Thelma & Louise está completando vinte anos de vida (trailer aqui), e por isso a Vanity Fair escreveu uma longa reportagem sobre o filme. Infelizmente só dá pra ler um pedacinho (se alguém encontrar tudo, me avise). Mas o que se pode ler é bem mais saboroso que o comentário do diretor Ridley Scott feito pro dvd em 97 (é, eu ouvi inteirinho!). Por exemplo, algumas atrizes que foram pensadas para o papel de Thelma ou Louise antes de Geena Davis (Thelma) e Susan Sarandon (Louise) fecharem: Holly Hunter, Frances McDormand, Jodie Foster (que, diante da demora, foi fazer Silêncio dos Inocentes), Michelle Pfeiffer, Meryl Streep, Goldie Hawn. O papel do Brad Pitt foi originalmente conseguido pelo William Baldwin, só que ele desistiu pra fazer Cortina de Fogo. Levante a mão quem acha que Brad está muito mais bonito hoje que vinte anos atrás. No início, Ridley (Alien, Blade Runner, Gladiador) iria apenas produzir a obra da roteirista Callie Khouri, que é do Texas (e depois, ao ganhar o Oscar por este roteiro muito bem amarrado, disse ao público: “Vocês queriam um final feliz? Tá aqui o seu final feliz”. De fato, é tão raro roteiristas mulheres ganharem o Oscar — isso só ocorreu em 9% das vezes, e esse número inclui times de roteiristas, ou seja, homens e mulheres — que uma façanha dessas precisa ser comemorada). Mas, depois de ver diretores como Bob Rafelson (O Destino Bate a sua Porta), Kevin Reynolds (Robin Hood, Conde de Monte Cristo) e Richard Donner (A Profecia, Superman, Máquina Mortífera) serem sondados e diminuírem a história como “duas vadias num carro”, Ridley decidiu ele mesmo dirigi-lo. Bem que podia ter sido uma diretora, não?Outro dia li a versão machista dos acontecimentos. Não vou dar o link (americano) porque inclusive ele está proibido por incitação à violência, mas, apesar de parecer exagerado, o carinha realmente tá falando sério. Olha como ele descreve o começo do filme: Thelma é casada com um carinha super legal, que não se sabe por que cargas d'água permite que sua esposa bastante normal seja amiga de uma neurótica como Louise. As duas pegam o carro e viajam, e param num bar à beira da estrada, onde um outro carinha super legal começa a flertar com Thelma, que está bêbada. Quando ela passa mal, ele só quer ajudá-la, mas fica excitado ao encostar nela sem querer. Ela recusa sexo apenas porque quer proteger sua reputação, então lhe dá um tapa, e ele a estapeia de volta. É só um joguinho sexual, entende? E aí Louise aparece para arruinar tudo. Isso porque ela odeia homens e quer Thelma só pra ela. O carinha super legal faz uma oferenda de paz pra Louise, convidando-a a chupar seu pênis, e o que aquela histérica faz? Atira nele! É um filme anti-homem! (Clique aqui para download a cena e fazer o jogo dos 70 erros).
