De todos os filmes que poderiam estrear o que eu mais tinha vontade de ver, fora “Kill Bill”, óbvio, era “Madrugada dos Mortos”. É que eu amo enredos de epidemias e apocalipses. Esses temas sempre me lembram o último surto de conjuntivite em Joinville, quando ninguém tocava em ninguém, morrendo de medo da contaminação. E, no ápice da gripe asiática, você tentou espirrar num recinto fechado? Que solidariedade humana, que nada! O pessoal olhava feio mesmo. Bom, “Madrugada” é uma refilmagem de um terror de 78 que os críticos andam chamando de clássico. Olha, clássico só se for pras nêgas deles, porque aqui no Brasil o original circula com o nome de “Zombie – O Despertar dos Mortos” e, vai por mim, um filme com esse título não chega à condição de clássico jamais. Mas ambos tratam do fim do mundo via mordidas e de um grupo que se refugia dos zumbis num shopping, o que deve ser o sonho de consumo de muita gente. A melhor parte de “Madrugada” é, de longe, o começo eletrizante, antes dos créditos, em especial a cena em que o marido recém-mordido da heroína a persegue e, no meio do caminho, desiste dela pra canibalizar alguma outra vítima mais à mão. O resto pra mim me pareceu o desperdício de uma boa idéia. E como minhas crônicas também tentam trazer alguma utilidade, vai o aviso pros apressadinhos: não deixem a sessão antes dos letreiros finais. Outro aviso: se alguém insistir em ligar uma serra elétrica num ônibus em movimento, pegue outro meio de transporte.
“Madruga” até que é perfeitamente assistível, embora tenha personagens demais que não representam nada mais que comida de zumbi. Mas eu não vi crítica alguma ao consumismo. Só há umas piadinhas legais com muzak, a trilha sonora dos shoppings. Sim, é tudo bem parecido com “Extermínio”. Se o filme do ano passado é melhor? Hum, pelo menos mostra o fim de Londres. Aqui em “Madruga” acontece apenas o fim de Milwaukee, que, convenhamos, a gente nem sabia que existia em primeiro lugar. Sei lá, talvez “Madruga” seria mais interessante se fosse contado pela ótica dos mortos-vivos. Ou talvez não: eles não falam, não dirigem, e só vivem pra comer – uma semelhança marcante com o maridão, eu sei. O ponto de vista do cachorro (os zumbis não ligam pra animais de estimação) também seria bem-vindo, num terror dirigido ao público infantil.
Mas a verdade é que o filme trouxe à tona vários pensamentos filosóficos pertinentes. Por exemplo, se uma epidemia tomasse o mundo e transformasse a maioria da população em zumbis, em qual shopping eu gostaria de me esconder (certamente um com supermercado e lojas de chocolate)? E, principalmente: se a tal epidemia significasse o fim da civilização como a conhecemos, eu ainda teria que escrever minha tese de mestrado?