Em meio a tantas notícias ruins, de vez em quando aparece na mídia alguma boa ação, algum ato de heroísmo, ou alguma conquista em determinada área. A maioria dessas notícias é centrada nos homens; não quero dizer que eles não mereçam reconhecimento, mas nas raras vezes em que a mídia destaca ações de mulheres, não dão a mesma proporção, o que evidencia, a meu ver, um total menosprezo e desvalorização destes feitos.
Essa situação fica bem mais clara quando chega o dia internacional das mulheres. Listas com nomes de mulheres revolucionárias e importantes na história acabam se repetindo todos os anos. Com isso se cria aquela impressão de que pouquíssimas mulheres fizeram ou fazem algo para contribuir com a sociedade. Esse sentimento não deixa de ser mais uma forma de alimentar estereótipos negativos a respeito das mulheres e, infelizmente, muitas pessoas tomam essas mentiras como verdades.
Provavelmente toda feminista já deve ter lido ou ouvido pelo menos alguma vez comentários de que os homens criaram tudo que existe, que são superiores em tudo, que as mulheres nunca fizeram/ criaram/ salvaram nada e ninguém. São vários comentários machistas que alegam a superioridade masculina e a inferioridade e ingratidão feminina. O mais surpreendente é ver que existem muitas mulheres que concordam e compartilham esse tipo de pensamento, sem nem se importar com o fato de que essas calúnias não falam mal exclusivamente de feministas e sim das mulheres em geral.
Fazendo uma rápida pesquisa na internet, constatam-se inúmeros exemplos de mulheres do passado e da atualidade que fizeram e fazem grande diferença na sociedade e em diferentes áreas, a sua própria maneira. Mas uma coisa que me surpreendeu foi ler algumas pesquisas que afirmam que a maioria das pessoas que se envolvem em trabalhos voluntários são mulheres. Sempre que eu participo de algum trabalho voluntário ou mesmo de alguma ação social, vejo muito mais mulheres doando e arrecadando itens para ONGs e se mobilizando para desenvolver projetos e colocá-los em prática.
O voluntariado é apenas uma parcela do que nós mulheres fazemos ou podemos fazer. Hoje em dia, estamos em praticamente todas as áreas -- o que ainda falta é respeito e reconhecimento da nossa capacidade.
Selecionei apenas alguns exemplos de mulheres da atualidade que de diferentes formas contribuem para melhorar a sociedade, e que dedicam suas vidas às causas que acreditam:
- Margaridas: as Margaridas são um grupo formado por trabalhadoras rurais, quilombolas, extrativistas e indígenas. Elas lutam por desenvolvimento sustentável com democracia, justiça, autonomia, igualdade e liberdade. Todo ano protagonizam a Marcha das Margaridas, onde reivindicam “garantia permanente a alimentos de qualidade e em quantidade suficiente, sem comprometer outras necessidades essenciais;
acesso à terra e valorização da agroecologia, uma educação que não discrimine as mulheres, o fim da violência sexista, o acesso à saúde, a ser ou não ser mãe com segurança e respeito; autonomia econômica, trabalho, renda, democracia e participação política”.
acesso à terra e valorização da agroecologia, uma educação que não discrimine as mulheres, o fim da violência sexista, o acesso à saúde, a ser ou não ser mãe com segurança e respeito; autonomia econômica, trabalho, renda, democracia e participação política”.
A marcha das Margaridas é uma homenagem à Margarida Maria Alves, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Alagoa Grande, na Paraíba. Ela foi assassinada em 12 de agosto de 1983 a mando dos latifundiários da região. Lutou pelo fim da violência no campo, por direitos trabalhistas como respeito aos horários de trabalho, carteira assinada, 13º salário, férias remuneradas.
- Maria Elena Pereira Johannpeter: preside a Parceiros Voluntários, uma ONG que tem como objetivo capacitar outras ONGs e instituições para que sejam autossuficientes e produtivas. Ela incentiva a cidadania e também instiga as mulheres a participarem da política, não só como eleitoras, mas como candidatas. Ganhou vários prêmios, entre eles a medalha Pacificador da ONU.
