Mostrando postagens com marcador greve. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador greve. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 30 de junho de 2020

PARA APOIAR O BREQUE DOS APPS, NÃO PEÇA ENTREGAS AMANHÃ

Amanhã, dia 1o de julho, haverá uma greve dos entregadores de aplicativos. Já tem uma tag bombando no Twitter: 
#AmanhaTemBrequeDosApps. O jeito de apoiar é não pedir nenhuma entrega amanhã!
Reproduzo aqui a entrevista que o coletivo Juntos! fez com a entregadora antifascista Eduarda Alberto. Uma entrevista importante para entendermos os perigos e desafios desta profissão altamente precarizada

1. Como você se tornou entregadora de aplicativo? Tinha outra profissão antes?
Eu não sou entregadora de aplicativo, eu entrego para micro-empreendedoras e outros serviços freelancer que surgem. Porque eu não sou entregadora de aplicativo: o meu namorado até pouco tempo entregava por aplicativo e alguns companheiros nossos e amigos próximos também, e a questão da precarização do trabalho no aplicativo já era muito clara pra mim. Inclusive eles também pararam de entregar por aplicativo, então quando comecei a entregar, eu já tentei criar meios pra não depender de aplicativo, pra ter um trabalho mais autônomo mesmo. Eu tinha outra profissão antes sim, na realidade eu estudo arquitetura e todo o meu trampo é pra conseguir me manter estudando. Manter meu aluguel, comida e principalmente estudando. Eu tava trabalhando nos últimos tempos como bartender, e quando Crivella decretou a quarentena e os bares tiveram que fechar, na semana seguinte eu já tava fazendo entrega, porque eu precisava de uma fonte de renda. Então eu me tornei entregadora justamente por conta da pandemia. Então não fiquei de quarentena nenhuma semana sequer.

2. Como você vê essa ideia de empreendedorismo para aqueles que trabalham por conta própria?
Essa ideia de empreendedorismo pra quem trabalha por conta própria é uma mentira né, quando é contada pra pessoas que são prestadoras de serviço. Entregadores são prestadores de serviço, não têm um plano de negócio, não tem uma projeção de enriquecimento, até porque o que você ganha não consegue nem dar conta de todas as suas contas às vezes. Então isso é uma mentira que eu percebo que ela é contada pra você se sujeitar àquele trabalho mesmo, porque se você pensa, quem se sujeita a pedalar 6 km pra ganhar 3 reais, né? 
Você tem que estar acreditando numa mentira, então acredito que essa ideia do empreendedorismo é uma estratégia manipuladora mesmo, pra gente que entrega. Vende uma ideia de certa emancipação, de certo emponderamento, mas na verdade você não define se você quer as taxas que você vai receber, você não define absolutamente nada, você é um prestador de serviço e ponto. Você recebe uma demanda e aquilo é imperativo, você não decide nada sobre ela, você só pode cumprir.

3. Quais são as principais revindicações dessa paralisação?
Antes de tudo, acho importante deixar claro que eu faço parte do movimento dos entregadores antifascistas e essa paralisação que se tornou um chamado pra greve, não foi puxada por nós, mas a gente apoia. Nós fomos um movimento que surgiu inclusive no meio de todo esse processo de organização pra essa greve, mas não fomos nós que puxamos, apesar de apoiar 100%.
Mas vamos lá para as reivindicações dessa paralisação: está sendo reivindicado um aumento no valor das corridas e pacotes; aumento do valor mínimo por entrega; seguro de roubo, acidente e vida; bizarro até ter que reivindicar isso, porque não é garantido. Se você morre no meio da estrada, você vai estar morto com a logomarca do aplicativo do seu lado, fazendo propaganda, mas eles não vão ali te socorrer não. 
Então tem também o fim dos bloqueios e desligamentos indevidos. Por que isso tá entrando? É muito bloqueio indevido mesmo, tem gente que nem rodou no dia anterior, acorda pra poder rodar naquele dia e tá bloqueado porque supostamente fez uma entrega errada que a pessoa nem trabalhou. Só um exemplo da surrealidade. 
Tem também o fim do sistema de pontuação, esse sistema de pontuação, é muito injusto também porque às vezes quando a pessoa pede um lanche no aplicativo e dá uma nota baixa pra aquele pedido, isso pode bloquear um trabalhador que não vai ter como levar dinheiro pra botar comida em casa. E às vezes a responsabilidade é mais dos restaurantes do que dos entregadores. Além disso, tem também o auxílio pandemia que tá sendo reivindicado nessa greve: EPIs, porque os aplicativos não fornecem material de segurança, e licença também pros entregadores que pegarem coronavírus agora na pandemia.