Aham. A própria Callie Khouri teve que responder a inúmeras críticas de ser uma feminista exaltada e de seu roteiro ser anti-homem. E ela respondeu assim: “Que se danem esses críticos. Eles que vejam o tratamento dado às mulheres no cinema antes de me ofenderem pelo tratamento dado aos homens. Existe todo um gênero chamado exploitation film baseado na degradação das mulheres, e todo um grupo de críticos caipiras que aplaudem as virtudes desse gênero. Até que exista todo um subgênero que faça a mesma coisa com homens, calem a boca”. Eu acho sim que T&L é um dos filmes mais feministas já feitos. Mas muitas feministas discordam. Elas vêem que um final tão infeliz (as duas continuam dirigindo, o que faz com que caiam no Grand Canyon e morram) não pode ser feminista. Pô, precisa acabar tudo bem pra ser visto como pró-igualdade de gêneros? Não pode só denunciar os obstáculos? (e não é possível o filme acabar de modo diferente, a menos que vire uma minissérie. Ou seja, elas são capturadas, e aí lutam por justiça. Do jeito que está, não tem como ter um happy ending). Outras pessoas creem que Thelma não sofre o suficiente após quase ser estuprada. Ah, sei não. Tem uma receita pra como vítimas devem se comportar? É igual pra todas? E digamos assim, existe o tempo real, que não é o mesmo do tempo do filme. A gente não acompanha tudo que ocorre.Mais outra crítica costumeira: o personagem do Harvey Keitel é bonzinho demais e surge como salvador. Verdade que ele é o homem que mais empatiza com as mulheres em todo o filme, e que ele quer ajudá-las. Mas entendo por que seu policial/detetive tenha que estar presente. Se mesmo com sua presença (um tanto abusiva às vezes) há babacões que considerem T&L anti-homem, imagina sem ele? Que mais? Tem quem pense que Hollywood poda aqui um relacionamento lésbico, como obviamente faz com Tomates Verdes Fritos. Ahn, eu não vejo nada sexual entre Thelma e Louise. Ambas pra mim são bem hétero, o que não as impede de se tornarem grandes amigas (o machismo jura que mulheres não podem ser amigas porque estão sempre competindo. Logo, exemplos de female bonding são sempre bem-vindos). E todos os temas feministas, não valem pra nada? Louise já pergunta sobre o marido escrotossauro de Thelma: “Ele é seu marido ou seu pai?”. Ambas concordam que vivem num sistema patriarcal em que não conseguirão mandar um estuprador pra cadeia, ou alegar legítima defesa por atirar em um. A culpa cai sempre na vítima. Thelma muda 100% no decorrer do filme, e afirma que não pode voltar atrás, e que agora vê tudo por um ângulo diferente, que antes era como se estivesse sedada. E muito da sua mudança deve-se a um orgasmo. Quando ela toma as rédeas da sua sexualidade, e dispensa o único parceiro que teve na vida até então (desde que tinha 14 anos), ela torna-se confiante e dona de si. Embora Geena e Brad tenham uma química fantástica, ela não se apaixona por ele. Ela só o quer pra sexo mesmo. E ela não se interessa por ele porque ele é o Brad Pitt ou porque ele tem um bumbum sexy, mas porque ele é gentil e educado. Jimmy, o personagem do Michael Madsen (que no ano seguinte entraria pra galeria clássica dos psicopatas por sua atuação como torturador de policiais em Cães de Aluguel), faz par romântico com Louise e é o segundo homem que mais empatiza com as mulheres. Mas o Mr. Cool (e às vezes o Michael é tão cool que me cansa) tem várias nuances. Ele é violento — quando arrebenta o quarto de hotel, há uma sugestão que ele já bateu em Louise ou a ameaçou. Ele só vai atrás de Louise e a pede em casamento depois de perceber que ela vai deixá-lo (e que pode estar apaixonada por outro homem). Ela não o vê como uma opção.O filme é ótimo inclusive pelo seu senso de humor. Com um tema pesado desses de tentativa de estupro, sistema judiciário contra a mulher, e implicações de violência doméstica, seria fácil fazer uma trama pesada. Mas não é o que acontece, e nisso Christopher McDonald, o ator que faz o marido de Geena, ajuda enormemente. O cara é quase uma caricatura do marido mandão e sem noção. Quase, porque a gente sabe que esse tipo existe. Uma das melhores piadas é com ele. Thelma liga pra casa pra saber até que ponto seu esposo sabe o que está acontecendo. Lá está todo o FBI, pronto pra identificar o local da ligação. Um agente pede ao marido que ele seja gentil com a esposa, pra que ela fale o máximo possível. Thelma liga, ele atende, e suas únicas palavras são “Thelma! Olá!”