É possível que um filme sobre um político seja apolítico? Ô, se é. Lula, o Filho do Brasil serve como prova cabal
disso. O problema é que eu queria um filme político.
Em geral, não sou grande admiradora de cinebiografias. Mas nem sei até que ponto Filho é um biopic. Afinal, que espécie de biografia é essa que basicamente omite o maior momento de do biografado? Sabe, é meio como mostrar a trajetória do Cazuza, e deixar de fora o lado musical. Filho deixa de fora o lado político de um cara cujo maior mérito é justamente ser político.
A trama é bem aquilo que está no trailer (e o trailer é ótimo e comovente, tudo que o longa deveria ser): a infância pobre de Lula, o pai alcoólatra, a mãe-coragem (Glória
Pires). Há cenas muito boas nessa parte inicial, como a mãe respondendo à professora que sugere adotar o menino Lula para que ele se torne alguém, “Ué, ele já não é alguém?”. Dá gosto de ver o Lula adolescente sujando o macacão de óleo para orgulhar a mãe. A música cheia de violinos é linda, assim como alguns cortes, como o de Dona Lindu lembrando como foi tirada a foto de Lula menino, e surge o corte pro Lula adulto fichado pelo DOPS. Há um instante de met
alinguagem que é legal também, quando um jovem Lula se entusiasma em ir ao cinema pela primeira vez. Sem dúvida o filme deseja atrair esse tipo de espectador que nunca entrou num cinema, como fez Dois Filhos de Francisco.
E aí eu penso: putz, a direita tem mais é que gostar de uma história sofrida dessas. Porque é tudo que ela defende: que as oportunidades são iguais pra todos, a tal ponto de um nordestino miserável que vai de pau de arara pra São Paulo conseguir virar presi
dente do quinto maior país do mundo (em população e tamanho). A direita adora self-made men como Silvio Santos. Aquilo do cara que, sozinho, só pelo seu talento, vence na vida (um termo totalmente de direita, que separa as pessoas entre vitoriosas e fracassadas). Lula não cabe bem nesse roteiro de sucesso porque ele se juntou a sindicatos, ohhh, e porque ajudou a fundar o maior partido de esquerda do mundo. Mas a direita até poderia assistir a Filho sem medo, porque o PT sequer é mencion
ado, e porque os sindicatos não são mostrados com bons olhos. Politicamente, Filho é tão conservador quanto a direita que o condena.
Só exibir multidões gritando “Lula! Lula! Lula!” não é suficiente. Tem que mostrar por que as multidões vibram com ele, e nisso o filme é totalmente baunilha. Mostra um Lula que caiu nos sindicatos de paraquedas, sem querer, sem ideologia. Até aí, paciência. Isso aco
ntece direto, e é comum que operário tenha birra contra seu sindicato. Mas cadê a mudança? Lula não muda em nenhum momento? Ele permanece alienado até depois das greves do ABC? O que vemos é um Lula repetindo 150 vezes que não é comunista e discursando amenidades como “Trabalhador não é de esquerda, muito menos de direita” e “Trabalhador não é contra patrão. É o patrão que nos paga”. Ah, vai! Essa covardia toda do roteiro é a tr
oco de quê? Eles têm a ilusão de converter o pessoal de direita desse jeito? Pra mim, que sou de esquerda, centrar-se num Lula tão light não é louvável. Rui Ricardo Dias, que faz o Lula adulto, se esforça, mas é mais bonito que o Lula real e não fala com a língua enrolada. E o Lula do filme fala muito menos errado que o Lula de verdade. É um Lula higienizado, em todos os sentidos. E perdão, mas talvez os realizadores tenham ouvido falar que tem um monte de gente
adora o Lula real.
Uma das críticas recorrentes que tenho lido sobre Filho é que ele é excessivamente melodramático. Bom, o que há de errado num filme feito pra emocionar? Por que um filme não pode ser manipulador e melodramático? Alguém avise um dos maiores diretores vivos, o Almodovar, que não pode. E aproveitando, o que que tem um filme ser panfletário? Um filme encher de orgulho os eleitores de um político muito, muito popular? Infelizmente, Filho não é nem uma
coisa nem outra. É apenas vazio e superficial. E alguém ainda precisa me provar que o filme foi feito pra emocionar. Gente, eu choro em tudo quanto é filme. Eu chorei no trailer de Filho. Outro dia chorei vendo comercial da Omo! Não se iludam: se tem filme feito pra chorar, eu compareço alagando a sala. Filho não é um desses. Vejam a cena em que Lula é informado que sua esposa e bebê morreram. Não há closes nem lágrimas. A câmera está longe, lá no fim do corredor. E a cena é curta. Nã
o segura o clima pra construir emoção. Filho é frio, tanto que ninguém na sessão onde eu estava saiu com os olhos vermelhos. Ninguém aplaudiu ou vaiou.
Mas se não é pra emocionar, pra levantar a galera que é fã do homem, ou pra converter os detratores, pra quê o filme foi feito mesmo? Volto ao meu chute inicial: pra ganhar dinheiro (depois li entrevista do Barretão, o produtor, “confessando” isso). Opa, não pode? Não é bem a direita que defende o direito
(quase o dever) ao lucro? Filho foi feito pra lucrar em cima do nome de um personagem. Mas não reconheci o Lula que admiro no filme.
Eu e o maridão somos grandes fãs do cara, e ambos achamos o filme fraquinho. Vocês têm que ver pra formar sua própria opinião. O que é uma estupidez é falar sem ver, porque há montes de mentiras circulando. A direita diz que o filme faz de Lula um santo. Pô, se um sujeito inseguro e aliena
do é um santo, eu fico com o diabo. Já os realizadores dizem que a história nem é sobre o Lula, mas sobre Dona Lindu. Não é. É sobre o Lula mesmo. Ele é o personagem principal desde bebêzinho. Só não é o Lula que os admiradores amam amar, e que os detratores amam odiar.

