quarta-feira, 31 de outubro de 2018

A DEPUTADA ELEITA E A MANIA DE PERSEGUIR PROFESSORES

E de repente, não mais que de repente, Ana Caroline Campagnolo se tornou conhecida nacionalmente.
É que, no mesmo dia que vai entrar com um dos mais catastróficos da história do Brasil (eleição de Bolso), a moça se dirigiu aos estudantes catarinenses. Ela pediu que alunos filmassem ou gravassem "todas as manifestações político-partidárias ou ideológicas que humilhem ou ofendam sua liberdade de crença e consciência". Ou seja, que alunos enviassem para ela vídeos dos seus "professores doutrinadores" "inconformados e revoltados" com a vitória de Bolsonaro.
Já já falo mais da repercussão desse pedido tão singelo.
Mas quem é Ana Caroline? A primeira vez que eu ouvi falar dela foi alguns anos atrás (quantos? Seis? Oito? Mais?). Alguém me mandou uma postagem dela no Facebook em que ela postava uma foto minha e pedia para seus seguidores opinarem sobre quem era mais bonita, ela ou eu. Achei estranho e um tanto carente a comparação, já que ela deve ter metade da minha idade, e, ahn, prefiro não falar de QI. Não dei bola. Pensei: mais uma antifeminista querendo agradar hominhos, achando que, por odiar feministas, se safará de ser insultada e agredida por misóginos (spoiler: não funciona).
Jeito de um reaça elogiar a
aparência de uma mulher de
direita no "Musas"
Algum tempo depois, ela começou uma comunidade no Facebook chamada Musas Olavettes. Era assim: mulheres de direita mandavam fotos suas e elogios ao guru da extrema-direita Olavo de Carvalho. Nos comentários, os seguidores de Olavão (a direita é constituída em sua imensa maioria por homens, vários dos quais não são exatamente bem sucedidos com mulheres) deixavam gracejos e memes para as "musas", sempre acompanhados de comparações com as "peludas e bigodudas da esquerda". A página ainda existe, mas parou de ser atualizada em 2014. Aparentemente, a amostra de "musas da direita" não era tão grande.
Um tempo depois, alguém me avisou que Ana, quando não estava ocupada demais sendo musa, é professora de história em SC. E que, seguindo o seu mestre, ela muito se orgulhava de ensinar em suas aulas que o nazismo foi uma ideologia de esquerda. Hitler era o maior comuna, saca? Em sua página no FB, Ana colocava redações de seus alunos sobre o que ela lecionava. Era de chorar.
Mais tarde, fiquei sabendo que ela estava processando, com o patrocínio do Escola sem Partido, Marlene de Fáveri, professora de história da Udesc que trabalha com gênero. Ana foi mestranda de Marlene até que a professora foi avisada das coisas bizarras que sua orientanda falava e escrevia nas redes sociais. 
Compreensivelmente, Marlene se desligou da orientação, o que é de seu direito (pense: você é uma respeitada professora e pesquisadora feminista. Quer mesmo ter o seu nome associado ao de uma reaça que faz posts dizendo que gostaria de passar mais tempo em casa em vez de trabalhar, e amaldiçoava o feminismo por isso? Ou chamando Simone de Beauvoir de pedófila? Ou inventando mil e uma mentiras sobre feminismo?).
Ato por Marlene
Ana prosseguiu com o mestrado, mas com outro orientador. No final, sua dissertação foi reprovada pela banca, e só aí Ana decidiu processar Marlene por "perseguição ideológica". Algo absurdo é que ela alegou ter sido perseguida por ser cristã. Para demonstrar isso, Ana usou uma gravação que fez de uma aula de Marlene. Com todo o apoio do Escola sem Partido, Ana foi chamada para falar no Congresso numa audiência pública. Felizmente, este ano um juiz absolveu Marlene
