Preciso deixar registrada como foi minha participação no evento Mulheres que Transformam, organizado pelo Decanato de Extensão da UnB.
Bom, foi tudo ótimo. Aconteceu na última quinta. Foram, na realidade, duas palestras. Uma, de manhã, no campus Darcy Ribeiro, em que eu, a socióloga e YouTuber Sabrina Fernandes, a historiadora Ana Flávia M. Pinto (uma das responsáveis pelo Festival Latinidades), e a professora Gina Vieira falamos por cerca de 20 minutos cada uma.
Com todo o respeito e admiração por Sabrina e Ana Flávia, a fala mais comovente foi a de Gina, que criou o Projeto Mulheres Inspiradoras. Hoje adotado em várias escolas de Brasília, o projeto, vencedor de prêmios internacionais, faz com que estudantes valorizem mulheres (começando pelas pessoas de suas famílias). É lindo!
|
Sabrina e eu no almoço |
A palestra da tarde, no campus Planaltina, foi comigo e com a física Elisabeth Andreoli de Oliveira, da USP.
Amei a fala de todas elas, e também a energia e o carinho que podiam ser sentidos vindos do público, principalmente na parte da manhã, no auditório lotado. Foi muito bacana mesmo. Eu sempre guardo ótimas memórias de todas as minhas palestras na UnB (a primeira em 2011).
Mas o que me chamou a atenção desta vez foi o enorme aparato de segurança. Gostaria de contar tudo, mas não posso, pra não comprometer futuras ações. Só posso dizer que nunca passei por nada igual. Até quinta minha maior proteção tinha sido numa roda de conversa no Sesc Tijuca, em 2015, em que tive que entrar pelo estacionamento. Cinco guardas me acompanharam por todo lugar (no final tirei foto com eles).
Quinta na UnB destacaram trinta seguranças pra me proteger (e proteger o público e as outras palestrantes também). Havia uma rota de fuga programada. No caminho entre os dois campi, fui levada num comboio de três carros. Passei mais tempo com os seguranças da UnB (todos muito simpáticos e competentes, conversamos bastante) que com as outras pessoas.
Num momento com um deles, enquanto esperávamos na sala do vice-diretor, ele me disse que haviam cuidado da segurança do Lula e do Dalai Lama do mesmo jeito que estavam cuidando da minha. Eu respondi que no caso deles eu entendia perfeitamente, mas eu era uma mera professora e blogueira.
|
Breno vestindo a camiseta do fascismo |
Gostei do trabalho de inteligência e planejamento que a equipe realizou. Por exemplo, ao chegar na UnB, de manhã, um dos responsáveis me mostrou a foto do Breno, e disse que ela havia sido distribuída a todos os seguranças. Breno gravou um vídeo em junho avisando que iria se matar e me "levar junto". No final de fevereiro, mandou um email jurando pelo túmulo de seu pai que a quadrilha neonazista iria contratar um pistoleiro e que deste ano eu não passaria.
Porém, pelo que entendi, não houve alguma ameaça específica ao evento da UnB. Foi mais o momento político mesmo, que eles consideraram de alto risco para uma feminista que vem sendo ameaçada há anos.
Eu não estou acostumada com nada disso. Entendo que precisem me proteger porque a situação realmente não é nada boa, depois do massacre de Suzano e de tantas ameaças.
Entendo também que a UnB tenha mais cautela que outras universidades. Afinal, Marcelo, líder do Dogolachan (preso em maio de 2018 e condenado em dezembro a 41 anos de cadeia), estudou brevemente na UnB (me falaram que ele se matriculou em Letras Japonês mas não chegou a cursar nenhuma disciplina), em 2005, e passou meses em 2011 e 2012 prometendo um atentado lá. Muito mais recentemente, a professora e ativista Débora Diniz recebeu ameaças pesadas, que a fizeram sair do Brasil. E algo que eu não sabia, e que agrava a situação: o DCE da UnB está nas mãos da direita.
|
Auditório lotado antes do início |
Só posso agradecer a proteção, mas não é algo que eu quero me acostumar. Gosto de andar livremente por aí, ainda mais nos ambientes democráticos que são as universidades públicas. E o pior: quando há um esquema de segurança desses, geralmente não podemos tirar fotos e retribuir abraços da plateia no final. E isso faz muita falta.
|
Eu e Belle em sua casa |
Antes da palestra começar, uma moça entregou este bilhetinho pra minha amiga Belle, que o entregou pra mim:
"Lola, querida Lola, não quero perder a oportunidade de poder te agradecer. Ler você já é muito libertador e empoderador. Tenho tido uma trajetória longa, e, por vezes, doída, para ser a mulher que escolhi ser, cada vez mais livre das amarras instituídas e mais conectada com meus ideais. Obrigada por sua coragem, por sua luta. Você inspira e move muitas de nós. Com amor e respeito, Luana".