sexta-feira, 29 de julho de 2022

O FIM DO CAPETÃO ESTÁ PRÓXIMO

Claro que este é um desejo, mais do que um fato concreto. Mas é o que praticamente todas as pesquisas vêm medindo há meses, sem grandes alterações.

Anteontem o Datafolha divulgou uma pesquisa mais restrita, apenas com jovens entre 16 a 29 anos em doze capitais brasileiras. O resultado foi uma lavada: 51% votam em Lula (provavelmente pela primeira vez), e só 20% no Coisa Ruim. Ciro ficou com 12%. O índice de rejeição também é uma boa notícia pro petista: Bolsonaro tem 67%, contra 32% de Lula, e 22% de Ciro. 

E ontem à noite saiu a esperada Datafolha, e os números não mudaram quase nada em relação aos da última pesquisa, do final de junho: Lula tem 47%, Bolso 29%, Ciro 8%. Lula tem 52% dos votos válidos, o que indica, mais uma vez, a possibilidade de ganhar no primeiro turno (mas dentro da margem de erro).

O que essa estagnação mostra? Que o "pacote de bondades" (a chamada PEC da Compra de Votos, ou PEC Kamikaze) do pior presidente da história do país ainda não surtiu efeito. Talvez o cenário mude a partir de agosto, quando os mais pobres receberão o auxílio (por enquanto foi só propaganda). Mostra também que o último papelão golpista do Capetão não o fez perder votos.

Muita coisa pode acontecer até 2 de outubro, lógico. A campanha na rádio e TV ainda tem influência e só começa no final de agosto. Todos sabemos que a fábrica de fake news do Gabinete do Ódio vai trabalhar dobrado. Mas o fato é que há pouco tempo, pouco mais de 2 meses, e que a rejeição e desaprovação ao governo Bolso é gigantesca. Além do mais, chegando no final de setembro, muita gente que considera votar em Ciro ou Tebet pode optar pelo voto útil, ainda mais com as patéticas declarações de Ciro, que avisou que não apoiará Lula no segundo turno. É um chute meu: acho que esses 8% do parisiense se transformarão em 4% no dia 2. Então as chances de Lula liquidar as eleições em outubro continuam fortes. 

Reproduzo um texto de Marcos Coimbra, sociólogo e presidente do Vox Populi, publicado pela Carta Capital em meados de julho. É um festival de otimismo, e tem bastante gente que pensa que o bolsonarismo é maior que Bolso e, portanto, infelizmente, não vai acabar junto com ele. Mas gostaria muito que o Coimbra estivesse certo.

No dia 1º de janeiro de 2023, Jair Bolsonaro não será presidente da República. Seu sucessor, Luiz Inácio Lula da Silva, estará empossado. Supondo-se, naturalmente, que a democracia e a decência sejam preservadas.

Na outra hipótese, o capitão terá passado a ser um simples ditador, sem mandato popular, legitimidade ou autoridade. Talvez mande por algum tempo, abusando de brutalidade e violência, sob o olhar consternado da parte sadia da sociedade brasileira e da comunidade internacional. Os outros poucos ditadores que restam no mundo terão lhe enviado congratulações.

É difícil definir com precisão o tamanho da parcela que ficaria contente em vê-lo ditador. Sabemos que é grande a maioria dos que se oporiam a isso e que, mesmo entre aqueles que hoje dizem votar nele, só uma pequena parcela ficaria ao seu lado (e dos militares) no golpismo.

Nas pesquisas, o capitão tem perto de 35% das intenções de voto em cenário de segundo turno, máximo de apoio que alcançaria. Lula receberia cerca de 65% dos votos válidos (naquela que seria a mais folgada vitória eleitoral de nossa história).

O terço do eleitorado que prefere o capitão divide-se em três fatias, de tamanho parecido. A primeira não avalia positivamente o governo e o considera, na melhor hipótese, como “regular”. As duas seguintes são os 25% que o acham “ótimo” ou “bom”, dos quais apenas a metade o aprova quando são consideradas, uma a uma, as principais políticas. Na economia, somente 7% “aprovam muito” sua atuação. Na saúde, 9%. Na geração de empregos, 8%. E assim por diante. A mais bem avaliada, de segurança pública, é aprovada por 15% dos eleitores, fruto, possivelmente, da ênfase retórica no tema, mas ainda bem abaixo do que recebe como um todo.

