segunda-feira, 31 de março de 2008

ASSINATURA DE REVISTA QUASE DE GRAÇA

Qual não foi minha surpresa ao pagar o sutiã de 5 dólares na loja (em setembro) e a atendente perguntar se eu queria receber a assinatura grátis de uma revista por três meses? Era só escolher a revista. Tinha Time, Marie Claire, Entertainment Weekly, Sports Illustrated, revistas famosas. Acho que optei pela Entertainment, mais conhecida como EW. Aí a atendente disse que eu podia pegar mais duas assinaturas. Escolhi a Time (essa capa aí do lado é satírica, infelizmente) e uma revistinha horrenda, a Jet (que é pro público negro. Pensei que teria artigos legais; me enganei: é tudo curtinho e superficial). Mas enfim, por uma compra de 5 dólares recebi 3 assinaturas que começaram a chegar ao meu apê algumas semanas depois. Só que, como americano não dá muita coisa de graça, foi bom ficar atenta. Outro envelopinho que chegou foi um papelzinho com letras minúsculas, de bula de remédio mesmo, avisando que, a partir de janeiro, essas publicações cobrariam algo como 140 dólares pra prorrogar minha assinatura até 2009. A cobrança iria aparecer diretamente no meu cartão de crédito (o que usei pra pagar o sutiã). Se eu não quisesse, não tinha problema: era só ligar pra eles e cancelar. Sabe quando? Entre o dia 29 e 31 de dezembro! Véspera de reveillon, e a pessoa tem que se lembrar de ligar pra cancelar uma revista que “assinou” há três meses! Mas claro que eu lembrei. Comigo não, gavião! Liguei, falei com uma máquina, pra variar, e cancelei. Logo começaram a chegar ofertas implorando pra que eu continuasse assinando as revistas, agora com um desconto muito mais substancial. Eu só decidi renovar a EW (agora já estou arrependida), por 20 dólares por um semestre. A Time, desesperada, acabou oferecendo a assinatura até agosto por apenas 10 dólares! E a Jet é tão fraquinha que não quero nem de graça.

Mas compare esses preços com as assinaturas de jornais e revistas no Brasil. Existe alguma revista brasileira que custe 20 ou 30 dólares (menos de 50 reais) pruma assinatura anual? E olha que a EW e a Time são semanais! Por 30 dólares, você recebe 50 edições da revista. Aqui, se o desconto pra assinatura não for de no mínimo 40% em relação ao preço de banca, ninguém assinaria. E na hora de renovar, o valor fica ainda menor. Porque é óbvio que deve haver um enorme desconto. Quando a gente assina uma revista, está dando um cheque em branco, dizendo que quer continuar lendo-a independente dos artigos que vier a publicar. É uma vantagem monumental pra revista. Se no Brasil não houvesse o monopólio da Abril, a história seria diferente.

HOMENS QUE ODEIAM MULHERES

Isso é antigo, aconteceu no ano passado, mas eu só vi sábado. Desculpe, sou meio lerdinha. Num programa de rádio, os apresentadores e um dos ouvintes se divertiram à vontade falando atrocidades. Entre outras coisas, disseram que adorariam “f**** aquela vadia da Condoleezaa Rice [secretária de Estado] até à morte”. Fantasiaram sobre o horror no rosto dela quando percebesse o que estava acontecendo, enquanto a seguravam, batiam nela, e gritavam “Cale-se, vadia!”. Não preciso nem mencionar que esses comentários geraram muitos protestos, e o programa até perdeu (merecidamente) alguns anunciantes. Uma mulher reclamou no seu blog que estupro não é algo engraçado, e narrou como foi violentada aos 16 anos, quase “até à morte”, deixada numa poça de seu próprio sangue, o que, por algum motivo, não é uma lembrança que lhe faça rir. Como eu já disse, toda mulher tem uma história de horror pra contar, então o caso dela não é único. O que me chamou a atenção foi a imensidão de comentários que essa mulher recebeu de homens incrivelmente agressivos. Alguns destaques que eu traduzo:

Sua experiência de ter sido estuprada é absolutamente irrelevante”.

Ninguém no programa de rádio usou a palavra 'estupro'. Falaram de segurar a mulher e do horror no seu rosto, mas isso não tem nada a ver com estuprar”. [Não, claro, isso é fazer amor].

Você é uma vaca gorda sem senso de humor”.

Você é uma mentirosa. Inventou essa história pra promover o seu feminismo. Mas se por acaso você não estiver mentindo, pelo menos uma vez na sua vida patética você conseguiu ser útil”.

'Estuprar alguém até à morte' é apenas uma expressão. Significa f**** uma fêmea tão bem que ser f***da de novo é a única coisa importante pra ela. E isso é basicamente o que toda garota quer, transar tão gostoso que ela tem que idolatrar o pênis. Você sabe que é verdade”.

Ouça, sua vadia, você obviamente não faz a menor idéia do que está dizendo. Você é uma imbecil irracional e emotiva incapaz de raciocinar sobre qualquer coisa. Você não deveria estragar a vida de outras pessoas à sua volta”.

Não minta só porque ele te abandonou depois de ter acabado. Foi a melhor transa que você já teve”.

Espero que você pegue AIDS quando for estuprada por um sem-teto nos becos de NY, sua vadia”.

A única tragédia é que um tiro não acabou com você depois de ter sido usada pra única utilidade que você tem no mundo. Você deveria se considerar sortuda que algum homem achou uma ogra horrorosa como você 'estuprável'”.

Uma pena que o estuprador não te matou, sua vaca”.

Alguém deveria jogar todas essas vadias fracassadas numa máquina de lavar com o Magic Johnson [porque ele tem AIDS] e um monte de navalhas junto”.

Feminazis como você estão arruinando este país [EUA]”. [Já é a terceira vez que ouço esse termo, mistura de feministas com nazistas. Deve estar na moda. Se você ainda não está convencido(a) do horror desses comentários, tem mais aqui].


