E o caso "Will Smith estapeou Chris Rock no Oscar" continua dando o que falar.
Will lançou nota pedindo desculpas (desta vez diretamente a Chris Rock também), chamou seu comportamento de "inaceitável e imperdoável", disse que reagiu emocionalmente com a piada sobre uma condição médica de Jada, e admitiu que errou: "Minhas ações não são indicativas do homem que eu quero ser. Não há lugar para violência num mundo de amor e gentileza".
Enquanto a Academia ainda analisa se vai punir Will de alguma forma (perder a estatueta já foi descartado), um amigo de Chris alegou que o comediante não sabia que Jada tinha alopecia, que provoca queda de cabelo. Ele provavelmente vai pedir desculpas a Jada em breve, espero.
Como lembrou bem este artigo de Débora Nascimento, Chris é o autor de um excelente documentário, Good Hair, de 2009, que ele fez para sua filha. Ele deveria entender a importância do cabelo para as mulheres negras. E evidentemente, mais uma vez, Will não deveria ter reagido como reagiu.
Incrível como apesar de todos os pedidos de desculpas do ator, ainda há gente muita gente nas redes sociais que insiste no "apanhou foi pouco". Isso e a "defesa sagrada da honra da família" eu espero de bolsonaristas, não de gente de esquerda.
Por falar em bolsonaristas, algo que descobri é que mascus e neonazis do mundo inteiro odeiam o Will Smith (odeiam o Chris também, óbvio, por ser negro). Só tem uma pessoa que eles odeiam mais que o Will: a Jada Pinkett-Smith. Parece que o casal tem um relacionamento aberto, o que é incompreensível para incels (relacionamento? o que é isso?). Portanto, se a Jada saiu com alguém, pra eles, isso faz dela uma adúltera que deveria ser apedrejada, e faz do Will um "corno manso". Logo, tudo que aconteceu no Oscar é explicado através dessa lógica irredutível.
Mas é realmente lastimável que o 94o Oscar tenha sido reduzido a um tapão. Teve coisas boas, como reunir Liza Minelli e Lady Gaga no final. Adorei a Jenny Beavan ganhar melhor figurino por Cruella. Lembra quando ela foi receber de jeans a estatueta por Mad Max? E sempre gosto da parte "in memoriam", quando lembram quem partiu. Pra mim é sempre uma mistura de "não sei quem é", "não sabia que ele ainda estava vivo", e "putz, que droga, ele morreu?".
Uma coisa que odiei foi isso de dar oito prêmios fora da cerimônia. Foi confuso, não serviu pra nada (mesmo tirando e editando essas premiações, a cerimônia de anteontem ainda foi 21 minutos mais longa que a do ano passado), é desrespeitoso com os profissionais, e é basicamente um estraga-bolão. Tira toda a emoção!
Achei o trio de apresentadoras -- Regina Hall, Amy Schumer, Wanda Sykes -- meio sem graça. Teve algumas piadas boas, como a da Sykes ("vi Ataque dos Cães três vezes e já estou quase na metade") e da Schumer ("parabéns a Aaron Sorkin pela inovação de fazer um filme sobre Lucille Ball sem um momento sequer de graça"). E gostei da tirada "Este ano, a Academia contratou três mulheres pra apresentarem o Oscar porque é mais barato que um homem". Mas a piada de chamar atores bonitões pra fazer teste de covid não funcionou muito bem. Ah, e aquilo de dar prêmio pra melhor filme do público também falhou.
Foi bonita a vitória de Ariana DeBose, a primeira atriz declaradamente lésbica a ganhar, e também a primeira latina negra, e também a de Troy Kotsur, mais ou menos repetindo o feito de Marlee Matlin de 1986: "Isso é dedicado à comunidade surda, a comunidade CODA (crianças de pais surdos), a comunidade com necessidades. Este é o nosso momento!" E, como essas vitórias vieram antes do tapa, todo mundo estava prestando atenção. Jessica Chastain e Jane Campion (a terceira mulher a vencer na categoria melhor direção) não tiveram a mesma sorte, tadinhas.
O grande vencedor da noite foi No Ritmo do Coração, que foi indicado pra três prêmios e ganhou os três (filme, roteiro adaptado para a diretora e roteirista Sian Heder, e ator coadjuvante para Troy), se bem que Duna levou 6 estatuetas. Continuo achando Ataque dos Cães bastante superior. Aliás, foi a primeira vez em 94 anos que um filme que não foi indicado a melhor direção nem edição ganhou melhor filme!
E bem que o Júlio César, organizador do meu tradicional bolão do Oscar, tinha advertido na semana passada: "Talvez Ataque dos Cães só ganhe um Oscar, o de direção pra Jane". Acertou! O bolão pago foi bem concorrido. Metade dos participantes ficaram com 100% dos acertos até a décima categoria, por aí. Mas roteiro original (para Belfast) e adaptado (para No Ritmo do Coração) e atriz foram categorias decisivas. No fim, com a vitória de No Ritmo do Coração, Júlio César ganhou o bolão sozinho, com 18 acertos (em 19 categorias). Pedro, Claudemir, Rafael, Milena, Caio, Janaína e eu ficamos logo atrás, com 17.
Fico muito feliz pelo querido Júlio, que organiza o bolão desde 2009, mas participa desde muito antes. Ele só havia ganhado uma vez, em 2011, e mesmo assim empatado. Agora ganhou só. Parabéns, Júlio César! Vocês podem ver todas as tabelas com os resultados aqui.
E parabéns ao Henrique Klein, que acertou TODAS as 19 categorias no bolão grátis! Felipe, Karlos, Alessandro, e Francisco ficaram em segundo lugar, com 18 acertos. Se toda essa multidão não tivesse sido tão pão-dura e tivesse apostado no bolão pago, hoje estaria rica! Quer dizer, talvez não. Mas teria uns trocados no bolso. Quem sabe ano que vem?