segunda-feira, 31 de outubro de 2016

A "ENDIREITADA" QUE O BRASIL DEU NÃO É PRA SEMPRE

Fim de um ciclo, sem dúvida. Não o fim da esquerda

Estou atrasada para a universidade, então farei (a pedidos) apenas uma breve análise política. 
As eleições municipais no início do mês já nos deixaram com um gosto amargo, e agora o resultado deste segundo turno teve a habilidade de piorar a situação.
Só três exemplos para ilustrar: em Curitiba venceu Rafael Greca (PMN), que faz pouco tempo revelou que tinha nojo de pobre, ao ponto de vomitar ao entrar no mesmo carro com um morador de rua.
Santa Maria, em sua primeira eleição com segundo turno (antes a cidade não tinha 200 mil eleitores), teve a votação mais acirrada: o candidato do PSDB venceu o candidato do PT por apenas 226 votos. 
E Marcelo Freixo perdeu para Crivella no Rio, o que era bastante esperado. Essa notícia não é de todo ruim, a menos que você more no Rio. Freixo conseguiu repercussão nacional e tem chances de se eleger senador, por exemplo, em 2018. Além dos mais, a situação no Rio está tão desastrosa que ela tem o potencial de queimar o prefeito. 
(Corre uma discussão sobre quem ganhou: Crivella e a Igreja Universal, ou foi a Globo que perdeu? Freixo não era o candidato ideal da Globo, mas é óbvio que a Globo não queria um prefeito da Universal, da sua concorrente Rede Record, ser eleita no seu quintal, o Rio. Mas é besteira pensar que a vitória de Crivella prova que a Globo pode ser batida. É lógico que a Globo pode ser batida. Ela foi batida em 2002, 2006, 2010, 2014...). 
De novo, como em 2012, seguimos com uma gritante falta de representatividade. Apenas uma mulher (de direita) será prefeita de uma capital. É irônico porque, ao serem confrontado com esses dados, os reaçeas perguntam "E daí? Vocês querem cotas agora?" Não, cotas parece que já temos. Parece que pra ser eleito tem que ser homem, branco e hétero. Claro que toda essa legião de homens brancos e héteros é eleita porque merece, porque é honesta e competente. 
A base governista, que inclui PMDB, PSDB, PSD, PP, PSB, PR, DEM, PTB, PPS, PRB e PV, agora comanda 81% do eleitorado do país. O PMDB cresceu um pouco, de 1.021 para 1.038 prefeituras. PSDB tem 803 prefeituras. Porém, quando se leva em consideração a população de cada cidade, percebe-se que o PSDB foi o grande vencedor. PRB, partido da Universal, tem agora 105 prefeituras.  
O governo Temer avaliou o resultado das eleições municipais como uma vitória dele, uma legitimação do seu governo. Estranho, já que Temer não apareceu na TV apoiando nenhum candidato. Mas a preocupação do governo era de que a aprovação da PEC 241, que aconteceu este mês, entre o primeiro e o segundo turno, poderia tirar votos de candidatos governistas a prefeito. Não tirou.
Minha avaliação é que a aprovação da PEC é muito recente, e um monte de pessoas ainda não se deram conta do que ela vai representar. E eu insisto: se até os seguidores ultra reaças de Bolsonaro o criticaram por votar a favor da PEC, é porque ela é difícil de engolir mesmo. 
Uma pesquisa da CNT/MDA conferiu que menos da metade da população (41%) sabe da existência da PEC. Entre essa parcela que sabe, 60% disse ser favorável à PEC, 33% contra, e 7%, não sabe responder. Acontece que a pergunta da pesquisa foi "Você é a favor ou contra a medida que limita o aumento das despesas públicas?" A pergunta correta a ser conferida pela pesquisa seria: "Você é contra ou a favor da medida que congelará durante 20 anos os investimentos em saúde e educação?" 
É esquisito o que vou escrever, mas o resultado em BH foi mais uma vitória de Alckmin, que começa a se consolidar como candidato do PSDB à presidência em 2018 e, talvez, se os donos do poder se cansarem com o fantoche Temer, a presidente escolhido indiretamente pelo Congresso já no ano que vem. 
