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sexta-feira, 12 de junho de 2009

CRI-CRÍTICA DE TRAILER: DO COMEÇO AO FIM


Nunca entendi muito bem o tabu do incesto. Certo, incesto quase sempre envolve abuso sexual contra crianças, pai estuprando filha, irmão estuprando irmã, tio estuprando sobrinho, essas coisas. E is
so é indefensável sob qualquer aspecto. Mas mesmo sem a violência, a ideia de transar com os pais soa asquerosa. A gente não quer nem saber que nossos pais têm vida sexual, quanto mais que eles tenham vida sexual com a gente! Mas quando são dois irmãos mais ou menos da mesma idade, descobrindo a sexualidade juntos, não me parece algo assim tão chocante (quer dizer, isso em termos abstratos e teóricos. Na prática, a simples noção de eu desejar sexualmente os meus irmãos é bem argh, yuck, blergh). E quando a sociedade impõe que é incesto que dois primos de primeiro grau se juntem, aí é que não entendo nada mesmo. Tudo bem, convém que não se reproduzam. Mas dá pra ter um relacionamento sem se reproduzir, não dá? (eu e o maridão não devemos ser as únicas anomalias no planeta). Sei lá, quando penso em incesto nas artes as primeiras coisas que me vêm à mente são O Som e a Fúria, do Faulkner (em que Quentin se mata por não poder ter a irmã), e La Luna, do Bertolucci, que expõe um caso entre mãe e filho.
Quase sempre são tragédias, né? Em Do Começo ao Fim, a julgar pelo trailer, não parece ser assim. Primeiro que não há abuso nem relação de poder entre os irmãos. Pronto, elimina-se a parte mais condenável do incesto, que é a presença do estupro, e talvez tenhamos uma história de amor. O filme fala de dois irmãos de pais diferentes, e da suspeita de que o relacionamento entre os meninos possa ser demasiadamente próxima e íntima. O trailer avança no tempo até quando os irmãos são adultos, lindos de morrer, e agora parecem se amar sem fronteiras (e olha a vantagem: sem risco de engravidar).
Li que sugeriram pro diretor Aluizio Abranches (de Um Copo de Cólera, que não vi. Vi o trailer e não me deu vontade de assistir o filme. Lembro das formigas), na fase de roteiro, que os dois irmãos fossem transformados em duas irmãs. Sabe, porque faz parte da pornografia mainstream mostrar mulher transando, então seria mais palatável pro grande público ver duas mocinhas bonitas nuas. Felizmente, Aluizio não aceitou (isso me lembrou que um editor de Lolita recomendou pro Nabokov que ele transformasse a obsessão de Humbert Humbert num garoto. Acredite se quiser).
Não há dúvida que Do Começo vai gerar polêmica. Aliás, já está gerando. No entanto, pelo que li, a recepção é extremamente positiva, todo mundo elogiando a ousadia, a fotografia, os atores, a música... Óbvio, tem os homofóbicos de plantão jurando que incesto é fichinha, se comparado à "perversão" da homossexualidade. E tem gente dizendo que as igrejas de várias religiões vão pedir o boicote do filme. Se elas forem espertas, não farão nada, porque um pedido de censura só aumenta a repercussão. Também espero que os distribuidores percebam o potencial de Do Começo e o lancem em várias salas, inclusive fora do eixo Rio-SP.
Pelo menos desse filme ninguém vai poder fazer a maior crítica que fazem às produções brasileiras: que é igualzinho à TV. Não lembro de nenhuma novela global tratar de incesto. Claro, tem aquelas tramas mirabolantes em que o casal (hétero) se apaixona sem saber que são irmãos, e quando descobrem, ohhh, é o amor impossível. Do Começo parece ser totalmente diferente. Inovador, inclusive.
Faz tempo que não cri-critico trailers, mas minha nota é 5. É a mais alta Apesar do trailer contar um pouquinho demais da história, fiquei ansiosa pra ver o drama. Chega logo, 28 de agosto. E chegue a SC, por favor.