Vi A Família Savage esses dias em DVD. É sobre um assunto espinhoso: o que fazer com os pais quando eles não conseguem mais cuidar de si mesmos? Bom, pra mim a resposta não exige muita elaboração: filhos têm a obrigação de cuidar dos pais. Só que “cuidar”, a meu ver, não inclui dar banho e trocar fralda. Mil perdões pelo meu egoísmo, mas não acho justo querer que filhos (em quase todos os casos que conheço, filhas) deixem de lado a sua vida pra viver pros pais idosos. Se os filhos podem pagar um enfermeiro particular, maravilha. Se não podem, e acho que só os ricos podem, devem encontrar um lugar decente pra que o idoso seja (bem) tratado por profissionais. Eu fiz o meu trabalho de conclusão de curso sobre asilos pra idosos, e por isso visitei alguns em Joinville. Não têm absolutamente nada a ver com aquelas histórias de horror de velhos jogados nos corredores que tanto ouvimos falar. Num asilo que visitei, num local lindo, enorme, cheio de verde, a pessoa pode entrar e sair quando quiser. Pode até ter bichinho de estimação, desde que possa cuidar dele sozinha. Entrevistei várias pessoas que vivem lá (a maior parte mulheres), e todas pareciam estar lúcidas e felizes. Havia casais morando lá também. Até comentei com o maridão que, se algum dia ficarmos velhinhos demais pra tomar contas de nós mesmos sozinhos, eu não teria o menor problema em viver num lugar assim. Ele concordou.
Mas no filme os dois filhos sentem culpa por precisar colocar o pai num asilo. Mesmo que o pai em questão tenha sido um pai distante, abusivo, com o qual eles nunca conviveram muito. O filho, feito pelo Philip Seymour Hoffman (Capote, Jogos do Poder) é um professor universitário com depressão. A filha, vivida pela Laura Linney (Truman Show, Simplesmente Amor), sonha em escrever uma peça de teatro. Ambos são seres solitários e tristes. Não vou mentir: o que os faz especiais é serem interpretados por dois atores excepcionais. Savage não tem nada de engraçado, ao contrário do que o trailer tenta passar, em mais uma demonstração de propaganda enganosa. Mas também não tem nada de estupidamente deprimente. Pra ser franca, eu tava indo bem, sem rir nem chorar, sem me envolver muito com a história - até a última cena (bem, bem a última, que inclui a Laura Linney correndo com um cachorro). Foi só nesse pedaço que perdi o controle, comecei a chorar copiosamente e praticamente inundei o quarto. O maridão teve que parar o que estava fazendo (jogando xadrez no computador) pra me consolar e tentar salvar os móveis. Não é uma cena terrível nem nada. É até otimista, cheia de esperança, mas me fez lembrar do meu cãozinho amado, o Hamlet, que estava velhinho demais, quase 16 anos, e teve que ser sacrificado pelo veterinário. Mas estou ciente que todos envelhecemos, todos morremos, e não dá pra fazer algo a respeito. Fora prolongar a jornada o máximo possível e torcer pra que o fim seja indolor. Pros nossos pais, nossos cachorros, e nós mesmos.