4. Você vê uma relação entre essa mobilização e outras que tem acontecido nacionalmente, como os atos antifascistas e antirracistas?
Eu percebo sim uma relação porque está se criando um terreno de revolta. Esse terreno de mobilização já é um terreno de revolta, que tá acontecendo. Os atos antifascistas e antirracistas e antirracistas inclusive, foram o berço do nascimento dos entregadores antifascistas. Então pra além do nosso grupo de entregadores antifascistas, de qualquer forma tá sendo um momento no mundo todo de muita revolta. Em pontos chaves de disposição do mundo. E o próprio movimento nasceu no ato pela democracia, por isso é interessante também o termo antifascista no nosso movimento, até porque a gente percebe que se não tiver num regime político que você tenha a possibilidade de fala, de ter voz, de se organizar com seus comuns, não tem como tocar nenhuma luta.

5. Outras paralisações internacionais, como a de uberes que aconteceu ano passado, influenciaram vocês de alguma forma?
Nas discussões que eu vejo de motoboys e entregadores em geral, a maior referência tá sendo da greve dos caminhoneiros, que tá sendo citada de forma recorrente entre os motoboys. Talvez eles se percebam mais como entregadores também né, como pessoas que transportam mercadorias pelo território.

6. Como vocês tem se organizado a nível local e nacional?
De maneira geral os motoboys e entregadores têm se organizado por whatsapp. O whatsapp tem sido a maior ferramenta de troca de ideia, troca de informação. O movimento de entregadores antifascistas especificamente também se organiza bastante pelo whatsapp, mas a gente tem reuniões periódicas de todos os estados pra poder definir e alinhar nossos planos para o movimento. E o boca a boca, que é o mais utilizado de fato. Quando você tá com o aplicativo ligado, você pode ficar por 12h com ele ligado que não necessariamente você vai pegar vários pedidos. Tem várias pessoas que ficam com o aplicativo ligado e conseguem pegar 3 pedidos. Então esse momento de aguardo nos pontos que saem pedido é um momento potente pra troca de ideia e pra nossa organização.

7. Por que você acha que entregadores de aplicativo são principalmente homens?
Muito interessante essa questão, porque ela vai além dos entregadores de aplicativo. Eu acho que qualquer profissão que você tenha que vivenciar a cidade, as mulheres são menor quantidade no grupo de trabalhadores. Porque de maneira geral as mulheres são socializadas pra escala doméstica, a gente é criada pra ter medo da rua e a rua é realmente perigosa pra gente. Então é uma série de fatores que coloca os homens pro mundo e as mulheres pra escala doméstica, seja a socialização ou seja realmente os riscos que a rua oferece. 
Eu por exemplo, não rodo à noite, não posso rodar à noite. Porque eu percebo que eu ali, com uma bag nas costas, mexendo no celular o tempo inteiro, eu tô ali vulnerável. E alguns lugares eu não tenho total conhecimento, né? Então eu acho que essa questão do ambiente da cidade ser hostil pras mulheres de maneira geral, reflete nessa questão de ter mais entregadores homens, como em todas as outras profissões que são mais na rua.

8. Como as pessoas podem apoiar a mobilização de amanhã, dia 1?
Principalmente não pedindo no aplicativo. Não pedir no aplicativo é uma forma muito relevante de ajudar nesse dia. Mostrar realmente o impacto econômico que nós somos. Nós produzimos dinheiro pras empresas, né? 
Quem tá movimentando o dinheiro das empresas não são os acionistas, é quem faz o dinheiro pra eles que é quem tá na rua se expondo pra trabalhar. Então a gente consegue mostrar a nossa força com esse apoio, ninguém pedindo no dia 1°. E se der pra não pedir nos dias seguintes, ótimo também. Porque a gente tá querendo conseguir movimentar uma greve, então pra além de um dia.
E de maneira geral, eu tenho dito pras pessoas, quando for pedir um lanche por aplicativo que vier a pessoa entregar, pergunta pra ela se ela faz entrega por fora do aplicativo, aproveita pra pegar o contato dessa pessoa. Tem forma de apoiar por fora dos aplicativos e a ideia é fortalecer isso cada vez mais. E é isso, muito obrigada pelo interesse de ouvir sobre o movimento, de ouvir sobre nossa organização e pelo apoio. Também pelas perguntas muito boas, que foi uma delícia aqui de estar respondendo. Muito obrigada!
UPDATE: Veja aqui o sucesso que foi o #BrequeDosApps, o levante contra a precarização. Imagens de protestos por todo o país! (na foto acima, Fortaleza).

