Desculpem o blog meio abandonado (alguém notou? Tá todo mundo viajando?), sem posts há dias. Faz tempo que quero escrever esta retrospectiva pessoal de 2016, mas o desânimo me pegou forte, aliado a uma boa dose de preguiça.
Que 2016 foi péssimo pro Brasil e pro mundo, não resta a menor dúvida. Só reaça que tá feliz, porque foi o ano deles: golpe no Brasil, derrubada de um governo mais ou menos de esquerda (muito menos do que queríamos) que os entreguistas não conseguiam tirar no voto, aquela vergonha internacional dos deputados da Câmara agradecendo a deus e à família ao votar o impeachment, a instalação de um governo golpista que está vendendo o país, com todo o Congresso e Judiciário como cúmplices, aprovação da PEC da Morte, que vai congelar o futuro de toda uma geração... No mundo, eleição de uma caricatura do ódio como Trump, Brexit, a morte de um ícone, Fidel, e mais uma lista infindável de tragédias.
Lembram de tudo que a gente reclamou de 2015? Em comparação a 2016, foi um paraíso. Se alguém faz em dezembro de 2015 tivesse previsto tanta barbaridade pra 2016, seria tachado de lunático pessimista. Olhando por esse ângulo, não tem como 2017 ser pior! (tem?).
Então é óbvio que eu e todas as ativistas que conheço estamos desanimadas. Mas agora é a hora de lutar mais do que nunca.
Sei que não podemos abandonar o barco. Se antes o nosso trabalho já era importante, agora é imprescindível!
Sei que não podemos abandonar o barco. Se antes o nosso trabalho já era importante, agora é imprescindível!
O irônico é que, ainda que o ano tenha sido péssimo pro planeta, pra mim, em nível absolutamente individual, foi muito bom. É que minha vida é tão boa, sou tão privilegiada, que todos os anos são bons.
Não vou fazer uma retrospectiva do blog (isso eu deixo pro final de janeiro, quando o bloguinho completa nove anos de vida), mas trabalhei muito, fiquei cansada, preciso recompor as energias. Dei 34 palestras e 50 entrevistas, participei de dez bancas, tive artigos meus publicados em excelentes livros -- Golpe 16, editado por Renato Rovai, e Você Já é Feminista, organizado por Nana Queiroz, dois queridos.
Conheci gente muito especial, finalmente conheci Teresina (não vou negar: é quente mesmo, vocês não estavam exagerando), voltei a Florianópolis e Porto Alegre, estive em Natal duas vezes... Tudo isso a trabalho.
Praticamente não tive férias, porque substituí na coordenação do curso uma colega que precisava sair de férias (se não ela perdia). Mas aproveitei cada feriado para viagens curtas e próximas: Silvinho e eu fomos a Cumbuco, Porto das Dunas, Caponga, Sabiaguaba, e um pouco mais longe, em julho (Jericoacoara, Quixadá e Guajiru, tudo no Ceará).
Como ficamos mais por aqui, economizamos bastante. Ganhamos bem, guardamos muito. Meu projeto é parar de trabalhar em 2023, quando eu tiver 55 ou 56 anos e o maridão, 65. Sei que agora com a reforma da previdência do golpista ninguém mais poderá se aposentar, mas o plano é que a gente se aposente por conta própria. Não sei se vai dar certo, mas a nossa parte (guardar dinheiro toda a vida) a gente vem fazendo. O que não é tão difícil, considerando nossa índole pão dura miserável economicamente responsável.
O melhor é que minha saúde está ótima! Contrariando o pessoal que quer ver o meu cadáver (incluindo um médico reaça que nunca me viu mas deseja que eu morra de câncer), eu começo 2017 melhor que comecei os últimos três anos. Certo, ainda estou com esteatose (gordura no fígado, diagnosticada em 2012), mas todos os meus índices deram uma melhorada.
