Imagine que você tem doze anos e seus pais estão se separando. É um momento difícil. O que fazer? Leve os dois ex-pombinhos para um passeio no parque dos dinossauros. Sua mãe, que mais parece sua irmã caçula, vai gritar à vontade. Seu pai, um panaca, irá provar que é valente. E tudo acabará bem.
Agora, pense que você é um dinossauro, daqueles grandões e carnívoros. Você curte sua ilha, sossegadão, com outros répteis queridos. Aí você descobre que Hollywood realizará mais uma sequência sobre sua vida e, como de costume, enviará um bando de gente pra te visitar. Qual sua primeira reação? É "Oba! Comida!", né?
Este é o conflito de interesses em "Jurassic Park 3". Acho que não preciso revelar com quem eu simpatizo. Aliás, não só eu. A espécie humana é representada pela Téa Leoni, que encarna a mamãe zelosa, e só isso já dá uma amostra do perigo. Tá, ninguém em sã consciência paga o ingresso para ver a Téa. E uma grande interpretação, num filme desses, a gente só espera dos dinossauros. Mas a Téa não precisava exagerar. Ela já havia me impressionado em "Impacto Profundo": foi graças a ela que torci pelo fim do mundo. Na vida real, ela é casada com o Duchovny, o bonitão de "Arquivo X". O Duchovny é um sujeito de sorte – sua esposa é a pior atriz do planeta e de suas proximidades. O que será que ele viu nela, fora aquela cara de sonsa e o intelecto minimalista?
É um clichê arcaico que uma mulher em local inóspito faça escândalo do começo ao fim. Isso funcionou bem em "Indiana Jones no Templo da Perdição", com a atual sra. Spielberg. A Téa abre o berreiro assim que põe o pé na ilha. Se eu fosse assistir à "Jurassic Park 3" pela segunda vez, externaria minha emoção e levaria faixas com mensagens de incentivo como "Vai, dino! Come a loira logo!" e "Faça da Téa sua primeira refeição, por favor!", além de tabelas mostrando o alto valor nutritivo de um cérebro oxigenado.
Mas não. Como este é um filme família, a Téa resiste. Não há risco em se isolar numa terra pré-histórica, a menos que você seja um figurante. Coadjuvante negro, então, é comida de dinossauro na certa. Se você é paleontólogo com chápeu à la Indiana ou um menino tipicamente americano, tá limpo. Não sofrerá nem um arranhão. O placar darwinista é assim: figurante negro sobrevive 3 minutos na ilha; o garotão, 8 semanas. E isso porque ele é tirado de lá à força. Se quisesse, poderia passar o resto de sua existência lá sem ser incomodado pelas lagartixas. Morreria velhinho, dormindo.
A subsistência do meninote a gente entende. É com ele que o público-alvo da produção se identificará. Mas nada justifica poupar a mãe do guri. Talvez a platéia pré-adolescente até vibrasse se a Téa fosse deglutida com umas folhinhas de árvore servindo de salada. No final, o piá até deixa claro que se virava melhor sem a mãe a tiracolo.
Lá pela metade, um dos personagens reclama que está no pior lugar do mundo, sem ser pago pra isso. Naquele momento, pensei em interromper a projeção pra explicar que isso foi na segunda franquia. O "Jurassic Park 2" era um horror. Acabava quando os dinos chegavam à metrópole, e o que já era desastroso se transformava em Godzilla. Esta terceira investida da série diverte bastante, embora seja um pouco escura demais. Já vou avisando aos navegantes que não verei a quarta, quinta ou vigésima parte. Não por causa dos lagartos gigantes, que são uns amorecos, mas sim pelas jovens dondocas que eles sempre colocam pra espernear. E quer saber o melhor filme sobre dinos que já vi? (não responda, por educação). É "Carnossauro", produção B de 93 de Roger Corman, que é muito mais criativo que a saga crichtoniana. Lá pelas tantas, um ecologista doidão, milésimos antes de ser devorado, encontra um verociraptor qualquer e pergunta: "e aí, bicho verde?". São suas famosas últimas palavras. Agora, raciocine comigo. Se você fosse um dinossauro faminto, preferiria ser recebido com polidez ou aos berros pela sua presa? Essa gritaria materna toda deve até atrapalhar a digestão.