O que tenho dificuldade pra entender é o porquê de tanto ódio. Me impressiona que, onde houver um relato de uma mulher violentada, haverá dúzias de homens que sentem-se no dever de deixar claro que aquela mulher é uma mentirosa e/ou teve sorte de algum cara se interessar por ela. Tá, sei que há muitos adolescentes na internet que adoram redigir as bobagens mais atrozes apenas para chocar. Mas ninguém destila tanto ódio no vácuo. É impossível escrever “uma pena que o estuprador não te matou” ou declarar a famosa “estupra, mas não mata” do Maluf sem estar expressando uma parte do que você acredita. E certamente nem todos os trogloditas que mandaram as observações acima eram teens brincando de ofender. Tem adulto no meio, e aí eu volto a minha hipótese dos bullies que sentem saudades dos seus tempos de escola, quando podiam pisar nas suas vítimas. Ao crescer, esses bullies se aproveitam do anonimato da internet. Mas por que tantos homens odeiam as mulheres?

Eu sou feminista, ou feminazi, se preferir, desde que me conheço por gente. Tenho desenhos meus de quando eu mal sabia escrever defendendo o “poder da mulher”. Não li tantos livros feministas como devia. Mas recentemente li um clássico da década de 70, The Female Eunuch (A Mulher Eunuco) da Germaine Greer, que diz, com todas as letras, uma frase com a qual concordo 100%: “nós mulheres precisamos deixar de ser as maiores aliadas do capitalismo”. Há vários outros pontos válidos nesse livro obrigatório (e pouco datado). Mas o que mais me devastou foi quando ela cita uma passagem inteira do romance Última Saída para Brooklyn, do Hubert Selby Jr. É a passagem terrível em que a prostituta Tralala é violentada por dezenas de homens, que fazem fila não apenas para estuprá-la, mas também para bater-lhe no rosto, quebrando seus dentes, e para enfiar-lhe uma garrafa na vagina (o filme de 1989, Noites Violentas no Brooklyn, com Jennifer Jason Leigh, felizmente é menos explícito). Germaine Greer usa essa passagem para apontar que ninguém odeia as mulheres mais do que nós mesmas. Hmm, tenho dúvidas. Podemos abominar nossos corpos, é verdade, mas alguma mulher escreveria pra uma vítima de estupro chamando-a de mentirosa e dirigindo-lhe todos os abusos acima? Não acredito. O que vejo é como o que somos determina o que acreditamos. Por exemplo, fico chocada ao ver críticos homens aparentemente bem-intencionados, pouco parecidos com os trogloditas de plantão, que quando falam sobre Última Saída para Brooklyn “resvalam” em observações como “Tralala provocou os homens e sabia o que ia acontecer”. Pois é, só tem uma coisa que prostitutas gostam de fazer mais do que transar – serem violentadas.

Com tanto ódio espalhado por aí, detesto ouvir mulheres chamando umas às outras de “vadias”, mesmo de brincadeira. Ou ouvir isso sobre as mulheres vindo de gays. Ou de negros. Ou de qualquer minoria. Já é ruim o suficiente saber que tantos homens brancos e heteros odeiam mulheres a ponto de pensar que o jeito como nos vestimos equivale a “pedir pra ser estuprada” (uma pesquisa mostra que 83% dos universitários americanos concordam com essa afirmação). Mas voltando a minha perplexidade inicial: por que tanto ódio de certos homens contra as mulheres? As mães os trataram mal? Trataram-os bem demais e nenhuma mulher é páreo praquela santa? Foram dispensados por muitas mulheres? Eles se casaram e suas esposas deram de mandar neles? Tá duro competir com tanta mulher no mercado de trabalho? (não se preocupem, a gente ainda ganha menos).

domingo, 30 de março de 2008

DEVANEIOS SOBRE NÚMERO DE VISITAS E AUSÊNCIA DE COMENTÁRIOS

Já reclamei que me falta um parâmetro pra saber se o blog está sendo bem visitado ou não. Quando meus textos eram postados no Lost Art e (brevemente) no Antigravidade, eu não fazia a menor idéia do número de visitas. Portanto, agora fico sem saber se a média de 130, 140 visitas por dia tá legal. Parece uma boa média, só que o número não sobe. E, pra um blog novo com dois meses de idade, pode ser um bom número, mas eu não considero meu blog tão novo assim. Afinal, venho publicando coisas na internet desde outubro de 2000. Cadê os meus leitores(as)? Será que nunca tive muitos? Alguns devaneios passaram pela minha cabeça nos últimos dias:

- O maior número de visitas do blog foi 190, na segunda após o Oscar. Fiquei contente, até descobrir que o blog do New York Times sobre o assunto (agora desativado) recebeu 6 milhões de visitas naquele dia. Ok, ok, não tô me comparando com o NYT, mas é que um número assombroso desses põe em perspectiva a minha insignificância.

- E por que a frequência cai tanto nos finais de semana, principalmente aos sábados? Tantos leitores só têm internet no escritório? Dá vontade de nem publicar nada nesses dias.

- O Stuff White People Like, do qual já falei aqui, é um dos maiores fenômenos recentes da internet. Em dois meses de site recebeu 15 milhões de visitas. Cada post gera entre 170 e 700 comentários de leitores. Ninguém sabe quanto tempo o site vai durar, porque um tema desses pode se esgotar rapidinho. Mas o autor, um canadense de Toronto (aqui perto), vai publicar um livro em agosto, graças ao sucesso na internet. Ele tem dado algumas entrevistas. Numa delas, um repórter perguntou quanto ele já lucrou com o site. Resposta: 13 dólares! Um dólar pra cada milhão de visitas, em média. Não dá mesmo pra ganhar dinheiro com a internet?

- Um rapaz de um outro blog colocou um comentário no Stuff com o seu endereço. O número de visitas subiu muito só por causa disso (o rapaz disse que, em um ano e meio de blog, teve um total de 7 mil visitas, e geralmente nenhum comentário dos leitores nos posts). Eu tentei seguir seu conselho e fiz isso - pus um comentário do meu blog no Stuff. Tudo bem que já era o comentário número quinhentos e tanto, e como diz o Caetano, quem lê tanta notícia? Recebi três visitas de leitores de lá. Sei que é uma infantilidade, porque o pessoal que visita a gente e nunca mais volta (como os muitos que vêm pra cá via sites de busca) não acrescenta nada.

- Imagino que blogs médios e grandes em inglês quase sempre terão um número maior de visitas que seus equivalentes em português. Quero dizer, eu leio alguns (poucos) blogs escritos em inglês, mas duvido que haja muitos americanos lendo blogs em português...