. Só isso já basta pra ela identificar a saudade forçada de sua voz e desligar. A segunda melhor piada é a linha “The police radio, Louise!”. Thelma, já no comando da situação (elas trocam de posição durante o filme), pede para que Louise atire no rádio do carro policial. E Louise atira no rádio normal, a fofa, como qualquer pessoa sem antecedentes criminais faria.O filme cai muito no seu terço final, e não se levanta mais. Primeiro quando o diretor passa a incluir montes de cenas bonitas de vales pontuadas com música. Elas não acrescentam muito e param a história. E aí a gente vê que Ridley se perde mesmo ao incluir um esquetezinho que não tem nada a ver com nada. Vimos que Thelma e Louise prenderam um policial no portamalas do carro, não sem antes atirarem para fazer furos na porta e permitir que ele respire. Até aí, ótimo (e a cena com o policial funciona muito bem). Mas pra que colocar um ciclista rastafari parando no carro de polícia e soprando maconha lá dentro? Essa é a visão de quem, do ciclista? E daí, quem é ele? O que isso tem a ver com a trama? É mais do que óbvio que isso não consta no roteiro. Foi improvisação, diz Ridley nos comentários do dvd. Eles estavam filmando cenas de vale que também não deveriam estar no filme e viram o rastafari. E então Ridley pediu pra que ele fizesse a cena. O editor não queria incluir nem isso nem todas aquelas imagens lindas do vale, mas Ridley insistiu. Da próxima vez, escute o editor!Eu também não gosto de quando as duas amigas atiram e explodem o caminhão do tarado. Acho que elas podiam atirar apenas nos pneus, sem apelar pra explosão que nem combina com o filme. Entendo por que deixaram isso — tem um efeito catártico pro público feminino, cansado de ver e ouvir grosserias de homens que só estão exercendo seu poder de “olha quem manda aqui”. Portanto, é bacana que as duas se vinguem do caminhoneiro em nome de tantas mulheres. Mas seria mais honesto se o homem em questão não fosse tão exageradamente imbecil. Se a gente só ouvisse idiotices de caras com QI negativo, até que nossa vida não seria tão difícil. Por isso, acho que boa parte das cenas com o caminhoneiro falham.
Embora o filme esteja longe de ser perfeito, ele ainda é dos poucos hollywoodianos que segue uma agenda feminista. Só por esse motivo já mereceria destaque. Mas ele também é bom pacas.
Aham. A própria Callie Khouri teve que responder a inúmeras críticas de ser uma feminista exaltada e de seu roteiro ser anti-homem. E ela respondeu assim: “Que se danem esses críticos. Eles que vejam o tratamento dado às mulheres no cinema antes de me ofenderem pelo tratamento dado aos homens. Existe todo um gênero chamado exploitation film baseado na degradação das mulheres, e todo um grupo de críticos caipiras que aplaudem as virtudes desse gênero. Até que exista todo um subgênero que faça a mesma coisa com homens, calem a boca”. Eu acho sim que T&L é um dos filmes mais feministas já feitos. Mas muitas feministas discordam. Elas vêem que um final tão infeliz (as duas continuam dirigindo, o que faz com que caiam no Grand Canyon e morram) não pode ser feminista. Pô, precisa acabar tudo bem pra ser visto como pró-igualdade de gêneros? Não pode só denunciar os obstáculos? (e não é possível o filme acabar de modo diferente, a menos que vire uma minissérie. Ou seja, elas são capturadas, e aí lutam por justiça. Do jeito que está, não tem como ter um happy ending). Outras pessoas creem que Thelma não sofre o suficiente após quase ser estuprada. Ah, sei não. Tem uma receita pra como vítimas devem se comportar? É igual pra todas? E digamos assim, existe o tempo real, que não é o mesmo do tempo do filme. A gente não acompanha tudo que ocorre.Mais outra crítica costumeira: o personagem do Harvey Keitel é bonzinho demais e surge como salvador. Verdade que ele é o homem que mais empatiza com as mulheres em todo o filme, e que ele quer ajudá-las. Mas entendo por que seu policial/detetive tenha que estar presente. Se mesmo com sua presença (um tanto abusiva às vezes) há babacões que considerem T&L anti-homem, imagina sem ele? Que mais? Tem quem pense que Hollywood poda aqui um relacionamento lésbico, como obviamente faz com Tomates Verdes Fritos. Ahn, eu não vejo nada sexual entre Thelma e Louise. Ambas pra mim são bem hétero, o que não as impede de se tornarem grandes amigas (o machismo jura que mulheres não podem ser amigas porque estão sempre competindo. Logo, exemplos de female bonding são sempre bem-vindos). E todos os temas feministas, não valem pra nada? Louise já pergunta sobre o marido escrotossauro de Thelma: “Ele é seu marido ou seu pai?”