Li na Vanity Fair de outubro de 2009 um artigo meio interessante, sobre um escritor chamado Manchester que foi convidado pela família Kennedy para escrever a “história oficial” sobre o assassinato do presidente, em novembro de 1963. O cara já havia escrito um livro sobre John F. Kennedy e era seu grande fã, e, como tanta gente, ficou devastado com o assassinato. Manchester não poderia imaginar que iria sofrer tanto pra publicar sua história. Gastou dois anos de sua vida, entrevistou mil pessoas, e escreveu tanto que teve que passar dois meses no hospital por esgotamento nervoso. Ainda assim, a viúva, Jackie, não gostou do resultado, e tentou censurar o livro. Depois de muitas negociações, Death of a President saiu, vendeu mais de um milhão de cópias, e todo o dinheiro foi pra biblioteca fundada pelos Kennedys. As dez horas de entrevista que Jackie deu a Manchester sobre o assassinato só serão divulgadas em 2067 (talvez vocês estejam vivinhos, mas eu dificilmente viverei até os cem anos).
O mais interessante no artigo, pra mim, foi o que Manchester descobriu em Dallas, cidade onde Kennedy foi baleado, como a gente já viu no Zapruder film (popularizado em JFK, do Oliver Stone. Eu odiava o filme, e agora gosto pacas. Acho-o totalmente envolvente, uma verdadeira aula sobre teorias da conspiração).
O Texas era o antro do conservadorismo na época. Numa entrevista recente, Tarantino falou sobre seu único personagem negro no magnífico Bastardos Inglórios, o projecionista. Disse que era bastante comum haver cidadãos franceses negros na Paris ocupada, e que na realidade era mais seguro ser negro numa Europa nazista do que no Texas dos anos 60. Parece que é verdade (e, se vamos falar em filmes, Mississippi em Chamas é uma outra aula de história). Pra muita gente, o Texas ainda é um lugar perigoso (lembrem-se da Louise não querendo sequer passar por lá pra chegar ao México em Thelma e Louise). Mas na época era pior, lógico. Em 1963 era o estado com o maior número de assassinatos, e Dallas era a cidade texana com o recorde, 110 assassinatos num só ano. Dallas tinha um monte de evangélicos, desses hiper radicais da direita cristã, que consideravam Kennedy um comunista. Lojas de judeus eram marcadas com suásticas, folhetos racistas eram distribuídos nas escolas públicas, um cartaz com a foto de Kennedy circulava com a palavra “Procurado” escrita embaixo. Não sei se preciso apontar as semelhanças com o que andam falando do Obama hoje. Eu teria muito, muito medo se fosse ele.
Manchester viu que, numa escola de um subúrbio rico em Dallas, as crianças da quarta série aplaudiram ao saber que Kennedy havia sido morto. O mais terrível é que, aparentemente, as últimas palavras que Kennedy ouviu em sua vida vieram de Nellie, mulher do governador (no carro com Kennedy e Jackie). Nellie, feliz com a recepção a Kennedy nas ruas, disse pra ele: “Senhor presidente, você não pode dizer que Dallas não te ama”. E aí veio o primeiro tiro, aquele chamado pelos que não acreditam que houve apenas um atirador de “bala mágica”, a que passou pelas costas do presidente, atravessou seu pescoço, saiu pela sua garganta, e atingiu as costas, peito, punho direito e coxa esquerda do governador. A mesma bala, se vocês creem em contos da carochinha!
Outra coisa que eu não sabia, ou não lembrava de ter lido, é que o vice Lyndon Johnson foi empossado no mesmo dia do assassinato de Kennedy, e Jackie se recusou a trocar de roupa: ela usou o mesmo vestido que estava usando no carro, quando seu marido foi atingido. O vestido tinha manchas de sangue. Ela justificou: “Deixe que eles vejam o que fizeram”. Meu, isso tem que ser muito traumático pra um país. Vamos torcer para que uma tragédia assim não se repita. Louco pra isso a gente sabe que tem.Vista atual de Elm Street em Dallas, o trecho onde o presidente foi assassinado.
O mais interessante no artigo, pra mim, foi o que Manchester descobriu em Dallas, cidade onde Kennedy foi baleado, como a gente já viu no Zapruder film (popularizado em JFK, do Oliver Stone. Eu odiava o filme, e agora gosto pacas. Acho-o totalmente envolvente, uma verdadeira aula sobre teorias da conspiração).
