O amor está no ar! Há duas comédias com amor no título: “O Amor Custa Caro” e “Abaixo o Amor”. Eu, moçoila romântica que sou, fui ver as duas. E mais ou menos gostei de ambas. Quer dizer, “Abaixo o Amor” mostra a Renée Zellweger e o Ewan MacGregor nos anos 60 fingindo estar nos anos 50. O filme é meio frouxo, algo sem graça, mas o Ewan é um tesouro. “Abaixo” é o típico musical frustrado. O diretor queria fazer um musical, o par de astros tava louco pra cantar e dançar (os dois já haviam feito isso antes, em “Chicago” e “Moulin Rouge”, respectivamente), mas alguém falou que musical não dá bilheteria e “Abaixo” acabou virando esta comediazinha chocha. Eu tô chutando, claro. Muito mais bem-sucedida é “O Amor Custa Caro”, que, mesmo se não fosse boa, você ainda assim teria que ver. É que ela leva a assinatura dos irmãos Coen e, convenhamos, não é todo século que passa algo deles nos cinemas daqui. A obra-prima dos Coen, “Fargo”, eu só pude ver em vídeo. Idem pra última obra deles, a homenagem noir “O Homem que Não Estava Lá” (ótimo, por sinal).
Desta vez, os Coen saúdam um gênero morto e enterrado: a comédia screwball, aquele estilo louquinho de se fazer rir das décadas de 30 e 40 (por exemplo, imagine um leopardo chamado Baby encarando um cachorro no meio da sala. Entra a Katherine Hepburn e diz: “Oh, Baby adora cães”. Isso acontece em “Levada da Breca”). E não é que dá certo? A surpresa é que vários críticos não consideram “O Amor Custa Caro” um exemplo clássico dos irmãos Coen porque o roteiro não foi escrito por eles (o que é um pré-requisito pro cinema de autor) e por ter custado mais caro que seus outros filmes. Besteira. Pra mim, esta comédia leva todo o jeitão dos Coen. Bom, tirando uma cena, justamente a que mais surpreende – tem uma morte bizarra que é “emprestada”, vamos ser gentis, de “Irresistível Paixão”.
Mas se você não viu “Amor Caro” não deve estar entendendo patavina, então é melhor eu voltar atrás. Seguinte: a comédia fala de um universo que não é o nosso, que pertence à outra galáxia, aliás – os divórcios milionários de Beverly Hills. George Clooney faz um advogado (pausa para pensar num adjetivo que não fosse redundante. Cínico? Desonesto? Não consegui me lembrar de nenhum) acostumado com esse carnaval; Catherine Zeta-Jones faz alguém cujo projeto de vida é se casar com um cara rico para, depois do divórcio, adquirir a tão sonhada independência financeira. Nem que pra isso ela tenha que se casar várias vezes. E pensar que se eu me separar do maridão o ponto alto das nossas discussões será quem vai ficar com os CDs do Chico!...
Dizer que o George e a Catherine constituem duas das mais belas criaturas da face da Terra é chover no molhado. Se a Arca de Noé selecionasse humanos, eles provavelmente seriam os escolhidos, sabe como é. O George, que lembra o Clark Gable sem as orelhas de abano, mas acaba se parecendo mais com o Cary Grant mesmo, tem aqui o segundo melhor papel de sua carreira (o primeiro é em “Irresistível Paixão”). O filme tá cheio de piadinhas sobre sua fixação por dentes brancos, o que me fez rememorar uma fofoca (infundada, espero) sobre o George: que ele usaria dentadura. Deve ser intriga da oposição, né? Já o papel da Catherine exige menos. Ela tem que ser linda e sexy o tempo todo, o que não é tão difícil pra ela. Mas de novo apareceram as referências fora do filme – não foi ela que assinou um acordo pré-nupcial ridículo com o Michael Douglas? Era uma coisa esdrúxula determinando que a cada adultério dele ela receberia sei lá quantos milhões de dólares. Gente rica é muito esquisita.
Fora a beleza dos protagonistas, “Amor Caro” tem diálogos afiados e uma gracinha de seqüência inicial pros créditos (“Abaixo o Amor” também traz créditos estilizados. Será que estamos voltando aos bons tempos de Saul Bass?). E tem um monte de músicas do Simon & Garfunkel. E tem um advogado que chora em todas as cerimônias de casamento. Precisa mais? Pra mim só o sorriso do George já tá de bom tamanho.
Um comentário:
Oi, Lola! Acabei de ver o filme, pela indicação nos "melhores diretores da década" e adorei! Mesmo não sendo autoral, concordo com você que ele tem a "pegada" de humor dos Coen. Beijos!
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