. Ambas concordam que vivem num sistema patriarcal em que não conseguirão mandar um estuprador pra cadeia, ou alegar legítima defesa por atirar em um. A culpa cai sempre na vítima. Thelma muda 100% no decorrer do filme, e afirma que não pode voltar atrás, e que agora vê tudo por um ângulo diferente, que antes era como se estivesse sedada. E muito da sua mudança deve-se a um orgasmo. Quando ela toma as rédeas da sua sexualidade, e dispensa o único parceiro que teve na vida até então (desde que tinha 14 anos), ela torna-se confiante e dona de si. Embora Geena e Brad tenham uma química fantástica, ela não se apaixona por ele. Ela só o quer pra sexo mesmo. E ela não se interessa por ele porque ele é o Brad Pitt ou porque ele tem um bumbum sexy, mas porque ele é gentil e educado. Jimmy, o personagem do Michael Madsen (que no ano seguinte entraria pra galeria clássica dos psicopatas por sua atuação como torturador de policiais em Cães de Aluguel), faz par romântico com Louise e é o segundo homem que mais empatiza com as mulheres. Mas o Mr. Cool (e às vezes o Michael é tão cool que me cansa) tem várias nuances. Ele é violento — quando arrebenta o quarto de hotel, há uma sugestão que ele já bateu em Louise ou a ameaçou. Ele só vai atrás de Louise e a pede em casamento depois de perceber que ela vai deixá-lo (e que pode estar apaixonada por outro homem). Ela não o vê como uma opção.O filme é ótimo inclusive pelo seu senso de humor. Com um tema pesado desses de tentativa de estupro, sistema judiciário contra a mulher, e implicações de violência doméstica, seria fácil fazer uma trama pesada. Mas não é o que acontece, e nisso Christopher McDonald, o ator que faz o marido de Geena, ajuda enormemente. O cara é quase uma caricatura do marido mandão e sem noção. Quase, porque a gente sabe que esse tipo existe. Uma das melhores piadas é com ele. Thelma liga pra casa pra saber até que ponto seu esposo sabe o que está acontecendo. Lá está todo o FBI, pronto pra identificar o local da ligação. Um agente pede ao marido que ele seja gentil com a esposa, pra que ela fale o máximo possível. Thelma liga, ele atende, e suas únicas palavras são “Thelma! Olá!”. Só isso já basta pra ela identificar a saudade forçada de sua voz e desligar. A segunda melhor piada é a linha “The police radio, Louise!”. Thelma, já no comando da situação (elas trocam de posição durante o filme), pede para que Louise atire no rádio do carro policial. E Louise atira no rádio normal, a fofa, como qualquer pessoa sem antecedentes criminais faria.O filme cai muito no seu terço final, e não se levanta mais. Primeiro quando o diretor passa a incluir montes de cenas bonitas de vales pontuadas com música. Elas não acrescentam muito e param a história. E aí a gente vê que Ridley se perde mesmo ao incluir um esquetezinho que não tem nada a ver com nada. Vimos que Thelma e Louise prenderam um policial no portamalas do carro, não sem antes atirarem para fazer furos na porta e permitir que ele respire. Até aí, ótimo (e a cena com o policial funciona muito bem). Mas pra que colocar um ciclista rastafari parando no carro de polícia e soprando maconha lá dentro? Essa é a visão de quem, do ciclista? E daí, quem é ele? O que isso tem a ver com a trama? É mais do que óbvio que isso não consta no roteiro. Foi improvisação, diz Ridley nos comentários do dvd. Eles estavam filmando cenas de vale que também não deveriam estar no filme e viram o rastafari. E então Ridley pediu pra que ele fizesse a cena. O editor não queria incluir nem isso nem todas aquelas imagens lindas do vale, mas Ridley insistiu. Da próxima vez, escute o editor!Eu também não gosto de quando as duas amigas atiram e explodem o caminhão do tarado. Acho que elas podiam atirar apenas nos pneus, sem apelar pra explosão que nem combina com o filme. Entendo por que deixaram isso — tem um efeito catártico pro público feminino, cansado de ver e ouvir grosserias de homens que só estão exercendo seu poder de “olha quem manda aqui”. Portanto, é bacana que as duas se vinguem do caminhoneiro em nome de tantas mulheres. Mas seria mais honesto se o homem em questão não fosse tão exageradamente imbecil. Se a gente só ouvisse idiotices de caras com QI negativo, até que nossa vida não seria tão difícil. Por isso, acho que boa parte das cenas com o caminhoneiro falham.