- Um que costumo ver é o The Film Experience, que é bem fofinho. Saiu na revista/bíblia gay The Advocate (porque o blogueiro é gay) que o site tem 75 mil visitas por mês, o que dá umas 2,500 visitas diárias. Mas eu observei que os posts não geram tantos comentários, às vezes dez, às vezes trinta, com sorte. Então é mais ou menos esse o cálculo? Só um ou dois porcento dos leitores que passam pelo blog se dignam a deixar um comentário?!

- Aí eu li um post da Ollie no As Metamorfoses do Psiquê explicando que liquidou um blog que tinha sobre o Big Brother porque havia uma panelinha entre os blogs maiores com o mesmo tema. Isso eu não entendi direito, mas achei muito interessante sua observação sobre como fazer com que o blogueiro perca a vontade de escrever: “Quer matar um blog? Leia e nunca comente”. É realmente chato não ter feedback dos leitores. Dessa forma não há comunicação.

- Tô com um atraso de dois meses pra colocar links de outros blogs no meu. Agora que a Liris me ensinou a fazer enquetes, pôr lista de blogs pra visitar não deve ser difícil. Mas fico em dúvida sobre quais blogs incluir. Meu critério inicial será a frequência que o blogueiro escreve (pelo menos duas vezes por semana?) e relevância. O que você acha? Aceito sugestões. Sou completamente inexperiente nisso.

ESQUILINHOS E ESPECTROS

O maridão tirou várias fotos desta árvore, crente que havia um esquilinho no meio.

Na realidade, o esquilinho estava lá em cima. Levou umas cinco fotos até o maridão notar.


Mas pobrezinho, não do esquilinho, e sim do maridão. Ele comprou uma câmera nova da Fuji por 157 dólares, que chegou pelo correio faltando vários itens, e com um manual xerocado. O maridão desconfiou, já que pagou o preço de uma câmera nova, não reformada. A comprovação veio ontem, quando ele tava passando as fotos esquilísticas pro computador. Tinha fotos do último dono! É tão sinistro ver na sua câmera fotos que não são suas. Felizmente não havia nada impróprio, mas existia um quarto que nunca vimos mais gordo, uma pessoa deprê, e uma espécie de espectro. Sério, parecia um fantasminha passando em frente à lente. Dá pra fazer um filme de terror com o material.

sábado, 29 de março de 2008

“YOU HAD ME AT HELLO”

Por nenhum motivo específico, decidi colocar uma enquetezinha relacionada ao Tom Cruise. Sou fã do Tom, tá? Não ligo que ele seja ligado a seitas estranhas como Cientologia, que ele tenha dado vexame na Oprah ao declarar seu amor pela Katie Holmes, que tenha criticado a Brooke Shields por ter depressão. O cara tem que ser bom ator e inteligente, ou senão não faria sucesso há tanto tempo. Compare a carreira do Tom com a dos outros jovens atores que participaram de Vidas sem Rumo, em 1983. Ralph Macchio fez Karatê Kid e mais nada. Rob Lowe até que ia bem, até o escândalo sexual. Emilio Estevez tenta sobreviver como diretor. Patrick Swayze teve seus momentos de grande destaque com Dirty Dancing e Ghost, mas nunca foi constante (agora luta contra o câncer. Torço por ele). Matt Dillon, elogiado pela crítica por Drugstore Cowboy, no fundo não manteve a aura da década de 80. C. Thomas Howell esteve ótimo em A Morte Pede Carona, e depois deve ter morrido, coitado. O Tom continua firme e forte desde, hã, Ases Indomáveis. Ou antes. Ele começou em Amor sem Fim, mas até hoje não consigo reconhecê-lo no filme (ele tem alguma fala?). Dos anos 80, o filme que mais gosto com ele é A Cor do Dinheiro mesmo. Na década de 90, fico dividida entre sua atuação em Jerry Maguire e Magnólia (acho que o Kubrick faleceu antes de terminar De Olhos Bem Fechados). De 2000 pra cá, meu favorito deve ser Minority Report. De qualquer jeito, pensando bem, poucos atores tiveram o privilégio de atuar em tantos filmes bons. Se houver alguma vez na vida que vou me identificar com a Renée Zellweger, é quando ela interrompe o discurso romântico do Tom em Jerry pra explicar que ele a conquistou quando entrou pela porta (ela diz “You had me at hello”). É assim que me sinto com ele. Critica, vai. Quero só ver. Quequié, só crítico homem pode babar pelas estrelinhas?

CRI-CRITICANDO TRAILER: AGENTE 86

Leia a crítica do filme aqui.

Vi o trailer de Agente 86 (Get Smart) no domingo passado e achei fraco e quase nada engraçado (veja o trailer aqui). Talvez tenha sido pela má companhia do trailer de Love Guru, que me fez falar pro maridão, “Esse eu não vejo nem que me paguem”. Mike Myers, Jessica Alba e Justin Timberlake no mesmo filme? O que é isso, uma competição pra pior atuação da temporada? Parece um aviso pessoal pra mim, como se fosse uma placa de “Lolinha, Mantenha Distância”. Obviamente Agente deve ser melhor que Guru, certo? Mas o Claudemir (sim, eu ainda falo com ele, apesar do meu vexame no bolão do Oscar) tem razão: ainda que o trailer não seja grande coisa, o teaser de Agente é divertido (veja aí embaixo). Pra quem não sabe, teaser é um mini-trailer, um comercialzinho só pra dar água na boca, sem descrever o produto. Pode ser que, por eu preferir ver um filme sabendo o mínimo possível sobre ele, eu goste mais de teasers que de trailers. Mas é um pouco preocupante quando, ao estenderem a exibição, um trailer perde a graça. O que esperar de um filme de uma hora e meia, então? Adoro o Steve Carell, e não tenho nada contra a Anne Hathaway (tampouco muito a favor, até agora). O Agente 86 na TV era fofinho, mas um clássico que mereça ser refilmado? Hmm... Espero que não vire apenas uma paródia do 007, porque se for só isso será um Todo Mundo em Pânico com atores mais bem-pagos e uma musiquinha cult. Pro trailer, dou nota 2. Pro teaser, 3. Pode 3 e meio?


