Provavelmente
o que você sabe sobre Salve Geral é que é aquele filme nacional que foi selecionado pra ser o concorrente do Brasil no Oscar do ano que vem. E, de fato, esse deve ser o maior atrativo do filme, que não vem fazendo muito sucesso. Ele está longe de ser ruim, cativa o público, tem um bom ritmo, mas não tem nada de memorável. Fala de um episódio da nossa história recente, quando a facção criminosa Primeiro Comando da Capital aterrorizou São Paulo, em 2006. O diretor Sergio Rezende (O Homem da Capa Preta, Zuzu Angel) disse, em entrevistas, que isso foi “o nosso 11 de Setembro”. Mas lógico que não foi. Se tivesse sido, mais gente se lembraria. Mesmo assim, esse cenário é praticamente um pano de fundo pra protagonista da tra
ma. Andréa Beltrão está muito bem como uma professora de piano que precisa se adaptar a uma nova vida. Depois que seu filho (Lee Thalor) mata alguém e vai preso, ela relutantemente usa sua formação de advogada pra passar recado entre os líderes do Comando, todos presos. Salve poderia ser sobre um dos vários líderes, sobre a vida na prisão, sobre a linha tênue que separa alguns advogados que trabalham pra criminosos dos próprios criminosos, mas não é. É sobre uma mãe coragem. 
Mãe coragem, pero no mucho. Quando ela se envolve com um líder criminoso jeitosinho, deixa de visitar o filho durante três semanas. Eu também deixaria, na boa. O rapaz é um mala.
Ele já era um mala antes de cometer seu crime. Fica fazendo cara feia pra mãe, que luta pra sustentá-los.
Assim que ele chega na cadeia, é chamado de playboy pelos outros presos, que não sabem que ele vivia num subúrbio pobre de SP (é boa a cena em que seu amigo negro vê a casa onde o “playboy” mora e se decepciona). Depois de preso, mesmo não sendo um playboy no sentido financeiro (embora seu padrão de vida seja bem superior ao da maioria), ele se comporta como um menino mimado. “Mãe, arranja 500 pila pra mim”, e não quer nem saber como ela vai arranjar. Mãe, faz isso. Mãe, você não veio me visitar! Depois dessa, eu perguntaria: “Quem é você?” e ia embora pra nunca mais voltar.
O interessante é que, de todos os presos, o que é mais h
umano está longe de ser o rapaz-malinha (que sequer parece se arrepender de seu crime). E tampouco é o “Professor” (Bruno Perillo). A gente empatiza um pouco com ele apenas porque ele parece gentil e se apaixona pela protagonista. Mas o mais humano é um preso (Taiguara Nazareth), negro, bonitão, que está saindo da cadeia em condicional, mas para isso precisa colaborar com a polícia corrupta. Ele quer se reab
ilitar. A gente o vê chorando, acompanhando sua mulher quando ela dá à luz. Lógico, seria um outro filme se Rezende se centrasse nesse personagem. Há também um outro negro, amigo do filho da protagonista, que acredita que o que eles estão fazendo é uma revolução, no sentido político. Pena que Salve não explique melhor esse ponto de vista.
Essa talvez seja a maior falha do filme pra mim, centrar-se no lado pessoal de uma mulher de classe média ao invés de enveredar pelo lado po
lítico. É risível que, mesmo sendo apolítico, Salve tenha sido atacado como uma tentativa petista de politizar o Oscar. Na realidade, eu nem sei se foi muita gente da direita que inventou esse absurdo ou se foi apenas um paquiderme de plantão, conhecido por criar um blog anônimo pra difamar Luis Nassif (entre várias outras trollagens). Pois bem, o cara disse que Salve Geral foi escolhido pelo governo pra representar o Brasil no Oscar para manchar a
imagem do PSDB em ano eleitoral. É muita criatividade pra um paquiderme conspiratório só! Quem escolhe o filme que representa o Brasil não é o governo, mas um comitê independente (que muda todo ano) composto de críticos de cinema, produtores e diretores. Ano passado um outro comitê optou por Última Parada 174, provavelmente pra falar mal do... ahn, nem sei qual o partido que governava o
Rio na época. Praticamente todos os filmes brasileiros recebem financiamento público, entre eles muitos que a classe média critica por “mancharem a imagem do país no exterior”. O BNDES acabou de dar dinheiro pro José Padilha, diretor de Tropa de Elite, fazer um filme sobre o mensalão, com o sugestivo título de Nunca Antes na História Deste País. Estranho, porque eu pensava que o BNDES só dava dinheiro pra filme que falasse mal do PSDB! Enfim, se essa
acusação de que Salve foi escolhido pra representar o Brasil no Oscar já era ridícula no papel, depois de ver o filme, então... Não tem nada na trama que sequer indique que o PSDB governava SP. Eu lembro de quando as notícias tomaram a mídia. As pessoas com quem eu falava aqui em SC associavam o problema da criminalidade ao governo federal, não ao estadual. Aliás, pouca gente fora de SP sabe que o PSDB governa o Estado ini
nterruptamente desde 95 (e nesse caso aquele argumento de como alternância no poder é algo positivo não conta).
De toda forma, duvido que a Academia indique Salve para melhor filme estrangeiro. Além de não ser uma produção marcante, não tem o perfil dessa categoria do Oscar, que tá mais pra O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias (que ficou entre os oito pré-selecionados em 2007). Sabe, algum momento histórico visto pelos o
lhos de uma criança, perda da inocência, essas coisas.
Ah, mas eu preciso dizer que um dos meus temas preferidos de todos os tempos é apenas sugerido por Salve. Tá, você vai ver o filme e não vai entender nadinha. Mas o meu tema é esse: ter que fugir de um lugar e fingir ser outra pessoa, sem ser reconhecida, com outro nome, em outra cidade. Esses temas raramente são explorados no cinema. Tem um pedacinho do Butch Cassidy na Bolívia (mas eles vivem do crime, e, vamos admitir, um Paul Newman e Robert Redford chamariam a atenção em qualquer lugar do universo. Na Bolívia, dois americanos não passariam incógnitos). Tem um pedacinho de Dormindo com o In
imigo em que a Julia Roberts foge do marido abusivo, que promete matá-la, e vai parar num lugar do outro lado dos EUA (ele põe um detetive particular na sua cola). Nos filmes de Hollywood, quando alguém tem que fugir, cruza a fronteira e vai pro México. Aqui, temos a vantagem que não precisamos mudar de país. É só mudar de estado. A menos que saia o nosso perfil num Linha Direta d
a vida, acho que dá pra viver escondido, sem ninguém suspeitar. Falei sobre tudo isso com o maridão. Falamos de como mudar a nossa aparência (ele usaria barba, eu tingiria o cabelo de loira e engordaria mais ainda, porque emagrecer tá difícil). Falamos do José Dirceu, que fez cirurgia plástica pra mudar totalmente o rosto e poder voltar com outro nome ao Brasil da ditadura. Perguntei pro maridão que cidade seria boa pra se esconder, se uma pequena, uma média, ou uma metrópole. Média, ele disse. E aí sugeriu fugir pra... Curitiba! Eu fiquei indignada: “Amor, Curitiba fica a duas horas de distância de Joinville! E a gente já esteve lá inúmeras vezes. Seria inevitável esbarrar em algum conhecido”. Ele não qui
s saber. Eu dei graças aos céus que a gente não tenha que fugir, porque ele não duraria um mês sem ser descoberto. Mas eu, eu tenho uma mente criminosa, ha hi ha hi (risinho diabólico).
Lógico que isso não tem nada a ver com Salve Geral, mas eu precisava desabafar.