Não sei quando Ana se filiou ao PSL para concorrer a uma vaga para deputada estadual por SC. Deve ter tido o apoio dele e também de Olavo. Foi eleita com quase 35 mil votos no Estado que deu a maior vitória a Bolso. E, como o governador eleito, o até então 100% desconhecido comandante Moisés, é do mesmo partido, Ana está cotada para ser Secretária de Educação (parabéns, catarinenses!).
Bolso não só já gravou vídeo pedindo aos alunos para denunciarem seus malditos professores (ele fala professores entre aspas), como ele mesmo já perseguiu vários. O caso mais famoso é o da professora universitária Tatiana Lionço. Em 2012 Bolso editou e deturpou completamente a fala de Tatiana num congresso, fazendo parecer que ela apoiava a pedofilia, e espalhou o vídeo para milhares de seguidores. Eles então se encarregaram de xingar e ameaçar a professora. Ela processou Bolso, mas como ele tinha imunidade parlamentar, nada aconteceu. 
Mas a iniciativa de Ana de agora chamou muito a atenção. Nem sei porquê -- afinal, perseguir professores é justamente o que o Escola sem Partido quer. Há prints do Escola sem Partido, coligado com o MBL, oferecendo 50 reais por vídeo de professor "doutrinando alunos dentro da sala de aula" (desde que a cara do professor fosse visível, para que ele pudesse ser identificado e, consequentemente, perseguido).  É uma nova caça às bruxas. Uma ojeriza à escola e à universidade pública. Professor comuna deveria estar na cadeia!
Só que nem todos concordam com isso. Aliás, quando o Escola sem Partido foi posto para consulta pública, ele foi derrotado pela população, que não quer os professores amordaçados. E a reação à atitude de Ana pode ser a primeira demonstração de que Bolso não foi eleito com a maioria dos votos (89 milhões de pessoas não votaram nele). Em outras palavras, só porque ele ganhou, não significa que ele e seus asseclas sejam os donos do Brasil e possam fazer o que quiserem.
Um rapaz criou uma campanha oferecendo doar R$ 5 mil a APAE se as pessoas enviassem cem "gemidões" para Ana. O que se viu foi divertido. Um cara, por exemplo, mandou uma mensagem escrito "Filmei meu professor de história tentando nos doutrinar com ideias comunistas hoje durante a aula. Ele falou até que nazismo era de direita". Aí, quando se abre o vídeo, há gemidos. Em uma hora de "campanha", bem mais de cem vídeos foram enviados à deputada eleita. 
Um dos "gemidões" manda-
dos a Ana
Ontem à tarde recebi um email de uma leitora que falou com um procurador sobre o caso. O Ministério Público Federal em Chapecó recomendou às instituições de ensino superior da região que "impeçam qualquer forma de assédio moral a professores, por parte de estudantes, familiares ou responsáveis". O MPF considerou que a conduta da deputada, "além de configurar flagrante censura prévia e provável assédio moral em relação a todos os professores do estado de Santa Catarina, das instituições públicas e privadas de ensino, não apenas da educação básica e do ensino médio, mas também do ensino superior, afronta claramente a liberdade e a pluralidade de ensino".
Mais tarde, no início da noite, o Ministério Público do Estado de Santa Catarina (MPSC) ajuizou uma ação civil pública contra a deputada. Segundo a petição, Ana implantou um "abominável regime de delações informais, anônimas, objetivando impor um regime de verdadeiro terror" nas salas de aula do Estado. Para os promotores, Ana agiu com "crueldade" pondo os alunos como "inquisidores dos professores". E essa perseguição fere a liberdade de expressão dos professores. 
Ontem professores começaram uma petição pedindo a impugnação da deputada por incitar "o ódio ao afirmar inverdades, provocando um ambiente escolar insalubre". A petição já está se aproximando das 350 mil assinaturas (dez vezes mais que os votos que Ana recebeu).
A conclusão desta história toda é que ainda não está tudo dominado. Há resistência.


