A cineasta afegã Sahraa Karimi, diretora do filme Hava, Maryam, Ayesha (1019), é a primeira e única mulher a ter um doutorado em cinema no Afeganistão e a ocupar um cargo de direção na Afghan Film Organisation. Domingo ela postou um vídeo no Instagram, dizendo: "Eles estão vindo nos matar". Escreveu esta carta aberta antes que o Talibã capturasse a capital Cabul (meu post sobre essa tragédia aqui).
A todas as comunidades de cinema do mundo e a quem ama filmes e cinema,
Meu nome é Sahraa Karimi, diretora de cinema e atual diretora-geral da Afghan Film, a única empresa cinematográfica estatal no Afeganistão, fundada em 1968.
Escrevo a você com o coração partido e uma profunda esperança de que possa se juntar a mim na proteção de meu belo povo, especialmente os cineastas do Talibã.
Nas últimas semanas, o Talibã conquistou o controle de muitas províncias. Eles massacraram nosso povo, sequestraram muitas crianças, venderam meninas como noivas para seus homens, assassinaram uma mulher por seu traje, torturaram e assassinaram um de nossos amados comediantes, assassinaram um dos nossos poetas e historiadores, assassinaram o chefe da Cultura e dos meios de comunicação do governo, têm assassinado pessoas afiliadas ao governo, enforcaram publicamente alguns dos nossos homens, deslocaram centenas de milhares de famílias.
As famílias seguem acampadas em Cabul após fugirem dessas províncias e estão em condições insalubres. Há saques nos acampamentos, e bebês estão morrendo por não terem leite. É uma crise humanitária, mas o mundo está em silêncio. Acostumamo-nos a este silêncio, mas sabemos que não é justo. Sabemos que essa decisão de abandonar nosso povo está errada, e que essa retirada precipitada das tropas americanas é uma traição ao nosso povo e a tudo o que fizemos quando os afegãos venceram a Guerra Fria para o Ocidente.
Nosso povo foi esquecido. Agora após vinte anos de ganhos imensos para nosso país, especialmente para nossas gerações mais jovens, tudo pode ser perdido novamente neste abandono.
Precisamos de sua voz. A mídia, os governos e as organizações humanitárias mundiais estão convenientemente em silêncio, como se o tal 'acordo de paz' com o Talibã fosse legítimo. Nunca foi legítimo. Reconhecê-lo deu-lhes confiança para voltar ao poder. O Talibã tem brutalizado nosso povo durante todo o processo das negociações. Tudo o que trabalhei muito para construir como cineasta em meu país corre o risco de acabar.
Se o Talibã assumir o controle, eles vão banir toda a arte. Eu e outros cineastas podemos ser os próximos em sua lista de alvos. Eles vão tirar os direitos das mulheres: seremos empurradas para as sombras de nossas casas e de nossas vozes, e nossa expressão será abafada no silêncio. Quando o Talibã esteve antes no poder, nenhuma menina frequentava escolas. Desde que o grupo deixara o controle do país, mais de 9 milhões de meninas afegãs se matricularam na escola. Isso é incrível. Herat, a terceira maior cidade que acabou de ser dominada pelo Talibã, tinha quase 50% de mulheres em sua universidade. São ganhos incríveis que o mundo mal conhece. Nessas poucas semanas, porém, o Talibã destruiu muitas escolas, e 2 milhões de meninas foram forçadas a deixar a escola novamente.
Não entendo este mundo. Não entendo o silêncio (do mundo). Vou ficar e lutar pelo meu país, mas não posso fazer isso sozinha. Preciso de aliados como você. Ajude-nos a fazer com que o mundo se preocupe com o que está acontecendo conosco.
Ajude-nos informando aos meios de comunicação mais importantes de seus países o que está acontecendo aqui no Afeganistão. Sejam nossas vozes fora do Afeganistão. Se o Talibã assumir o controle de Cabul, talvez não tenhamos acesso à internet ou a qualquer ferramenta de comunicação. Por favor, envolva seus cineastas e artistas para nos apoiar e ser nossa voz. Esta guerra não é uma guerra civil. É uma guerra por procuração, é uma guerra imposta. Por favor, compartilhe este fato com sua mídia e escreva sobre nós em suas redes sociais. O mundo não deve virar as costas para nós.
Precisamos do seu apoio e da sua voz em nome das mulheres, crianças, artistas e cineastas afegãos. Esse apoio seria a maior ajuda de que precisamos agora.
Por favor, ajude-nos a fazer com que este mundo não abandone o Afeganistão. Por favor, ajude-nos antes que o Talibã assuma o controle de Cabul. Temos tão pouco tempo, talvez dias.
9 comentários:
Em janeiro houve um golpe de Estado no Miamar com apoio da China. Depois foi Belarus com apoio da Rússia.
O Irã está com seu programa nuclear a todo vapor e vai fechou acordo de 400 bilhões de dólares com a China.
