SERRA, UMA ALMA ATORMENTADA

E quando será que ele vai inaugurar a campanha?

Eu não gosto do Serra. Nunca gostei. Não sei nem se tem alguma coisa pra gostar, porque o cara é um tremendo de um antipático, e tem a reputação nada louvável de pisar no pescoço da mãe pra conseguir o que quer, e de ser desleal com seus adversários políticos. Ahn, também não gosto nada do Aécio, e não votaria em alguém do PSDB. Mas, imagem por imagem, a do Aécio é melhor que a do Serra. “O Serra é uma alma atormentada”. Quem diz isso não sou eu ou algum inimigo do homi. Não, essas são as palavras do FHC, o pai do Brasil, cacique político do PSDB, pra revista Piauí.

A revista fez um perfil extremamente elogioso ao Serra, ao contrário do que havia feito uns meses antes sobre a Dilma. Foi a Piauí que cavocou o currículo Lattes da ministra (desatualizado desde 2000) e constatou que ele estava errado, pois dava como concluídos o mestrado e o doutorado, e ela só havia concluído os créditos (ninguém é doutor sem antes defender a tese pra uma banca). Serra espertamente não tem mais currículo Lattes faz tempo, mas ele sempre se proclamou economista e engenheiro, apesar de não ser nem uma coisa nem outra, já que exilou-se no Chile e, assim, não terminou a faculdade. Mas, por algum milagre, conseguiu fazer mestrado e doutorado em dois anos nos EUA ― sem diploma universitário! A Piauí não considerou esses dados interessantes, pois sua abordagem é diferente. Quando Serra voltou ao Brasil, em 1978, foi dar aula na Unicamp. O economista João Manuel Cardoso de Mello, um dos idealizadores do Plano Cruzado, no governo Sarney, diz à jornalista: “Espero que não tenha vindo falar dessa baboseira de currículo. Ficar nessa coisa pequena, nesse detalhezinho, nessa mesquinharia se o Serra se formou ou não se formou. O Serra não terminou a graduação, e daí? Qualquer instituição de ensino pode te dar um título, depende só dos critérios que você usa. Mas não, todo mundo quer ficar nessa discussãozinha de classe média”. Engraçado: quando é pra atacar a Dilma, a discussãozinha parece ser totalmente válida.
Embora o tom do perfil sobre Serra na Piauí seja laudatório, vale a pena lê-lo, nem que seja porque, nas entrelinhas, sempre escapa algum detalhe mais picante. FHC fala sobre o amigo: “Antes de decidir, ele ouve bastante gente, mas leva mais a sério as mulheres. Como o Serra é muito competitivo, qualquer conversa dele com um homem tende a se tornar um embate. E com as mulheres ele acha que não tem competição”. Com amigos como este, quem precisa de inimigos? Outros amigos e aliados acham Serra implicante, mas ele discorda: “Eu gosto de provocar, isso sim. Gosto de pegar no pé para amolar as pessoas”. Uma flor de homem.
A segunda parte do perfil é ainda mais interessante, ainda mais pra quem tem dúvidas do tratamento diferenciado que a grande mídia dá ao PSDB. A jornalista conta que Serra, ao voltar do exílio, virou editorialista da Folha de SP e tornou-se amigo do dono do jornal (talvez a ordem dos fatores esteja incorreta). Ela completa: “A relação de Serra com a imprensa é paradoxal. A identidade política dos grandes jornais e revistas é muito maior com ele do que com Lula, Dilma Rousseff e Marina Silva. Ele tem boas relações com colunistas da imprensa escrita, apresentadores de rádio e televisão e diretores de redação. Telefona para eles amiúde, faz perguntas sobre sua vida profissional e familiar, diz que está com saudades e pede conselhos. E se dá muito bem com os patrões da grande imprensa. Tudo isso se reflete no noticiário. Mas, por outro lado, Serra é um dos políticos que mais reclama da mídia, dos erros e injustiças dos quais é, ou imagina ser, vítima”.
É bom saber que ele não é antipático com todo mundo. Será que ele vai ser mesmo candidato a presidente? Será que agora ele tem escolha em não ser, depois que Aécio declarou que concorrerá ao Senado de Minas mesmo?