Ou seja, salvo para a pequena parcela que, efetivamente, aprova as políticas e as ações do governo, a larga maioria da sociedade o rejeita ou apenas o tolera. E vota em seu nome por ser ele, circunstancialmente, quem expressa sua identidade política e partidária, seu “lado” na política. Dois terços de seus eleitores sabem que é um mau governante e menos de um terço o defende.

As pesquisas chegam a números semelhantes quando estimam quantos estariam dispostos a referendar o golpismo do capitão e seus asseclas. Muitos brasileiros, hoje em dia, levam a sério o discurso antidemocrático que essa gente repete e têm medo que se rebelem contra o resultado das urnas. Mas não chega a 10% a parcela que os apoiaria em um atentado à democracia.

Podemos olhar o que mostram as pesquisas como manifestação do apego da maioria da sociedade a valores democráticos ou como consequência do fracasso administrativo de quem prometeu resultados rápidos na solução dos problemas brasileiros, mas entregou a desorganização e a desmoralização em curso. O fato é que a grande maioria não gosta de Bolsonaro, o considera um indivíduo e um governante de muito má qualidade e não endossa seu golpismo. Por isso, em 1º de janeiro próximo, o capitão vai-se embora, a menos que uma quartelada mal disfarçada o torne ditador.

Ao sair vitorioso no primeiro ou no segundo turno, Lula será o centro do sistema político. Por seu impacto global, a vitória do petista deixará um espaço mínimo, no imaginário e na vida política real, para a turma do capitão. Mesmo preso, Lula contou com o maior partido de nossa história como base para atuar, contrariamente ao capitão, que nada conseguiu construir. Fora do governo, sem perspectiva de poder, será apenas referência para uma corrente de opinião minoritária.

Claro que sempre poderá voltar à Câmara dos Deputados, enfrentando eleições tranquilas, com o voto de militares, policiais, milicianos e autoritários em geral, no Rio de Janeiro ou em outros lugares, pois há gente assim espalhada por aí. Talvez seja esse o seu futuro, até para se proteger da Justiça atrás de um mandato.

O certo é que a extrema-direita brasileira vai procurar, e provavelmente encontrará, alguém mais qualificado que Bolsonaro para representá-la. Sem qualquer capacidade intelectual para discutir e propor ideias, sem liderança moral, sem autoridade política, com a catástrofe de sua passagem pelo governo, Bolsonaro, em muito pouco tempo, nada mais será do que uma memória desagradável.

De 1º de janeiro em diante, o bolsonarismo vai diminuir, um pouco a cada dia. É impossível, hoje, dizer quanto tempo se passará até ser oficialmente proclamado morto. Mas não vai demorar.

quarta-feira, 27 de julho de 2022

PROFISSÃO REPÓRTER: STALKER DE RAYANNE É PRESO

Ontem o Profissão Repórter tratou de três crimes cibernéticos: pornografia infantil, golpes financeiros e stalking. É assunto demais pra pouco tempo (só 34 minutos), mas pelo menos ajuda a alertar a respeito desses crimes.

Em 2015 conheci um dos repórteres, o Guilherme Belarmino, porque ele e o cameraman Ricardo (ambos muito simpáticos) vieram até a minha casa em Fortaleza e me acompanharam até a UFC e para uma palestra em Quixadá. Eles contaram um pouco da minha história de ser atacada, difamada, caluniada e ameaçada por ser feminista. Entrevistaram dois dos mascus que mais me atacavam -- Emerson, hoje foragido na Espanha, e Marcelo, preso desde 2018. 