BOA NOTA DÁ DINHEIRO

Já há vários estados americanos, a começar por Nova York, que dão incentivos financeiros a alunos que tiram boas notas em testes estaduais e nacionais. Não é muito dinheiro, algo como 30 a 50 dólares por aluno, mas pra uma criança na quarta série deve ser uma fortuna. Num país tão obcecado por competição e dinheiro como aqui, não parece uma boa idéia recompensar alunos dessa forma. Professores também recebem um bônus que pode chegar a 3 mil dólares. O que acontece? Muitos professores passam a ensinar focando resultados no teste. É como uma das muitas escolas brasileiras que dão suma importância ao vestibular. Um amigo meu foi a uma delas, em Joinville, buscar informações para matricular sua filhinha. Lá falaram pra ele, orgulhosos: “Aqui preparamos os alunos pro vestibular desde a primeira série”. Puxa, que maravilha, não? Onze anos de estudo dedicados a passar num único exame. Meu amigo saiu de lá correndo.

sexta-feira, 28 de março de 2008

TODA SEXTA TEM ESTRÉIA

As três estréias nacionais da semana nos EUA estão melhores que o normal. Bom, pelo menos duas. Hoje chegam às salas americanas Stop-loss (veja minha crítica do trailer) e 21. A terceira estréia é uma que vou passar longe: Superhero Movie, que soa igualzinha aos Todo Mundo em Pânico e Espartalhões da vida, com a única diferença que esta satiriza aventuras de super-heróis. Vi o trailer do carinha imitando o Homem-Aranha e, olha, aqueles breves minutos já foram uma experiência dolorosa. Mas Stop-Loss eu vou ver, ainda que mais pela direção da Kimberly Peirce (Meninos Não Choram) que pela presença do Ryan Phillippe ou pelo tema (soldados americanos? Mais uma visão made in USA sobre a Guerra do Iraque? Poupe-me!). 21 certamente promete. Acho chato apenas que já vi o trailer umas dez vezes, e em todas as dez contam a história inteirinha, começo, meio e fim. Mas tomara que o charme do Jim Sturgess (Across the Universe) e o tema (ganhar dinheiro fácil, em cassinos) segurem meu interesse. Tanto 21 como a comédia acéfala estão previstos pra passar no Brasil 18 de abril. Já Stop-Loss, inicialmente marcado pra 9 de maio, parece estar sem data definida.
Também chegaram a Detroit três produções menores, com distribuição limitada: Married Life, um drama passado na década de 40, com o Pierce Brosnan, Patricia Clarkson e Chris Cooper no elenco; Run Fat Boy Run, que, a julgar pelo trailer, parece um tanto estúpido (e o "garoto gordo" do título não é gordo nem garoto); e Sleepwalking, em que a Charlize Theron só faz uma pontinha, e depois temos de aguentar o Nick Stahl pelo resto da projeção (mas parece ser um dramalhão cativante).

Hoje no Brasil há a estréia de Jumper e Paixão Proibida, e também de Atos que Desafiam a Morte e A Família Savage. As críticas desses dois últimos vou ficar devendo, porque não vi os filmes quando passaram no cinema. Ambos serão lançados em DVD nos EUA este mês. Savage vale a pena pelo elenco: Laura Linney e Philip Seymour Hoffman, dois ótimos atores, se bem que o tema – dois irmãos precisam ver o que fazem com o pai velhinho – não é muito apto a risos (os críticos americanos amaram o filme. O Rotten Tomatoes dá média 90). Atos é com o Guy Pearce e a Catherine Zeta-Jones, numa trama que envolve o Houdini e lembra demais O Ilusionista e o memorável O Grande Truque. Ah, e À Prova de Morte, do Tarantino? Não tava marcada pra chegar aí em março? Será que vai direto pras prateleiras das locadoras também?

CRÍTICA: JUMPER / Por que não pulam direto pra sequência?

O misto de ficção científica e filme de ação que é “Jumper” é um produto curtinho que parece ter sido feito apenas para introduzir uma franquia. Pode apostar que haverá sequências. Começa em Ann Arbor, uma cidadezinha bonita próxima de Detroit. Não sei nem se é considerado mais um subúrbio. Mas repare na neve e no gelo, e você verá que é aqui pertinho. Um adolescente cai no gelo, quase morre afogado, e aí descobre que pode se teletransportar pra onde quiser. Ele é um jumper, um pulador, um saltitante. Então eis que ele ressurge na biblioteca de Ann Arbor, inundando todos os livros. É um pássaro? É um avião? Um desastre natural? Um atentado terrorista? Não, é um menino teletransportador, que deixa um rastro de destruição em sua cola.

Quem faz o jumper principal (há mais de um) é o Hayden Christensen (que eu sempre confundo com o James Franco, um ator bem superior), que está melhor aqui que em “Guerra nas Estrelas”, menos estressado, mais levinho. A gente pode reclamar que ele tá levinho demais, sem nenhuma substância. Mas considere o material. Se sua interpretação tivesse a mínima profundidade, entraria em conflito com o roteiro. O Jamie Bell (que faz um outro saltitante) eu vi recentemente em “Querida Wendy”. É o menino de “Billy Elliot”. Ele rouba todas as cenas do Hayden, mas até aí, isso não é muito difícil. A mocinha eu não sei quem é. Digamos que ela causou uma impressão. Ela franze a testa e faz umas três caretas com a boca, e às vezes sincroniza e usa os olhos também, pra maior efeito. O quê? Eu não disse que a impressão foi positiva. O Samuel L. Jackson faz o de sempre, agora com cabelo branco. Desse jeito vou começar a me identificar com a piadinha de “Extras”, em que uma figurante diz que gostou muito da sua atuação em “Matrix”. E até a Diane Lane tem uma pontinha como mãe do pulador-mor. A mãe do guri foi embora quando ele tinha 5 anos. Tudo bem, eu entendo, porque o marido (pobre Michael Rooker) era alcóolatra. Mais pra frente a gente descobre que o motivo foi outro, chamado “Pretexto para Várias Sequências, Dependendo do Sucesso do Filme”.

O mais interessante é que, assim que o Hayden descobre seu dom para teletransporte, em nenhum momento ele pensa em ajudar alguém ou salvar o planeta. Não. Ele usa seu superpoder pra se transportar da mesa da cozinha até a geladeira e, em momentos de suprema ambição, ir a Londres conhecer alguma gatinha num bar pra passar a noite. Aliás, quando o Hayden passa a dar pulinho ao invés de andar três passos até a geladeira, a gente pensa: tem que ser americano! O personagem realiza todas as fantasias masculinas juvenis – fugir de casa, roubar banco pra ter dinheiro pra tudo, viajar pelo planeta, pegar carrões. Em certos instantes “Jumper” lembra “Antes de Partir”. Ou seja, em ambas as produções, conhecer a fundo uma das sete maravilhas do mundo é comer um sanduíche em cima dela. E o que o saltitante vai fazer em Tóquio? Absolutamente nada, além de dar um recadinho pro imponente público japonês: “Olha, a gente lembrou de vocês, agora vejam o filme!”. Eu acho que deviam fazer isso com todos os países com população grande. O Hayden podia dar um pulinho no ombro do Cristo Redentor, por exemplo. Já emendava essa rota turística com a divulgação do filme.