UPDATE em 2/11/18: Um juiz de Floripa determinou que Ana Caroline Campagnolo terá de remover as publicações que pedem que alunos filmem seus "professores doutrinadores". Segundo o juiz, ela violou "princípios constitucionais como o da liberdade de expressão da atividade intelectual, científica e de comunicação". A multa é de R$ 1 mil por dia em caso de descumprimento. A deputada também está proibida de criar ou manter um serviço particular de denúncias das atividades de servidores públicos, já que existem ouvidorias para isso. 

terça-feira, 30 de outubro de 2018

VIVENDO E APRENDENDO COM A TERCEIRA DAMA: NOVA DEFINIÇÃO DE MISOGINIA

No meio de tanta tristeza, me diverti bastante com a entrevista de Michelle Bolsonaro, a terceira-dama. 
Bolso com camiseta em homenagem
ao Caixa 2 usado pra patrocinar as
fake news
Bom, a entrevista inteira da emissora oficial de Bolso, a Record, é um nojo, mas mas veja no  minuto 7:20, em que ela diz:
“Ele é tachado como racista. Um dos melhores amigos dele há vinte anos atrás é o Hélio Negão. Ele é tachado como fascista, como homofóbico e nós temos amigos gays. Eu tenho um primo gay. Ele é tachado como misógino e é casado com quem? Com a filha de um cearense. Eu tenho certeza que Deus está dando essa oportunidade para o Brasil conhecer o Jair de verdade".
Fora todos os clichês furados de "não sou racista, até tenho amigo negro", "não sou homofóbico, até tenho amigo gay", chama a atenção de como a mulher de Bolso define misoginia: ódio à filha de cearense. Pensei que ela iria falar "Ele não é misógino, pois é casado com uma mulher, tem mãe, tem filha". Mas ela se corrigiu a tempo, cof cof.
Vou correr pra consertar aqui no blog todas as vezes que combati a misoginia. Aquilo que eu combatia não era misoginia! Devia ser, sei lá, xenofobia.
Sinal de que nós feministas não estamos nos comunicando muito bem com as pessoas mais ignorantes. 
Se até a esposa do cara mais misógino do Brasil não sabe o que é misoginia, como esperar que outros saibam?
Sem dúvida o casal combina.

segunda-feira, 29 de outubro de 2018

BOLSO ELEITO: POR QUE PERDEMOS?