E eu estava com ovários gigantes. Minha ginecologista até recomendou que eu tirasse tudo (útero, ovários, como eu não tava usando mesmo), e sabem o que eu fiz? Nada. Simplesmente fugi dos exames em 2015 (sou irresponsável, eu sei. Homens fazem isso o tempo todo e ninguém reclama). Agora em 2016 fiz todos os exames possíveis e tudo voltou ao normal. Não tenho mais ovários gigantes! "Você está ótima", disse o médico que fez os ultrassons.
Já falei a vocês que comecei a tomar suco verde todo dia. Agora faz dois anos e meio. Esse hábito saudável (que o maridão, que ama sucos, adora) certamente contribuiu para baixar meu colesterol e tudo o mais. Estou acostumada com o suco. Agora estou tomando também uma ou duas xícaras de chá verde para apressar o metabolismo.
Em 2016 passei a comer legumes e verduras assadas diariamente, no almoço. E vi que não é nenhum sacrifício. Eu até gosto! (tomates, cebolas, cenouras, abóbora, vagens, espinafre, e pimentão. Berinjela eu comprei uma vez mas vieram as três bichadas, aí desisti). Isso foi sugestão de uma nutricionista super carinhosa. No primeiro semestre, a UFC ofereceu a seus servidores um curso de Reeducação Alimentar, coordenado por duas nutricionistas, professoras da universidade. Eu fiz o curso e aprendi muito.
E pude conversar numa boa com a melhor nutricionista que já conheci (não que eu tenha conhecido muitas, acho que só duas antes dela, mas ela é fantástica, ela te incentiva, não te cobra). Durante uns três ou quatro meses, consegui parar com o chocolate (só no final de semana), fiz ginástica em casa (eu danço "I Will Survive" e outras músicas dançantes pra aquecimento e depois faço esteira, que eu acho um saco, escutando In Defense of Food, do Michael Pollan, no Kindle). Perdi seis quilos. No segundo semestre eu voltei a comer chocolate com mais assiduidade, mas mantive o peso a menos. Agora pra 2017 minha resolução é parar com o chocolate. A indústria está colaborando comigo, ao reduzir todas as barras para menos de 125 gramas (eu sou da época que elas tinham 200 g!), mas mantendo o preços nas alturas.
Um dos meus maiores desejos para 2017 é que alguns mascus sejam presos. Vamos ver se agora vai! Acho que só contei no Twitter, e não posso falar muito, mas três dias antes do Natal mandaram ameaças ao reitor da UFC dizendo que, se eu não for exonerada, acontecerá um atentado na universidade. Portanto, o reitor deveria escolher entre despedir o "demônio imundo" (euzinha) ou "passar uma semana recolhendo pedaços de corpos e enterrando centenas de mortos". Fiquei sabendo que ameaças parecidas foram feitas em duas faculdades particulares em outros dois estados, com outros dois professores.
Agora a polícia acordou, e mascus estão sendo investigados por terrorismo. Parece que, no Brasil, tudo bem ameaçar de morte, estupro e tortura várias mulheres e meninas, principalmente feministas, já que misoginia não é crime. Mas terrorismo é. E é o único crime em que você não precisa realizar pra configurar crime -- só a ameaça já é crime, pela nova lei anti-terrorista, aprovada este ano. Fui depor na Polícia Federal anteontem e dois agentes da Abin (Inteligência Brasileira) vieram conversar comigo aqui em casa ontem. Não posso revelar mais nada pra não atrapalhar as investigações, mas agora estou um tiquinho mais otimista de que esses criminosos não ficarão impunes.
Vamos ver. Não tenho esperanças que em 2017 o Brasil saia da encrenca abismal em que se meteu. E vejo os pregadores de ódio cada vez mais entusiasmados, mais abertamente preconceituosos. Mas, da minha parte, vou continuar lutando. Venham comigo! Vamos juntxs!
(Amanhã eu incluo algumas imagens e links. Agora tenho que cuidar da ceia do reveillon! Uma ótima passagem de ano pra vocês).