Bom, com o filme é diferente: ele funciona. Pelo menos o primeiro terço é ótimo, com um ritmo frenético e tiradas hilárias (só o Homer fazendo seu porco de estimação imitar o Homem-Aranha já vale o ingresso). Mais pra frente cansa, e o humor só se recupera no final.
Antes de continuar, preciso falar do maridão. Tadinho, o inglês dele ainda deixa a desejar. Outro dia vimos um cartaz escrito “No dumping”, e perguntei pra ele o que ele achava que isso significava. Ele explicou que dumping é quando as empresas estabelecem um monopólio pra ludibriar o consumidor. Eu: “Acho que isso é cartel, mas por que colocariam uma placa dessas numa feira livre?”. Vendo “Os Simpsons” dá pra entender bem o que é dumping (a placa “No dumping” surge diversas vezes): é despejar coisas. Ao entrar na sessão o maridão ficou com medo de não entender patavina no seu primeiro programa sem legendas, e eu tentei tranquilizá-lo: “Calma, amore. Vai ter várias gags pra você captar. Tem muito humor físico!”.
E de fato tem. Mas também tem um humor mais refinado, verbal, que a gente pode até perder se não prestar atenção. Por exemplo, quando um carinha lento das idéias pergunta pro ministro do meio ambiente como ele (o bobão) consegue fazer um truque banal com os dedos, o ministro responde: “Quatro gerações de cruzamentos entre membros da mesma família”. Não que o ministro seja um modelo de sabedoria. Inteligente mesmo só a Lisa, e ninguém a ouve. É interessante que qualquer mulher na série seja mais esperta que todos os homens juntos (até o Bart, que está caminhando pra se tornar um mini-Homer). O religioso Flanders é bastante sábio como pai, até pôr tudo a perder ao declarar que os cachos de seus filhos se assemelham ao “cabelo do demônio”. A direita cristã definitivamente é burra. E isso que o filme nos poupa da presença do Bush. O presidente em questão é o Schwarzenegger, que à certa altura diz ter sido eleito pra liderar, não pra ler (“lead, not read”).
Mas, enfim, a cidade fictícia de Springfield é todo e qualquer subúrbio da América (que não inclui o Alasca). É bom que eles consigam rir das suas próprias limitações. E “Os Simpsons” traz até uma mensagem útil, em que o Homer afirma, já nos créditos: “Muitas pessoas deram duro pra fazer este filme. Tudo que elas querem é que a gente fique sentada aqui e memorize o nome delas”. E só eu que senti uma crítica velada ao embargo à Cuba, quando a comédia mostra uma Springfield cercada sofrendo? Tá, talvez eu esteja viajando. E tô mesmo. Tô nos States!
P.S.: “South Park: Maior, Melhor e Sem Cortes” (1999) é bem superior à passagem dos Simpsons pro cinema. Mas sou suspeita pra falar porque adoro musicais, e “South Park” é um musical de primeira, com ótimos números e canções. Embora o longa esteja um pouquinho datado agora que Saddam Hussein está morto e o Clinton não é mais presidente, basta lembrar o que os quatro meninos cantam ao ir ao cinema: “Lá vamos aprender tudo o que sabemos”. Não é pra se identificar com essa letra?