Como boa parte do país e do mundo, estou desolada com a vitória de Bolsonaro. Até o último momento, eu achava que daria pra virar. Não deu. 
Certamente a diferença diminuiu. No início do segundo turno, algumas pesquisas falavam de mais de 20 pontos de distância. O placar final acabou sendo 55% para Bolso contra 45% para Haddad, contando apenas os votos válidos. Um resultado parecido ao de Dilma contra Serra em 2010. 
Bolso teve o dobro de votos de Haddad no Sudeste, região com a maior população do país. 
Já no Nordeste, segunda maior região, com 27% da população, Haddad ganhou fácil, com 70% dos votos válidos contra 30% de Bolso. O Estado que mais resistiu ao fascismo foi o Piauí, que deu a Bolso apenas 23% dos votos. Já Santa Catarina e Acre foram os Estados que mais votaram em Bolso: nada menos que 76%. 
Fora do Nordeste, Haddad ganhou apenas no Pará e Tocantins, por uma margem estreita. No Amapá e Amazonas, houve praticamente um empate.
No total, Bolso teve quase 58 milhões de votos. Haddad, 47 milhões. A soma de brancos, nulos e abstenções foi de 42,5 milhões. Em outras palavras, quase 90 milhões de brasileiros não votaram em Bolso, o que indica que a oposição a ele continuará sendo gigantesca, sem lua de mel. Mas eleição é isso mesmo: ganha quem consegue mais votos válidos.
E como aconteceu esta catástrofe que fará o Brasil regredir vários anos (talvez uns 50, prometeu Bolso em campanha -- e o que li ontem define bem o que esperamos: Bolso é o único candidato que torcemos para que não cumpra suas promessas)? Ainda não sabemos.
Um eleitor de Bolso se
manifesta nas redes sociais
Eu passei um ano ou mais tentando tranquilizar o pessoal de que alguém com o perfil de Bolso nunca seria eleito, que a comparação com Trump não era correta, porque aqui temos segundo turno. Mas algo aconteceu pra Bolso deslanchar para além do seu nicho de eleitores fiéis, de extrema direita como ele, que votaram nele não apesar das barbaridades que ele disse nos últimos 28 anos, mas justamente por causa delas. Eu pensava que Bolso não iria sair dos 25%. E, de fato, ele se manteve abaixo dessa faixa durante muitos meses. 
Mas aí aconteceu a facada, no dia 6 de setembro. Nos primeiros dias após o ataque, a intenção de voto a ele não subiu. Mas certamente estancou o crescimento do seu índice de rejeição que, segundo várias pesquisas, já rondava os 50%. E a facada fez com que seus adversários imediatamente parassem de criticá-lo. Foi nesse momento que ele ultrapassou o seu índice além do seu eleitorado fiel (e além disso o atentado lhe deu desculpas para nunca mais participar de um debate). 
Claro que isso também mais ou menos coincidiu com a saída definitiva de Lula da corrida eleitoral. Fazia um ano e meio que Lula era o franco favorito à presidência. Talvez, se permitissem que fosse candidato, seria eleito no primeiro turno (ele tinha 40% nas pesquisas, o dobro do segundo colocado, que era Bolso). Mas todo mundo sabia, e obviamente o PT sabia também, que tudo seria feito para que Lula não pudesse concorrer. 
Eu fui muito crítica à demora do PT em definir a candidatura de Haddad, que só foi lançada faltando menos de um mês para o primeiro turno. É difícil analisar o que poderia acontecer se Haddad tivesse sido definido candidato antes. A tão esperada transferência de votos de Lula para Haddad não veio. Quero dizer, veio, mas não como se esperava. Afinal, se Lula tinha 40% dos votos nas pesquisas, e Haddad terminou com 29% no primeiro turno (contra 46% de Bolso), é prova de que muitos votos não foram transferidos. É de supor, inclusive, que várias pessoas que queriam votar em Lula acabaram votando em Bolso (o que é muito difícil de entender, pra mim, mas mostra que Lula seguia sendo maior que o PT). Ou talvez quem queria votar em Lula e não pôde acabou desistindo de votar. 
Porém, a "onda Bolsonaro", o maior crescimento na campanha do candidato de extrema direita, se deu na última semana antes do primeiro turno. E esse motivo ainda carece de maiores explicações. Foi no momento que Edir Macedo (e, de bônus, toda sua emissora de TV, a Record) passou a fazer campanha para Bolso. Teve muita gente que culpou o lindo movimento Ele Não, organizado por feministas, que levou às ruas centenas de milhares de mulheres no dia 29 de setembro. 
Obviamente é ridículo culpar o Ele Não pelo crescimento de Bolso na última semana do primeiro turno. Hoje sabemos melhor o que aconteceu: milhões de disparos de mensagens contra Haddad e outros adversários pelo WhatsApp, como revelado pela reportagem da Folha. Essas mensagens foram muito eficazes em divulgar todo tipo de fake news, inclusive mentindo adoidado sobre o que foi o protesto Ele Não (as fake news de Bolso usaram imagens de outros protestos, de outros países, como se fossem do Ele Não, e investiram pesado na narrativa de "mulheres bonitas e limpas da direita" contra "mulheres moral e fisicamente sujas, feias e peludas da esquerda"). 
Nós falhamos porque não conseguimos responder com sucesso a essa narrativa mentirosa, que não é de hoje. E falhamos porque, mesmo não sendo responsáveis pelo crescimento de Bolso, não fomos capazes de aumentar a sua taxa de rejeição. Era esse o propósito de um movimento chamado Ele Não: muito mais do que catapultar qualquer outro candidato, mostrar qualquer um, menos ele, era aceitável.  
A pergunta que fica, pra mim, é: tem como vencer fake news no WhatsApp, num cenário em que a maior parte das pessoas usa a rede social como maior fonte de informações? Há que se reconhecer que a extrema direita (não só no Brasil, mas no mundo) foi muito mais hábil em usar esta ferramenta que a esquerda. E lógico que os experimentos não começaram agora, mas anos atrás. 
Um eleitor de Bolso foi votar vestido
de robô ontem. E as definições de
vergonha alheia foram atualizadas
com sucesso
Hoje vejo que aquele fenômeno que chamamos de "comentarista de portal de notícias" (ou seja, pode ter certeza que as opiniões mais preconceituosas e repulsivas sobre um determinado assunto virão nos comentários das notícias online) faz parte desse experimento. Eu pensava que eram grupos orquestrados que se organizavam para escrever as piores atrocidades, mas fui ingênua. Grupos organizados eles são, óbvio, mas não são rapazes frustrados que redigem (porcamente) a maior parte daqueles comentários. São robôs. Assim como, no Twitter, a campanha de Bolso se deu quase que exclusivamente através de bolsobots (na reta final, 5 em cada 7 tuítes pró-Bolso eram feitos por máquinas, não por pessoas). 
Seja lá o que eles fizeram, certamente foi eficaz, pois Bolso não ganhou no primeiro turno por muito pouco (menos de 4% dos votos). E não só isso: as milhões de mensagens bancadas com o Caixa 2 de empresários (que provavelmente nunca será investigado, e muito menos punido, pelo Tribunal Superior Eleitoral -- a piada do dia foi a declaração da ministra Rosa Weber de que o TSE "se saiu vitorioso" no combate às fake news) não só impulsionaram Bolso, 
como elegeram a segunda maior bancada de deputados federais e deram todo um gás pra candidatos a governador e senador que apareciam em quarto lugar nas pesquisas. 
Bom, gente boa e triste, depois eu continuo esta minha análise. Agora tenho que correr e sair pra trabalhar. Porque a vida continua, apesar do apocalipse. 

