De uma das minhas comentaristas favoritas, Roxy Carmichael, no post em que eu declarei que amo homens e veio um monte de gente nos comentários tirar minha carteirinha de feminista:
1. deixar comentários anônimos raivosos em blogs que se dedicam a uma militância política diferente da militância do sujeito (sujeito, aliás, que não cria seus próprios espaços de militância)
2. generalizar uma experiência pessoal
3. fazer uso de estatísticas imaginárias
4. vomitar ressentimento
5. fazer uso de essencialismos
7. apelar para um pessimismo paralisante
8. não dialogar com o contraditório, mas querer destruí-lo
9. não entender as potencialidades da diferença e buscar a homogenização
10. não cruzar importantes variáveis de distintas experiências sociais para entender a complexidade do mundo e, em vez disso, fazer uso de uma única "teoria" distorcida pra se moldar unicamente aos problemas e interesses próprios.
Depois das dicas, Silvio Santos faz a pergunta de 1 milhão: quem é que utiliza esse modus operandi?
a) masculinistas?
b) feministas radicais?
Eu respondo que esse É o modus operandi desses três sujeitos políticos.
Uma questão: a revolta do oprimido não deve ser jamais colocada em pé de igualdade com os mecanismos de opressão. Daí que ninguém vai dizer que essa revolta por mais vinda do fígado que venha, poderá ser comparada ao aparato violento do opressor.
Agora, discurso de ódio É discurso de ódio. sabe quando a gente diz que pra ser racista não é preciso pendurar um negro numa cruz e botar fogo e sim desumanizar o negro no discurso mais explícito e mais sutil no dia a dia?
Ódio não é só quebrar lâmpadas na cabeça dos gays, é também negar que eles possuem uma orientação tão legítima quanto qualquer outra. É entender que ele pode ser filho, pai, amigo, marido, profissional, frequentador de restaurante, qualquer coisa, assim como qualquer pessoa com qualquer orientação sexual.
Mas o que é que a gente tá vendo aqui? Que o homem é ontologicamente mau. Que ele não é humano. Ele é um monstro programado pra degradar, odiar, humilhar. Que ele NATURALMENTE odeia mulheres. E o pior não é nem isso. É que o reverso é igualmente falso e perigoso: a mulher é boa por natureza e cuidadora. Pera aí, achei que esse era o discurso machista pra confinar as mulheres em casa cuidando das gerações passadas futuras!
O coletivo opressor não é formado por monstros e o oprimido, não é formado por seres elevados moral e eticamente. É formado por pessoas com todas as suas contradições! Não lutamos porque as mulheres são mais justas e por isso merecem estar no topo da hierarquia "educando" e punindo os homens, que são seres ontologicamente maus.
Não, as mulheres não são mais justas MESMO. Lutamos porque a igualdade é a única forma aceitável de viver em comunidade, em sociedade. lutamos para que os bons, os maus, os nem tão bons, os nem tão maus gozem dos mesmos direitos e deveres.
A única coisa que esse discurso de vocês faz é reduzir pessoas a uma caricatura. Homens e mulheres! Porque se usa uma leitura muito, mas muito limitada e distorcida pra entender o mundo. Porque não se quer dialogar, se quer destruir. Esquecem que o mundo é heterogêneo e complexo, embora, seja regido sim por sistemas bem estabelecidos de poder. Onde existe poder, existe resistência. O sistema de poder é sim bem estabelecido, mas ele é instável. E é por isso que o discurso do medo é disseminado com tanta facilidade.
Ao invés de ficarem nessa viagem de nazismo (comprando uma visão maniqueísta de Hollywood do mau absoluto e da vítima total e denunciando que você só pode ser branco porque só tem essa referência de opressão, curiosamente, as pessoas brancas), por que não se recupera por exemplo a luta pelos direitos civis nos Estados Unidos? Protagonizada com muita garra e sangue pelos negros, mas com o apoio de muitos brancos, pois é o mesmo coletivo que estava ali obrigando os negros a sentarem no fundo do ônibus.
Todas e todos nós deve- ríamos ser feministas, diz Chimamanda |
Mas como são oprimidas por um lado e privilegiadas por outro, esquecem que existem sim cruzamentos entre as identidades: as mulheres são oprimidas pelos homens, mas as mulheres brancas ganham mais que os homens negros. Porque as mulheres brancas chegaram aqui como colonas e os homens negros como escravos. Dizer que mulher não pratica bullying, não é racista, não é classista, é tão absurdo como quando os mascus dizem que eles são bonzinhos num mundo cheio de mulheres escrotas.
Agora deixa eu só contar uma coisa pra vocês: vão lá perguntar pras mulheres negras se eles odeiam os homens. Quem tem coragem de perguntar isso pra uma mãe ou uma mulher que tá lutando pra que o filho negro ou o marido não seja morto pela policia, não seja tratado sem dignidade pela imprensa em busca de um bode expiatório?
As mulheres negras criaram uma associação pra lutar pelos direitos dos filhos delas e isso é uma questão totalmente feminista que passa batido pelas feministas brancas que não têm a capacidade de olhar ao redor e ver que o mundo não é o umbigo delas.
As mulheres negras criaram uma associação pra lutar pelos direitos dos filhos delas e isso é uma questão totalmente feminista que passa batido pelas feministas brancas que não têm a capacidade de olhar ao redor e ver que o mundo não é o umbigo delas.
Outra questão que alguém aqui levantou e acho importantíssima recuperar é: o oprimido tem que ter cuidado pra não lutar pra obter os privilégios do opressor e sim, pra destruir o sistema de privilégios. E isso parece óbvio, mas não é.
Combater supervilões é sopa. Combater misoginia é o verdadeiro desafio. |
Passar bem.