O Texas era o antro do conservadorismo na época. Numa entrevista recente, Tarantino falou sobre seu único personagem negro no magnífico Bastardos Inglórios, o projecionista. Disse que era bastante comum haver cidadãos franceses negros na Paris ocupada, e que na realidade era mais seguro ser negro numa Europa nazista do que no Texas dos anos 60. Parece que é verdade (e, se vamos falar em filmes, Mississippi em Chamas é uma outra aula de história). Pra muita gente, o Texas ainda é um lugar perigoso (lembrem-se da Louise não querendo sequer passar por lá pra chegar ao México em Thelma e Louise). Mas na época era pior, lógico. Em 1963 era o estado com o maior número de assassinatos, e Dallas era a cidade texana com o recorde, 110 assassinatos num só ano. Dallas tinha um monte de evangélicos, desses hiper radicais da direita cristã, que consideravam Kennedy um comunista. Lojas de judeus eram marcadas com suásticas, folhetos racistas eram distribuídos nas escolas públicas, um cartaz com a foto de Kennedy circulava com a palavra “Procurado” escrita embaixo. Não sei se preciso apontar as semelhanças com o que andam falando do Obama hoje. Eu teria muito, muito medo se fosse ele.
Manchester viu que, numa escola de um subúrbio rico em Dallas, as crianças da quarta série aplaudiram ao saber que Kennedy havia sido morto. O mais terrível é que, aparentemente, as últimas palavras que Kennedy ouviu em sua vida vieram de Nellie, mulher do governador (no carro com Kennedy e Jackie). Nellie, feliz com a recepção a Kennedy nas ruas, disse pra ele: “Senhor presidente, você não pode dizer que Dallas não te ama”. E aí veio o primeiro tiro, aquele chamado pelos que não acreditam que houve apenas um atirador de “bala mágica”, a que passou pelas costas do presidente, atravessou seu pescoço, saiu pela sua garganta, e atingiu as costas, peito, punho direito e coxa esquerda do governador. A mesma bala, se vocês creem em contos da carochinha!
Outra coisa que eu não sabia, ou não lembrava de ter lido, é que o vice Lyndon Johnson foi empossado no mesmo dia do assassinato de Kennedy, e Jackie se recusou a trocar de roupa: ela usou o mesmo vestido que estava usando no carro, quando seu marido foi atingido. O vestido tinha manchas de sangue. Ela justificou: “Deixe que eles vejam o que fizeram”. Meu, isso tem que ser muito traumático pra um país. Vamos torcer para que uma tragédia assim não se repita. Louco pra isso a gente sabe que tem.Vista atual de Elm Street em Dallas, o trecho onde o presidente foi assassinado.
13 comentários:
Ótimo post, Lola. Eu tenho um problema com os filmes do diretor de JFK. Mas tenho quase certeza que o problema é comigo, má vontade.
De qualquer forma, eu tenho muito medo do que pode acontecer com o Obama. E aquela brecha de segurança com gente entrando na Casa Branca de penetra? Sei não... E como sou medrosa em relação a mim, também, os EUA não estão no topo dos países que quero visitar.
Aliás, falando nisso, lembra de um filme dos anos 70 (*acho que era, pela estética*) em que duas estudantes universitárias decidem fazer um passeio de carro pelos EUA, empolgadas pela liberdade pós-direitos civis e revolução sexual e se ferram. Quer dizer, a moça branca ainda fica viva para contar a história, mas a moça negra, a mais engajada politicamente é trucidada no Sul. Eu era criança quando assisti, tinha no máximo uns 11-12 anos. Aquele filme é o que deu a base da minha imagem do Sul dos EUA. Nunca consegui rever o filme, enfim...
A "teoria da conspiração" envolvendo o assassinato de kennedy é fascinante! Eu adoraria ler/ver/ouvir a entrevista da Jackie... uma pena porque tenho uma ligeira suspeita de que existe uma boa possibilidade de eu não estar vivo!
Olá Lolíssima.
Adoro tudo de conspiração. É, eu estarei com 102anos, num dá. Que pena!!
Estou sentindo muita falta dos seus comentários,... entendo.
É isso...
Beijos.
Prezados:
O pai do John Kennedy, que era, primeiramente, um contrabandista de bebidas, via Canadá e que alavancou fantasticamente os negócios do Luck Luciano, um mafioso inteligentíssimo e muito bem sucedido, assim como seus amigos do mesmo ramo.O velho Kennedy que fez fortuna com o crime, naturalmente, sempre foi da direita americana, e fez de tudo (tudo mesmo, inclusive acordos com a máfia) para eleger um filho presidente. Ou seja, todos sabiam que o John Kennedy, não era comunista coisa nenhuma; ele tinha muito carisma e se elegeu por isso, não tendo feito grande coisa na sua gestão, mas, entrou para a história graças ao martírio do seu assassinato.