Embora o filme esteja longe de ser perfeito, ele ainda é dos poucos hollywoodianos que segue uma agenda feminista. Só por esse motivo já mereceria destaque. Mas ele também é bom pacas.
24 comentários:
off topic total, to chocada: olha o nível dessa propaganda que a alemanha permitiu
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=ocHAFkWjKQw
Brad Pitt com cara de moleque... Revendo o filme há alguns anos que percebi que ele fazia o papel do garotão no filme.
Sobre a subrepresentação das mulheres nas artes(não é só no cinema), vi um poster bem interessante do "Guerrilla Girls" exposto no Centro Pompidou, em Paris. Depois mando a foto, mas acho que tem ele no site do grupo.
Assisti o filme no dia das mulheres. Enquanto assistia não parava de pensar no teu blog. Mais feminista que isso é impossível. Lola, assisti ontem ao filme "A Enfermeira Betty", que tem uma mensagem de independência e feminismo bacana. Claro, nem tanto como neste, mas é plausível. Caso não tenha visto, veja. Espero um possível comentário, rs
Ótimo post!
[]s
aiaiai, tbm fiquei horrorizada com esse comercial da Volkswagen! E pode ver que os comentários favoráveis são só de homens. Lamentável!!!!
nao vi o comercial alemao ainda.
mas passeando numa cidade alemã me deparei com um perfume chamado Machismo, a venda por cerca de 5 euros.
0.o
Um off topic que vale a pena, pela lucidez da jornalista, sobre o atropelador de ciclistas da Porto Alegre:
Segue:
BARBARA GANCIA
Os intocáveis
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Bicicleta como meio de transporte não é reivindicação da população de baixa renda
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A CENA DO MALUCO de Porto Alegre passando por cima dos ciclistas como se fossem caixas vazias de papelão é tão inusitada que a gente se pergunta: será que enxerguei direito? Dá um "replay", sr. YouTube! Como é que um cara desses anda de carro?
Está certo que não anda fácil: é o estresse de para-choque contra para-choque, são as quase duas horas para se chegar a qualquer canto, são os ânimos acirrados entre motoristas e motoboys... Há muito o que se enfrentar nestes tempos de economia bombando e carros financiados em décadas.
Pois parece que tudo o que não precisamos no momento é trazer para nossos indomados centros urbanos os problemas que ainda não são nossos. Ou melhor, que por ora pertencem apenas a um grupo de garotos mimados e com mais disciplina para exercitar músculos do que para enxergar o próximo.
Não me venha dizer que estar "engajado na defesa da bicicleta como meio de transporte" é uma reivindicação que faz sentido para a população de baixa renda. Não sei muita coisa, aliás, dou-me conta de que se aproxima o dia em que passarei a me comunicar aos rinchos, mas algo me diz que se alguém chegar para a população da Vila Ré ou de Sapopemba e disser que, em vez de transporte público rápido e eficiente, nós vamos agora optar por lindas e espaçosas ciclovias, esse alguém será corrido a pontapés.
Quando ouço os ciclistas que chamam motoristas de "elite", de "covardes" e de "monstroristas" falando em nome da natureza montados no selim de bikes importadas que chegam a custar dezenas de salários mínimos, eu só posso rir.
É uma farsa o que eles estão tentando promover, muitas vezes sem se dar conta da falta de proteína de seu discurso ou do fato de que estão sendo manipulados por oportunistas de todos os tipos, a começar pelos políticos que só precisam pintar uma faixa no chão para ganhar uns votos a mais.