Há uma espécie de conspiração religiosa que caça os saltitantes. Não fica claro o motivo, fora a inveja. Quero dizer, se os jumpers não fossem tão inocentes, poderiam causar o maior estrago. Dava pra deixar uma bomba em algum lugar e ir embora. Ahn, como assim, “poderiam causar”? Eles acabam com o Coliseu! Só tá lá pra ser playground de filme de ação americano, como a Muralha da China em “Tomb Raider”. Na realidade, todas as lutas entre esse pessoal mais poderosinho deveriam ocorrer em lugares desertos, cheios de areia, onde a chance d'eles quebrarem coisas é pequena (de preferência não no Egito, onde eles correm o risco de esbarrar em alguma pirâmide). Lembra do Hulk? Era melhor pra toda a humanidade quando ele estourava na base militar do deserto de Nevada. Lá ele só estragava sua bermuda. Vendo “Jumper”, a gente passa a defender a permanência dos soldados americanos no Oriente Médio. Eles podiam ficar pra sempre no deserto do Saara.

A aventura vai ficando cada vez mais tola e inútil à medida que vai adiantando. No final não tem salvação, e a platéia passou a rir das cenas mais ridículas. Minha fala favorita é quando um personagem diz pro outro: “Existem coisas que você não pode pular”. Juro que pensei que ele fosse acrescentar: “Para todas as outras, existe Mastercard”.

Será que quem quebrou o nariz da esfinge foi o saltitante?

quinta-feira, 27 de março de 2008

CRÍTICA: PAIXÃO PROIBIDA / Rabo de quimono

Paixão Proibida (Silk), que estréia amanhã no Brasil, é um filme suntuoso e bem às antigas. Na realidade, não é muito diferente do fraco O Amor no Tempo do Cólera (em que todos os colombianos falam inglês com sotaque latino), mas não tem nada a ver com Desejo e Reparação, que alguns críticos erroneamente acusam de ser convencional. Paixão é puro Hollywood do passado: todo mundo fala inglês, independente do país de origem (pelo menos desta vez sem sotaque), a música romântica é perpétua, a direção de arte é de sonho, e a narração em off não acrescenta grande coisa às imagens. Desta vez estamos numa aldeiazinha francesa por volta de 1860. Um comerciante, interpretado pelo Alfred Molina, que costuma se sair melhor dessas enrascadas que outros atores, inventa de transformar a cidade numa grande fábrica de tecidos. Pra isso, ele usa seda. Mas precisa trazer os ovos do bicho da seda do Japão, e convoca o filho do manda-chuva local pra essa perigosa empreitada. “Perigosa” porque o Japão ainda era um país fechado aos estrangeiros, estava em guerra constante, e, antes da inauguração do Canal de Suez, levava meses prum europeu chegar lá.

O protagonista é um rapaz inseguro (feito pelo Michael Pitt), recém-casado com uma moça magrinha que eu levei horas até notar que era a Keira Knightley. Ele começa sua narração em coma em off dizendo que vai contar a sua história, e pode ser pra você mesmo. A gente pensa que ele tá falando com o espectador otário aqui, mas no fim vemos que ele narra pra um ouvinte encontrado no seu jardim. Eu esperava que, no final da narração, a gente veria o infeliz ouvinte ou já morto ou prestes a se suicidar, como acontece no hilário Apertem os Cintos, o Piloto Sumiu. Lembra, né? Assim que o carinha fala da sua vida amorosa, a vítima-ouvinte ou pula do avião, ou comete harakiri, ou se enforca. Paixão evoca isso. Se fosse um filme mais honesto, o ouvinte se mataria, porque é dureza escutar uma historinha tão chata sem esboçar uma reação minimamente dramática. E a narração não descansa. Só fica de fora nas várias cenas de sexo (nisso bem diferente da velha Hollywood), nenhuma nem distantemente erótica.

Coitado do Michael Pitt. Ele, que tá tão bem como um dos psicopatas no remake de Violência Gratuita (Funny Games), surge completamente insosso em Paixão. Não é o único. A Keira também passa em branco. Todos os personagens são passivos demais. Não dá pra entender como o Michael se apaixona por uma gueixa que ele vê umas três vezes no Japão. Nunca fala com ela, e ainda assim é capaz de arriscar a própria vida por ela? Ou eu sou cínica demais, ou esse negócio de amor à primeira vista envolve um pouco mais que só olhar pra pessoa e pimba, vamos trocar a Keira pela japonesa! Só sei que me irritei com o personagem do Michael. Não pode ver um rabo de quimono sem querer mudar toda a sua vida?

Há coisas instigantes em Paixão, mas poucas. É legal a gente saber que hoje, tendo dinheiro, pode cruzar o mundo em questão de dias, não meses ou anos, e sem ter que passar pela Sibéria. E, como eu já disse, as imagens são lindas. Pra completar, o filme ao menos rendeu uma doce conversa entre o maridão e eu. Ainda vou falar mais sobre isso, mas, pros iniciantes, a gente se conheceu num torneio de xadrez. Perguntei pra ele depois do filme:

- Amore, você acredita em amor à primeira vista?

- Acredito.

- E você acha que com a gente foi assim?

- Foi. Primeiro eu vi esse rostinho lindo, e aí a coisa foi.

- Como assim?

- Ah, eu ganhei um peão.

- Você quer dizer que se eu não tivesse perdido aquela partida...

- ...eu nunca mais falaria com você.

- Puxa vida, olha só. Se a gente não tivesse jogado aquele torneio e você vencido a partida, a gente não taria aqui, agora, juntinho...

- Você seria rica...

- É, muito rica, mas não feliz.

- Eu sei como é.

Se mesmo uma romântica incurável como eu não pode apreciar Paixão, quem há de?

PROSTITUTOS DE CITAÇÕES

Ueba! Vamos ver quem fala melhor de um filme?