O governador vitalício de SP (faz quantas duas décadas que ele está no governo?) apoiou Alexandre Kalil, do PHS, para prefeito de BH. Aécio apoiou João Leite, do PSDB. Kalil venceu (numa eleição que, se eu tivesse que escolher, votaria nulo sem dor na consciência). Mais uma prova que Minas está cansada de Aécio, depois da fragorosa derrota que ele levou nas urnas em 2014. 
O PDT venceu nas duas capitais em que concorria no segundo turno, São Luís e Fortaleza, o que fortalece Ciro Gomes. Aliás, o PDT, definido como "o principal partido da oposição e do que sobrou da esquerda", venceu em 335 municípios, onde vivem 13 milhões de pessoas. Um crescimento nada desprezível. Ok, poucos sabem se o PDT é mesmo de esquerda, mas pelo menos faz hoje oposição a Temer. 
O PCdoB venceu em Aracaju. PSOL perdeu em Rio e em Belém, e o PT, em Recife. Assim, o PT fica agora só com Rio Branco entre as capitais. 
Não há dúvida alguma que o PT foi o grande derrotado dessas eleições municipais. Foi de 638 prefeituras para 254. Encolheu para quase um terço do que tinha. De terceiro maior partido em número de prefeituras, em 2012, passou para o décimo. Mas o mais lamentável é que nenhuma outra esquerda se consolidou em seu lugar. PSOL tem agora duas prefeituras, de minúsculas cidades no Rio Grande do Norte. 
Como diz Renato Rovai, "o resultado desta eleição em um primeiro momento parece ser algo para esquecer. Mas na verdade deve ser o contrário, precisa ser lembrada para sempre". Para ele, esse terrível resultado não se repetirá em 2018, porque a votação na esquerda é tradicionalmente muito maior do que isso, e porque os novos prefeitos, vários deles péssimos e corruptos, dificilmente farão um bom governo. 
(Recomendo demais esta entrevista com o sociólogo Roberto Dutra sobre o eleitorado evangélico e a "cegueira da esquerda").
Se alguém me dissesse faz um ano que o país estaria como está agora, nas mãos cheias de dedos da direita, com tudo dominado (executivo, legislativo, judiciário), seria chamado de louco pessimista. Lembra do "Acaba logo, 2015?" Pois bem: 2016 está sendo muito pior. 
Às vezes eu fico bem desanimada, mas aí me lembro quantas vezes os reaças já decretaram a morte da esquerda no Brasil. E os ânimos deles também variam demais: no final de 2014 os reaças choravam que o PT iria governar o país por no mínimo vinte anos, ou enquanto houvesse o Bolsa Família, ou enquanto persistissem as urnas eletrônicas (agora que o PT não está mais no poder, foram deixadas de lado essas teses conspiratórias de Bolsa Família = voto de cabresto e urnas eletrônicas = corrupção garantida). Agora eles acham que o Brasil virará um enorme Tucanistão -- pra quem não sabe, como São Paulo, reduto tucano, é conhecida -- ou que Bolsonaro tem chances reais de ser eleito presidente (não tem, gente. Não é da direita exagerada e caricata que devemos ter medo. É da que está aqui, agora). 
Sim, o Brasil virou um enorme Tucanistão. Mas isso é agora. Não quer dizer que permanecerá assim em 2018. Tenho certeza que o povo não aprova a PEC e vai ficar ainda mais desgostoso quando mexerem na aposentadoria e nas leis trabalhistas. Governo com esse projeto não consegue se eleger. Só chega ao poder através de golpe. 
Vale lembrar que essa total derrocada do PT aconteceu em apenas dois anos. Então não custa crer que a fase da direita do país pode também ser revertida em dois anos. Não estou dizendo que o país não deu uma lamentável "endireitada". Deu, sim. O que digo é que essa "endireitada" não é permanente. 

