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sexta-feira, 20 de novembro de 2009

MULHERES EM 2012 E DOUTOR FANTÁSTICO

As mulheres de 2012 entraram num túnel do tempo ou nunca saíram dele?

Enquanto eu via 2012, não conseguia parar de pensar em Doutor Fantástico, grande comédia do Kubrick de 1964. Não sei se vocês conhecem essa paródia da guerra fria e da ameaça nuclear. É sobre um general americano que sai fora da casinha e consegue transmitir uma ordem para que um grupo de pilotos jogue uma bomba atômica na União Soviética. Quando o alto comando dos EUA percebe que não vai poder detê-los, o presidente americano liga para Dimitri, o presidente russo, num dos mais famosos monólogos da história do cinema. É Peter Sellers que faz o presidente falando pelo telefone com o presidente russo, provavelmente bêbado. Veja o clip aqui e acompanhe a minha pobre tradução:
Olá... Uhn, olá, Dimitri. Olha, não posso te ouvir muito bem, será que você poderia diminuir o volume da música um pouquinho? Ah, muito melhor. Sim, uh, sim. Posso te ouvir claramente agora, Dimitri. Eu também estou sendo claro? Ótimo, bem, como você diz, nós dois estamos claros. Bom. É bom que você esteja claro e eu esteja claro. Então, Dimitri, você sabe que nós sempre falamos da possibilidade de algo dar errado com a bomba. A bomba, Dimitri. A bomba de hidrogênio. Bem, o que aconteceu é que, ahn, um de nossos comandantes, ele teve um probleminha na cabeça. Sabe, só um probleminha. E aí ele fez uma coisa tola. Bom, vou te dizer o que ele fez. Ele mandou que aviões atacassem o seu país. Bem, deixe-me terminar, Dimitri. Como você acha que eu me sinto a respeito? Você pode imaginar como eu me sinto, Dimitri? Por que você acha que eu te liguei? Só pra dizer oi? Claro que eu gosto de falar com você... claro que eu gosto de dizer oi. Não só agora, mas qualquer hora, Dimitri. Só estou ligando pra te dizer que algo muito ruim aconteceu. É um chamado amigável, lógico que é. Ouça, se não fosse amigável você provavelmente nem o receberia. Eles não vão alcançar seus alvos por pelo menos uma hora. Tenho certeza, Dimitri. Já falei sobre isso com seu embaixador... Não é um trote. Bom, vou te dizer. Gostaríamos de dar a sua equipe um relatório completo dos alvos, os planos de voo e do sistema de defesa dos aviões. Sim, quero dizer... Se não pudermos chamar os aviões de volta, vamos ter que ajudar vocês a destrui-los, Dimitri. Sei que são nossos meninos. Tudo bem. Então, pra quem deveríamos ligar? Quem deveríamos chamar, Dimitri, sua voz sumiu um pouco. O Quartel General de Defesa Aérea do Povo. Onde é isso, Dimitri? Em Omsk. Ok. Ah, você vai ligar pra eles antes? Uh. Ouça, você tem o número deles? O quê? Ah, entendo, é só pedir pra Informações de Omsk. Ahn. Eu também sinto muito, Dimitri, muito mesmo. Tudo bem, você sente mais do que eu, mas eu também sinto. Eu sinto tanto quanto você, Dimitri, não diga que você sente mais porque eu sou capaz de sentir tanto quanto você. Então nós dois sentimos muito”.
Ele passa o telefone para que o embaixador russo fale com o presidente. E nota que não haverá salvação: o sistema russo reagirá automaticamente a qualquer ataque, detonando a Máquina do Julgamento Final, que acabará com toda a vida animal e humana no planeta. Mas um dos cientistas do governo americano tem uma solução pra minimizar o problema: colocar todo o alto escalão do governo e do exército, e algumas outras pessoas, em minas, para garantir a sobrevivência da espécie. Ele recomenda dez mulheres para cada homem, para que eles possam repovoar o planeta rapidamente, assim que a poeira radiotiva baixar. O general interpretado por George C. Scott gosta da ideia e pergunta: “Mas com essa esquação de dez mulheres pra cada homem, não teríamos que abrir mão dos nossos princípios monogâmicos?”. E o cientista, com um sorriso maroto no rosto: “É, nós homens teríamos que fazer esse sacrifício. E naturalmente as mulheres escolhidas teriam que ser jovens e bonitas, para que nos sentissemos estimulados para tal árdua tarefa”. Ha ha.
Doutor Fantástico, essa comédia de humor negro, tem exatamente uma atriz. Só uma, e ela aparece de biquini durante poucos minutos. Mas o general maluco que lança o ataque nuclear explica: seus “fluídos corporais” estão sendo afetados pelo flúor que colocam na água. Ele se deu conta disso ao ficar cansado na hora do sexo. O filme é inteirinho sobre sexo. Fora esses diálogos absurdos, há uma infinidade de imagens fálicas (aviões penetrando buracos de aviões, um piloto montado num foguete, o general e seu charuto, filmado de baixo pra cima, como se estivesse ereto).
Tá, e por que pensei tanto neste clássico enquanto via 2012? Não parece ter muito a ver. Afinal, as pessoas que se salvam em 2012 são (além dos políticos e membros do exército) quase todas bilionárias que pagaram para estar na nave (é bacana que o filme dê destaque aos negros, se bem que não haja homossexuais ou gordos entre os sobreviventes). E nem se fala muito em procriação. Mas, pelo jeito, vai haver uma imensa falta de mulher, já que não existem muitas bilionárias na vida real, e nem todos os chefões levam as esposas. Quando a nave começa a ser ocupada por gente, vemos apenas uma mulher (Thandie Newton), a filha do presidente americano. Ela é chamada de doutora durante o filme todo, mas doutora em quê, só deus sabe, porque seu papel é completamente inútil. As outras duas únicas mulheres com falas na nave nem doutoras são. Uma é a ex do protagonista John Cusack, Amanda Peet. Sua profissão, aparentemente, é ser mãe. A outra é a jovem namorada de um russo bilionário. Ela não tem filhos, mas tem instinto maternal: carrega consigo um cachorrinho. Profissão, nem pensar.
Acho que comentei na minha crítica ao remake de Destino do Poseidon como os homens têm profissões, enquanto as mulheres são apenas isso, mulheres. Tipos. Mães e filhas. Será que essa é uma dinâmica em todos os filmes-catástrofes ou em todos os filmes, ponto?
As três mulheres com falas de 2012 são jovens, bonitas, e não acrescentam nada à história. Elas estariam em casa tanto na nave de 2012 como nas minas de Doutor Fantástico. A diferença de idade entre um filme e outro é de quase meio século. E nós mulheres continuamos tendo duas funções: procriar e decorar o ambiente.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