quarta-feira, 2 de outubro de 2019

GREVE GERAL DA EDUCAÇÃO, HOJE E AMANHÃ

Hoje e amanhã (dias 2 e 3 de outubro) tem paralisação de 48 horas com atividades descentralizadas em todos os campi. Amanhã haverá atos em todo o país, em mais uma grande greve da educação. 
De acordo com a UNE e UBES, as principais organizações da greve, as pautas para a greve são contra o Future-se, os cortes de recursos, a militarização das escolas, os interventores colocados por Bolso, e a retirada de direitos dos trabalhadores. 
A UFSC foi a primeira universidade do Brasil a entrar em greve contra o corte de verbas do desgoverno federal. Leiam o manifesto e vejam um excelente vídeo produzido por estudantes do Centro de Ciências Agrárias da UFSC pra constatar qual é a balbúrdia que as universidades promovem.
O inconsequente  governo do Brasil está ameaçando o futuro e a dignidade da humanidade, desmontando a ciência e a educação do país, e isto pode gerar desastrosos impactos em médio e longo prazo, entre eles, o agravamento da crise ambiental global. 
O processo de mudança climática tem se intensificado nas últimas décadas e pode  afetar negativamente toda a população mundial, especialmente pelos impactos na agricultura (diminuindo a produção de alimentos) e pelo aumento do nível do mar devido ao derretimento das calotas polares (deixando em situação vulnerável toda população que  vive nas zonas costeiras -- 70% da população  brasileira).
Com a desvalorização da educação e ciência, a sociedade e o meio ambiente correm sérios perigos!
A população brasileira tem plena capacidade de gerenciar seus recursos naturais. Para isto é imprescindível o investimento público em pesquisa e desenvolvimento para  geração e adaptação de tecnologias que aliem conservação ambiental e desenvolvimento econômico e social. Esse conhecimento, somado ao investimento em capital humano, é essencial para embasar políticas públicas e programas de governo inovadores que promovam o bem estar social e ambiental.
Nós, cientistas brasileiros, estamos nos unindo para mostrar o que está acontecendo aqui ao mundo! Esperamos que articulados com os diferentes setores sociais possamos influenciar as tomadas de decisão do governo para que o mesmo valorize a ciência e recue frente aos cortes já realizados. Exigimos que o governo redesenhe sua política educacional e científica, que no nosso modo de ver está muito mal formulada, e é irresponsável, indo na direção contrária da que se espera de uma boa governança dos bens comuns.

sexta-feira, 14 de junho de 2019

TEM GREVE GERAL HOJE: VAMOS PARAR PARA QUE O BRASIL ANDE

Como seria incrível se a gente imitasse nosso hermano mais politizado e parasse o Brasil na greve geral de hoje. Foi o que a Argentina fez no final de maio, na sua quinta e maior greve contra o governo Macri (que, como todo reaça que se preza, está afundando o país vizinho).
Os movimentos em defesa da educação nos dias 15 e 30 de maio aqui no Brasil foram enormes, os maiores protestos contra o desgoverno Bolso até agora (seis meses do Brasil na UTI respirando por aparelhos). Mas hoje, além dos estudantes e professores, sairão às ruas também inúmeras outras categorias, sindicatos, o MST. Tem que ser gigante. Tem que paralisar o Brasil e ao mesmo tempo lotar as praças de manifestantes contra o pior governo da história do país, contra a deforma da previdência, contra o presidente miliciano, e pela educação. 
Acredito que, por conta do escândalo do #VazaJato, teremos vários "Fora Moro" e "Lula Livre" também. Vamos ver. Eu estarei nas ruas de Fortaleza. Se me vir e me reconhecer, venha me dar um abraço.
Publico o texto do deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP).