Com o recuo da influência americana, a tendência é que países onde a democracia é frágil, caminhe para regimes autoritários.
A China não se importa se um país é ou não democrático, se sus relações com outros países se pauta somente por interesses comerciais.
Kabul mal caiu e a China já fechou com o Talibã.
A mesma China que ano passado sufocou Hong Kong.
Muita gente que passou a vida inteira criticando a hegemonia americana no mundo vai sentir falta de sua influência.
Antes só havia uma superpotência no mundo, hoje a China.
Os EUA cometeram diversos abusos na sua política externa, mas seus excessos eram e são denunciados, lá há uma imprensa livre, a classe artística, a oposição, o peso da opinião pública, judiciário independente. Na China não há nada disso. Quando Assad usou armas químicas na Síria, os EUA reagiram e lançaram mísseis contra bases militares sírias. Alguém espera o mesmo da China?
Os EUA com todos seus defeitos, ainda é a terra pra onde todos querem fugir. Se os EUA caírem algum dia, será o fim da democracia liberal, dos direitos humanos, da agenda progressista. Até pq a Europa não consegue nem resolver suas diferenças internas, muito menos influenciar o mundo sem o apoio americano.
Um vídeo da Nilce e do Leon explicando um pouco melhor sobre a situação do Afeganistão.
https://youtu.be/_oc-i_QNIrs
E aqui um vídeo do Hoje no Mundo Militar, apontando os erros do EUA contra o povo Afegão.
https://youtu.be/1fFORdzn3DQ
Isso a esquerda brasileira não vê, só vêem a China como um paraíso socialista, passando pano para a opressão e controle das minorias, e muitos desses retardados mentais querem o mesmo aqui no Brasil, ao mesmo tempo que criticam as falas homofóbicas e racistas do Bozo, sem imaginar que no paraíso socialista chinês, lá essas coisas são estatais.
Acho que a miopia vai além de esquerda ou direita.
Não se deve julgar a história, não estuda-la e tentar compreender. O talibã é produto da história do Afeganistão. Um país que passou mais de 100 anos em guerras, nós brasileiros não temos a mínima noção do que é isso. Mesmo o morador de periferia que vive em meio a guerra do tráfico, não sabe o que é viver num país sob ocupação estrangeira.
O mesmo eu digo de Bolsonaro. Ele é fruto da nossa história. Um país de governos autoritários, com uma jovem e cambaleante "democracia". Coloco entre aspas pq democracia não é só direito aí voto, mas pressupõe a existência de um estado de direito, que não existe no Brasil.
Nossa população não valoriza o direito ao voto, não tem identificação partidária. Some a isso termos uma elite que não se identifica com o povo. A elite brasileira vive no Brasil sonhando com Miami ou Paris. Não há na elite política e econômica brasileira um projeto de nação, só há projetos de poder, quando há.
Veja países como a China, vc pode criticar seu sistema político, mas há uma ambição da elite política e econômica chinesa de torná-la uma nação rica.
O mesmo pode se dizer dos EUA. Critique sua política externa, mas o governo defende o interesse do país.
Aqui a direita quer ser subserviente aos EUA, ser um vira lata. Com Bolsonaro chegando a falar numa base americana no Brasil. Se depender da direita brasileira o Brasil nem precisa de invasão, eles entregam tudo de mãos beijada.
Já a esquerda brasileira, apesar dos avanços sociais, seu principal projeto foi se perpetuar no poder. Eu votei e votarei no PT, mas não esqueço que foi nos governos do PT que os lucros dos bancos se multiplicaram, que empreiteiros ficaram bilionários, o agro negócio cresceu como nunca. Aos pobres deram migalhas e dividas.
O que nós precisamos no Brasil é uma esquerda nacionalista, que tenha um projeto de nação e não de poder.
Não se pode criticar o sistema político na China, se alguém fizer isso, tanto essa pessoa quanto a sua família vão receber uma punição severa por causa disso.
a) Estou arrasada com os acontecimentos no Afeganistão mas estava vendo uma manifestação de mulheres afegãs admiro a coragem delas.
b) Sinceramente está tragédia no Afeganistão está me dando mais força para lutar contra estes conservadores de araque porque tirar direitos de mulheres e gays são os sonhos deles
Tem um canal masculista chamado Gadocast que está comemorando a vitória do Taleban, afirmando ser isso uma contra o feminismo. Comemorar um regime que estupra, escraviza e mata mulheres não é liberdade de expressão, isso se trata de um elogio a barbárie e a perseguição a minoria. Como isso pode ser denunciado, esse canal precisa ser derrubado.
Masculinismo, estupro, escravização, assassinato e a opressão das mulheres são frutos da barbárie que existe dentro de cada homem. Não reproduzam meninos.
Já denunciei, e aproveitem e também denunciem os vídeos dos canais que apoiam o PCO, que estão comemorando a vitória do Talibã.
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