Stephen King tem uma coluna quinzenal (ou mensal?) na Entertainment Weekly, e as duas, coluna e revista, costumam ser bem fraquinhas. Na da semana passada ele começou mostrando seu enorme bom gosto ao dizer que adorou Jumper. Se alguém não entendeu a ironia, permita-me um esclarecimento: o King é aquele que acha O Iluminado do Kubrick um terror vazio que não assusta. Prefere sua versão pra TV, que é uma bomba. E ninguém em sã consciência, fora a mãe do Doug Liman (que dirigiu também Sr. e Sra. Smith, eca, e Identidade Bourne, oba), pensa que Jumper é uma maravilha. King ia redigir uma crítica sobre o filme, mas houve um certo conflito de interesses, já que o produtor do troço é um dos vários agentes do escritor. Então ele decidiu escrever apenas um blurb, uma citação pra ser colocada no pôster e anúncios, dizendo “This movie rocks!” (“Este filme é o máximo!”), assinado Stephen King, o que não é pouca coisa, porque o nome tem peso. Ok. O que me chamou a atenção foi que King revela ter redigido citações pra somente três ou quatro filmes na vida, e só pra produções que ele ama de paixão. Mais uma pra notória lista do mau gosto do escritor: você elogia publicamente quatro filmes na vida, e Jumper é um deles?! (minha crítica sai amanhã).

Mas o assunto polêmico das citações é atraente. Como vários filmes são lançados toda semana nos EUA, os estúdios precisam destacá-los. Iludem-se que críticos ainda têm algum poder de persuasão, e põem suas citações nos anúncios. O que a gente vê vai de elogios genéricos (como o do King – daria pra falar isso de qualquer filme) a besteiras monumentais como, só pra ficar num exemplo recente, escrever “uma das melhores duplas da história do cinema” pra... Na Hora do Rush 3 (nem me pergunte quem é a dupla, que eu não sei, mas deve ser tão importante como Ginger e Fred)!

Os críticos mais sérios e respeitados odeiam aqueles que emprestam seu nome pra todo e qualquer filmeco. Tanto que criaram um termo pra esses críticos de segunda categoria, quote whores (prostitutos de citações). A gente nem tem certeza se esse pessoal realmente comenta um filme ou só entrega algumas palavrinhas-chave pros estúdios. E ninguém sabe o que eles recebem em troca. Será que tem dinheiro na jogada (vulgo jabá), ou apenas benefícios, como entrevistas exclusivas com os astros? Difícil saber, já que trata-se de um assunto tabu. Mas a linha que separa os críticos “sérios” dos críticos “de aluguel” (há boatos que alguns deles nem existem, são só nomes inventados pelos estúdios) é tênue. Por exemplo, o Peter Travers é crítico da famosa revista Rolling Stone há anos. Ele escreve direitinho e faz algumas, não muitas, análises mais inspiradas. É também um dos grandes quote whores americanos. Até uma altura de sua carreira, ele tentava se defender. Dizia que era boa publicidade pra revista ter o nome divulgado em anúncios e pôsters. Agora que sua assinatura virou até prêmio dado aos Prostitutos do Ano, ele não fala mais sobre isso.

Francamente, quem se deixa influenciar por frases soltas que vêm no próprio anúncio do filme? E será que algum dia eu terei uma citação minha publicada? (meus detratores diriam que pra isso eu precisaria falar bem de algum filme). Ah, pena que O Nevoeiro (baseado num conto do King, que mundo pequeno) esteja indo direto pra DVD, sem passar pelo cinema. Eu já tinha até uma citação preparada: “O Nevoeiro (The Mist) é um misterpiece, uma obra-neblina”. Tá bom, tá bom, trocadilho infame. Mas as citações publicadas são ultra-infames!

quarta-feira, 26 de março de 2008

UM MENININHO PERDIDO E UM CASAL IDEM

Outro dia encontrei um menininho perdido no meu prédio quando cheguei em casa. Ele tinha passado da primeira porta (a que deixa o frio pra fora) e estava no lobby, sem saber o que fazer. Perguntou-me por qual porta eu iria entrar. É que tem duas, mas ambas dão mais ou menos pro mesmo lugar. Eu disse que qualquer uma tava bom, e qual ele queria. Subimos, e eu quis saber o que ele tava fazendo sozinho. Confuso, o lindinho me contou que tava esperando a avó dele, que já tava pra chegar. Então tá. Entrei no meu apê, ainda preocupada, e falei pro maridão que havia um menino desorientado lá fora. O maridão não parece, mas ele tem coração. E imediatamente se preocupou também. Decidi sair dois minutos depois, pra ver se a vó tinha chegado, e lá estava o menininho, aos prantos, tadinho. Agora, essa é uma situação complicada. Aqui não é o Brasil. Aqui é um país em que acusações de abuso sexual pululam. Eu já li que, se você é homem, e tá num elevador, sozinho, e entra uma criança, você deve sair, pra evitar problemas. É um absurdo, eu sei, mas vivendo aqui, a gente começa a pegar os traumas deles. E tem a questão racial. O menininho em questão era negro, mulato, sei lá. O maridão é branco, com toques rosados, e eu me considero meio amarela. No Brasil eu nunca, jamais, de forma alguma, consideraria a cor do guri. Mas nos EUA a segregação é enorme, e a gente acaba pensando nisso sem querer. Passou pela minha cabeça: e se eu convido o menino pra ficar em casa enquanto a avó não chega, e ela não gosta porque a gente é branca e amarela com degradês rosas? Outros pensamentos passaram pela minha cabeça. A mais séria foi: e um menino vai fazer exatamente o quê lá em casa? Poucas casas no mundo, imagino, têm tão pouca coisa pra criança como a nossa. Nada de brinquedos. Neca de revistinha em quadrinhos. Tem uma TV usada não muito colorida, mas o que uma criança assiste às 7 da noite? Bom, decidimos tentar localizar a avó dele. Primeiro fomos com ele até o porão, onde tem as máquinas de lavar roupa. Havia a possibilidade d'ela estar lá, disse o garoto. Não estava. Então tentamos ligar pro número dela através do nosso celular. Essa parte foi bastante constrangedora, admito, porque eu e o maridão odiamos celular, nunca tivemos um no Brasil (tá, eu sei, muita gente me pergunta: “em que século você vive?”), e só compramos um bem baratinho aqui nos EUA pra não precisar adquirir uma linha telefônica fixa. A gente usa tão pouco o celular que não se arrisca a afirmar que sabe usar. O menininho reparou que estava em maus lençóis quando teve que nos dar instruções sobre como fazer a ligação. Finalmente conseguimos ligar, e, lógico, o telefone da mulher tava desligado. Então o garoto disse que talvez a avó estivesse na loja de conveniência em frente. O maridão começou a se agasalhar pra ir lá procurá-la, mas eu tive dúvidas: “E como você vai reconhecer a mulher, amor?”. Admiti nossa incompetência e tratei de procurar ajuda. Fui bater no apartamento do zelador, o manager, que odeia ser incomodado depois do horário, com razão. Mas pra mim aquilo era uma emergência. Enquanto ele foi procurar a chave-extra, conversamos mais com o menino. Ele tem 7 anos e se chama DeNiro. Algo assim. Pode ser “Denero” também. Um nome pra lá de esquisito. O manager perguntou como ele chegou ao prédio sozinho (seu primo o trouxe), abriu o apê da avó pra ele, e falou pra ele esperar quietinho, vendo TV, que ele, o manager, iria subir de vez em quando pra ver como ele estava. E foi o final da nossa saga. Acho que a avó chegou pouco depois. Eu, de minha parte, me senti bem inútil. Inepta. As sábias palavras que o maridão disse um dia, brincando, quando o filho de uma amiga sugeriu morar conosco, vieram à tona: “A vigilância sanitária não permitiria que uma criança vivesse em casa”. Esquilinho pode?