Como já vimos em São Paulo, apenas a ciclovia demarcada no asfalto, sem uma estrutura para apoiá-la, é uma coisinha triste. Só não vemos mais acidentes porque elas são usadas exclusivamente por quem anda de bike como hobby.
O "ciclismo como meio de transporte" (o termo faz mais sentido em Amsterdã, Paris ou para quem pedala aos domingos na av. República do Líbano) quer passar por movimento popular, mas não consegue esconder sua fuça elitista e seu flagrante desrespeito às leis de trânsito toda vez que ele sai em grupo alegremente pela noite, iluminadinho e barulhento, gritando palavras de ordem, brincando de maio de 68 de roupa spandex, se achando moralmente superior e atravancando os semáforos.
Trata-se de um grupo dos mais reacionários, na medida em que se traveste de bom samaritano, mas não admite dissidências nem ter seu "lifestyle" ou "bikewear" ou "mountain goat bike sytle" questionado.
Sei em que formigueiro estou metendo meu dedo. Meses atrás, esta ciclista que vos fala (sim, adoro bicicleta e pedalo regularmente) ousou fazer graça deles e acabou sofrendo uma onda de trollagem (bullying via Twitter) de deixar o Taliban morrendo de inveja.
Sair em passeata para promover a boa convivência entre ciclistas, motoristas, motoboys e pedestres, nem pensar. Bacana mesmo é salvar o mundo e estar sempre certo.
e lola, nao sei se as paisagens foram desnecessárias não...
Pense, é pra caracterizar.
todas aquelas botinhas, e jaquetas jeans e square dances e o sotaque horroroso, tiveram o mesmo propósito que as paisagens. Acho eu. (de novo, não sei nada de cinema)
Não é a toa que o filme se passa no sul, região bastante machista.
E a jornada pelo deserto ainda tem um quê de transformaçao. Essa história que o deserto mexe com você, muda sua perspectiva do mundo, e etc...
E o filme que mostrar essa transformação das personagens.
Sempre achei esse final de Thelma e Louise o happy end possível, não o que queríamos.
E, Oliveira, não sei como é em são Paulo, mas as camadas menos abastadas do Recife andam de bicicleta por opção, e aposto que adorariam poder fazê-lo sem ser atropelados. Tu nunca perdes uma ótima oportunidade de ficar calado. A propósito, o "maníaco" não conseguiu provar ser doido, e desceu pro presídio.
"E ela não se interessa por ele porque ele é o Brad Pitt ou porque ele tem um bumbum sexy, mas porque ele é gentil e educado."
Adorei a crítica toda, mas só vou discordar dessa parte, rsrs. Acho que ela se envolve com ele apenas porque se sente atraída fisicamente, se fosse gentil e educado mas não fosse um ator bonito, a mensagem seria diferente, contrária ao que esse momento do filme quer passar.
Abçs Lola.
Lola, descobri o seu blog por acaso e viciei nos seus textos. Inclusive, um deles me deu um rumo para escrever um texto para o meu blog.
Adoro Thelma e Louise e acho mesmo que não poderia ter outro final. E não considero que seja um final triste, pois elas não estão tristes e sim livres!
Parabéns pelo blog e pela lucidez dos seus textos.
ah, meu blog:
http://centraldecinema.blogspot.com
Puxa, Lola, justo a cena do caminhão, a melhor de todas!!!!!! Revejo sempre que estou puta. Na primeira vez que assisti achei q elas iam matar o cara, aí achei pesado demais... quando percebi que elas só queriam explodir o caminhão, achei tão sutil! ahhahahah
Tb acho a cena do rastafári nada a ver, mas dá pra ver como um deboche à força policial, que reprime, e talz. Mas é meio descontextualizado, mesmo.
Mas olha, tá pra nascer um filme tão feminista como T&L, mesmo.