AS MELHORES PROFECIAS DA OPOSIÇÃO SE CONCRETIZAM

Ouvi dizer que tem gente indo prestigiar 2012 só pra ver o Cristo Redentor desabar! Ô, gente, que besteira! Uma coisa é ir ver 2012 por causa do piloto russo bonitão que aparece durante uns cinco minutos, outra é pra ver um detalhezinho desses! Se for só pra ver o Cristo, não precisa. Isso tá no trailer. Embora o Brasil seja o único país da América Latina citado no filme, as cenas são muito curtinhas, vistas apenas numa TV. E acho que rolou merchandising da Globo, porque o filme diz “imagens da Globo News”. Acontece que a narração jornalística que acompanha as imagens tá em português de Portugal! Sério, que nem em Sinais, quando mostram um vídeo de Passo Fundo, Brazil, e a voz no vídeo é de um certo João Manuel (ok, estou sendo injusta: no filme ele se chama Pablo Romero). Em 2012, eu posso jurar que a narração diz: “O Cristo Redentor está a cair, pá!”. Tá, o foi por minha conta, mas me digam se não tenho razão no está a cair.
Como vocês sabem, 2012 é sobre o fim do mundo. E a culpa é toda do Lula, como lembrou o meu leitor Eduardo! Ele acrescenta: “Se no filme as imagens de TV que mostraram o Cristo Redentor caindo foram da Globo News e o repórter português só disse 'O Cristo está a cair!' e não complementou 'provavelmente resultado do PAC do governo anterior e da atual administração da Presidenta Dilma! Faltou investimento... A oposição afirma que irá convocar uma CPI para investigar o caso e promete convocar o ex-presidente Lula para prestar esclarecimento da sua gestão!', o filme foi falho, não representou bem o lado brasileiro!”.
É verdade! Esses americanos... Colocam brasileiro falando português de Portugal e narração da Globo News que não culpa o Lula! Dá pra ver que não conhecem nada de Brasil.
Veja no trailer a destruição em massa causada pelo governo do PT.

CRÍTICA: 2012 / Nem vulcões e tsunamis salvam o fim do mundo

Na minha rua isso não acontece.