domingo, 30 de outubro de 2016

DIA DE COMPRAR LIVRO (E DE VOTAR NO SEGUNDO TURNO)

Pessoas queridas, só um post rapidinho pra dizer que voltei da praia. 
Foi um breve final de semana em Porto das Dunas, perto de Fortaleza. O mar não é pra mim, mas a pousada tinha uma piscina convidativa.
Aí voltamos e fomos votar, porque Fortaleza teve segundo turno. 
Mesmo com a tentação de anular o voto (como votar numa chapa que tem um cara de DEM como vice?!), acabei prendendo a respiração e digitando 12. Como disse o maridão, "Não estamos numa fase propícia para ter um capitão como prefeito". 
Bom, não esqueçam de comprar o livro Golpe 16. Lá tem um artigo meu e outros 21 excelentes textos de muita gente ótima da blogosfera de esquerda, além do prefácio do Lula e de uma entrevista com a Dilma. 
O livro custa R$ 35 se você comprar direto das minhas mãos, na UFC, por exemplo, e R$ 43 pelo correio. Eu mando com dedicatória. Tudo que você tem que fazer é pagar o valor (R$ 81 se você comprar dois exemplares) na minha conta no Banco do Brasil, agência 3653-6, conta 32853-7 (está no meu nome oficial, Dolores), ou na minha conta no Santander, agência 3508, conta 010772760. Mande um email pra mim (lolaescreva@gmail.com) com o comprovante ou foto do comprovante e o seu endereço.
Dá um excelente presente de natal ou aniversário! 
E, por favor, não pergunte "Você ainda tem o livro?". Eu ainda tenho 50 exemplares! Quando chegar a 10 (SE chegar), aí dá pra fazer essa pergunta. Por enquanto, é só comprar!

