seu trabalho espetacular em Pantera Negra). Hannah Beachler foi a primeira pessoa negra a ser indicada na categoria de design de produção. E ontem ela levou a estatueta por Pantera Negra
Além do mais, três dos quatro prêmios de atuação foram para personagens LGBT (Freddie Mercury de Bohemian Rhapsody, interpretado por Rami Malek; a rainha Anne de A Favorita, interpretada por Olivia Colman, e o pianista Don Shirley de Green Book, interpretado por Mahershala Ali). É ótimo ter mais histórias sobre gente que não seja hétero, até porque permite trazer personagens cheios de nuances e defeitos, distantes dos estereótipos. 
Alfonso Cuarón ganhou seu segundo Oscar de melhor diretor por Roma (e também fez história por ser o primeiro diretor a levar o Oscar de melhor fotografia). Ele agradeceu por reconhecerem "um filme protagonizado por uma mulher indígena. Como artistas, nosso trabalho é enxergar onde os outros não enxergam". Cada mexicano que ganha o Oscar de diretor (e foram cinco prêmios para diretores mexicanos nos últimos seis anos!) é um tapa na cara do presidente laranja que quer construir um muro. 
Também foi bacana o discurso de Rayka Zehtabchi e Melissa Berton, que ganharam melhor documentário pelo curta Absorvendo Tabu (Period. End of Sentence): "Não posso acreditar que um filme sobre menstruação ganhou um Oscar! [...] Um ponto (period) deveria encerrar uma frase e não a educação de uma menina". É um trocadilho com period, que tanto pode significar ponto quanto menstruação. Na Índia e em vários outros países pobres (Brasil incluso), ficar menstruada faz com que muitas meninas parem de ir à escola, pois não têm acesso a absorventes. 
Um momento que costuma ser chato, pelo menos pra mim, é a apresentação das cinco indicadas a melhor canção. Mas Lady Gaga e Bradley Cooper cantando "Shallow" (de Nasce uma Estrela) acabou sendo um dos pontos altos da noite. Ganhou merecidamente e Gaga fez um discurso comovente. 
Outro momento bonito foi o discurso totalmente improvisado de Olivia Colman, genuinamente emocionada e surpresa. A estrela de A Favorita torceu para que seus filhos estivessem vendo a premiação, já que ela ganhar um Oscar não ia acontecer novamente. Foi realmente um choque. A favorita era Glenn Close, indicada pela sétima vez. Fiquei triste por Close! 
A dama Helen Mirren manda
indireta à sinistra Damares
A entrega da estatueta de melhor filme surpreendeu um pouco, pois foi para Green Book. Talvez Roma tivesse um leve favoritismo. Apesar de Green Book ser um bom filme que condena o racismo, ele está longe de ter a mesma força de Infiltrado na Klan, ou mesmo de Pantera Negra. Mas, enfim, os prêmios foram bem distribuídos -- todos os oito indicados a melhor filme ganharam alguma coisa. Bohemian Rhapsody levou quatro estatuetas para casa; Pantera Negra, 3, Roma, 3 (incluindo uma inédita de melhor filme estrangeiro pro México), Green Book, 3, Infiltrados na Klan, 1, Nasce uma Estrela, 1, Vice, 1, A Favorita, 1. 
Vendo o pessoal me passar no bolão,
eu me senti  a maravilhosa Yalitza
Aparicio nesta cena
Quanto ao meu tradicional bolão do Oscar, foi bem emocionante também. No bolão pago, Geraldo saiu na frente, comigo na cola. Chegamos a empatar. Mas o que desequilibrou foi efeitos visuais para O Primeiro Homem (eu e Geraldo havíamos apostado em Vingadores). Claudemir, Júlio César e Joyce foram chegando perto e, no final, a vitória de Green Book deu a vitória do bolão para Claudemir, que acertou 16 das 20 categorias (Geraldo, Joyce e Júlio acertaram 15, e eu, 14). 
Claudemir, eu e Tatiana em
Floripa em 2013
Não tô chateada, já que Claudemir participa do meu bolão faz muitos anos (desde 2005!). Ele ganhou uma vez, em 2008, e agora vence de novo. Parabéns, Clau! Eu o conheci pessoalmente numa palestra na UFSC. Lembro quando ele morava em Pomerode e tinha que se deslocar até Blumenau para conseguir ver alguns dos indicados do Oscar. Valeu, Clau! Me manda a sua conta por email que eu deposito R$ 325. 
No bolão grátis, que reuniu 258 participantes, os vencedores foram Maria Barros, Bruna Miranda, e Lincoln, também com 16 acertos cada. Tomara que vocês entrem no bolão pago em 2020!
Bom, gente ótima, ano que vem tem mais! Mais uma vez agradeço ao Júlio César pela organização do bolão! Este ano ele não escapa: vou conhecê-lo em Maceió!
Venham pegar seu prêmio!