domingo, 28 de outubro de 2018

VAMOS VOTAR PRA VIRAR ESTE SEGUNDO TURNO DECISIVO PRO NOSSO PAÍS

Já é domingo e já já estaremos votando, decidindo o futuro do nosso país maravilhoso que infelizmente foi tomado pelo ódio. 
Será que vocês viram o que aconteceu ontem à noite em Pacajus, Ceará? Durante uma carreata pró-Haddad, um eleitor de Bolso saiu de seu carro branco e atirou aleatoriamente nos participantes. Matou um rapaz de 23 anos e atingiu duas crianças. E fugiu. Uma advogada me enviou um vídeo de muita dor do hospital, onde parentes e amigos, inconformados com a violência, choravam. 
Uma moça clama: "Eu não vou me calar pro Bolsonaro! Olha aquilo ali! A mãe sofrendo porque o filho acabou de ser morto por uma bala de um eleitor de Bolsonaro!"
É terrível, assustador. Como as pessoas podem ver isso e ainda votar em um candidato que só inspira ódio? Minha solidariedade ao povo de Pacajus!
Enquanto isso, no meu blog, algum bolsominion deixava um daqueles típicos comentários de ódio deles: "Cada voto é um rato enfiado em vocês". 
Mas não quero falar só de coisas ruins. Sábado foi um dia de muita luta, dia da virada. Vamos ver se ela vem, se dá tempo. Selecionei alguns tuítes de pessoas incríveis que foram às ruas de suas cidades conversar com as pessoas, ouvir os indecisos e aqueles que querem anular. A atitude desta moça, por exemplo, tentando convencer pessoas no metrô, é heroica. 
Celebridades como Paulo Betti (no metrô do Rio), Gleici (ex-BBB), e Camila Pitanga, entre inúmeras outras, também foram virar votos junto a população.