MATOU UM GAY E REDUZIU SUA PENA

Estou contrariando um pouco minha regra de saber o mínimo possível antes de ver um filme, mas é que Milk vai demorar tanto pra chegar que até lá a gente já esqueceu tudo. A estréia nos EUA tá marcada pro final de novembro (desde já uma produção que vai receber a atenção do Oscar), e no Brasil só Deus sabe. Como a gente só verá este drama do Gus Van Sant (Elephant, Gênio Indomável) provavelmente daqui a um ano, tomei a liberdade de aprender mais sobre o assunto. A propósito, o protagonista será encarnado pelo sempre ótimo Sean Penn, e também estarão no elenco Emile Hirsh (Na Natureza Selvagem), James Franco (Homem Aranha), e Josh Brolin (Onde os Fracos Não Têm Vez).

Semana passada vi o documentário The Times of Harvey Milk, de 1984. Eu também nunca tinha ouvido falar no cara, mas a história real é a seguinte: em meados da década de 70, esse comerciante abertamente homossexual conseguiu ser eleito supervisor do bairro mais gay de São Francisco, o Castro. Havia um prefeito geral e uns cinco supervisores, cada um pra um distrito. Hoje deve ser banal, mas Milk foi o primeiro supervisor gay, e aparentemente o primeiro homem assumidamente gay a ser eleito pra qualquer cargo público no mundo. Um supervisor de outro distrito era um tal de Dan White, um ex-bombeiro, ex-policial, e jovem homem de família, católico devoto, que achava que São Francisco estava se deteriorando. White havia renunciado ao seu posto devido ao baixo salário, mas queria voltar, o que o prefeito recusou. Um dia, White entrou pela janela da prefeitura, discutiu com o prefeito (também hetero), e o matou com cinco tiros. Foi à sala de Milk e o matou com o mesmo número de tiros. Em seguida se entregou à polícia.

Embora a Califórnia adote a pena de morte, White não foi executado. Um júri todo branco e hetero, a maior parte do mesmo distrito de White, acatou a defesa que ele estava deprimido e estressado, inclusive por ingestão exagerada de açúcar (o que ficou conhecido como Twinkie Defense – Twinkie é uma barrinha de chocolate). Além disso, apesar de White ter entrado pela janela da prefeitura pra evitar o detetor de metais e de estar carregando balas extras pro revólver (ninguém fala do fato d'ele andar armado, porque é a América - todo mundo faz isso), o júri não viu premeditação no crime. White foi condenado a menos de oito anos de prisão. A comunidade gay, que havia feito uma vigília pacífica pra marcar a morte de Milk, revoltou-se e entrou em confronto com a polícia. White deixou a cadeia após cinco anos de pena. Suicidou-se pouco depois, em 85.

Acredita-se que, se White tivesse matado apenas o prefeito de São Francisco, ele teria recebido uma sentença mais dura, talvez até a pena capital. O assassinato de Milk serviu como atenuante! A gente quer crer que uma loucura dessas não aconteceria agora, três décadas depois. Mas é bom que Hollywood faça um filme pra nos informar sobre essas atrocidades.

terça-feira, 25 de março de 2008

RELEITURA ENGRAÇADA DE UM CLÁSSICO


A Suzana recomendou este trailer incrível do Iluminado, uma releitura total, apelando pra todos os clichês do gênero – só que de outro gênero, talvez do dramalhãozinho com toques cômicos. Puxa, é uma idéia formidável pegar um filme consagrado e vendê-lo como se fosse outro produto. Não que os estúdios já não façam isso normalmente (tipo Bug ser vendido como se fosse terror, não um drama, quase peça filmada – que eu gostei muitíssimo, por sinal). Mas este trailer do Shining prova que basta pegar uma musiquinha adequada, escolher as cenas certas (a da mãe e filho saindo pra brincar no labirinto é demais!), e colocar um narrador falando as besteiras que quiser, e pronto, temos um produto novinho em folha! Pior é que dá vontade de rever o filme mais uma vez, só por causa do trailer.

Não sei se você lembra - eu não, porque era muito jovem – que quando Shining foi lançado, em 1980, foi bombardeado pela crítica. O pessoal detestou a Shelley Duvall (que foi indicada até à Framboesa de Ouro no ano!), atacou o Jack Nicholson por parecer louco desde a primeira cena, disse que o Kubrick não entendia nada de terror... O Stephen King definiu o filme como “um carrão luxuoso sem motor”, e “provou” que o Kubrick não era do ramo porque, segundo o badalado escritor, na cena em que a Shelley finalmente põe os olhos no romance que o marido está escrevendo (“all work and no play make Jack a dull boy”, algo como “só trabalho sem diversão faz de Jack um bobão”), Kubrick corta pra mostrar o Jack se aproximando, o que está totalmente errado. King diz que alguém mais chegado ao terror faria a mão de Jack pegar o ombro da Shelley, assustando a todos. Dica preciosa vinda do carinha que em seguida fez Comboio do Terror (Maximum Overdrive) pra mostrar como é que se adapta uma história dele pro cinema! (e a versão de Shining que ele fez depois, pra TV, é totalmente podre!).

