Quarta-feira que vem é o último dia de Trump no poder. É quando acontecerá a posse de Joe Biden. Mas os riscos até lá (e depois também) são grandes. Por isso, e pelas chances de uma tentativa de golpe ocorrer aqui também em 2022, é importante falar novamente da invasão do Capitólio em 6 de janeiro. Foi um dia histórico e infame, já que a última vez que o Congresso dos EUA havia sido invadido foi em 1814 -- por um inimigo externo, os britânicos.
Para o professor de Relações Internacionais da FGV, Oliver Stuenkel, "As imagens da invasão ao Capitólio com vidros quebrados, deputados sendo escoltados para locais secretos e seguranças sacando suas armas dentro do plenário da Câmara dos Deputados entrarão para a história como o momento de maior crise da democracia americana desde a Guerra Civil do século XIX".
Já no dia seguinte à invasão (safra 2021), um editorial do New York Times culpava Trump pelo ataque ao Capitólio e exigia procedimentos de impeachment ou penais. Também cobrava a responsabilização dos apoiadores e uma investigação sobre o fracasso da polícia. Ontem, Trump foi impeachado pelo Congresso pela segunda vez, um recorde. Falta o Senado aprovar o impeachment para o laranjão fascista perder seus direitos políticos. Ainda assim, uma pesquisa do YouGov mostra que 45% dos republicanos foram a favor da invasão do Capitólio.
Vi um podcast do documentarista Michael Moore. Ele conta que extremistas de direita estão marcando a invasão armada de vários prédios públicos (não só em Washington DC mas nas capitais de cada um dos 50 estados) para a posse do dia 20. Moore revela que ele, como documentarista, já tentou várias vezes entrar no Capitólio sem permissão. É dificílimo. Além disso, lá dentro é um labirinto. Como os supremacistas sabiam aonde ir? Certamente não agiram sozinhos. Quem os ajudou?
Como diz o jornalista Allan Nairn, o Capitólio não estava só invadido por fora, mas por dentro: "Havia cerca de um terço do Congresso que estava brincando com a ideia de abolir as eleições presidenciais". Um exemplo é a deputada republicana Lauren Boebert, que faz parte do QAnon, que, ao vivo no Twitter, deu a localização de Nancy Pelosi durante o ataque ao Capitólio. Em outro tuíte, a reaça comemorou: "Hoje é 1776", referindo-se à independência dos EUA.
Os supremacistas invasores não estão sendo acusados de terrorismo doméstico. Como pergunta Moore, e se fossem milhares de muçulmanos invadindo o Capitólio, não seriam acusados de terrorismo? Por que estão respondendo só por "entrada forçada" e "destruição de propriedade"? Se fossem manifestantes negros, estariam mortos.
Um dos rostos mais fotografados do golpe frustrado foi o de Jake Angeli, também conhecido por lunáticos como QAnon Shaman, um ator frustrado de 32 anos que mora com a mãe (nunca falha! Quando eu digo que mascus são sustentados pela mãe, o pessoal acha que estou exagerando). Uma de suas tatuagens é símbolo de Wotanismo, crença de que os judeus controlam o governo e o holocausto não aconteceu. Em novembro, ele postou uma foto na sua página no Facebook apertando as mãos de Rudy Giuliani, advogado de Trump.
Outro supremacista, Richard "Bigo" Barnett, 60 anos, invadiu o escritório de Nancy Pelosi. Ele se orgulha de ter deixado pra ela um bilhete ofensivo (escrito "Nancy, Bigo esteve aqui sua vadia"), por seus pés em cima da mesa e coçar seus testículos.
Pelo menos 68 foram presos e quatro ou cinco morreram. Moore lembra que, quando ocorrem mortes, os nomes são divulgados em questão de horas. Mas há dúvidas sobre as mortes. Por exemplo, aquele cara que teve um ataque cardíaco enquanto tentava roubar um quadro. Os rumores (provavelmente falsos) são de que ele carregava um taser na sua cintura, e esse taser disparou nas bolas dele, levando ao ataque cardíaco. Estamos falando muito de bolas, não? É a masculinidade tóxica e radioativa em ação.
Vários terroristas usavam disfarces não pra mostrar seu saudosismo pelo YMCA do Village People, mas para esconder armas de fogo. A maioria dos invasores era do movimento MAGA (Make America Great Again), mas seus gurus vêm da extrema-direita, da alt-right (direita alternativa, que é como dizer que o Partido Novo tem algo de novo), dos supremacistas brancos.
Obviamente havia vários membros dos Proud Boys. Em debate com Joe Biden em outubro, Trump se negou a condenar grupos extremistas e milícias, e disse: "Proud Boys, recuem, preparem-se", o que foi a glória para o grupo misógino e racista fundado em 2016, durante a campanha do chefe. Eu e o resto do mundo já dizíamos que ele era uma ameaça real à democracia, o que ficou devidamente comprovado em 6 de janeiro. Além disso, não se pode esquecer que uma milícia armada de extrema-direita planejou sequestrar a governadora de Michigan Gretchen Whitmer em setembro. Pareceu um ensaio para a invasão do Capitólio em janeiro.