sábado, 29 de outubro de 2016

MAIS DOIS CASOS PROVANDO QUE CULTURA DE ESTUPRO EXISTE

Pessoas queridas, há dois casos importantíssimos que não tive tempo para relatar no blog. Vou expor os casos aqui e conto com a colaboração dxs comentaristas inteligentes (trolls estão dispensados, obrigada).
Um caso é o do terrível estupro coletivo -- mais um -- de uma vendedora de 34 anos que foi vítima durante quatro anos de sucessivos estupros coletivos cometidos por traficantes da comunidade onde vivia, Miriambi, no bairro Lagoinha, São Gonçalo, RJ. Tudo começou quando um ex-namorado espalhou entre a comunidade um vídeo íntimo dos dois, filmado sem o consentimento dela. Isso fez com que, segundo a presidente da Comissão de Segurança da Assembleia Legislativa do RJ, "o tráfico se sentisse autorizado a fazer com que essa vítima fosse vítima de estupro de forma consecutiva. Consecutiva e coletiva”. Apavorada, sem ter para onde ir, com medo do que ameaçavam fazer com as duas filhas dela, a vendedora se calou. 
O último estupro coletivo foi na madrugada de 17 de outubro. Ela estava num bar com um amigo quando foi arrastada para o banheiro do bar e depois para uma rua escura. PMs faziam uma ronda de combate ao tráfico e surpreenderam o grupo de cerca de dez homens, que conseguiram fugir para um matagal. Dois adolescentes foram presos em flagrante. 
Talvez a parte mais chocante deste caso é que, quando os policiais levaram esses dois algozes (há outros oito) e a vítima à delegacia, decidiram levar todos juntos, na mesma viatura! Espremida no banco traseiro, ao lado de dois dos estupradores, a vítima teve que ouvir de um deles: "Fica tranquilinha. Vai dar tudo certo", enquanto ele alisava a perna dela. 
Na delegacia, mais uma violência: o policial responsável pelo registro a tratou sem a menor sensibilidade e redigiu um depoimento que mais parece um filme pornô. Entre expressões como "boquete triplo" e "no pelo" (sem camisinha), ainda estava lá a frase "a declarante só gritou porque empurraram um galho de árvore em sua bunda". Procurado pelo jornal Extra, o policial declarou que "não houve constrangimento nenhum" (pra ele de fato parece não ter havido, né?). 
Clique para ampliar
Levou dias para que a vítima e sua família finalmente fossem removidas da comunidade (onde corriam sérios riscos) e levadas para outro lugar. A vítima foi incluída no Programa de Proteção a Testemunhas do Governo do Estado. O caso é assustador e revoltante sob todos os ângulos possíveis. 
Parafraseando um ótimo post do Blogueiras Feministas, eu pergunto: se os estupros são coletivos, como é que a sociedade não se sente nem um tiquinho responsável? Foram dez homens -- que se sentiram à vontade para estuprar quem começou sendo uma vítima da pornografia da vingança. Muita gente viu os estupros, muita gente se envolveu, ninguém falou nada. E óbvio que a galera do "cultura de estupro é mimimi de feminista" vai tratar o caso como algo isolado, que acontece só em favelas. 
Este outro caso prova que não é assim, que estupros acontecem em todas as classes sociais. Este caso é sobre o estudante de Medicina da USP acusado de três estupros. Ele tem 35 anos e vai conseguir o diploma e se formar médico. Sim, eu disse três estupros
Além disso, essa flor de pessoa também carrega nas costas um assassinato. Em 2004, quando era soldado da PM (ele pediu exoneração em 2008), matou um homem com oito tiros durante uma discussão no carnaval. Ele estava em horário de folga. A briga começou porque a vítima "se insinuou" para ele. O então PM foi condenado a um ano (alegou legítima defesa -- oito tiros, legítima defesa!), e depois, no recurso, conseguiu extinguir a pena.
Alunas da USP protestaram no ano
passado, quando foi anunciada a
suspensão (não expulsão) de Daniel
Enquanto aluno da USP, ele foi acusado de dopar e estuprar três alunas, duas estudantes de Medicina, como ele, e uma de Enfermagem (um desses casos virou processo e tramita em segredo de justiça). A universidade, em vez de expulsá-lo, tentou abafar os casos (só aceitou abrir sindicância depois que uma CPI da Assembleia Legislativa de SP discutiu violência nas universidades paulistas, em 2014), e apenas suspendeu o estudante por seis meses por -- pasmem -- "infrações disciplinares". Diante da pressão, a USP aumentou a suspensão para  um ano e meio.
Há ainda outros três relatos de alunas que, com medo, preferiram não formalizar a denúncia. Esses relatos chegaram à Rede Não Cala, um coletivo formado por professoras para cobrar ações de enfrentamento aos casos de abuso sexual e de gênero na USP).
Outro escândalo relacionado é que a médica Maria Ivete Castro Boulos foi afastada sem explicação há duas semanas da coordenação do órgão responsável por acolher vítimas de violência sexual e formular políticas relacionadas aos direitos humanos na USP. No lugar da médica foi colocado um cirurgião que faz "piadas" desse tipo nas redes sociais (ao lado).
Não sei se vocês lembram de um caso ocorrido em 2009 na Uniban, uma universidade particular de São Bernardo do Campo. 
Geisy, então aluna de Turismo, foi à faculdade usando um vestido curto. Isso gerou uma inexplicável histeria pública de alunos nos corredores gritando "Puta! Puta!" Tiveram que chamar a política para conter a turba enraivecida. No final, a Uniban decidiu expulsar Geisy, pois "a atitude provocativa da aluna resultou numa reação coletiva de defesa do ambiente escolar". Depois teve que voltar atrás.
Mas só pra recapitular, mesmo comparando uma uniesquina a uma das melhores universidades da América Latina: Geisy foi expulsa por usar um vestido curto. O aluno de Medicina vai se graduar, mesmo sendo acusado de estuprar no mínimo três alunas, e vai atuar como médico. Leva consigo um histórico de impunidade. 
Tô esperando aparecer gente pra me dizer que cultura de estupro não existe.

sexta-feira, 28 de outubro de 2016

NÃO DESFIZ A AMIZADE COM VOCÊ POR CAUSA DE POLÍTICA

Um excelente artigo de Jennifer Sullivan publicado no Huffington Post
É sobre manter a amizade com gente que acha OK apoiar candidatos fascistas como o Trump nos EUA e o Bolsonaro aqui no Brasil. Eu já fiz essa pergunta algumas vezes: você namoraria alguém que chamasse um babaca preconceituoso de "Bolsomito"? Porque não é só política. Defender um cara que é abertamente hostil a mulheres, gays e negros é uma questão de (des)humanidade. Diz tudo sobre os seus valores. 
A Denise, uma advogada e feminista que mora na Austrália, fez o enorme favor de traduzir o post de Sullivan pro blog.