Quanto tempo será que levou pra Shining ser considerado um clássico indiscutível? Alguns anos depois? Dois? Três?

PEDÓFILOS VÃO PRO INFERNO. GOOGLE OS MANDA PRA CÁ

Sigo dando nota pro grau de insatisfação das pessoas que chegam a este blog através de busca no Google (nem todas são pedófilas). 1 é pra maior insatisfação, 5 já beira a satisfação.

Morgan Freeman + Jack Nickson – eu pensei que fosse apenas aquele leitor incauto que não sabia escrever o nome do astro de “Iluminado”. Ledo engano. O Google oferece umas 3,150 páginas com esse ator alternativo chamado Jack Nickson. Tanto que nem se dá ao trabalho de corrigir! Mesmo assim, a pessoa ainda acaba chegando as minhas observações sobre “Antes de Partir”. Nota 4.

Machistas: os seus dias estão contados! - não é o meu grito de guerra nem nada, até porque não sou muito otimista quanto à vitória dos direitos iguais entre os sexos. Mas certamente sou feminista, e o que escrevo reflete isso. Nota 3.

Homers peladoessa o Google corrigiu pra “Você quis dizer Homens pelado” (colocar substantivo e adjetivo no plural ao mesmo tempo nem pensar, né?). Não lembro se era o Homer ou o Bart que aparecia sem roupa em “Os Simpsons”. Acho que era o Bart porque ele andava de skate. Em matéria de homens pelados, meu blog ainda está deixando a desejar, eu sei. Vou tentar tirar umas fotos do maridão quando ele não estiver olhando. Nota 1.

Suicídio com overdose – a saga continua. Deixa disso, querida. Minha única esperança é que a pessoa não sabe adicionar meu blog aos favoritos e siga procurando qualquer coisa no Google ligada à overdose pra chegar aqui. Nota 1.

Casal transando com câmera ligadatá bom, vou tentar filmar alguma coisa com o maridão, quando ele não estiver olhando. Não perca a edição especial de Natal. Nota 1.


Melhores números para o bolãoespero que o leitor não esteja falando do bolão do Oscar, porque nesse departamento eu já mostrei não ser confiável. Agora, se for número batata pra apostar na loto ou megasena, eu diria 3, 5, 15, 18, 23, 25 e 32 (todos múltiplos de três). Meu cunhado, que sonha em ficar rico através de uma dessas loterias, ficou sabendo que eu e o maridão nunca tínhamos jogado, pegou nossos números e os apostou. Acho que conseguiu acertar um. Nota 1.


Significado de feiters – O Google corrigiu pra “reiters”, o que pra mim deu na mesma. Alguém aí sabe o que é isso? Nota 1.


Dois senhores decidem aproveitar a vida – é, é esse com o Jack Nickson. Chato é que precisa estar com câncer terminal pra começar a aproveitar a vida. Nota 5.


Poemas vc não gosta de minha filha – não entendi o que a pessoa quis dizer, mas, minha senhora, se eu não gosto da sua filha, não vou gastar tempo escrevendo poemas sobre ela. Automaticamente lembrei daquela musiquinha, “Você não gosta de mim / mas sua filha gosta”. Espero ter ajudado. Nota 1.


Lolinha ninfo Google corrigiu pra “linhas ninf”, o que mostra que ele não está antenado com o desejo dos leitores. Vamos solidarizar com o pedófilo desta vez: lá vai ele buscar na internet um site pornô com ninfetas pra passar a tarde, e o Google o encaminha pra uma aula de corte e costura?! Nota 1.


Tem mais listas antigas de google search aqui, aqui, aqui, aqui , aqui e aqui.

CRI-CRITICANDO TRAILER: STOP LOSS


Leia a crítica completa de Stop Loss aqui.
A partir desta semana, vou começar a criticar alguns trailers, ok? Na realidade, já vi este de
Stop Loss tantas vezes que tô torcendo pra que o filme estréie logo (sexta nos EUA) e me salve da tortura. Metade do trailer mostra como os soldados americanos são gloriosos, porque lutam pela liberdade, pelo país, por não sei que mais. A outra metade é o Ryan Phillippe sendo mandado de volta pro Iraque e não querendo ir de jeito maneira. Ele já fez demais pelo seu país, sua família já lutou essa guerra, o exército deve cumprir sua parte, pô. Como qualquer reclamação contra o maravilhoso exército americano é incomum, o trailer como um todo soa crítico ao sistema. Mas será que é? Será que este filme, por ser produzido pela MTV, vai conseguir atrair pro cinema o público que foge da temática "guerra do Iraque" como o diabo foge da cruz? No fim do trailer o protagonista até grita, apelando pra platéia: "Isso não é sobre a guerra! É sobre você! E eu... E todo mundo!". Certamente parece ser um atrativo que seja dirigido pela Kimberly Peirce, a mesma de Meninos Não Choram. Ela ficou quase nove anos sem dirigir nada. Eu vou ver o filme por causa dela, não pelo Ryan Phillippe. Se o trailer me fisgou? Ahn... não. De 1 a 5, dou nota 3, coluna do meio. (Se tiver algum trailer que você queira que eu comente, avise).

segunda-feira, 24 de março de 2008

UM QUADRINHO PRA ILUSTRAR

Adoro o Dilbert! Esses quadrinhos mostram bem o calvário que é ficar à mercê dos centros de atendimento. O jornalista babão provavelmente acha que tá tudo resolvido porque agora ele pode falar horas com uma robô que não sabe se gosta de chocolate. A tradução é minha, sorry.

- Este é o suporte técnico do Dogberto. Como posso te abusar?
- Até que enfim! Levou uma hora pra que eu conseguisse passar pelo seu impenetrável menu de áudio! / Aí eu esperei na fila por mais 40 minutos. / Meu problema é que o meu computador fica parando...
- Não tão depressa! / Antes preciso saber seu nome, endereço, telefone, sistema operacional, email, número de série, versões de software e video drivers. / Depois vou te colocar na fila pra falar com o técnico de nível mais baixo que só vai poder te dizer pra religar o computador. / Ele te fará as mesmas perguntas por motivos que te frustrarão.
- Mas eventualmente vocês irão resolver o meu problema, certo?
- Claro, se o seu problema for excesso de otimismo.