O governo Bolsonaro tem produzido crises recorrentes e instabilidades institucionais, gerando um ambiente desfavorável para investimentos privados que ajudem a retomada da economia. A agenda ultraliberal de Paulo Guedes e equipe não produziu até o momento nenhuma iniciativa para minimizar o dramático desemprego, que segundo o IBGE atinge mais de 13 milhões de pessoas e é o maior problema do país.
A Reforma da Previdência é o novo "toque de mágica" dos economistas da banca financeira, gente muito bem remunerada para dar vernizes de ciência a velhos ilusionismos. O discurso é simplório e baseado em duas mentiras muito repetidas: 1) ou faz a reforma já ou o Brasil quebra e 2) basta fazer a reforma para chover investimentos e adeus crise. É mais um conto da carochinha dos mesmos criadores de “a reforma trabalhista vai gerar empregos”, lembram?
O Brasil não vai quebrar por causa da Previdência, que até poucos anos atrás era superavitária. O país precisa sair do atoleiro econômico e voltar a crescer, pois com mais gente trabalhando, mais se recolhe para a Previdência. Foi essa a “mágica” feita até 5 anos atrás. Mas vamos admitir que em tempos de vacas magras é preciso cobrir o déficit. Nesse caso, ajudaria bastante a fechar as contas se o governo fosse atrás dos devedores do INSS, coisa de R$ 450 bilhões, segundo a CPI que tratou do assunto no Senado. Mas aí seria preciso cobrar da própria banca financeira, gente poderosa com quem Bolsonaro e Paulo Guedes não querem mexer.
Também não é verdade que a Reforma da Previdência, por si só, vá gerar investimentos e trazer crescimento. Com uma das taxas de juros mais altas do mundo, o mais provável é que a dinheirama vá ser aplicada na esfera financeira, enriquecendo mais quem já é milionário. Contudo, ao tirar o dinheiro da aposentadoria de milhões de pessoas, o impacto na economia de pequenas e médias cidades será desastroso, gerando um ciclo econômico vicioso.
A verdade é que as elites nacionais e internacionais precisam manter seus fabulosos ganhos e, para isso, precisam esfolar ainda mais os trabalhadores e os mais pobres. No neoliberalismo radical que essa turma defende, não há espaço para direitos sociais, trabalhistas e previdenciários. Eles querem revogar as conquistas civilizatórias de seguridade social consagradas na Constituição. O aumento da miséria, da fome, das doenças e das mortes não é problema para a turma da banca.
Mas se existem ataques sem precedentes aos direitos, há também uma reação cada vez mais ampla da sociedade. As manifestações em defesa da educação, que tomaram conta do país nos dias 15 e 30 de maio, produziram um dado novo na conjuntura política, mostrando que a consciência democrática começa ser revolvida para colocar freio às pautas obscurantistas da extrema direita.
Os atos da educação, que conquistaram vitórias no Congresso com a recomposição de parte das verbas para universidades e bolsas de estudo, também deram novo fôlego à greve geral convocada pelas centrais sindicais em defesa da aposentadoria. Aqui está a chave para sair das cordas e elevar a resistência: luta em torno de bandeiras concretas e amplas, que unam setores diversificados e isolem os inimigos do povo.
Será histórica a greve geral em defesa da aposentadoria e da educação, mas também da democracia, dos direitos e garantias constitucionais. Trabalhadores e estudantes irmanados fazendo a soma de todas as lutas justas e, como diz o samba, “parando para movimentar” o Brasil.

sexta-feira, 25 de maio de 2018

GUEST POST: NADA TORNA ILEGÍTIMA A GREVE DOS CAMINHONEIROS

Reproduzo aqui o texto de Larissa Riberti, que considera legítima a greve (ou locaute) dos caminhoneiros.