Heroica também foi a reação de Roger Waters, ex-Pink Floyd, à censura. 
Acredite se quiser: Bolso pediu ao TSE, e o TSE aceitou abrir investigação, para que Haddad seja considerado inelegível. Motivo: os shows do Roger Waters! Então Waters está na mira dos reaças (incrível que alguns eram fãs dele, e provavelmente consideravam que a canção "The Wall" fosse sobre construção civil). Waters foi ameaçado de ser preso se falasse sobre política no seu show de ontem em Curitiba. 
No último minuto a Justiça, temendo a repercussão internacional, voltou atrás e disse que Waters poderia se manifestar politicamente, desde que fosse até as 22 horas. 
Então, faltando 30 segundos, apareceu no telão: "É nossa última chance de resistir ao fascismo antes de domingo. Ele não! São 10:00. Obedeçam a lei". Foi muito aplaudido pela plateia (houve vaias também), que entoou um coro de "Ele não!". 
Outras coisas interessantes que aconteceram ontem. O Porta dos Fundos lançou um vídeo hilário satirizando as fake news que Bolso e sua usina de mentiras criaram contra o PT. Eu ri mais na parte em que a travesti fala pra avó: "Jesus travesti te abençoe!" (esta foi uma das top fakes da campanha bolsonarista: a montagem de uma camiseta de Manuela Ávila que, de "Rebele-se", acabou sendo divulgada como "Jesus travesti". 
Ainda na noite de ontem, bolsonazis inventaram mais uma fake news (eles não param, apesar da sua tática ser ilegal e criminosa): que dois carros-bomba foram apreendidos na fronteira entre Brasil e Paraguai, carros que seriam usados num atentado contra Bolso. 
Mas a bomba, para os seguidores de Bolso (como bem disse a deputada Maria do Rosário, só os eleitores de Bolso podem ser chamados de "seguidores", já que o comportamento deles assemelha-se ao de uma seita), veio um pouco depois, na forma do Jornal Nacional. 
O JN dedicou onze minutos (um tempo e tanto, em se tratando de espaço televisivo) para cada um para cobrir os últimos dias de campanha de Haddad e Bolso. Começou com Haddad, mostrando uma correria frenética de comícios em várias cidades, entrevistas, atos (veja o vídeo). O que se viu é o que Haddad é: um sujeito tranquilo, boa praça, simpático, gente como a gente, sempre ao lado do povo.
Já no caso de Bolso (veja o vídeo), o dia a dia foi de encontros a portas fechadas com políticos e empresários, com ele carrancudo na maior parte das vezes. O JN mostrou partes dos comícios sem ele, e os atos antes de levar a facada, e ainda entrevistou a terceira esposa, mas Bolso realmente não passou uma boa impressão 
(e, pra piorar, a índia que aparece dando apoio a quem quer acabar com os índios e a Amazônia foi desautorizada pelo cacique da tribo: "Todos os povos indígenas estão contra o Bolsonaro"). A impressão não foi boa nem pros seus seguidores que, só pra variar, chamaram a Globo de comunista.
Pra marcar o último dia, o apoio de Ciro a Haddad não veio. Ele optou por ficar em cima do muro, e a história julgará se esta foi uma decisão sábia (imagino que vocês saibam minha opinião). 
Em compensação, apoios importantes de última hora foram do ministro Joaquim Barbosa e do ex-procurador Rodrigo Janot (duas das figuras jurídicas mais empenhadas no Lava Jato), do cantor Paulinho da Viola (que declarou: "negro não se mede em arroba, se mede em batuques, versos"), do humorista Marcelo Adnet, do YouTuber Felipe Neto, entre vários outros.
Daqui a pouco vou votar, e vou com um sentimento muito diferente do último dia 7. No primeiro turno, Bolso quase ganhou no primeiro turno. Eu estava receosa. Agora não, agora vou com esperança. No primeiro turno, a onda era dele. A enxurrada de fake news paga pelo Caixa 2 o fez crescer. Ele pretendia também lançar uma nova cascata de mentiras nesta última semana, mas foi bloqueado pela reportagem da Folha. E sem mentiras fica bem mais difícil pra um cara tão repulsivo e sem qualidades ganhar uma eleição, né?
Ontem o maridão foi ao supermercado, como faz quase todo sábado, e ele voltou lá pelas 19h, bem quando a Vox Populi foi divulgada. A pesquisa, que foi toda realizada ontem, dava empate (43 a 43) entre Bolso e Haddad (na espontânea, e considerando os votos válidos, dava 51 para Bolso contra 49 para Haddad). Ouvi comemoração nas ruas quando a pesquisa saiu. Eu e o maridão nos abraçamos, emocionados, sonhando com a vitória do PT. 
As outras pesquisas não são tão otimistas, mas é certo que a diferença, que já foi de 20 pontos a favor de Bolso, diminuiu muito. Se a diminuição será suficiente para barrar o fascismo e salvar o Brasil, vamos ficar sabendo hoje. Mas creio que pode ser uma disputa voto a voto. Vai ser emocionante. Vou fazer que nem uma leitora, a Mari, que fez promessa que, se ganhar o PT, ela ficará um ano sem comer chocolate. Prometo o mesmo. 
Ontem eu escrevi no Twitter, revoltada com o atentado em Pacajus: "Não são dois extremos. É um só. E ele mata". Mas uma carinhosa leitora me corrigiu: "Desculpe-me, professora, mas são dois extremos sim: amor x ódio". 
Pois é. Na urna, vote com a sua consciência! Vote contra o ódio. 
Ah, talvez não tenha ficado claro em quem eu vou votar, então vou declarar: Hahahahaddad!
Tirei esta foto hoje. Não parece a cara de quem acha que vai perder