Um dos maiores fracassos de Trump
“Por que as pessoas estão desfazendo a amizade com outras por causa de política?”
Se eu ganhasse um centavo para cada vez que eu ouvi (ou li) essa questão nos últimos meses, eu teria dinheiro suficiente para socorrer o Trump Taj Mahal [nota de tradução: Trump Taj Mahal é um cassino em Atlantic City, USA, que pertencia ao bilionário Donald Trump e faliu em 2014, fechando as portas definitivamente em 2016].
Os indivíduos que fazem essa pergunta geralmente culpam a falta de maturidade. A vil recusa de se lidar com crenças opostas. A uma questão de mero partidarismo.
E sabe o que eu tenho a dizer a essas pessoas?
Chega.
Trocadilho: superar (overcome) e
pentear demais
Não, realmente. Chega.
Estou tão cansada de pessoas fingindo choque e indignação pelos outros não quererem manter a amizade com aqueles que estão alimentando direta ou indiretamente a discriminação. A discriminação contra as pessoas LGBT. A discriminação contra os negros. A discriminação contra aqueles de uma religião diferente ou de uma diferente nacionalidade.
Na política, a estupidez não é um
defeito -- Napoleão Bonaparte
A plataforma inteira da campanha de Trump / Pence [candidato a vice] gira em torno de fazer outros indivíduos se sentirem inferiores. É divisiva. É prejudicial. E isso está em oposição flagrante a todos os ideais sobre os quais este país [Estados Unidos] foi fundado.
"Para sermos justos, nós meio que o
criamos", diz GOP para Tea Party
Esta eleição é diferente de qualquer outra que a precedeu, como foi evidenciado pela dissonância generalizada que assola a base republicana. Houve discordância sem precedentes entre os membros do GOP [nota de tradução: GOP é como o Partido Republicano dos Estados Unidos é coloquialmente conhecido]. Jornais conservadores estão endossando um Democrata pela primeira vez na história da sua existência (existências que datam de séculos, em alguns casos).
Será que eles estão reagindo de tal maneira por que querem um Democrata na Casa Branca? Ou eles estão repudiando um candidato de seu próprio partido porque isso transcende a política?
O senso comum diria que é o último caso. Afinal de contas, esta não é uma questão de opiniões divergentes relativas ao código tributário. Isto não é sobre os mecanismos de comércio. Não se trata do sistema de saúde.
Isto é sobre humanidade.
Decência.
Moralidade.
E reduzir isso a uma questão de política é não compreender (ou mostrar uma notável quantidade de apatia para com) o próprio cerne da questão.
No final do dia eu não posso e não serei amiga de pessoas que pensam que deveríamos estar direcionando recursos para a terapia de conversão de pessoas “sofrendo” de homossexualidade (como Pence). Eu não vou ser amiga de pessoas que pensam que é aceitável sujeitar pessoas negras a práticas que foram consideradas inconstitucionais porque privaram essas pessoas das liberdades civis que a nossa Constituição foi destinada a proteger (como Trump). Eu não vou ser amiga de pessoas que pensam que aqueles que se submetem ao Islã são menos merecedores de amor, respeito, ou refúgio do que os seus homólogos cristãos. Eu não vou ser amiga de pessoas que pensam que é moralmente aceitável matar indiscriminadamente os filhos de terroristas. Nem vou ser amiga de pessoas que falam mal de imigrantes, quando sem os imigrantes nenhum de nós sequer estaria aqui.
E a única maneira que qualquer um desses pontos possa ser reduzido a uma questão de diferenças políticas é se você injustamente considerar todos do Partido Republicano homofóbicos, racistas, intolerantes e xenófobos, e (imerecidamente) considerar Democratas os únicos em oposição.
Não estou disposta a generalizar.
Então, da próxima vez que você considerar fazer esta pergunta, perceba que isso não tem absolutamente nada a ver com política (que, francamente, é algo que você deveria ter sido capaz de perceber você mesmo, baseado na concordância de um grande número de Republicanos). Isto tem a ver com um homem que não só é impróprio para a presidência, mas impróprio para este país, já que ele parece possuir uma alarmante falta de consideração para com os princípios sobre os quais este país foi fundado. E eu não vou ser obrigada a manter a amizade com pessoas que veem as contínuas tentativas de opressão e discriminação dele como uma “consequência inconveniente” de garantir que o seu partido se mantenha no poder.
Porque em última análise, se as práticas discriminatórias não são decisivas para você, se elas não inspiram em você uma dor e uma raiva tão devastadoras que deixam você compadecido do seu vizinho menos privilegiado, então eu não quero conhecer você. E eu não deveria querer simplesmente porque nós compartilhamos o mesmo andar no primeiro ano da faculdade.