Embora com roteiro e direção bem menos louváveis na minha opinião, Terra Fria (North Country, 2005) também pode ser classificado como um filme "feminista". Talvez por ter sido produzido visando mais o caráter comercial do cinema, ele é apresentado de uma maneira mais "atraente", digamos. Por isso, foi bastante visto. O que já é ótimo, num cenário onde a temática feminista é praticamente nula, e quando existente, pouco apreciada.
Como admiradora fervorosa de T&L, não ouso compará-los, claro. Mesmo porque, apesar das falhas, Ridley Scott não deixa seu nome ser usado em vão no quesito direção.
O roteiro é infalível e, com certeza, fator predominante para o sucesso do longa.
Concordo com o final, mas sou obrigada a confessar que torci para que tivesse sido um happy end.. (marcas deixadas pelo excesso de hollywoodianos Sessão da Tarde!)
Bom, vou parando o comentário por aqui, mesmo porque, só vim pra tietar seu blog. hehehe
Adoro seus posts. Meu irmão me mostrou o blog num belo dia de inspiração e depois disso faço visitas regulares.
Parabéns!!!
Lola,
Vi esse filme quando morei em londres, nunca vou esquecer...eu e minha amiga alemã, então com 21 aninhos...ah q saudade.adoro o filme.
Aiaiai, nao é uma propaganda que a Alemanha permitiu, e sim um projeto de alunos de uma faculdade que foi parar no youtube
http://www.klonblog.com/2010/06/08/gewagtes-bewerbungsvideo-der-volkswagen-blowjob/
Adoro esse filme. Na minha aula de roteiro o professor o usa direto como exemplo de estrutura em 3 atos de roteiro. Inclusive em todo filme, o "heroi" aceita seu destino e passa de passivo para ativo na metade do filme.
Putz, não conhecia esse filme... bora ver, tipo AGORA? rs
Aaah, sabe que vc tirou minha dúvida quanto a Tomates Verdes Fritos? Sempre achei que houvesse sugestão de relacionamento entre as duas ali, mas não dava pra afirmar com todo mundo dizendo "não, que é isso, imagina, que absurdo!" =/
Aliás, já que o assunto é cinema, ontem vi um filme alemão legalzinho, com uma boa dose de feminismo nele: A Alegria de Emma (baseado num livro homônimo). Bem bacana mostrarem a protagonista como uma mulher forte, independente, assumindo, sem vergonha e sem ser taxada de nada, seu gosto por sexo...
Eu gosto TANTO de filmes que colocam a mulher em primeiro plano! A minha dvdteca é composta em grande parte por filmes assim. Mas Hollywood ainda acha que nós não existimos, parece...
fiz questão de rever o filme nesse final de semana. aborda muito bem a maneira como as mulheres são tratadas no mundo machista. por isso acho que não poderia ter um final feliz... beijos
Depois de ver você falando tanto no filme finalmente assisti... Simplesmente adorei muito bom Lola.
Obrigada pela indicação e um beijo.
o filme da minha vida
Então Lola, acho que a cena do rastafári acontece pq antes de Thelma e Louise pararem, nao me recordo qual delas diz algo assim: -Prepare-se o policial que esta vindo é nazista!
Nao capitei durante o filme qual o indicio disso.
Esse filme é eterno! E se tem um homem que dirige personagens femininas fortes é o Ridley. Ou já se esqueceram da Seagourney Weaver em Alien?
No geral eu gostei do filme,nota 8 agora eu acho que o machismo é muito além do que é mostrado no filme.a Callie Khouri se limita em mostrar homens rabugentos,que parecem vir da idade das cavernas como o marido da Thelma ou o cara que tenta estupra la no bar ou até mesmo aquele caminhoneiro tarado.Machismo é muito mais do que um bando de homens grosseiros.
O Buzzfeed tirou uma imagem desse post, do Thelma e Louise.
Só achei curioso ver um link pro seu blog lá.
http://www.buzzfeed.com/erinlarosa/top-10-films-where-women-take-revenge-on-men#.frla4obJxY
Amo esse filme. Acho ele INTEIRO bom. Essas mudanças de comportamento e pensamento ( tentativas) que são percebidas nos filmes me agradam muito. As duas são sensacionais em seus papeis! Para mim e nota 10.
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