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quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

CRÍTICA: VICKY CRISTINA BARCELONA / Na Espanha, faça como os americanos

Ah, o peso do mundo nos ombros dos homens...

Quando eu era adolescente e eu fantasiava sobre o homem que se apaixonaria perdidamente por mim e vice-versa, aquele com quem eu iria transar no chão da cozinha, ele sempre tinha uma profissão que lhe permitisse ficar em casa o tempo todo, tipo pintor ou escritor. Não, pensando bem, escritor não, que escritor tem dessas frescuras de se trancar num quarto. Pintor mesmo, que era mais romântico. Legal saber que o Woody Allen tem as mesmas fantasias que eu tinha aos 15 anos. Claro, estou falando de Vicky Cristina Barcelona, que eu gostei, pero no mucho. Tem tanta gente tão entusiasmada com esse filme! Eu só pude pensar que talvez ele me dissesse alguma coisa vinte anos atrás, quando eu ainda sonhava com o pintor.
Já a Lolinha de hoje achou o roteiro peguiçoso. Quer dizer, é tão tranquilo assim fazer um filme? Pegue uma narração em off insistente, junte uma musiquinha repetitiva, ponha uma pitada de atores bonitos, misture com um cenário deslumbrante, e habemos Chester, é? Vicky é um pouco sobre o puritanismo americano vs. a liberalidade européia. Mas é também sobre a facilidade de ser homem vs. a dificuldade de ser mulher. Pensa só: a Cristina (Scarlett Johansson) não sabe o que quer e só descobre o que não quer. A Vicky (Rebecca Hall, que fazia a mulher do Christian Bale no excelente O Grande Truque) já está frustrada aos vinte e poucos anos. Vai repetir a triste sina da personagem da Patricia Clarkson. E Maria Elena (Penélope Cruz) está tão desesperada que tenta o suicídio. Enquanto isso, temos Juan Antonio (Javier Bardem), que só quer se apaixonar, e que é tão seguro de si que chega numa mesa de restaurante e já convida logo duas americanas pra transarem com ele. O marido da Patricia só quer jogar golfe. E o noivo da Vicky está feliz e não nota nada ao seu redor. O único personagem masculino ligeiramente angustiado é o pai de Juan, mas mesmo este contenta-se em ter fantasias sexuais com sua ex-nora. Seu filho quer apenas aceitar que a vida não faz sentido e aproveitá-la. Mas isso vindo de alguém que não sei por que cargas d'água acha a vida chata e dolorosa.
E sim, os personagens que dão vida à película chamam-se Juan Antonio e Maria Elena. Eu sou a única que acha estranho chamar as pessoas por dois nome? Se eu conhecesse um Juan Antonio, eu provavelmente o chamaria de Ju, ou, se ele fosse nos moldes do Javier Bardem, de Gostosão. Mas esses nomes compostos seriam usados apenas quando eu ficasse muito, muito brava com a pessoa. Por exemplo, se eu saísse com o Gostosão e ele ficasse falando da ex o tempo todo, eu gritaria: “Juan Antonio, pode parar já com isso! Nem que a sua ex seja a Penélope Cruz eu quero ouvir falar nela!”.
As primeiras quinze vezes que Juan Antonio diz pra Maria Elena falar inglês são até legais. É uma lembrança pros diretores de cinema de todo mundo: não importa onde vocês estiverem filmando, os atores têm que falar inglês, porque americano é uma besta que não lê legenda. Trata-se de uma prova de imperialismo que espanhóis tenham que falar inglês até na Espanha, porque as turistas americanas (uma delas estudante de cultura catalã) não fazem o menor esforço pra aprender a língua local, nem passando meses de férias por lá.
Outra coisa que eu acho esquisita é que o Woody tem fama de não dirigir seus atores. Mas aqui, mais que em outros filmes, eu senti todos muito “woodianos”. Percebi mais na cena em que a Patricia Clarkson (normalmente uma ótima atriz, como em À Espera de um Milagre) conversa com a Rebecca Hall e mexe mais a cabeça que alguém tendo um ataque epiléptico. Ela tá cheia dos tiques. Mas quase todos fazem isso, talvez porque seja o que o Woody faz quando atua. Acontece que nele fica bem. Aliás, os críticos estão babando pela atuação da Penélope - eles acabam de dar-lhe um prêmio de melhor atriz coadjuvante no ano -, mas eu não achei grande coisa não. Eu já vi pessoas neuróticas de perto, e nunca as achei sedutoras.
Vicky também contém críticas ao modo de vida yuppie. É um pouco hipócrita da parte do Woody criticar os ricos quando ele é milionário faz mais de quarenta anos. Sério, ele já era rico antes de fazer seu primeiro filme. Ficou rico já com o stand-up comedy. Ou será que ele se considera um boêmio desgarrado só porque toca jazz às segundas-feiras? Mas eu gosto como o Woody não é sempre o mesmo. Tudo bem, durante toda a sua vida ele enfocou cenários de classe alta. Mas em Ponto Final havia uma preocupação financeira, já que aquela é a história de dois alpinistas sociais, e há a sugestão de que o único meio de galgar posições é através de crimes e imoralidades. E em Sonho de Cassandra a obsessão com dinheiro fica ainda mais evidente. Pra mim deu a impressão que os dois irmãos passam metade do filme só falando no vil metal. Nesse sentido, é um Woody muito diferente. Agora, com Vicky, voltamos ao mundo do “dinheiro não é problema”. Não vemos ninguém pagando alguma coisa, nem algodão doce, nem aviãozinho particular, nem hotéis e restaurantes cinco estrelas, nem concertos de grandes violinistas. Uai, por que mesmo que eles acham a vida chata e dolorosa?