quinta-feira, 30 de novembro de 2006

CRÍTICA: UMA NOITE NO MUSEU / Profissão perigo

Até que enfim estreou “Uma Noite no Museu”. Eu não estava ansiosa, é que o trailer foi o que mais vi na vida. Pelo menos, com a estréia espalhafatosa do produto principal, fico livre do trailer. E pode me chamar de ingênua, mas pelo trailer eu não tinha sacado que era filme pra criança. Tudo bem, é lógico que não imaginei que fosse uma aventura pra adultos pensantes, mas não sabia que era um tipo de “Jumanji”. Acho até que esqueceram de avisar o público porque, na sessão lotada em que estive, mal havia crianças. Mas os espectadores aparentemente adoraram. No final, houve até uma tentativa de meia dúzia de aplausos. E pude notar que a adolescente atrás de mim, que tagarelou com a amiguinha o tempo todo, realmente se envolveu. Quando um símio rouba a chave e abre a janela pela milésima vez, ela gritou: “Que macaquinho filho da mãe!”. Portanto, falar mal de “Museu” significa ir contra o entusiasmo do público e pode implicar em risco de linchamento. Como disse o maridão, sempre muito solidário: “Eu não queria estar na sua pele. Se alguém me perguntar, não te conheço”.

Daí decidi não detonar “Museu”. Claro que este filme, baseado num livro infantil, sobre a profissão perigosa de ser vigia noturno num museu que ganha vida, deveria ter vinte minutos a menos, no mínimo. Chega uma hora que cansa, porque a piada é uma só. E o Ben Stiller já fez este papel quantas vezes antes mesmo? Mas até que o negócio é inofensivo. Além de não conter nenhuma gag machista ou racista, as mensagens são edificantes. Deixe-me ver se lembro de alguma. Ah é, todas as profissões são nobres. Outra mensagem é que a História, com H maiúsculo, pode ser divertida. Não é uma novidade, mas, sei lá, talvez os fãs do Ben não conheciam. De qualquer forma, quer um exemplo melhor do que o rival romântico do protagonista não ser um babaca total, ou a ex não ser uma nojenta que ainda não descobriu o valor do pai do seu filho? O deslize, moralmente falando, é tentar endeusar um presidente americano. Aqui o Teddy Roosevelt, interpretado pelo Robin Williams, é um modelo de sabedoria. Inteligente, amigão, e ainda apaixonado por uma índia (que é a única mulher do museu. Quem conta a história é mesmo o vencedor). Na vida real o Teddy era mais adepto da Política do Porrete e de meter o bedelho no cotidiano de todos os paisinhos, o nosso inclusive.

Eu gostei do dinossauro, o Rex, que só quer brincar, apesar da gente já ter visto isso nos Flintstones. E do Átila, o Huno. E por falar em peças de museu, foi bom ver o Mickey Rooney e o Dick Van Dyke como velhos vigias. Só que o Mickey, assim como os leões (deve ser porque leão é o bicho mais difícil de gerar por computador, vide “Nárnia”), está desperdiçado. O Dick ao menos mostra seus dotes de dançarino no final, que remete à “Mary Poppins”. Ou seja, somando tudo, “Museu” definitivamente deve ser o melhor filme do Shawn Levy, o que não quer dizer muito, já que o sujeito dirigiu atrocidades como “Doze é Demais” e “Recém-Casados”.

Tem também uma personagem bem perdida no meio de toda a correria: a guia do museu. Ela está escrevendo uma tese de doutorado sobre a índia. Dá pra ver que ela não tem vida social, pois fica andando de táxi até altas horas da manhã. Até aí, normal. Mas as possibilidades são imensas. Imagina essa guia levar a índia pra defesa, à noite, pra impressionar a banca. O filme desperdiça esse potencial. Por que não juntar vários personagens históricos e ver como eles se saem? “Museu” só junta cowboys e romanos, e deixa os pobres maias trancafiados. Que sacanagem com os inventores do chocolate!

Ao sair da sessão, o maridão fantasiou o que ocorreria se os manequins das lojas do shopping também ganhassem vida durante a madrugada. Não ia ter muita graça, ia? Isso prova que museus são mais interessantes que shoppings. Aliás, um tempão atrás, eu estive no maior museu do mundo, o Smithsonian, em Washington. Eles diziam no panfleto que, se a gente dedicasse um minuto pra ver cada peça, levaria cem anos pra ver tudo. É fascinante. Eu me lembro de uma cozinha cheia de baratas que mostrava o que aconteceria no nosso dia a dia se houvesse um desequilíbrio ambiental no planeta. Pois é, naquela época ainda se usava o “SE”.

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