Eles esperaram Marcelo chegar na rua em que ele vivia em Curitiba para tentar entrevistá-lo. Ele me chamou de louca e partiu pra cima deles. Na mesma noite, em seu chan, contava o que tinha acontecido. Como o programa só foi ao ar dois meses depois, apenas três pessoas sabiam (ele, Guilherme e Ricardo). Isso foi usado mais tarde para provar que Marcelo era o principal responsável pelo fórum anônimo que prometia ataques a pessoas e instituições. Naquela mesma noite, aliás, Marcelo ordenou que sua quadrilha atacasse Guilherme. Porque Guilherme é negro e o chan é nazista. Só por isso. 

Ameaças a Guilherme em dezembro de 2015, quando o programa foi ao ar

De lá pra cá, Guilherme e eu trocamos alguns emails, contando as novidades. Faz pouco tempo, ele contou que faria um programa sobre stalking, que virou crime no Brasil no ano passado. Perguntou se havia alguém que aceitasse falar. Não me lembrei de ninguém imediatamente.

Mas, poucos dias depois, um nome veio com toda a força pra minha cabeça. Na realidade, eu estava num hotel em Brasília (fui ao Rio gravar uma entrevista para um documentário sobre o massacre de Realengo, e na volta o voo atrasou, eu perdi a conexão, e tive de passar a noite em Brasília), e na hora que entrei no quarto, lembrei da Rayanne. Escrevi pra ela na mesma hora, perguntando se ela toparia ser entrevistada para o Profissão Repórter.
Não conheço a Rayanne pessoalmente, mas fiquei sabendo de sua história em outubro de 2020 no Twitter. Ela me enviou um email pedindo que eu divulgasse o seu caso, já que a repercussão é uma forma de defesa, e eu publiquei seu guest post. Rayanne é uma jovem modelo de Teresina, linda, negra. Ela conheceu o francês Malik Roy e eles foram morar juntos em Budapeste, na Hungria. Lá a relação começou a dar errado e ela voltou para o Brasil, não sem antes registrar as agressões, ameaças e perseguições num primeiro boletim de ocorrência ainda na Hungria, em 31 de julho de 2019.  

Era pra ter acabado aí, certo? Mas o que fez Malik? Ele decidiu vir ao Brasil para continuar atormentando Rayanne. Além de ameaçá-la sem parar, o francês criou vários perfis para difamar a modelo. Parece que stalkear Rayanne virou sua missão na vida. Crente da impunidade, ele foi ficando cada vez mais ousado. Rayanna conseguiu que um programa de TV, o Cidade Alerta, falasse do seu caso em 2020, e Malik deixou comentários racistas e misóginos (cadela, prostituta, macaca peluda etc), avisou que sua "vingança será suave de uma verdadeira alegria", e admitiu seu racismo: "Eu sou racista sim, por apenas um tipo de pessoa: mentirosos e perversos narcisistas". Como se ele pudesse cometer o crime de racismo dependendo de quem quisesse atingir!

Nesses quase dois anos (outubro de 2020 a julho de 2022), não falei mais com Rayanne, mas sabia que ela seguia sendo stalkeada, porque não parei de receber mensagens de Malik no meu blog, Twitter e email, sempre sobre ela. 

Numa das "justificativas" dele, ele escreveu: "Apenas desejei o pior a ela e manifestei minha alegria por seu irmão ter sido executado". No "dossiê" que frequentemente envia para os amigos e familiares de Rayanne, ele confessa: "Aqui está o que escrevi para seus amigos: 'Se o irmão foi executado, foi porque ele era definitivamente um canalha forrado de lixo sem nome. Pelo menos tão nojento quanto a irmã Ray. Deus limpe a terra desse povo de m*rda. Obrigado, Deus. Amém. [...] Eu nunca vou deixar uma puta suja mentir".

Três dias depois de eu mandar um email pra Rayanne, no dia 14 de julho, ela me respondeu, com uma novidade incrível: no dia 15 de julho Malik foi preso num supermercado em Itajaí, Santa Catarina! Achei uma coincidência tão bacana! 

Guilherme foi até Itajaí, entrevistar o delegado, e para Teresina, gravar com Rayanne. A gente se falou um pouco pelo Zoom e ele colocou um pedacinho no programa, contando do programa de 2015.

E querem saber de outra coincidência? O programa foi ao ar ontem, bem no aniversário de Rayanne. Um belo presente. 

