Micheque e seu marido Jair estão em plena campanha, empenhadíssimos para reconquistar o voto das evangélicas.
Como percebeu a socióloga Christina Vidal, especialista em política e religião, a terceira-dama mudou o corte de cabelo e está vestindo roupas mais largas e pudicas, "encarnando o projeto da mulher virtuosa, a 'Mulher V'" (conceito popularizado por uma filha de Edir Macedo que defende uma "mulher moderna à moda antiga", argh). E também apelando para o preconceito religioso (e racista) contra "macumbeiros", lógico.
Pode até funcionar. Mas, para tanto, o casal precisará aparar umas arestas. Por exemplo, não pegou nada bem eles terem ido a um almoço no domingo em Belo Horizonte com Guilherme de Pádua e sua terceira esposa, Juliana (entre outros casais convidados). Antes foram a um culto na Igreja Batista da Lagoinha, onde Guilherme é pastor há cinco anos.
Nem todo mundo sabe que Guilherme é bolsonarista de carteirinha (neste vídeo de maio de 2020 ele e Juliana participam de um ato golpista pró-Bolso em frente ao Congresso), mas todo mundo sabe quem é Guilherme, ainda mais agora que está sendo exibido o documentário Pacto Brutal. Trinta anos atrás, o então ator matou com 18 tesouradas sua colega -- a atriz Daniella Perez -- na novela De Corpo e Alma, com a cumplicidade de sua primeira esposa, Paula Thomaz. Foi um crime que chocou e paralisou o Brasil, tirando o foco do impeachment de Collor (hoje aliado a Bolso).
Condenado a 19 anos, Guilherme ficou menos de 7 anos preso. Saiu em outubro de 1999, e já passou a frequentar a Igreja Lagoinha. Sobre ele, o filho do dono da igreja já justificou: "Guilherme cumpriu a pena. Ele é uma bênção. Nenhum de nós somos os mesmos, constantemente somos transformados pela misericórdia de Jesus”.
Poucos ficariam sabendo do encontro de Guilherme e Juliana com Jair e Michelle se não fosse a colunista Fábia Oliveira, do Em Off. Pra piorar, tem uma foto de Ju e Mi posando juntas, sorridentes. Pra piorar mais ainda, pouco depois a primeira-dama fundamentalista cristã deixou um emoji de choro numa postagem da novelista Glória Perez (mãe de Daniella e também apoiadora de Bolso) sobre o documentário. Muita gente a acusou de hipócrita e falsa.
Como não podia deixar de ser, bolsonarentos estão caprichando nas fake news de que Guilherme apoia Lula (não Bolso, como ele já deixou claro em 2020). Juliana se comprometeu a negar qualquer amizade com Michelle que, segundo ela, nem sabia quem ela era (outro colunista alega que Bolso não estava em BH no dia). E a gente aqui, fã da tag #NuncaFalha (as piores pessoas sempre votam e fazem campanha pro genocida), vê mais um exemplo de como aquele slogan fascista deles (bandido bom é bandido morto) só vale pra quem não é aliado deles.
Após ler essas notícias todas, comentei com o maridão sobre como, para as igrejas evangélicas, um assassino como Guilherme de Pádua é muito mais valoroso do que alguém que nunca matou, porque segue aquela narrativa de redenção através da fé.
Eu: "Se a gente se convertesse, ia ser exemplo de qual superação, a gente que nunca cometeu nenhum pecado muito sério? Que nunca matou, nunca roubou, nunca usou drogas, nunca foi alcoólatra, nunca se prostituiu? A gente iria dizer o quê, que não acreditava em deus e agora pagamos 10% de tudo que ganhamos pra pastores milionários?"
Maridão: "Eu já joguei a Leningrado".
Eu: "O que é isso? O que tem a ver?"
Maridão: "Pro pessoal do xadrez, jogar a defesa Leningrado é um pecado muito grave".
Eu: "Pelo menos a gente nunca votou no Bolsonaro".