O que quero dizer com isso? Que o Kennedy, foi assassinado não por pessoas de direita, mas sim por não estar cumprindo os acordos que seu pai fez com bandidos para sua eleiçãoào estava cumprindo tais acordos por diversos motivos, dentre eles, o mais importante foi a resistência do seu irmão Bob, na época, procurador da justiça a honrar tais acordos. A morte do Lee Oswald, por um mafioso, na frente da imprensa, mais cinematográfico que as “queima de arquivo” do Poderoso Chefão, já é indicio suficiente do motivo do crime.
Até onde se sabe o Obama não vem com essa carga negativa no seu histórico, portanto dificilmente alguém o mataria, simplesmente por ele se fazer parecer ser um pouco a esquerda, ser negro, ou muito querido.
O que vai acabar com o Obama é a economia que ele entrou parecendo ser o
super-herói, que tudo resolveria e um ano depois nada, naturalmente, (super-heróis não existem, mas o povo quer achar que sim) não conseguiu. A crise não é culpa dele, mas o ônus do fracasso em resolvê-la será dele. O que vai morrer é sua carreira política.
O americano médio só quer viver bem, custe o que custar, por iso nào tem determinaçào nem coragem de matar um presidente.
PRESIDENTES AMERICANOS SÃO MORTOS POR MOTIVOS PRAGAMÁTICOS NÃO POR IDEALISMOS.
Correção; desculpem!
PRAGMÁTICOS
Um filme que recomendo sobre o sul dos EUA é "O Massacre De Rosewood". Uma mulher mente que foi espancada e roubada por um negro, e os vizinhos dela saem matando todo e qualquer negro que encontram pela frente. O episódio foi abafado por décadas.
Oi, Lola. Eu tenho um cisma com os filmes do diretor de JFK. Americano adora uma teoria conspiratoria, neh? Eu tambem mas, estarei com cento e poucos anos quando os arquivos forem abertos. Eu temo pela vida do Obama pois aqui nos EUA a divisao parece que se acentua dia apos dia.
Esse perfil que vc desenhou sobre o Texas é aterrorizante. Henfil dizia que o norte-americano médio era a mistura de John Wayne com Jerry Lewis e acho que ele acertou na mosca.
Talvez nunca se conheça efetivamente a verdade sobre o assassinato de JFK, o que dá margem para inúmeras teorias conspiratórias ou pior: criaturas que acreditam dominar a verdade e c*** regras e explicações, "ensinando" a todos, mostrando a verdadeira face de eva. Sempre tem uns chatos assim, certo?
Beijos.
Por que estipularam uma data tão longa pra divulgar o depoimento da Jackie Kennedy? O que tem de tão bombástico nas suas declarações que talvez nem seus netos possam saber? Dizem que ela passou um bom tempo com medo de que os mesmos que mataram o marido matassem seus filhos, talvez por isso ela quis que todos demorem a saber o que ela pensava e sabia.
A história do JFK é um prato cheio pras teorias conspiratórias. Sobrou até pra Marylin Monroe.
Tem americano que apela pras armas pra tudo, gente assustadora. Viu a professora universitária do Alabama que atirou nos colegas por que não conseguiu tenure (algo como estabilidade no emprego)?
Esta morte e o 11/09 são coisas que não desce no meu caso. E infelizmente tb temos nossas teorias aqui. A morte de Juscelino nunca ficou esclarecida no meu ponto de vista.
Infelizmente as forças ocultas do poder sempre fazem vítimas.
Ps: Nada a ver com o tópico, mas Lola, que tal comentar sobre a "linda" nova música de Neguinho da Beija-Flor? Dá um ótimo post. Eu fiz um, pq é impossível não comentar sobre "aquilo".
Cara, estarei com 77 anos. É isso, né? se tenho 20 agora. (não sou muito boa com números).
Acho que chego viva e sã até lá.
A curiosidade me é motivadora também. Não morro antes nem f...
Bem, sou conterrâneo de Barbosa Lima Sobrinho. Meu Avô morreu aos 96, e dizia que a doença que mais matava na família era "anos". Uma irmã dele, aos 97, confidenciou ao meu Pai: "acho que vou morrer logo, porque a família da gente morre cedo..."
Eu terei 99 anos, espero que haja lupas potentes... ;)
Postar um comentário