Obviamente não sabemos quanto tempo Malik ficará preso. Como ele é obcecado, duvido que ele pare. Ainda mais porque existem misóginos e neonazistas que acreditam em tudo que homens dizem contra mulheres, principalmente contra mulheres negras. Malik estava começando a ter alguma voz nessas comunidades.

Mas é gratificante a gente poder mostrar que também se une, também se acolhe, também se ajuda. Tomara que Rayanne tenha dias melhores daqui pra frente. E que sua serenidade e sua coragem inspirem outras mulheres a denunciarem seus stalkers. 

segunda-feira, 25 de julho de 2022

MULHERES, VAMOS SALVAR O BRASIL DERROTANDO OS FASCISTAS

Ontem eu nem quis me aproximar de qualquer notícia sobre a convenção do PL que formalizou a candidatura do Coisa Ruim para a reeleição. 

Não aguento mais ver a cara dessa peste ou ouvir seus discursos medonhos. Sério, existe pior orador que Bolso na história da república? Já sabemos que não existe pior presidente. Por mim, só queria ouvir o seu nome quando ele for pra cadeia. Será que vai?

Hoje li uma notícia um tanto bizarra. Bolso, que divulga fake news sobre as urnas eletrônicas há anos, pode ser punido eleitoralmente (com multas, perda de tempo na TV e cassação do registro) se ele insistir nesses ataques, agora que é candidato. Não é absurdo? Como presidente ele pode ameaçar golpe dia sim, outro também, mas como candidato a presidente, não? Ontem mesmo ele convocou o gado para sair às ruas "pela última vez" no dia 7 de setembro.

A estrela da convenção ontem parece ter sido a terceira-dama Michelle, embora o ex-sinistro da saúde Pazuello e o deputado marombado também tenham sido ovacionados (pra quem posa pra foto com um bandido como Queiroz, nada mais me surpreende). O discurso de Micheque foi totalmente religioso, messiânico e feito sob medida pra tentar atrair um dos maiores obstáculos à reeleição do genocida misógino -- as mulheres.

A maior parte das mulheres sempre detestou Bolso. Em 2018, ele só ganhou porque a facada fez várias delas terem pena de um sujeito sem resquício de humanidade. Bom, não há dúvida que o voto evangélico elegeu Bolso. Só que agora esse público está dividido. E um dos muitos problemas do Capetão é a falta de tempo. Faltam apenas 69 dias pras eleições, e ele continua com um índice de rejeição gigantesco (cerca de 60%). 

Segundo uma pesquisa do Ipespe/XP que saiu hoje, Lula está próximo de ganhar no primeiro turno. Se eleitores de Ciro e Simone Tebet decidirem votar útil no dia 2 de outubro, não haverá segundo turno. Se bem que não se pode esquecer do voto envergonhado, que as pesquisas raramente captam: aquele que vai votar no Bolso, mas tem vergonha de revelar (eu também teria). 

Lula conta com o povão. A pesquisa de hoje revela que, entre os eleitores mais jovens, de 16 a 34 anos, Lula tem 50% contra 27% de Bolso. Entre as mulheres, o placar é de 48% para Lula a 30% para Bolso. Entre os mais pobres (até dois salários mínimos), 51% a 28%. 

Outra pesquisa divulgada hoje, da BTG/FSB, dá uma vantagem ainda maior: 46% das mulheres votam em Lula, 24% em Bolso. Entre os homens há empate técnico: 42% votam em Lula, 39% em Bolso. Mas, se considerarmos só as mulheres, Lula ganha de lavada.

As mulheres sabem que Bolso tem uma longa ficha corrida de declarações contra elas. As mulheres veem que Bolso trata pior as jornalistas mulheres. E são principalmente as mulheres que condenam a farra armamentista de Bolso e sua atuação desastrosa na pandemia, que matou 670 mil brasileiros. Além disso, as mulheres têm consciência que a inflação do dia a dia e o alto custo de vida corroem seus salários. Culpam Bolso por tudo estar tão caro. E não há auxílio de R$ 600 lançado às pressas pra tentar reeleger o Capetão que vai mudar isso.