Este é o conflito de interesses em "Jurassic Park 3". Acho que não preciso revelar com quem eu simpatizo. Aliás, não só eu. A espécie humana é representada pela Téa Leoni, que encarna a mamãe zelosa, e só isso já dá uma amostra do perigo. Tá, ninguém em sã consciência paga o ingresso para ver a Téa. E uma grande interpretação, num filme desses, a gente só espera dos dinossauros. Mas a Téa não precisava exagerar. Ela já havia me impressionado em "Impacto Profundo": foi graças a ela que torci pelo fim do mundo. Na vida real, ela é casada com o Duchovny, o bonitão de "Arquivo X". O Duchovny é um sujeito de sorte – sua esposa é a pior atriz do planeta e de suas proximidades. O que será que ele viu nela, fora aquela cara de sonsa e o intelecto minimalista?
É um clichê arcaico que uma mulher em local inóspito faça escândalo do começo ao fim. Isso funcionou bem em "Indiana Jones no Templo da Perdição", com a atual sra. Spielberg. A Téa abre o berreiro assim que põe o pé na ilha. Se eu fosse assistir à "Jurassic Park 3" pela segunda vez, externaria minha emoção e levaria faixas com mensagens de incentivo como "Vai, dino! Come a loira logo!" e "Faça da Téa sua primeira refeição, por favor!", além de tabelas mostrando o alto valor nutritivo de um cérebro oxigenado.
Mas não. Como este é um filme família, a Téa resiste. Não há risco em se isolar numa terra pré-histórica, a menos que você seja um figurante. Coadjuvante negro, então, é comida de dinossauro na certa. Se você é paleontólogo com chápeu à la Indiana ou um menino tipicamente americano, tá limpo. Não sofrerá nem um arranhão. O placar darwinista é assim: figurante negro sobrevive 3 minutos na ilha; o garotão, 8 semanas. E isso porque ele é tirado de lá à força. Se quisesse, poderia passar o resto de sua existência lá sem ser incomodado pelas lagartixas. Morreria velhinho, dormindo.
A subsistência do meninote a gente entende. É com ele que o público-alvo da produção se identificará. Mas nada justifica poupar a mãe do guri. Talvez a platéia pré-adolescente até vibrasse se a Téa fosse deglutida com umas folhinhas de árvore servindo de salada. No final, o piá até deixa claro que se virava melhor sem a mãe a tiracolo.
Lá pela metade, um dos personagens reclama que está no pior lugar do mundo, sem ser pago pra isso. Naquele momento, pensei em interromper a projeção pra explicar que isso foi na segunda franquia. O "Jurassic Park 2" era um horror. Acabava quando os dinos chegavam à metrópole, e o que já era desastroso se transformava em Godzilla. Esta terceira investida da série diverte bastante, embora seja um pouco escura demais. Já vou avisando aos navegantes que não verei a quarta, quinta ou vigésima parte. Não por causa dos lagartos gigantes, que são uns amorecos, mas sim pelas jovens dondocas que eles sempre colocam pra espernear. E quer saber o melhor filme sobre dinos que já vi? (não responda, por educação). É "Carnossauro", produção B de 93 de Roger Corman, que é muito mais criativo que a saga crichtoniana. Lá pelas tantas, um ecologista doidão, milésimos antes de ser devorado, encontra um verociraptor qualquer e pergunta: "e aí, bicho verde?". São suas famosas últimas palavras. Agora, raciocine comigo. Se você fosse um dinossauro faminto, preferiria ser recebido com polidez ou aos berros pela sua presa? Essa gritaria materna toda deve até atrapalhar a digestão.
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