Tem ao menos seis anos que colaboro com um jornal de caminhoneiros e não me arrisquei a fazer nenhuma análise sobre a recente greve da categoria. Mas muitas opiniões, sobretudo de "esquerda" proferidas nessa rede social [Facebook] (ninguém se importa, na verdade) me geraram um incômodo. Por isso, me arrisco agora a escrever algumas pontuações sobre a greve dos caminhoneiros, lembrando que, dessa vez, muita gente perguntou.
1) A greve começou como um movimento puxado pela CNTA, a Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos. A convocação da paralisação se deu após encaminhamento de ofício ao governo federal em 15 de maio, solicitando atendimento de demandas urgentes antes da instalação de uma mesa de negociação. As urgências eram: o congelamento do preço do Diesel, pelo prazo necessário para a discussão sobre benefício fiscal que reduzisse o custo do combustível para os transportadores (empresas e caminhoneiros); e fim da cobrança dos pedágios sobre eixos suspensos, que ainda está acontecendo em rodovias de caráter estadual, conforme compromisso assumido pela lei 13.103/2015, conhecida também como Lei do Motorista.
2) No ofício encaminhado pela CNTA se fala na deflagração de uma paralisação em 21 de maio, caso não fossem atendidos os pedidos da Confederação. Também se explicita o apoio de 120 entidades representativas, mas não se esclarece se essas organizações são sindicatos patronais ou de autônomos.
3) A paralisação prevista para 21 de maio aconteceu, já que o governo se recusou a negociar com a CNTA e com demais entidades. Ao que consta nos comunicados de imprensa do organismo, também estavam na pauta discussões como o marco regulatório dos transportes e a questão da "reoneração da folha de pagamento".
4) Abro parênteses para o tema: desde 2011, a discussão da desoneração da folha de pagamento vem acontecendo no Brasil com vistas a garantir a geração de empregos. Nos anos seguintes ela foi ampliada para outros setores, como o do transporte rodoviário de cargas. Com a desoneração os patrões tem a possibilidade de escolher a forma mais "vantajosa" de pagar a contribuição previdenciária, recolhendo 20% sobre os pagamentos dos funcionários e contribuintes individuais (sócios e autônomos) ou recolhendo uma alíquota sobre a receita bruta (cujo percentual variava entre diferentes setores da economia, no caso do TRC é de 1,5 a 2%). No ano passado, o governo Temer, através do Ministro da Fazendo, Henrique Meirelles, anunciou a reoneração da folha de pagamento com a justificativa de que era necessário reajustar "as contas" da União. Atualmente, a ampliação da reoneração da folha de pagamento está sendo discutida no âmbito do TRC.
5) Com a mobilização que se potencializou em 21 de maio, uma série de pautas foram levadas para as "estradas". Dentre os mobilizados nesse primeiro momento estavam autônomos e motoristas contratados. As informações que nos chegam é a de que eles estão deixando passar as cargas perecíveis e os medicamentos e os itens considerados de primeira necessidade.
6) A paralisação continuou e ganhou adesão das transportadoras que prometeram não onerar os funcionários nem realizar cortes salariais ou demissões por causa da greve. Afinal de contas, a redução do preço do Diesel também é do interesse da classe patronal.
7) A greve conta com grande apoio nacional, porque a alta do preço dos combustíveis afeta não só a prestação de serviços, mas a vida de grande parte dos brasileiros.
8) Os sindicatos estão batendo cabeça. De um lado, muitas federações e entidades soltaram nota dizendo que não apoiam a greve e que ela tem características de lockout justamente porque a pauta tem sido capitaneada pelos setores empresariais em nome dos seus interesses. Do outro lado, existem sindicatos de autônomos, como a própria CNTA, o Sindicam de Santos que puxou a paralisação na região do porto, e agora a Abcam, que recentemente se mobilizou na negociação, apoiando o movimento. Segundo nota, o presidente da Abcam esteve em Brasília hoje e depois de uma reunião frustrada disse que a greve dos caminhoneiros continua. A reunião tinha como objetivo negociar a redução da tributação em cima dos combustíveis.
Esse é o cenário geral da mobilização. Ela é composta por uma série de segmentos que conformam o TRC. E, obviamente, suscita algumas questões:
1) Existe uma clara apropriação da pauta dos caminhoneiros por parte da classe empresarial que exerce maior influência nas negociações. Isso significa que, por mais que a greve seja legítima, pode acabar resultando num "tiro pela culatra" a depender dos rumos tomados na resolução entre as partes e as lideranças.
2) Não existe uma pauta unificada, o movimento não é hegemônico, nem do ponto de vista social, nem do ponto de vista ideológico. Existe um grupo de caminhoneiros bolsonaristas, outros que são partidários de uma intervenção militar, outros pedem Diretas Já e Lula Livre. Ou seja, é um movimento canalizado principalmente, pela insatisfação em relação ao preço do Diesel.
