"Hook, A Volta do Capitão Gancho" (91) e "Amistad" (97). Eu sempre preferi o Sp
ielberg infantilóide e hiperativo... até ver "Hook". Nos 90, ele enfim ganhou o Oscar, com "A Lista de Schindler" e os brilhantes 20 minutos de "O Resgate do Soldado Ryan", mas manteve-se longe do encanto de "ET" e "Caçadores da Arca Perdida". "Amistad" traz o politicamente correto Spielberg anti-escravidão neste que tem de ser seu pior filme até hoje. O tema é nobre; a realização não. "Hook" ele fez mesmo pra ganhar dinheiro e pra assumir de umavez por todas seu lado Peter Pan. Não precisava. A gente já desconfiava.
Categoria "Quanto mais idiota melhor"
Pra quem gosta de profundidade filosófica do tipo "a vida é como uma caixa de chocolates. Você nunca sabe o que vai encontrar dentro", "Forrest Gump, O Contador de Histórias" (94) é um prato cheio. Nunca vou me esquecer de quando fui ver este drama vencedor do Oscar, e a sessão estava lotada de escoteiros e bandeirantes. É a espécie de filme feito sob encomenda pra eles. E pro público americano, que se identificou de corpo e alma com um homem de QI negativo. Tudo em "Forrest Gump" é mastigadinho, explicado e repetido dez mil vezes para que ninguém se perca. Se existisse uma "história dos EUA for dummies", este seria o volume um.
Categoria "Pedras no Stone": "JFK" (91) e "Reviravolta" (97). Quando a crítica americana Pauline Kael anunciou sua aposentadoria, alguém quis saber qual a maior vantagem de seu retiro. A crítica, já velhinha mas não senil, disparou: "é nunca mais ter de assistir a um filme do Oliver Stone". De fato, o Stone é dose. Tento evitá-lo o máximo possível. "JFK" não é um filme. É uma tese de mestrado onde Stone trata de convencer o mundo que uma enorme conspiração matou seu adorável presidente. "Reviravolta" é menos ambicioso, mas nem por isso menos pior. "Assassinos por Natureza" (94) não é tão ruim. Sobre os outros que Stone filmou nesta década, posso dizer orgulhosamente que não os vi.
Adendo: cinco anos depois de escrever isso, revi JFK. Agora sou fã do filme.Categoria "Pior Filme Estrangeiro": "A Vida é Bela" (98) Fui quase apedrejada em praça pública ao escrever que a comédia dramática do Benigni era uma bomba. Me chamaram de ufanista, disseram que eu estava injustamente torcendo por "Central do Brasil". Pois bem. O italiano ganhou o Oscar de melhor ator na época e fez aquele teatrinho de subir nas cadeiras e discursar em inglês macarrônico. Se o filme não houvesse caído no esquecimento, Hollywood estaria corando de vergonha até agora. Um jornalista disse que a Academia, após perceber a besteira que havia cometido, se portou como a amante que se espanta ao notar com quem fora pra cama na noite anterior, quando estava embriagada. Hollywood não quer ver o Benigni nem pintado.
Categoria "Narcisista é a Mãe": Uma categoria dedicada àqueles que não desviam o olhar do próprio umbigo e fazem filmes para se auto homenagearem. É o caso de "O Espelho tem duas faces" (96), onde Barbra Streisand assume que se ama de paixão; e "O Guarda-Costas"(92), que também leva a honra de conter o pior penteado dos 90, com Kevin Costner e Whitney Houston subindo às estrelas (depois, no auge do amor próprio, Costner filmou "O Mensageiro". Eu não vi, graças a Deus, mas me contaram que ele chega a declarar "I love my ass" – algo como "amo meu traseiro" ou "amo meu asno", dependendo da in
terpretação). "Psicose" (98), a refilmagem de Gus Van Sant para o clássico de Hitchcock, é outra egotrip. E "Showgirls" (95), amplamente reconhecido como a ruindade da década, exibe a vaidade suprema do diretor Verhoeven e seu roteirista Eszterhas. Riu-se bastante desta brava gente. Pelo menos eles tornaram os anos 90 mais divertidos, apesar de mais sofríveis.
Categoria "Decifra-me ou Devoro-te":
Há quem adore estes filmes de arte ultrapretensiosos. Eu, felizmente, não sou uma dessas vítimas. Gosto do Cronenberg dos anos 80, mas não me divirto vendo gente entediada transando nos escombros de um acidente de trânsito, como ocorre em "Crash – Estranhos Prazeres" (96; foto) (prefira "Christine, O Carro Assassino", esta sim uma boa discussão sobre o relacionamento sexual ent
re homem-máquina), ou encarando uma barata gigante imitando máquina de escrever em "Almoço Nu" (91). Tampouco me tornei uma pessoa melhor por ter suportado "Além da Linha Vermelha" (98) sem roncar. O mesmo não ocorreu em "A Última Loucura do Rei George" (94) – neste eu dormi sem dó. Depois disso, evitei filmes com temas monárquicos. Nada, nem Kevin Spacey, salva "Meia-noite no Jardim do Bem e do Mal" (97), do Clint Eastwood. E nada, nem o Edward Norton, salva "Clube da Luta" (99). Aliás, não sei se este último se enquadra na categoria filmes de arte. Deve haver uma legião de psicanalistas tentando entender por que os homens amam esta queda livre. Por favor, se alguém decifrar o enigma, avisem-me.
Categoria "Ueba! Vamos explodir a Casa Branca!"
É com um carinho todo especial que dedico esta categoria aos blockbusters dos anos 90, que foram mais caros, mais burros, mais barulhentos e mais fascistas do que qualquer coisa que se teve notícia anteriormente. É verdade que "Independence Day" (96), "Armageddon" (98), "Impacto Profundo" (98), "True Lies"(94) (o machismo no seu clímax), e "Godzilla" (98) fizeram o que toda a humanidade tinha vontade de fazer, que é despachar os Estados Unidos pro espaço, mas nem esta ideologia positiva compensa o sofrimento que esses filmes-catástrofes infligem a seus espectadores. Perto deles, "Anaconda" parece até simpático.
É isso aí, pessoal. Espero ter ofendido todos os gostos. Numa lista destas, a gente sempre comete a injustiça de se olvidar de algum filme importante. Aguardo cartas e e-mails de ódio. Favor enviar os carros-bomba pra redação.