- Theresa Kachindamoto: supervisora de um distrito no Malawi, líder feminista, conseguiu em um período de três anos anular 850 casamentos infantis, e conseguiu levar todas as crianças de volta à escola. Ela reuniu os 50 subchefes do distrito para que eles assinassem um acordo que abolia o casamento precoce e também anulasse todos os casamentos infantis já realizados na área em que ela é responsável.
Ela conscientiza os pais de meninas para que elas possam frequentar a escola, e quando a família não tem condição financeira, ela consegue ajuda com mães e pais secretos, que pagam os custos escolares para as meninas. Também conseguiu abolir rituais que iniciam meninas sexualmente, sendo, às vezes, menores de 7 anos, e que são intitulados "rituais de limpeza". Atualmente, luta para que a idade mínima para se casar passe de 18 para 21 anos.
- Think Olga: Segundo a própria página, o objetivo é criar conteúdo que reflita a complexidade das mulheres e as trate com a seriedade que pessoas capazes de definir os rumos do mundo merecem.
A missão é empoderar mulheres por meio da informação e retratar as ações delas em locais onde a voz dominante não acredita existir nenhuma mulher. A luta é para que as mulheres possam ter mais escolhas. Nunca menos. Bem como garantir que elas façam suas escolhas de maneira informada e consentida, sem que nunca tenham que pedir desculpas por tais decisões. Tanto a página na internet, quanto o canal no youtube, trazem matérias sobre direitos, história, empreendedorismo.
- Vamos Juntas. Esse movimento tem como objetivo estimular a sororidade, a união entre mulheres. A página no Facebook reúne vários relatos de mulheres que ajudaram ou foram ajudadas por outras mulheres em diversas situações, principalmente de assédio. Muitas mulheres vem se espelhando nesse movimento e criando empatia por outras mulheres, o que contribui para desestimular a rivalidade feminina que nos é ensinada desde criança.
- Meena: é uma personagem de ficção, mas quero aproveitar o espaço para falar sobre ela. O desenho, tanto o animado quanto o de revistas em quadrinho, foi criado pela UNICEF como uma campanha de conscientização para melhorar a vida das meninas e mulheres no sul da Ásia. As histórias abordam de maneira educativa temas como trabalho infantil, igualdade de gênero, saneamento básico, exploração sexual, Aids.
Segundo a página da UNICEF, após verem o desenho, muitos pais passaram a permitir que suas filhas frequentassem a escola, e criou-se uma empatia maior entre as mulheres. Todos os problemas abordados ainda existem e infelizmente as histórias ainda são muito atuais, e é possível perceber muitas semelhanças entre o sul da Ásia e comunidades mais pobres no Brasil. Dá para encontrar todas as revistinhas e cartilhas para baixar de graça na internet, mas estão em inglês. Eu recomendo muito para quem trabalha com educação infantil.
Esses são apenas alguns exemplos.
Segundo a página da UNICEF, após verem o desenho, muitos pais passaram a permitir que suas filhas frequentassem a escola, e criou-se uma empatia maior entre as mulheres. Todos os problemas abordados ainda existem e infelizmente as histórias ainda são muito atuais, e é possível perceber muitas semelhanças entre o sul da Ásia e comunidades mais pobres no Brasil. Dá para encontrar todas as revistinhas e cartilhas para baixar de graça na internet, mas estão em inglês. Eu recomendo muito para quem trabalha com educação infantil.
Esses são apenas alguns exemplos.
Para quem tem interesse em ajudar de alguma forma, mas não sabe como, existem maneiras como: criar ou participar de alguma ONG, votar de maneira consciente, cobrar dos políticos, se candidatar a algum cargo político na área de interesse; criar grupos de apoio para determinados grupos; ter empatia; escrever textões, denunciar crimes, não se calar diante de injustiças; criar abaixo-assinados, participar de protestos; dar o exemplo (leiam sobre o efeito Genovese); valorizar e divulgar as boas ações dos outros, ainda mais se forem mulheres.
Não importa o que você faça, ou pelo que você lute, sempre existirão críticas, cobranças excessivas, sempre dirão que existem causas mais importantes. Dependendo da situação, até existirão ameaças de morte. Mas não se deixem afetar por isso, pois quem critica muitas vezes não faz nada por nada e nem por ninguém. Também é bom lembrar que vivemos em uma sociedade e que para conseguir bons resultados, é importante mobilizá-la. Não é eficiente e nem saudável tentar mudar o mundo sozinha.