Em geral, não sou grande admiradora de cinebiografias. Mas nem sei até que ponto Filho é um biopic. Afinal, que espécie de biografia é essa que basicamente omite o maior momento de do biografado? Sabe, é meio como mostrar a trajetória do Cazuza, e deixar de fora o lado musical. Filho deixa de fora o lado político de um cara cujo maior mérito é justamente ser político.
A trama é bem aquilo que está no trailer (e o trailer é ótimo e comovente, tudo que o longa deveria ser): a infância pobre de Lula, o pai alcoólatra, a mãe-coragem (Glória


E aí eu penso: putz, a direita tem mais é que gostar de uma história sofrida dessas. Porque é tudo que ela defende: que as oportunidades são iguais pra todos, a tal ponto de um nordestino miserável que vai de pau de arara pra São Paulo conseguir virar presi


Só exibir multidões gritando “Lula! Lula! Lula!” não é suficiente. Tem que mostrar por que as multidões vibram com ele, e nisso o filme é totalmente baunilha. Mostra um Lula que caiu nos sindicatos de paraquedas, sem querer, sem ideologia. Até aí, paciência. Isso aco



Uma das críticas recorrentes que tenho lido sobre Filho é que ele é excessivamente melodramático. Bom, o que há de errado num filme feito pra emocionar? Por que um filme não pode ser manipulador e melodramático? Alguém avise um dos maiores diretores vivos, o Almodovar, que não pode. E aproveitando, o que que tem um filme ser panfletário? Um filme encher de orgulho os eleitores de um político muito, muito popular? Infelizmente, Filho não é nem uma


Mas se não é pra emocionar, pra levantar a galera que é fã do homem, ou pra converter os detratores, pra quê o filme foi feito mesmo? Volto ao meu chute inicial: pra ganhar dinheiro (depois li entrevista do Barretão, o produtor, “confessando” isso). Opa, não pode? Não é bem a direita que defende o direito

Eu e o maridão somos grandes fãs do cara, e ambos achamos o filme fraquinho. Vocês têm que ver pra formar sua própria opinião. O que é uma estupidez é falar sem ver, porque há montes de mentiras circulando. A direita diz que o filme faz de Lula um santo. Pô, se um sujeito inseguro e aliena