Obviamente a campanha de Bolso e os próprios bolsonarentos estão cansados de saber que pobres, jovens e mulheres, em sua maioria, não votam no fascista. E foi por isso que o discurso de Micheque ontem focou nas mulheres. "Dizem que Bolsonaro não gosta das mulheres", reconheceu a terceira-dama, antes de lembrar que seu marido sancionou diversas leis para as mulheres (que essas leis foram projetos da oposição é mero detalhe). 

Como diz Nina Lemos, "Não há 'joelhos' de Michelle Bolsonaro e pedidos para 'Deus interceder' que vá mudar a ideia que milhares de mulheres brasileiras têm em relação a Bolsonaro". Somos nós que vamos derrotar Bolso e salvar o Brasil.

sexta-feira, 22 de julho de 2022

DILMA, EXEMPLO DE VALENTIA

Esta semana o eterno vampiro golpista e ex-presidente em exorcismo Michel Temer (aquele que acreditou que o "Fica Temer" no Twitter depois da vitória do seu aliado Bolso nas eleições de 2018 fosse legítimo) deu uma entrevista dizendo que Dilma Rousseff é "honestíssima", que não houve golpe, apenas impeachment, e que foi porque ela teve "dificuldades no relacionamento com a sociedade e com o Congresso Nacional". 

Dilma, elegante como sempre, deu uma resposta exemplar (leia a resposta completa aqui). Uma das frases é maravilhosa: "Eu agradeceria que o senhor Michel Temer não mais buscasse limpar sua inconteste condição de golpista utilizando minha inconteste honestidade pessoal e política".

Ela também chamou as articulações tenebrosas de Temer como a PEC do Teto dos Gastos e a reforma trabalhista de "provas materiais da traição política", e deixou claro que não foi uma traição a ela ou ao PT, mas ao povo, já que esses projetos nunca fizeram parte dos compromissos eleitorais da chapa eleita, da qual ele fazia parte.

Dilma é incrível. É um desperdício para o Brasil que ela não seja candidata à deputada federal, no mínimo. Ainda vamos ter muitas oportunidades de comparar a sua coragem (e a de Lula) com a covardia de Bolso quando ele for democraticamente removido do poder. Já está evidente para todo mundo que Lula foi preso para ser impedido de se eleger, e que Bolso quer se eleger para impedir que seja preso. Espero poder assistir à fuga de Bolso e seus filhos do Brasil já no ano que vem. Para onde irão, Dubai?

Já Dilma e Lula jamais pensaram em fugir ou dar golpe. Esses já entraram pra história com a cabeça erguida. 

quarta-feira, 20 de julho de 2022

QUEM AMEAÇA O BRASIL É O PRESIDENTE, NÃO AS URNAS ELETRÔNICAS

Anteontem o pior presidente da história do Brasil disparou mentiras sobre as urnas eletrônicas a uma plateia de dezenas de embaixadores muito envergonhados. Foi uma resposta ao presidente do TSE, Edson Fachin, que em maio se encontrou com 68 representantes internacionais para criticar as "acusações levianas de fraude", sem citar o nome do excrementíssimo.

Segundo Rafael Mafei da Piauí, "O teor da reunião [de Bolso], na qual os diplomatas estrangeiros ouviram muito e falaram pouco, ficou entre aquilo que Bolsonaro apresentou em sua live de um ano atrás, quando requentou teorias conspiratórias de nível colegial sobre fraudes nas eleições que venceu, e a recente apresentação do ministro da Defesa, general Paulo Sérgio, no Senado Federal, quando o militar insistiu não ser possível ao Exército atestar a segurança das urnas contra ataques de agentes maliciosos que tenham acesso direto aos equipamentos". 

Mas vale ressaltar que, apesar do dedo do general, o culpado pelo escandaloso show-golpe de Bolsonaro diante dos embaixadores foi Bolsonaro, não um coronelzinho com cara de sonso que não sabe escrever briefing. Ou isso ou o Capetão pediu ajuda a seu único filho fluente em inglês, aquele que queria ser embaixador nos EUA por sua valiosa experiência de fritador de hambúrguer. 