O movimento QAnon também nasceu em 2016. Menos articulado, ele foi ganhando as cabeças ocas de extremistas de direita que adoram teorias da conspiração. A dos QAnon é que há uma rede de pedófilos ricos (e que Trump não é um deles, pelo contrário, apenas o super Trump, defensor das mulheres e crianças, pode pará-los) e que a civilização branca corre perigo.
Entre os malucos há também o Boogaloo, que sonha em começar uma segunda guerra civil. Uma guerra racial, evidentemente. Dentro do movimento não há apenas neonazis, mas libertários vestidos com camisas havaianas. E armados, lógico. Sempre armados.
Graças a Trump, esses grupos fortemente armados saíram dos esgotos da internet e cresceram. É a milícia laranja. Mas as plataformas da internet são também responsáveis pelo golpe. Todas permitiram que Trump e seus extremistas amestrados espalhassem ódio e fake news à vontade. Só depois do dia 6 é que elas começaram a banir a sujeira. Mas foi muito tempo de racismo, supremacia branca, negação do holocausto e agora da pandemia, movimentos anti-vacina, e por aí vai. Quanta grana tem sido ganha por conteúdo e ódio e mentiras? Quantas eleições foram ganhas através de mamadeiras eróticas no WhatsApp?
Trump pode estar indo embora e, se houver Justiça, ser preso, ou ter que fugir pra alguma oligarquia árabe para não ser encarcerado, mas Elon Musk, o segundo homem mais rico do mundo (US$ 84 bilhões), disse em julho do ano passado sobre o golpe na Bolívia para tirar Evo Morales: "Daremos golpe em quem quisermos".
E vale lembrar que, se os policiais não participaram da invasão ao Capitólio, eles certamente não fizeram nada para contê-la. Aqui a PM parece estar toda com Bolsonaro. A dúvida é se dariam um golpe com ou sem uniforme, à la milícia.
As Forças Armadas dos EUA já tinham deixado claro de que lado ficariam -- da Constituição, não de Trump. Depois do resultado das eleições, um general explicou: "Não fazemos juramento a um ditador. Fazemos juramento à Constituição". Fica a pergunta: qual a postura das Forças Armadas aqui no Brasil, em que o presidente é um capitão, o vice é um general, e há mais milicos nos ministérios e secretarias do que nunca na história do país?
2 comentários:
O excrementissímo não é um caso isolado no Brasil, antes havia o ademarismo (Ademar de Barros) e o malufismo do Paulo Maluf, ambos a darem voz aos ressentidos, mas trabalhavam contra os próprios eleitores, mas a ignorância, manipulação e uma "imprensa" tanto televisiva como impressa, agora também online menciona o problema, mas não trata das origens e suas consequências, isso deixa enraizados preconceitos, alienações, fora a falta do hábito da leitura do povo brasileiro, embora tem mudado aos poucos de dez anos para cá, mas ainda somos deficitários no quesito leitores. O Bolsoshower e prole asquerosa são oriundos do ademarismo, malufismo, mas tem o adendo de se servirem fartamente da podridão da deep web, páginas de conteúdo violento ou misógino, também servis ao boca de peido da Virgínia, Estados Unidos, usam a rede tem mais de vinte anos, enquanto poucos a observar denunciavam e ficava por isso mesmo, devido o baixo número de denunciantes, só mudou devido ao massacre do Realengo, isso silenciou os agressores virulentos online? Não, mudaram de estratégia, se reorganizaram, pois são profissionais ou especialistas na área de tecnologia da informação, veja o resultado atual, estas pessoas são ressentidas e sentem alguma visibilidade com o excrementissímo na presidência e seus asseclas no comando, sabem do mau caráter do presibosta e sua caterva, mas são iguais ou piores. Bolsoshower pode deixar a presidência, mas muitos vão buscar alguém igual ou pior para representar seus "anseios" e dar vazão a agressividade oculta em perfis falsos nas mídias sociais. As forças armadas estado unidenses respeitam a constituição, enquanto os milicos milicianos brasileiros têm interesses mesquinhos, tem asco ao povo brasileiro. https://www.bbc.com/portuguese/internacional-54843658
A galera reaça e conspiranoica está mudando para o Telegram e Parler, onde teoricamente não tem nenhuma moderação e pode-se falar de tudo. Já recebi um link para o Telegram, um colega meu me mandou de um grupo. Não entrei no grupo mas cliquei para ver. É repleto de fakenews, terraplanismo, teorias da conspiração, umas associações loucas que chega a dar nó no cérebro e dor no estômago.Eles dizem que Trump, Bolsonaro, conservadores, de direita são vítimas da mídia globalista e comunista. É nessas plataformas que esses grupos estão se criando, crescendo e conquistando adeptos.
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