Fui ver 2012 sozinha, chuif, porque o maridão está disputando os Jogos Abertos de SC e não tive tempo de convocar algum amigo. O cinema estava lotado, e, ao sair, vi que os ingressos pra sessão seguinte haviam se esgotado. Talvez eu esteja exagerando, mas tinha uma fila que eu não via desde Titanic (bom, pra ser justa, poucas vezes vi o shopping tão cheio. Os comerciantes não vão poder reclamar deste natal). Mas o maridão queria ver o arrasa-quarteirão da vez, e me fez prometer que eu reveria o filme com ele quando ele voltasse. Portanto, durante a exibição, eu fiquei pensando: “Ah, zuzo bem, posso ver o troço de novo. Tô até gostando, olha só aqueles cinco prédios se chocando, deve ser ótimo rever isso. Uau, que efeitos especiais massa! Terremoto, tsunami e vulcão juntos! Sem problema, vou quebrar esse galho pro maridão”. Isso até chegar ao terço final. Aí minha atitude mudou, meu bumbum começou a ficar quadrado no assento, e eu pensei cá com os meus botões: “O quê?! Não, isso tá chato demais! Não vou aguentar um repeteco!”. Na saída, minha conclusão era que o maridão teria que me tratar muuuuito bem durante no mínimo três meses ininterruptos pra que eu aturasse um “vale a pena ver de novo”.
Gente, o que é aquilo?! O que aconteceu? As críticas que li até agora não mencionam isso que ficou claríssimo pra mim: a verba do filme acaba no terço final! É sério. Ok, pode soar estranho um orçamento de 260 milhões de dólares não ir até o fim da produção, mas eu juro. As imagens mudam de definição. Não sei se é digital ou o quê, mas sabe imagem de TV? De filme chinfrim feito pra TV? É assim que ficam as imagens no terço final, intercaladas com um ou outro efeito especial do tempo em que eles tinham dinheiro. Não tô brincando não. Quer uma prova definitiva? Durante um dos clímax do filme, no final, a câmera não mostra o que acontece. Focaliza o rosto de um carinha que apareceu três vezes até então. As expressões faciais dele substituem as imagens da catástrofe. Eu não sou boba e já vi um monte de superprodução e sei que não mostrariam as reações de um coadjuvante (praticamente um figurante) se tivessem alguma imagem melhorzinha pra mostrar. Não sei se a verba acabou de fato ou se as plateias-teste reprovaram e eles tiveram que refilmar um monte de coisa, mas que na fase-destino-do-poseidon do filme entra água, isso entra.
Não que uma tecnologia de ponta do começo ao fim salvaria o roteiro no terço final, porque não tem salvação. É só clichê, e qualquer um que já tenha ido ao cinema umas quatro vezes na vida pode prever tudinho que vai acontecer, quem vai viver, quem vai morrer. A única surpresa é a última cena, que não posso descrever aqui, mas que tem um viés político forte. Isso porque o diretor Roland Emmerich (dos péssimos Independence Day e Godzilla) deve gostar de política. Seu filme anterior, O Dia Depois de Amanhã, é quase panfletário (e sou grande fã de Dia).
É pena que 2012 vai piorando, piorando, até deixar um gosto muito ruim. Porque a premissa é boa, e poderia render umas discussões acaloradas. O mundo vai acabar em dezembro de 2012, como já previam os maias. A crosta terrestre esquentará demais devido ao alinhamento dos planetas, e caput, adeus Terra (não confie no meu rigor científico). O governo americano sabe disso uns três anos antes, e o que faz? Nada muito útil: constrói, em parceria com a iniciativa privada e outros governos ricos (nenhum país da América Latina), uma misteriosa nave para tentar salvar uma parcela da humanidade. E vende passagens. Entendeu? Não é que seleciona os melhores da espécie nem nada. Infelizmente, o filme peca pela falta de humor, porque uma das cenas de venda tinha tudo pra ser engraçada. Um negociante de vagas na nave discute o preço com um sheik do petróleo: um bilhão. E o sheik tenta negociar, diz que tem uma família grande, e que um bilhão de dólares por pessoa é um tanto quanto salgado. E o negociante corrige: que mané dólares? Um bilhão de euros! E não sei quanto a você, mas pra mim fica estranho que alguns poucos personagens do filme façam discursos comoventes sobre como devemos salvar o máximo de gente possível... e os escolhidos são todos bilionários! Lembrei daquela fala do John quando os Beatles fizeram um concerto prum público rico (“Queria pedir um favor para a nossa última música: as pessoas nos assentos mais baratos, batam palmas. E o restante de vocês, se vocês pudessem apenas chacoalhar suas jóias..."). Parafraseando, eu pensei em: “Quem quiser entrar na nave, por favor, chacoalhe suas jóias”. E não estou revoltada só porque eu seria extinta! (se o critério de seleção fosse os melhores da espécie, eu ainda teria alguma chance... not!).
Um tema legal seria discutir se o governo deveria avisar a população mundial com antecedência. Avisar pra quê, se o mundo vai acabar? Pra Lolinha poder se empaturrar de chocolate sem culpa? Não, o filme sugere que é pra que as pessoas possam se despedir de suas famílias. Daria um outro filme, né? O que aconteceria se todo mundo soubesse que o planeta tem prazo de validade pra terminar? Seria o caos, suponho. Ou seja: não daria pra anunciar. Ignorance is bliss, é isso?
Como este texto tá longo demais, pra variar, continuo depois. Mas, pra terminar, você quer ouvir as más ou as boas notícias primeiro? Ok, as más: não sobra um só brasileiro pra contar a história. Nem o Antonio Ermírio. As boas? Os argentinos sumirão da face da Terra. Essa eu já devo ter contado umas 2012 vezes. O fim está próximo, irmãos.Divulgação de 2012 em estação de metrô no Rio. Melhor que o filme.