Como explicou o New York Times, Bolso tinha prometido que apresentaria provas de que as duas últimas eleições presidenciais (sendo que ele ganhou a de 2018) foram fraudadas. Além de não apresentar prova nenhuma -- a menos que alguém considere "prova" as fake news de sites bolsonarentos especialistas em mentiras --, o Capetão ainda disse que, para garantir eleições limpas, seria preciso um envolvimento maior das Forças Armadas, tão especializadas em eleições que as proibiu no Brasil durante 21 longos anos.

Numa reportagem de Carla Araújo para o UOL, ela conta que os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica foram chamados para participar da reunião de Bolso com os embaixadores, mas não compareceram. Milicos disseram, sob a condição de anonimato, que as Forças Armadas são instituições de Estado, não de um governo, e evitam serem atreladas a Bolso. E que vão respeitar o resultado das urnas.

O general Paulo Sérgio, que havia feito uma apresentação ao Senado, levou seu powerpoint, mas não falou, o que muitos generais viram como bom sinal. Como afirmou um deles, "ninguém merece ficar atrelado a uma vergonha internacional". Outro general, este da reserva, falou à jornalista: "A gente não quer participar deste vexame". Tarde demais. Já estão atrelados. Fazem parte do governo mais militar de todos os tempos (Aproveitando: Fora milicos! Se não já do país, pelo menos da comissão do processo eleitoral. Vamos assinar a petição).

O resumo do antropólogo Luiz Eduardo Soares viralizou no Twitter:
"O golpe foi anunciado, HOJE, oficialmente, e para o mundo. A situação nunca foi tão grave. Nos EUA, Trump anunciou, antecipadamente, que não aceitaria o resultado das eleições (se perdesse). Bolsonaro acaba de declarar que, se a legislação eleitoral em vigor for mantida, não haverá eleições. Falou na primeira pessoa do plural, se referindo às Forças Armadas. Essa declaração de guerra ao TSE e à Lei, à Constituição, ocorreu dentro do Palácio, com transmissão oficial ao vivo, diante dos embaixadores convocados. Até agora, os presidentes da Câmara, do Senado, do Supremo e do TSE, além do PGR, permanecem calados. Se as instituições estivessem funcionando, Bolsonaro teria de ser deposto e preso. Isso não vai acontecer, o que demonstra que nós já não vivemos sob o Estado democrático de direito. Se a sociedade estivesse mobilizada e plenamente consciente do que está acontecendo, amanhã haveria greve geral e milhões de pessoas tomariam as ruas de todo o país. Não é o caso, desafortunadamente. Então, só nos resta mobilizar o que for possível, reunir a oposição e as organizações da sociedade civil. Todas elas. As universidades têm de parar. Quem puder parar, tem de parar. Agora. Nem mais um passo atrás ou o triunfo do golpe, já iminente, será certo e irreversível.”

O resultado de mais esta vergonha internacional foi que cem entidades se organizam para ir às ruas contra a ameaça do golpe. Também serviu como cortina de fumaça para encobrir escândalos mais recentes, como as denúncias de assédio moral e sexual do ex-presidente da Caixa e o assassinato por um bolsonarista do petista Marcelo Arruda. 

Além do mais, como lembra Leonardo Sakamoto, Bolso prefere ser chamado de golpista ou genocida do que de "Bolsocaro". A matemática é simples: Lula vence Bolso por 56% a 22% entre aqueles que ganham menos de dois salários mínimos, segundo o último DataFolha. Esse grupo é a maior parte da população (52%). Assim, quanto menos se falar de inflação, melhor pro genocida. 

Mas não sei se Bolso e seu grupo miliciano contavam com a movimentação que se seguiu na comunidade jurídica: procuradores, ex-presidentes do STF, promotores, advogados, magistrados, delegados; associações de classe -- todos deixaram bastante claro que não apoiarão o golpe que Bolso vem anunciando a tanto tempo. Faltando apenas 75 dias para as eleições, resta pouco tempo para mais trapaças de seu Jair.