3) Em função da grande complexidade e fragilidade das lideranças sindicais de autônomos, o movimento carece de uma representatividade que possa assegurar as demandas da classe trabalhadora, bem como que possa evitar o crescimento dos discursos conservadores e das práticas autoritárias. Enquanto isso, os sindicatos patronais acabam por exercer maior influência, determinando os caminhos da negociação e o teor das reivindicações.
4) Isso se faz notar, por exemplo, no tipo de reivindicação expressada por grande parte dos caminhoneiros que é a redução da tributação em cima do preço do combustível. Ora, todos nós sabemos que o cerne do problema é a nova política de preços adotada pelo governo Temer e pela Petrobras, que atualmente é presidida por Pedro Parente.
5) Novo parênteses sobre o tema: desde o ano passado, a Petrobras adotou uma nova política de preços, determinando o preço do petróleo em relação à oscilação internacional do dólar. Na época, esse tipo de política foi aplaudida pelo mercado internacional, que viu grande vantagem na venda do combustível refinado para o Brasil. Aqui dentro, segundo relatório da Associação de Engenheiros da Petrobras, a nova política de preços revela o entreguismo da atual presidência da empresa e governo Temer, que busca sucatear as refinarias nacionais dando prioridade para a importação do combustível. Tudo isso foi justificado na época com o argumento que era necessário ajustar as contas da Petrobras e passar confiança aos investidores internacionais.
6) É verdade, portanto, que o movimento em si tem uma percepção um pouco equivocada da principal razão do aumento dos combustíveis, mas isso não significa que toda classe dos caminhoneiros não faça essa relação clara entre o problema da política de preços da Petrobras e o aumento dos combustíveis.
7) De fato, portanto, o grande problema nesse momento é saber quem serão as pessoas a sentar nas mesas de negociação. De um lado, existe uma legítima expressão da classe trabalhadora em defesa das suas condições de trabalho e dos seus meios de produção. O aumento do Diesel é um duro golpe entre os caminhoneiros autônomos e a reivindicação da sua redução, seja pela eliminação dos tributos, seja pelo questionamento da política de preços da Petrobras, é legítima e deve ser comemorada.
8) A questão fundamental agora é saber o que o governo vai barganhar na negociação. Retomo, então, a questão da reoneração da folha de pagamento. O governo já disse que haverá uma reoneração da folha e esse é um dos meios de captação de recursos caso haja fim do Pis/Cofins incidindo sobre os combustíveis. Na prática, porem, a reoneração pode ter um impacto sobre os empregos dos próprios caminhoneiros, resultando em demissões.
9) Se houver o fim da tributação no Diesel, conforme inclusão do relator, Orlando Silva (PCdoB/SP), na Medida Provisória, de parágrafo que exclui a tributação, a classe trabalhadora e toda sociedade serão impactadas. Afinal de contas, com redução de receita, haverá, consequentemente, um corte no repasse da verba para a seguridade social, previdência, saúde, etc.
Considerando tudo o que foi dito, expresso meu incomodo com análises e percepções simplistas da esquerda, ou de pessoas que se dizem da esquerda, sobre o movimento. Locaute virou doce na boca dos analistas de facebook. Porque não atende à nossa noção de "movimento" ideal, os caminhoneiros que legitimamente se mobilizaram em nome da redução do preço do diesel estão sendo taxados de vendidos e cooptados, como uma massa amorfa preparada para ser manipulada.
Os "puristas" não entendem a complexidade da categoria, e tampouco atentam para a dificuldade que é promover a mobilização ampla desses trabalhadores, tendo em vista não só a precarização extrema à qual estão sujeitos, mas também à realidade itinerante de seu trabalho. Soma-se a isso o duro golpe que atualmente foi proferido contra as entidades sindicais menores de autônomos, com o fim da obrigatoriedade do imposto sindical. Sinto dizer aos colegas acadêmicos, portanto, que nem sempre nossos modelos de análise social se aplicam a realidade. Não se trata de uma disputa entre o bem e o mal; nem de um movimento totalmente cooptável e ilegítimo; uma massa manipulável e "bobinha". 
Por outro lado, também não é um movimento cujos protagonistas tem uma consciência enquanto classe, enquanto categoria. Não é unificado, as pautas são heterogêneas e também voláteis. Por tudo isso, parte desses trabalhadores expressam reações conservadores e, alguns grupos, visões extremistas sobre a política e suas estratégias de luta.
Nada disso, ao meu ver, torna ilegítima a mobilização. Pelo contrário, é um convite para que busquemos entender mais das categorias sociais e para que aceitemos que as mobilizações sociais nem sempre atendem ao nosso critério idealizado de pauta, objetivo e organização.