Mãe coragem, pero no mucho. Quando ela se envolve com um líder criminoso jeitosinho, deixa de visitar o filho durante três semanas. Eu também deixaria, na boa. O rapaz é um mala.
Ele já era um mala antes de cometer seu crime. Fica fazendo cara feia pra mãe, que luta pra sustentá-los.

O interessante é que, de todos os presos, o que é mais h


Essa talvez seja a maior falha do filme pra mim, centrar-se no lado pessoal de uma mulher de classe média ao invés de enveredar pelo lado po





De toda forma, duvido que a Academia indique Salve para melhor filme estrangeiro. Além de não ser uma produção marcante, não tem o perfil dessa categoria do Oscar, que tá mais pra O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias (que ficou entre os oito pré-selecionados em 2007). Sabe, algum momento histórico visto pelos o

Ah, mas eu preciso dizer que um dos meus temas preferidos de todos os tempos é apenas sugerido por Salve. Tá, você vai ver o filme e não vai entender nadinha. Mas o meu tema é esse: ter que fugir de um lugar e fingir ser outra pessoa, sem ser reconhecida, com outro nome, em outra cidade. Esses temas raramente são explorados no cinema. Tem um pedacinho do Butch Cassidy na Bolívia (mas eles vivem do crime, e, vamos admitir, um Paul Newman e Robert Redford chamariam a atenção em qualquer lugar do universo. Na Bolívia, dois americanos não passariam incógnitos). Tem um pedacinho de Dormindo com o In



Lógico que isso não tem nada a ver com Salve Geral, mas eu precisava desabafar.